31.10.11

A ELEGANTE MECÂNICA DAS DESCULPAS


«En París las librerías siguen siendo librerías. La semana pasada llovía y soplaba un viento frío en el bulevar Montparnasse y me refugié en la Tschann, y de inmediato me sumergí en una calma envolvente, rodeado de libros de todo el mundo y de las eternas revistas literarias francesas de siempre. Lo mejor de esos lugares de París es que en ellos no puedes dar ni un paso. En la librería Tschann no hay un solo hueco o espacio desperdiciado y las personas están allí tan apretadas que nuestro más inmediato vecino, por ejemplo, es todo un peligro potencial. Casi inmóviles en un espacio mínimo, he visto en más de una ocasión en la Tschann a dos o más personas pugnar al unísono por un mismo libro, y poco después he podido escuchar, con extraordinaria satisfacción íntima, los educados y maravillosos "pardon, pardon" de rigor que siempre me recuerdan que al menos en esa ciudad pervive la elegante mecánica de las disculpas, que no es otra cosa que la constatación de que se ha visto al otro. Pensé por unos instantes: habrá un día en que nadie sepa que una vez existieron lugares que se llamaban librerías.(...) Cuando salí de la librería Tschann, había aparecido el sol y algunos cafés del bulevar lucían magníficos. Me senté en la galería circular de La Rotonde y espié a tres matrimonios mallorquines que desayunaban con sonoro apetito y que, al abandonar el café, no pararon de decir "pardon, pardon" a los camareros, como si sintieran nostalgia de la educación de otros días.»

Enrique Vila-Matas

30.10.11

GRANDEZA OU O ENSINO DA ALTURA



Estava aqui de volta de alguns livros e pego nas Crónicas no Fio do Horizonte, do Eduardo Prado Coelho. Reúne algumas crónicas do Público sob aquele título. Assisti à apresentação do livro (dia 7.10.04: sei-o porque foi no D. Maria e, a seguir, houve a estreia de No Papel da Vítima e o bilhete está dentro do livro) feita pelo José Manuel Fernandes, à altura director do jornal. Gosto muito deste pedaço que contrasta perfeitamente a grandeza declinada no clip com quase tudo (todos) o resto. «Michaux: "Sempre que a gente esquece o que são os homens, caímos na facilidade de lhes querer bem". Felizmente, há os ingénuos. São eles que nos ensinam a altura.»

A IGREJA E O "ESCRITOR"


Leio nos jornais que José Rodrigues dos Santos perpetrou mais uma coisa em forma de livro. Parece que desta vez o homem quer contar a "verdadeira história" da vida de Jesus. Ignoro o título do objecto. Todavia, e perante a "grandeza" do tema, a Igreja portuguesa - cujas manifestações mediáticas raramente se distinguem pela subtileza - decidiu interpelar o ilustre "escritor" e criticou-o em público. Ao fazer isto, a Igreja caiu na armadilha do "escritor" e ajudou a promover o objecto, porventura tão "profundo" e "interessante" como os calhamaços que o precederam. Ratzinger, o actual Papa, já explicou, até a crianças de cinco anos, que a Igreja não faz proselitismo. Muito menos literato, acrescento. Dos Santos é bom para ler nos transportes públicos ou numa viagem transatlântica se o leitor não for exigente. Se for, deve pura e simplesmente evitá-lo e limitar-se a piscar-lhe o olho quando o vir a apresentar telejornais. Nisso - mas só em Cabo Ruivo e não armado em Sandokan da reportagem - ele é, de facto, menos mau.

29.10.11

ABSOLUTO DISPARATE


À semelhança de António Costa, presidente da CML, também me parece um absoluto disparate a possibilidade de fechar estações do Metro de Lisboa às 21 ou às 23 horas. A frota da Carris já tinha sido significativamente reduzida a partir das 20.30 e restava o Metro. Só a quem não usa transportes públicos entre a madrugada e noite alta para ir e vir dos locais de trabalho, ou que apenas conhece Lisboa de a ver da janela do carro, é que lhe pode passar uma "ideia" destas pela cabeça. Lisboa morre a partir do crepúsculo, é certo, porque a maior parte das pessoas vive na sua periferia. Mas é justamente esta gente - e não os meninos e as meninas que exigem automóvel próprio ou o dos papás para a "noite" - que precisa do Metro ou do autocarro para as "ligações" com essa periferia, a partir, por exemplo, das estações do Campo Grande, do Jardim Zoológico, do Cais do Sodré ou do Colégio Militar. Por outro lado, não é assim que se pode apelar para deixar o carro à porta de casa. Haja, pois, bom senso.

A ANA, SEMPRE A ANA E CADA VEZ MAIS SÓ A ANA

«Cavafy, o grego, não conheceu Kadhafi, o líbio. Este, chefe de Estado entre 1969 e 2011, foi assassinado a 20 de Outubro último. A sua morte foi registada em directo; a não ser que — à semelhança de No Palácio do Fim de Martin Amis — Senad el Sadýk el Ureybi — o rebelde líbio que disse perante as câmaras não lhe agradar “a ideia de ele ser capturado vivo” e daí ter-lhe dado dois tiros, “um na cabeça, outro no peito” — se tenha enganado no alvo e atingido tão-só um sósia. Não vi o vídeo e para o caso tanto faz. Não vi, como não vi o da criança chinesa atropelada, do enforcamento de Saddam ou da decapitação de Daniel Pearl. Em jovem assisti, por militância cultural, a 120 Dias de Sodoma de Pier Paolo Pasoloni. Enouhg is enough. Leio agora que foram divulgadas mais imagens dos últimos momentos do alucinado, que apenas acrescentam crueldade à crueldade. Entretanto, o Ocidente festejou a queda do ditador — um “líder carismático”, nas palavras de José Sócrates (convidado de honra do 41º aniversário da revolução líbia), que ainda em finais de 2007 acampava no Forte de São Julião da Barra, era recebido com pompa pelo governo português e até dava “aulas” sobre os “Problemas da Sociedade Contemporânea” na reitoria da Universidade Clássica de Lisboa. Não se pense, porém, que a hipocrisia foi exclusivo da “diplomacia económica” de Sócrates/Amado. Aznar,González, Prodi, Berlusconi, Sarkozy, Putin, Barroso, Lula, Chávez, Fidel, Condoleezza Rice, Obama… nenhum faltou ao beija-mão. A alguns narizes, o smell do petróleo cheira melhor que o nº 5 da Chanel. A indiferença com que reagiram à ignomínia do assassínio do homem diz bem do novo paradigma que assinala o caminho do declínio: em vez das públicas virtudes, Estado de Direito e tal, acção directa, no caso, versão kiss, kiss, bang, bang. É o regresso ao Far West, mas sem bons — só feios e maus. Citando Cavafy, o poeta que não conheceu Kadhafi: “E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros? Essa gente, mesmo assim, era uma solução”.»

