14.5.11

O SEXTO E O MESMO SÓCRATES



«Nasceu assim o quinto Sócrates que nós conhecemos: a vítima da incompreensão humana e de um destino injusto. As desgraças não acabavam: Manuela Moura Guedes e uma imprensa má ou mercenária iam fabricando histórias de enfurecer um santo: a história do "eng.", a história do "Freeport" e mais de que não vale a pena falar. A seguir, o eleitorado, com suma ingratidão, não lhe tornou a dar a maioria absoluta. E, para cúmulo, os "mercados" fizeram de surpresa desabar sobre o seu Portugalinho querido uma crise financeira, que ele, nem a dormir, imaginava. Mas, pior do que isso, foia traição do PEC IV, que ele nunca na vida desculpará a ninguém. Agora, o sexto Sócrates que nós conhecemos é um mártir, com a corda ao pescoço, que defende a pátria contra o perigo estrangeiro.o Estado social contra a ganância dos liberais e a moralidade do povo contra "brejeirices" sobre o pêlo púbico. Quem olhar bem, consegue ver um halo sobre a sua inspirada cabeça.»



Vasco Pulido Valente, Público

«O Jornal Nacional de 6ª e Manuela Moura Guedes tinham peçonha: José Alberto Carvalho e Judite Sousa não quiseram sentar-se naquela cadeira e naquele estúdio com aqueles cenários. Era preciso varrer da memória o Jornal Nacional de 6ª de Guedes. Mudaram tudo o que era possível mudar visualmente: o estúdio, o formato de apresentação e o próprio nome, que passou a Jornal das 8. Carvalho e Sousa, que na RTP dirigiram uma das direcções de Informação que mais beneficiou o governo do momento, foram para a TVI rasurar da memória dos espectadores o programa e a jornalista vítimas da acção directa do mesmíssimo governo. O nome mudou por essa única razão (...). Para tão grandes estrelas era necessário prodigalizar um grande estúdio de informação. Em vez do espaço habitual onde durante uma década se fez o Jornal Nacional, os novos directores perpetraram para si mesmos um estúdio com três assoalhadas, duas por agora vazias. A mesa de apresentação também mudou. É agora uma modesta mesa rectangular, mas salvaguardando com dois degraus majestáticos a dignidade real dos directores que a ela se sentam. No painel frontal da mesa um iluminante ecrã passa a seguinte mensagem: “Nós informamos, você decide”. Trata-se de um slogan publicitário ao próprio programa, que, todavia, se mantém no ar durante o noticiário, como se fosse ele mesmo informação. Trata-se de uma inserção publicitária em pleno noticiário, que aparece, sem tirar nem pôr, com grande destaque nos anúncios pagos na imprensa à nova “TVI Informação”. Que quer dizer este slogan? Paira ali de novo o fantasma de Moura Guedes e da direcção de José Eduardo Moniz. Agora, diz, nós só informamos, cabendo ao espectador formar as suas opiniões: sugere-se, assim, que antes, a TVI não se limitava a informar e arrogava-se decidir pelo espectador. Esta visão pueril da informação não corresponde à realidade; qualquer cidadão com um módico de literacia mediática sabe que os media tomam muitas decisões antes e em vez dos seus receptores: a agenda de acontecimentos que cobrem, a ordem das notícias, as imagens mostradas, as palavras usadas, as perguntas colocadas, as opiniões expressas, os convidados escolhidos... Todos os media escolhem o que informam e como informam. Moura Guedes não escondia a sua linha editorial e agora, tal como tantos outros media, a TVI não desvela as opções editoriais. Mas tem-nas, como todos. Por coincidência, a 29 de Abril, poucos dias antes de Carvalho e Sousa inaugurarem o seu estúdio de várias assoalhadas com novo nome, o Supremo Tribunal de Justiça remeteu para o Tribunal de Instrução Criminal a instrução do processo de Guedes contra José Sócrates, revertendo a decisão do Ministério Público de arquivar a queixa da jornalista, motivada em declarações de Sócrates sobre o Jornal Nacional de 6ª: não era um noticiário, mas “uma caça ao homem” e um “telejornal transvertido”. Sócrates referia-se às investigações, nunca desmentidas nos seus elementos factuais, sobre o envolvimento do seu nome em diversos casos, como o caso Freeport, em que a TVI apresentava como prova documental, entre outras, um DVD em que Charles Smith lhe chamava “corrupto”, ou sobre o caso da “Nova Setúbal”, em que Sócrates, como ministro do Ambiente em 2001, aprovou em 12 dias e a um mês de eleições autárquicas o estatuto de imprescindível utilidade pública de um plano de pormenor sem que o dito existisse na realidade e cuja promotora imobiliária fazia parte do grupo BPN. Esse ataque de Sócrates ao Jornal Nacional de 6ª, que depois se transformou no fim desse noticiário, foi desferido numa entrevista à RTP1, conduzida por José Alberto Carvalho e Judite Sousa. A notícia da decisão do Supremo Tribunal de Justiça, divulgada a 3 de Maio, foi ocultada pelos noticiários da TVI: nós não informamos, você fica sem saber. Foi opção editorial, claro. Tudo está bem quando acaba bem.»


Eduardo Cintra Torres, idem

2 comentários:

floribundus disse...

aqueles dois seres
são
objectos e abjectos

Anónimo disse...

O Pulido Valente,apesar de crítico,continua a pôr paninhos quentes.Bem o percebo!
Dos três seres na foto,qual deles o melhor?
Que trupe!