A ESTÁTUA DO COMENDADOR



Passa na Gulbenkian, directamente do Lincoln Center (Met) em Nova Iorque, o Don Giovanni de Mozart. Mais do que a exibição da frivolidade da personagem e das suas "vítimas", é a hubris do conquistador, no momento final da emergência do comendador, que resume bem a coisa. Na vida amorosa como na política (e estão mais perto uma da outra do que se pode imaginar), há sempre uma estátua do comendador à espreita para ajustar os costumes.

A BOA TENDÊNCIA DE QUERER DIZER A VERDADE


Segundo julgo saber, o jornal Público vai dispensar a colaboração de Eduardo Cintra Torres, Helena Matos e Luís Campos e Cunha nas suas colunas de opinião. Não deixa de ser irónico. Qualquer deles distinguiu-se por evitar cair na tentação, dolosa ou ingénua, da "redacção única" que predomina, independentemente dos poderes do momento, nas matérias que trataram. Sobretudo nos derradeiros anos. Estou certo que outros media os saberão aproveitar nem que seja para desenjoar da mesmice predominante, alguma dela com acesso a praticamente todos os meios de comunicação social disponíveis e, a outra, apenas analfabeta, cretina ou irrelevante. Este blogue deve uns quantos dos seus posts ao Eduardo Cintra Torres ao reproduzir, com admiração e amizade, textos seus, ou parte deles, a partir do Público. Assim acontece desta vez que, seguramente, não será a última.

«Escrevi sempre com frontalidade, que é característica dos independentes. Não usei a crítica para recados ou subentendidos. Fui a direito. Ser frontal e independente, porém, tem um preço enorme em Portugal. É-se alvo de despedimentos, ataques e de insultos; muitas pessoas não entendem, ou não têm a educação para entender, que a frontalidade é, por natureza, bem educada; a frontalidade não dá "tachos", ao contrário do que tantas vezes li a meu respeito, antes rouba oportunidades e traz dissabores, incluindo processos judiciais e a interrupção de colaborações mediáticas, como me sucedeu há anos. Sempre considerei que o poder político não apreciava o meu trabalho nesta coluna, dado que os independentes, ao contrário dos lambe-botas, dos intolerantes e dos medrosos, são imprevisíveis e têm tendência a querer dizer a verdade, mesmo que sofram as consequências disso.»


Adenda: Ouço na antena1, rádio pública, duas criaturas (uma em Lisboa e a outra no Porto onde existe quase uma outra RTP) congratularem-se e rirem-se alarvemente com o fim da crónica semanal de Cintra Torres no Público. Mais. Um deles estava superiormente satisfeito por ter podido ir a tribunal testemunhar contra Cintra Torres. E o outro sugeria que o papel onde vinha impressa a crónica de CT nem para outros propósitos serviria. Não revelo nenhum segredo (vem nos relatórios e contas que são públicos) que a componente "rádio" da RTP custa presentemente à volta de 40 milhões de euros aos contribuintes. Para, entre outras coisas, exercícios de autocomplacência como estes?

28.10.11

A DECADÊNCIA DO HOMEM


«Queria falar da «decadência» do homem, em consequência da qual se realiza, de modo silencioso, e por conseguinte mais perigoso, uma alteração do clima espiritual. A adoração do dinheiro, do ter e do poder, revela-se uma contra-religião, na qual já não importa o homem, mas só o lucro pessoal. O desejo de felicidade degenera num anseio desenfreado e desumano como se manifesta, por exemplo, no domínio da droga com as suas formas diversas. Aí estão os grandes que com ela fazem os seus negócios, e depois tantos que acabam seduzidos e arruinados por ela tanto no corpo como na alma. A violência torna-se uma coisa normal e, em algumas partes do mundo, ameaça destruir a nossa juventude. Uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo. A ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo. Mas, onde está Deus? Temos nós possibilidades de O conhecer e mostrar novamente à humanidade, para fundar uma verdadeira paz? Antes de mais nada, sintetizemos brevemente as nossas reflexões feitas até agora. Disse que existe uma concepção e um uso da religião através dos quais esta se torna fonte de violência, enquanto que a orientação do homem para Deus, vivida rectamente, é uma força de paz. Neste contexto, recordei a necessidade de diálogo e falei da purificação, sempre necessária, da vivência da religião. Por outro lado, afirmei que a negação de Deus corrompe o homem, priva-o de medidas e leva-o à violência. Ao lado destas duas realidades, religião e anti-religião, existe, no mundo do agnosticismo em expansão, outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus. Tais pessoas não se limitam a afirmar «Não existe nenhum Deus», mas elas sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele. São «peregrinos da verdade, peregrinos da paz». Colocam questões tanto a uma parte como à outra. Aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polémicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista e que nós podemos e devemos viver em função dela. Mas, tais pessoas chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas. Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que crêem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível.»

Bento XVI, Assis, 27.10.11

27.10.11

É A POLÍTICA


«A Europa está hoje refém dos mercados e do poder financeiro. Por isso, a opção decisiva que se nos coloca é entre abandonar cada vez mais a sua soberania aos mercados, ou transferi-la parcialmente, de acordo com objectivos políticos bem estabelecidos, para a União Europeia. Trata-se de uma opção política de fundo, que infelizmente o eixo franco-alemão tem procurado iludir com a crescente imposição de um poder de facto, tipo "directório", ao arrepio de diversos equilíbrios vitais da União Europeia. Como ontem mesmo observou J. Habermas, esse federalismo a que chamou "executivo" pode de facto permitir transferir, sob a ameaça de sanções e de pressões de todo o tipo e sem qualquer legitimação democrática, os imperativos dos mercados para os orçamentos nacionais. Mas se isso acontecer, sublinhou e bem Habermas, é o próprio projecto europeu que se transformará no seu contrário: de primeira comunidade supranacional democraticamente legitimada, a União Europeia tornar-se-ia num puro arranjo ao serviço de uma "dominação pós-democrática". Não haja ilusões: sem um salto federal democrático, sufragado pelo "povo europeu", a Europa não sairá do atoleiro da crise. Esta é talvez a maior das dificuldades, mas é também a condição sine qua non da sua sobrevivência e da sua afirmação no mundo global do futuro.»

M. M.Carrilho, DN


«Muito para além do corte de 50% na dívida grega, e da participação da banca privada, do reforço do FEEF, da «governação económica» da UE, fica a certeza do empenhamento da Alemanha e da França na continuação da zona euro vinte anos depois da UEM. Essa ratificação do acordado entre Mitterrand e Kohl há vinte anos recentra a UE na lógica anterior ao grande alargamento, mas tem em conta as consequências da unificação alemã entretanto desenvolvidas. Compete agora aos outros Estados membros portarem-se como adultos. Sem isso a opinião racional não vence.»

J. Medeiros Ferreira. Córtex Frontal

26.10.11

OPINIÕES ADULTAS

Uma sociedade adulta é uma sociedade mais aberta e mais cosmopolita. Mas é, simultaneamente, uma sociedade mais exigente e mais crítica, ou seja, avessa a fórmulas mais ou menos disfarçadas de pensamento único. Aliás, sob a capa do pluralismo esconde-se demasiadas vezes o pensamento único malgrado as aparências comunicacionais contraditórias em razão de filiações partidárias. Não é por ser seu amigo há décadas, mas vejo com agrado que o José Medeiros Ferreira é, neste momento, um dos comentadores mais estimulantes dos que têm acesso às televisões. E nem sequer preciso estar sempre de acordo com ele ou vice-versa.

HIPER-SOCRATISMO DE PACOTILHA

«Num país que tinha uma taxa de desemprego de 4% à entrada do novo milénio e passados 11 anos, 8 dos quais com governação do partido pelo qual o senhor Basílio "homem às direitas" Horta foi eleito deputado, essa mesma taxa já vai nos 12,3%, atirar para cima de Santos Pereira o rótulo de "ministro do desemprego" é do domínio do ridículo. Antes disso, no mínimo, era preciso identificar todos os ministros do desemprego que o antecederam. Mas a falta de seriedade da bicharada a que o PS está entregue dá para tudo.»

Os Comediantes (sem ironia uma vez que o maior parece ser o retratado)

«É PARA A SUÉCIA, MEU BEM»

À atenção da parolice académica nacional.

A LINHA


«Melville: (...) gosto de todos os homens que mergulham. Qualquer peixe pode nadar perto da superfície, mas é preciso ser-se uma grande baleia para descer a cinco milhas e mais... Os mergulhadores do pensamento voltaram à superfície com os olhos injectados de sangue desde o princípio do mundo.» Reconhecemos com facilidade que há perigo nos exercícios físicos extremos, mas o pensamento é também um exercício extremo e rarefeito. A partir do momento em que pensamos, enfrentamos necessariamente uma linha onde se jogam a vida e a morte, a razão e a loucura, e esta linha arrasta-nos.»

Gilles Deleuze

25.10.11

NEM DADO


Leio num rodapé televisivo que o sr. Blair vai aconselhar o Cazaquistão em matéria energética. O sr. Blair é uma personagem detestável que inspirou, nos idos de 90, a esquerda moderna pelo mundo fora. Era a "terceira via". Em Portugal, Guterres foi o epígono mais notável mas Sócrates e o seu "empreendedorismo" (ainda agora tão loquazmente explicado por essa mente brilhante chamada Paulo Campos) não lhe ficaram atrás. Encerrada a referida "via" com os custos que se conhecem, o sr. Blair decidiu tornar-se multimilionário à conta da sua própria caricatura. Como o mundo é cada vez mais menos exigente, há quem compre o sr. Blair e a sua falácia por alto preço. Por mim, nem dado.

PENSÁ-LO


«Pensar Portugal? Mas mais ou menos todos sabemos já o que ele é. O que importa agora é apenas «pensá-lo» — ou seja, pôr-lhe um penso...»

Virgílio Ferreira, Conta-Corrente 2 (via Notas Verbais)

24.10.11

UMA SEMANA DE TELESPECTADOR EM PORTUGAL


«Esta semana fiz uma curiosa pesquisa: ver, em cada um dos três canais comerciais, quais os cinco programas mais vistos. Na RTP 1, o TOP 5 é preenchido com quatro programas de informação (três deles Telejornais) e um jogo de futebol. Na SIC, regista-se uma emissão do Peso Pesado, três programas de informação (todos Jornal da Noite) e um jogo de futebol. Na TVI, diversas emissões da casa dos Segredos ocupam quatro lugares do top 5 e a restante pertence a um Jornal das Oito. Se avaliarmos por tipologias os 20 programas mais vistos da semana encontramos sete reality shows (seis Casa dos Segredos e um Peso Pesado), 3 jogos de futebol, 7 programas de informação e três de ficção (novela Remédio Santo). A TVI continua a liderar com 25,8% de share médio durante a semana, seguida da SIC com 21,8% e da RTP 1 com 19,8%. O conjunto dos canais de cabo registou 26,8% de share, com a SIC Notícias, Hollywood, AXN, Sport TV e Disney a ocuparem os cinco primeiros lugares.»

Manuel Falcão, Lugares-Comuns

DOS DIREITOS ADQUIRIDOS

Ouvi de manhã, na rádio pública, uma destas pessoas a dizer duas coisas interessantes. A primeira, que ninguém pode ser prejudicado na sua carreira profissional por ter estado ao serviço da nação, num cargo político. A segunda, que não tenciona abdicar de um direito adquirido. Se juntarmos as duas afirmações, dá qualquer coisa como a pátria deve continuar a servir os seus precários servidores (em democracia são todos precários) porque foi uma honra (para ela, pátria) ter tido a possibilidade de contar com os préstimos deles. Daí o "direito adquirido". Ora isto encerra uma lição. Há direitos adquiridos mais adquiridos do que outros direitos adquiridos. Bem haja tal ex-servidor da causa pública que nos recordou esta evidência.

23.10.11

PÁRE, ESCUTE, OLHE

EM NOME DE UM GRANDE AMOR


«É preciso perceber que o amor universal pelo livro, a ideia de que o livro é, em si, uma coisa boa, encerra uma mentira: a de que muitos deles são nefastos e não deviam gozar de nenhuma prerrogativa. Como nefasto é este contrato público que prescreve a bondade dos livros e permite aos seus "agentes" (autores, editores, difusores, livreiros) prosseguirem uma tarefa de destruição em nome de um grande amor por eles.»

António Guerreiro, Expresso

O REGRESSO DO "MELENA E PÁ"

O que era preciso dizer dele.

O PRINCÍPIO E A SUGESTÃO

Um jornal, o DN, dedica duas páginas ao fascinante tema das subvenções vitalícias requeridas por pessoas que durante doze ou oito anos (duas legislaturas mesmo que não tenha sido tudo de seguida) exerceram cargos políticos nos últimos trinta e sete anos. Os nomes pouco interessam porque, em quase 40 anos, o regime já conheceu milhares de servidores. O princípio, sim. Ridículo. Sócrates acabou com esta parvoíce em 2005 embora os efeitos só se viessem a repercutir em 2009. E, tal como o actual 1º ministro, prescindiu da sua subvenção. Santana Lopes sugeriu outro dia que os "subvencionados" que ainda estão em "actividade" (privada) deixem de receber enquanto subsistir o presente estado de emergência nacional. Vamos ver quantos seguem a sugestão.

22.10.11

OS "MONSTROS"


«Se o Estado português quisesse resgatar todas as concessões, e pagar, a preços de 2012, todos os investimentos que contratou através do modelo de parceria público-privada (PPP), precisaria de alocar 15,7% de toda a riqueza nacional produzida durante esse ano. Ou seja, toda a actividade produtiva conseguida durante os primeiros dois meses do ano teria de ir directa para pagar uma factura que ultrapassa os 26 mil milhões de euros, e onde as concessões rodoviárias assumem um peso de quase 80%. Mas se a factura é desde já muito pesada, uma das poucas conclusões que se pode retirar do relatório entregue pela Direcção-Geral de Tesouro e Finanças (DGTF) à troika, de acordo com o calendário imposto pelo memorando de entendimento, essa factura só pode piorar, dado os "riscos significativos" que o Estado assumiu em alguns contratos de PPP. Neste relatório, a DGTF limita-se a fazer uma primeira análise aos contratos de PPP já em vigor (22 em fase de exploração e 14 em fase de construção). As conclusões e as recomendações deverão aparecer mais tarde, até Março de 2012, altura em que "uma empresa de auditoria internacionalmente reconhecida" irá produzir um novo relatório, com o acompanhamento do Instituto Nacional de Estatística. Durante os próximos quatro anos, e num período crucial de contas públicas, os encargos previstos com as PPP vão absorver cerca de 1% do PIB. No relatório da DGTF, é feita a previsão dos gastos durante a execução dos contratos, bem como uma análise das respectivas matrizes de risco. É pela análise dessas matrizes de risco, e onde se demonstra como é que ele está distribuído entre o parceiro público e o privado, que se percebe as fragilidades a que está sujeito o Estado. Essa matriz de risco surge particularmente desequilibrada nos contratos de PPP no sector dos transportes, já que assentaram em modelos de project-finance, em que os privados assumiram o financiamento do projecto, com base em projecções de procura (número de veículos que passam em cada quilómetro de estrada, ou número de passageiros que frequentam os transportes ferroviários), projecções de taxas de juro e previsões de rentabilidades que, lê-se no relatório, são "substancialmente optimistas" e que se revelam "desactualizadas, especialmente face à actual conjuntura económica". Tendo como boas essas projecções optimistas, o relatório da DGTF refere que, quando introduzidas nas contas as previsões de receita estimadas nesses contratos, o valor dos encargos líquidos totais seria de 15,1 mil milhões de euros, ou seja, 8,8% do PIB previsto para 2012. Os privados assumiram o financiamento dos projectos com base numa série de pressupostos que o Estado tem vindo a alterar, sobretudo no sector rodoviário, e que agravam esta factura. No ano de 2010, essa derrapagem chegou aos 28%, com o Estado a pagar mais 200 milhões de euros do que tinha previsto, para acomodar pedidos de reequilíbrio financeiro entregues pelas concessionárias - a maior desta factura foi para as concessões em portagem real da Ascendi, do grupo Mota-Engil, e que passaram a ser remuneradas em rendas por disponibilidade. Este acordo foi feito no âmbito da negociação para a introdução de portagens em três Scut, que estão em vigor há já um ano, duas das quais deste grupo (Costa de Prata e Grande Porto). Há ainda quatro auto-estradas Scut para introduzir portagens, e outros projectos que estão em reavaliação, como a PPP em Alta Velocidade entre Poceirão e Caia, ou que vão entrar em renegociação, depois de o Governo ter anunciado a intenção de cortar no investimento em todas as subconcessões. Também por isso, diz a DGTF, o resultado dessas renegociações terá, no futuro, impactos financeiros e no risco para o concedente e/ou concessionária, o que implicará alterações de dados constantes no relatório. E, se aumentam os custos, também poderão diminuir as receitas que foram contabilizadas nesta análise da DGTF, já que a conversão das Scut em vias com cobrança de taxas de portagem ao utilizador trará uma expectável diminuição do tráfego.»

«Os encargos do Estado com as PPP na Saúde vão ultrapassar os quatro mil milhões de euros até 2041. De acordo com o relatório do Ministério das Finanças, só o custo dos seis projectos já contratualizados atinge os 3983 milhões de euros. Mas este valor não abrange os gastos dos futuros hospitais de Lisboa Oriental e Central do Algarve, que ainda estão em fase de concurso. De acordo com as contas do PÚBLICO com base nos dados que constam no documento, o hospital de Braga - cujo concurso foi ganho pelo consórcio liderado pela José de Mello Saúde (JMS) e já está em funcionamento - é o que irá absorver a maior fatia, com um total de 1272 milhões de euros até 2039. A seguir, surge o de Loures - adjudicado ao grupo BES por 86 milhões de euros e com conclusão prevista para 2012 -, com 1130 milhões até 2040. O futuro hospital de Vila Franca de Xira, ganho também pela JMS, irá representar um encargo de 830 milhões até 2041 e o novo de Cascais, inaugurado em Fevereiro com a gestão da HPP (grupo CGD), custará 681 milhões até 2038. O modelo de PPP destas unidades abrange a construção e manutenção da infra-estrutura e a gestão clínica do hospital. Já em relação aos hospitais de Lisboa Oriental e Central do Algarve, o objecto concursal abrange apenas, e ao contrário do inicialmente previsto, a vertente da infra-estrutura hospitalar e serviços complementares.»

Jornal Público, 22.10.11

21.10.11

PONTO, CONTRAPONTO

«Nós chegámos perto da bancarrota com uma política orçamental em 2008, 2009 e 2010 que foi suicidária e anti-nacional. Em Junho de 2005 eu chamei à atenção que se não controlássemos a dívida pública e o défice público teríamos ‘spreads’ a subir, mais tarde ou mais cedo, e que isso teria consequências para o financiamento da economia e para o financiamento das famílias». Mas nessa altura "reinava" no Governo Sócrates o super-ministro Costa que, cedo, começou a "explicar" aos seus colegas que, com Campos Cunha, "não iam lá". Aí foi chamado o orador de sapiência que ontem as televisões exibiram como um verdadeiro herói nacional. Foram "lá" - com ele e de que maneira - já com o referido Costa prudentemente fora do barco. Ponto, contraponto.

CONTRA AS POLÍTICAS SUPERFICIAIS


«As restrições financeiras severas a que o Estado e a economia portuguesa estão sujeitos são hoje o principal problema de curto-prazo que enfrentamos. Uma vez perdido o acesso ao financiamento em condições normais de mercado, as necessidades de financiamento do Estado português passaram a ser satisfeitas pelas transferências previstas no Programa de Assistência Económica e Financeira. É por todos reconhecido que estas restrições financeiras limitam fortemente a capacidade de acção do Estado e sobretudo estão a asfixiar a iniciativa privada. Neste sentido, o processo de consolidação orçamental é um caminho incontornável, e tem de ser associado à profunda reestruturação do Sector Empresarial do Estado. (...) Desde há muito até a esta parte que tem sido tolerado ao Estado que cometesse erros e desvios nos seus compromissos e na sua acção. Ao contrário do que sucede noutras instituições da nossa sociedade, como as empresas, as universidades ou as famílias, ao Estado não tem sido exigido que paute as suas contas e a sua conduta por critérios de rigor e de previsibilidade. Temos de corrigir este hábito perverso que penetrou a nossa cultura política. Acarreta e tem acarretado custos consideráveis. Mina a confiança dos investidores e corrói a confiança dos cidadãos. Gera um clima de incerteza que deteriora as condições de vida das nossas empresas, e afasta as empresas estrangeiras que poderiam investir em Portugal. E danifica a confiança dos nossos parceiros internacionais no cumprimento dos objectivos estabelecidos de consolidação orçamental e de transformação estrutural da economia.(...) Durante muitos anos, e com as melhores intenções, insistimos em medidas tradicionais de incentivo ao crescimento que produziram resultados muito decepcionantes e até contraproducentes. Quanto mais crescia a despesa pública, mais decrescia o nosso PIB potencial. Quanto mais se multiplicavam as políticas superficiais, menos descolava a nossa produtividade. Passou tempo suficiente para fazer um balanço razoável. Agora chegou o momento de uma acção englobante e estrutural de preparação do crescimento económico.»
P. Passos Coelho, 21.10.11

O FIM


Como previsto, a "cimeira europeia" de domingo não deverá passar de uma luxuosa declinação do "davam grandes passeios aos domingos" de José Régio onde todos os que não a inefável dupla Merkel-Sarkozy irão fazer fazer figura de corpo presente, para ser delicado. Já não é domingo. Agora é quarta-feira. Depois será outro dia qualquer. E, para rematar, há-de marcar-se o fim.

AQUELAS CABECINHAS POPULARES

«Ontem, teria ajudado os nossos jovens a não se surpreenderem com o alívio pela morte não do nosso aliado, que nunca foi, mas do nosso sócio, que foi (de Lisboa, Madrid, Paris, Londres, Washington...) Mas, repito, que lhe escondam o corpo! Mal comparado, o tirano Júlio César também foi morto pelos seus (até Brutus...), mas no enterro o amigo Marco António fez um discurso que mudou a opinião da populaça romana sobre César, que de tirano morto virou saudoso chefe. Todos os cuidados são poucos com aquelas cabecinhas populares que ontem nas ruas de Tripoli saudavam a troika salvadora: "Alá, o Comité Revolucionário e a OTAN!"»

Adenda: A generalidade dos "sócios" aplaudiu o morte do homem tal qual as televisões a transmitiram. Dá bem a noção da indigência mental da maior parte das actuais "elites" ocidentais que parece que ainda não entenderam que a democracia onde eles são apascentados não é exportável para aquelas zonas. O MNE português, Paulo Portas, reagiu como lhe competia. Como um homem civilizado.

20.10.11

UMA EQUAÇÃO SIMPLES


Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho são dois patriotas e dois homens sérios. Nenhum deles é um vulgar tagarela de corredor ou de televisão. Dois patriotas sérios e com um indeclinável sentido das responsabilidades, em tempos de emergência nacional, entendem-se perfeitamente.

Adenda de sexta-feira, 21: Vasco Pulido Valente, na crónica do Público, sova metodicamente Cavaco Silva. Não é nada de especialmente novo na, como agora se diz, "narrativa" do autor sobre o PR vai para mais de trinta anos. Apoda mesmo a sua eleição de 2006 como uma "desgraça", presumindo-se que o país seria hoje coisa bem mais comestível por terceiros se tivesse sido entregue na altura à dupla Soares, 3ª versão, ou Alegre e Sócrates. Numa coisa, porém, tem razão. Cavaco foi complacente com Sócrates praticamente até ao dia em que ele foi e veio de Bruxelas sem lhe dar palavra (o PEC IV). Mas - e a coisa é recente e qualquer patrulheiro pago ou desempregado pode averiguar - quem é que não foi?

OUTRAS ALTURAS

«Portugal tomou as medidas necessárias, mas entretanto deve fazer face, como os outros países, ao abrandamento da economia europeia, e a questão dramática que se coloca é de como aplicar um plano de rigor necessário, cortando nas despesas públicas, sem que haja crescimento económico. Não há resposta possível (por parte dos governos), é preciso que seja a UE a fornecer os meios do relançamento.»

Jacques Delors

2040


Quando os actuais, antigos e futuros funcionários públicos, pela natureza das coisas, já tiverem passado todos ao Oriente Eterno, ainda a conta das PPP custará aos sobreviventes cerca de 500 milhões de euros por ano. É em 2040. Por agora, custa a cada um de nós dois mil euros o que quer dizer que, para quem os mantém, um, dois ou três subsídios de natal ou de férias (consoante o que aufere, reformado ou activo), e para os outros (aqueles cujo nome não pode ser pronunciado), uma, duas ou três pensões ou outros tantos ordenados dos chorudos que auferem. Em 2012. Também em 2012, pelo sim, pelo não, o sector empresarial do Estado tem "acomodados" 6,4 mil milhões de euros no OE. Aguardemos, pois, por 2040.

SE

Isto for mesmo assim, o que é que eles ainda estão lá fazer?

19.10.11

A BEM DA EUROPA


Não deve haver nenhum europeísta convicto que não esteja farto das "cimeiras", pessoais ou electrónicas, de Merkel com Sarkozy. Não deve haver nenhum europeu de boa-fé que não desconfie das "conversações" desta dupla inconsequente. A antiga ministra alemã do ambiente e o antigo ministro das polícias francesas não souberam crescer politicamente para os cargos cimeiros para que foram eleitos. Lamento-o sobretudo pela Europa. Sarkozy revelou-se um logro. Não admira, pois, que o anódino Sr. Hollande apareça nas sondagens pronto a derrotá-lo em 2012. E Merkel ficou dezenas de pontos atrás dos últimos chanceleres, da esquerda ou da direita. Num país ou no outro, votaria sem hesitações na melhor alternativa doméstica. A bem da Europa.

NOTÍCIAS DO "BLOQUEIO"

O meu amigo E. Freitas, ilustre quadro da CP, deveria rever rapidamente o seu conceito de "força de bloqueio".

NUMA GALÁXIA NÃO TÃO LONGE ASSIM

Aqui.

DETALHE


Há coisas difíceis de explicar. Mas têm de ser explicadas. Ao pormenor.

CORAJOSO

O Pedro Santana Lopes a sugerir a suspensão do pagamento de subvenção vitalícia a políticos que a requereram (por exemplo, o actual primeiro-ministro não a requereu apesar do direito conferido pelo exercício do cargo de deputado pelo período então considerado para a poder requerer) e que ainda estão na "vida activa" enquanto durar o período de austeridade. A causa pública seria prestigiada. E sem necessidade de chamar à colação, parvamente, o "populismo".

18.10.11

A VOZ

O que estava a fazer mais falta ao país (e ao PS), agora, era a "opinião" deste extraordinário bardo da Rua da Sofia, um dos mais persistentes "donos" do regime.

ASSIM, COMO?


«Observado de perto pode até notar-se que escoa um brilho de humor por sob a casca, um riso cruel, de si para si, que lhe serve de distância para resistir e que herdou dos mais heróicos, com Fernão Mendes à cabeça, seu avô de tempestades. Isto porque, lá de quando em quando, abre muito em segredo a casca empedernida e, então sim, vê-se-lhe uma cicatriz mordaz que é o tal humor. Depois fecha-se outra vez no escuro, no olvidado. Lá anda, é deixá-lo. Coberto de luto, suporta o sol africano que coze o pão na planície; mais a norte veste-se de palha e vai atrás da cabra pelas fragas nordestinas. Empurra bois para o mar, lavra sargaços; pesca dos restos, cultiva na rocha. Em Lisboa, é trepador de colinas e de calçadas; mouro à esquina, acocorado diante do prato. Em Paris e nos Quintos dos Infernos topa-a-tudo e minador. Mas esteja onde estiver, na hora mais íntima lembrará sempre um cismador deserto, voltado para o mar. É um pouco assim o nosso irmão português. Somos assim, bem o sabemos. Assim, como?»
José Cardoso Pires (via Notas Verbais)

CONTINUAR


«I hope against all hope.»

17.10.11

ESTÃO

«É de ir à escola perguntar se estão a brincar com tudo isto!!»

ABERTURA



Gaetano Donizetti, Anna Bolena

16.10.11

À FRANCESA


François Hollande defrontará Sarkozy nas presidenciais francesas do próximo ano. Isto após um interessante processo de escolha do candidato que passou do partido (o PSF) para a sociedade. Repito. Não se perdia nada em fazer umas "primárias" por cá uma vez passada a fase dos "candidatos naturais" à esquerda e à direita. Marcelo - que este domingo da decisão das "primárias" francesas esteve muito preciso e certeiro na análise da vida doméstica - não perdia nada em ser o primeiro em sugerir um processo semelhante para as próximas presidenciais.

DE ACORDO

Com Estrela Serrano (às vezes acontece e parcialmente). «A presença dos actores políticos, estejam no governo ou na oposição, é assegurada através da cobertura jornalística das suas actividades públicas e em debates e entrevistas, sem necessidade de lhes serem atribuídos espaços próprios remunerados. Ter políticos “avençados” como comentadores não é muito saudável nem para a democracia nem para o jornalismo.» Apenas acrescento - e aí não acompanho E.S. - que no caso das televisões que não são subsidiadas pelos contribuintes, cada um contratualiza com quem e o que lhe aprouver.

Adenda: Por falar em televisões subsidiadas pelos contribuintes, a RTP, na parte "informação", neste fim de semana de folclore e cerveja à porta do parlamento, trouxe à memória a RTP do velho Lumiar de 1975, sobretudo naqueles dias trágico-cómicos de Novembro que terminaram com a substituição de um patético capitão Duran Clemente (que nos anunciava a "revolução" em directo) por um filme de Danny Kaye.

O RISCO DO ESTIGMA


Bagão Félix é entrevistado no Diário de Notícias. São poucas as perguntas e boas as respostas. Embora só possa ler lida em papel, a ideia fundamental da coisa já foi formulada noutra ocasião: o corte não deverá abranger apenas os rendimentos de trabalho, essencialmente da função pública, mas chegar, também, aos rendimentos de capitais. «Devia ser alargado aos trabalhadores por conta própria, aos liberais e aos por conta de outrem. Evidentemente aí estou consciente de que o Estado não pode determinar a supressão do subsídio de Natal e de férias, só por acordo entre as partes, ou através de uma imposição fiscal.» Tem razão.

REGULAR A CASA

SÃO OBSERVADOR BOAVENTURA

São Boaventura (Sousa Santos) - ainda estará no quentinho do seu "observatório" da justiça onde, desde 1996, a "observa" com o sucesso estrondoso que se conhece? - apareceu na RTP Informação a debitar as suas habituais inanidades "progressistas" em manifesto aproveitamento "ideológico" do folclore vário que teve lugar, ontem, um pouco por muitas cidades europeias. A RTP Informação tem-se esforçado. Mas São Boaventura? Por amor de Deus.

Adenda (de Samuel de Paiva Pires, por mail): «Não me parece que seja tanto oportunismo e aproveitamento ideológico, pois que me parece que este está na génese de alguns dos chamados movimentos sociais que por aí vão pululando. Basta atentar nas estratégicas entrevistas da RTP aos seus fiéis discípulos (Paula Gil, João Labrincha etc) que lideram o movimento da Geração à Rasca. Não creio que se trate de meras coincidências...»

Adenda2 (do José Mendonça da Cruz: vale a pena ler o post todo): «Eu sou dos 99% que, num raro momento de alívio cómico proporcionado pela RTP, se riu muito com as habituais excentricidades alinhadas por Boaventura Sousa Santos.»Link

15.10.11

A BOLENA DE NETREBKO



Enquanto - parece - algumas pessoas se manifestavam, "indignadas", à volta da AR (os mais velhinhos devem estar lembrados que a ideia não é original e costuma trazer fartos benefícios ao país como se viu em 75 ou aquando das pilinhas rascas à mostra aí por 94), assisti, na Gulbenkian, à transmissão em directo da ópera Anna Bolena, de Donizetti, a partir da ópera de Nova Iorque. Anna Netrebko foi insuperável no papel titular. Ekatarina Gubanova, outra russa, esteve impecável enquanto Seymour, a torturada amante do rei e infeliz sucessora de Bolena na real cama e no trono. Oxalá pudesse tecer, para além da Orquestra Sinfónica Portuguesa, de Elisabete Matos e de mais um ou dois solistas, idênticos encómios ao Don Carlo em exibição no nosso São Carlos. Mas, francamente, não posso.

O "AR MODERNO" E A REALIDADE


«Poderíamos desejar tudo diferente, mas é este [Governo] que temos e se, no final, chegar a 2012 e 2013 cumprindo os objectivos do défice, fará bem. Esta vontade existe no Governo e isso é muito positivo. A consciência da emergência também existe, e isso também é bom.»

José Pacheco Pereira, Público


«Só ficou espantado com o discurso de Passos Coelho quinta-feira quem pertencia à larga parte dos portugueses que achavam a nossa vida normal até agora: tanto a nossa vida como indivíduos, como a nossa vida como país. Se era razoável copiar a Europa, sem o dinheiro da Europa, então fomos razoáveis. Sucede que não era e nós fomos colectivamente loucos. Não havia um "Estado social", resolvemos fazer um "Estado social" e também (porque não?) auto-estradas por toda a parte, monumentos sem destino e sem utilidade (o CCB), estádios de futebol, exposições, rotundas (para a província) e bairros sobre bairros para os subúrbios de cidades que, de resto, iam pouco a pouco morrendo. Portugal ficou com um ar "moderno", não ficou?»

Vasco Pulido Valente, idem

A "LIÇÃO DE SAPIÊNCIA"

Do leitor (e professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) Manuel Maria Pacheco Figueiredo:

«Caro João Gonçalves

Pode parecer anedota, mas não é! O Director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto convida-nos para a "
Cerimónia de Abertura do Ano Letivo" (suspeito que se refere a Lectivo) cuja "Lição de Sapiência" estará a cargo do Excelentíssimo Senhor Professor Fernando Teixeira dos Santos!!!! Não sei se isto é para rir ou para chorar, mas revela bem um dos maiores problema do (ainda) nosso País: a falta de vergonha na cara. Chamo a atenção para a (socretina) presença do Reitor da UP, Professor Marques dos Santos, que, pelos vistos, é outro que não tem vergonha na cara. Também não admira. Afinal, quem é que se insurgiu contra esta vergonhosa instrumentalização da Universidade do Porto nas vésperas das eleições de 5 de Junho passado (é o cavalheiro sentado à esquerda do filósofo parisiense)? Valha a verdade que não me constou que mais alguma Universidade se tivesse prestado a este frete.

Com os meus cumprimentos»

FENÓMENOS DO ENTRONCAMENTO

14.10.11

«DO YOU WANT SOME ACTION? I'LL GIVE YOU SOME ACTION»

O NOME DAS COISAS E AS COISAS PELO NOME DELAS

«Passos promete apurar responsáveis por desvios orçamentais. Será uma verdadeira caça ministério a ministério, divisão a divisão, aos “agentes” que estiveram na origem dos “encargos insustentáveis”. É a promessa deixada esta manhã pelo primeiro-ministro Passos Coelho no Parlamento. “Não deixaremos de, parceria público-privada a parceria público-privada, contrato a contrato, saber quem, porquê e como estiveram na origem dos encargos insustentáveis”, afirmou Passos Coelho, referindo que não se estava a referir à “responsabilização político-partidária”.»

Público, 14.10.11

Adenda: E estes idiotas úteis, onde andam?

A ÉTICA É ESTAR À ALTURA DO QUE NOS ACONTECE*

Se Medeiros Ferreira apelida de "não ético" o Governo em funções, que nome daria ao imediatamente precedente, o «que contribuiu activamente para a nossa falência» e cujos principais arietes aparecem agora armados, sem um pingo de vergonha, em «virgens pudicas»? Ou Medeiros crê que chegámos a isto por obra e graça de quem? Do Divino Espírito Santo?

*Deleuze

13.10.11

DA IRRESPONSABILIDADE À AUTENTICIDADE

Gomes Ferreira, comentador da sic, resumiu bem a coisa. Não foram estes quatro meses que conduziram o país ao estado descrito, com autenticidade, pelo primeiro-ministro. Foram seis anos - diria quinze com um breve interregno - de "esquerda moderna". Seis anos com coisas como esta que, nas palavras de outro jornalista, Pedro Santos Guerreiro, conduziu a que não houvesse outra alternativa: "nós não temos dinheiro". Aquela gente comprometeu o futuro do país com um risinho idiota nos lábios e com uma retórica estúpida ainda hoje "desenvolvida" nas várias tribunas onde debitam ou onde se escondem. Talvez a mera responsabilidade política se venha a revelar insuficiente perante a monstruosidade em causa. Vamos ver até onde chega a coragem do regime.

DO CHÁ AO GOLFE

Na imagem, o meu chá verde preferido. Neste texto do Correio dos Açores, outro tipo de "chá". Ou da falta dele.

A CABANA DE WITTGENSTEIN


«Dedicaré solo unas palabras al refugio que más me atrae y emociona: el de Wittgenstein, que hace 102 años, en un mundo tan patético como el actual, se fue a vivir a Skjolden, Noruega, a una barraca que se construyó él mismo en un sitio completamente aislado; allí profundizó en su pesimismo, intensificó sus sufrimientos mentales y morales, estimuló su intelecto, reflexionó sobre la necesidad de amor y también acerca de la rudeza radical con la que rechazaba esa necesidad. En Skjolden logró aislarse y oír su propia voz y confirmó que se podía pensar mejor desde la cabaña que desde la cátedra. De hecho, empezó a dirigirse desde allí muy particularmente a quienes quisieran iniciarse en un nuevo modo de ver las cosas y no a la comunidad científica ni a la ciudadanía. Para él, pensar podía llegar a ser una gesta artística. Su ideal filosófico fue la búsqueda de lucidez liberadora, de apertura de la conciencia y del mundo; no quería ofrecer verdad, sino veracidad, ejemplos y no razonamientos, motivos y no causas, fragmentos y no sistemas. Exilado de la estupidez humana, al amparo del aire espontáneo de su refugio noruego, junto al fiordo Sogne, abrió con sus actitudes hacia la filosofía un camino: trató de comprender, no de juzgar; trató de convencer, no de demostrar
Enrique Vila-Matas

12.10.11

EM DEFESA DAS PRIMÁRIAS PRESIDENCIAIS, 2

A propósito das "primárias" dos socialistas franceses - no domingo a escolha é entre Aubry e Hollande para enfrentar Sarkozy, em 2012, uma vez afastado o melhor candidato, Strauss Kahn -, disse-se isto. Felizmente há entre nós quem, noutras tribunas, "pegue" adequadamente no tema. Falta os nossos putativos candidatos fazerem o mesmo. Basta um bocadinho de ousadia e menos língua de pau.

SOLIDARIEDADE E RESPONSABILIDADE SEM FALHAS


Grande intervenção do Presidente da República em Florença sobre a Europa em crise. E sobre nós. «A crise envolve a zona euro e não está confinada a um ou outro Estado membro. Na situação actual, e face ao elevado grau de interdependência económica e financeira, qualquer desenvolvimento negativo num Estado da zona euro terá sempre impacto negativo em todos os outros Estados. É este risco de contágio que tem de ser prevenido adequadamente e não pode ser menosprezado. Perante a evidência da crise, a União tardou a reconhecer a sua natureza e a sua escala e tardou a dar-lhe a resposta que se impunha. Enredada numa retórica política de recriminações mútuas, evitando reconhecer a responsabilidade partilhada, ignorando a evidência dos riscos de contágio, hesitando na solidariedade, oscilando nos instrumentos a usar, promovendo uma deriva intergovernamental, a União Europeia deu guarida a uma crescente especulação sobre a zona euro, alimentando as incertezas sobre o próprio futuro da moeda única. Ora, o que os mercados estão a testar é precisamente a existência de uma verdadeira e consistente União Económica e Monetária. Recordo palavras de Jean Monet. Cito: “Não temos senão uma escolha: entre as mudanças para onde seremos arrastados ou aquelas que decidimos por nossa vontade realizar”. De novo hoje nos confrontamos com essa escolha: ou enfrentamos a crise com as medidas que se impõem ou seremos arrastados por ela para mudanças imprevisíveis e incontroláveis que põem em risco a própria União Europeia. O tempo que enfrentamos exige acção e acção rápida. Os mercados não esperam por discussões labirínticas e negociações intermináveis. Custa a compreender, por exemplo, que as positivas decisões do Conselho Europeu de 21 de Julho ainda estejam prisioneiras de obstáculos políticos e formais. Tal como é inadmissível o happening quotidiano de discursos divergentes por parte dos líderes europeus. Este tempo exige, mais do que nunca, convergência, solidariedade e responsabilidade sem falhas. (...) Não escondo a preocupação com que venho assistindo, nos últimos anos, à desvirtuação do método comunitário. A deriva intergovernamental está a contaminar o funcionamento institucional da União Europeia. Em vez de uma mobilização convergente, e de uma responsabilidade solidária por parte de todos os Estados e instituições, vamos constatando a emergência de um directório, não reconhecido, nem mandatado, que se sobrepõe às instituições comunitárias e limita a sua margem de manobra. Este é um caminho errado e perigoso. Errado por que ineficaz. Perigoso por que gerador de desconfianças e incertezas que minam o espírito da união.O caminho certo é o do método comunitário, como a história da integração europeia eloquentemente demonstra. Foi com o método comunitário que a integração europeia se aprofundou e afirmou. (...) Portugal firmou um acordo de assistência financeira com a UE e o FMI. Esse programa colhe o apoio largamente maioritário do Parlamento e será, sem dúvida, cumprido na íntegra pelo Governo português. Portugal honrará plenamente os seus compromissos, reestabelecerá o equilíbrio das finanças públicas e levará por diante as reformas estruturais indispensáveis ao reforço da competitividade da sua economia. Estão a ser exigidos duros sacrifícios ao povo português, que tem respondido com grande sentido de responsabilidade. É importante, também para a UE, que o exigente esforço de Portugal seja coroado de pleno sucesso. Para isso é necessário que a União Europeia enfrente a crise financeira com as medidas adequadas e em tempo certo, que tome as decisões sistémicas que se impõem para estabilizar a zona euro, fortalecer os sistemas financeiros e promover o crescimento económico.»

UMA PEQUENA MADEIRA EM LISBOA

Aqui.

O VERDADEIRO RAVELSTEIN

11.10.11

E AGORA?

Ouço Manuel Maria Carrilho dizer na tvi24 que não se sabe nada do que seja o orçamento de 2012. Se o meu caro professor e amigo reler o seu último livro (seu, dele), encontrará decerto parte substancial da resposta.

A PARTE "DO NÃO HAVER DINHEIRO"

Não vi, mas constou-me que, numa entrevista à sicn, o Francisco José Viegas revelou que, em algumas conversas com os seus interlocutores do sector da cultura, se via forçado a perguntar qual era a parte "do não haver dinheiro" que o seu interlocutor não entendia. Este secretário de Estado também se deparou com o mesmo problema num outro sector. Só um imbecil profundo é que não entende o que denota "não haver dinheiro". Todavia, esta é, de facto, a questão do momento (e dos próximos momentos) graças, nomeadamente, a alguns engraçadinhos que aparecem neste clip com ar descontraído como se não tivessem tido nada a ver com a dita parte "do não haver dinheiro" agora. Porventura tudo isto é política. Será. Mas também é outra coisa que me dispenso de nomear.

O "ERRO DE CÁLCULO"

Para se perceber como é que chegámos até aqui, é preciso "somar" algumas parcelas - esta é uma delas. E ter a perfeita noção que «se escondeu informação e se enganou a opinião pública» porque «a acreditar nos dirigentes nacionais [e em um número infinito de papagaios que persistem papagaios], vivíamos, há quatro ou cinco anos, um confortável desafogo.» Não vivíamos. Nem vivemos ou viveremos tão depressa. Começa a entender-se. Começa a ter de se dar nomes e responsabilidades às coisas.

10.10.11

AS COISAS SÃO O QUE SÃO


Não haver dinheiro é mesmo só e apenas isso: não haver dinheiro. Acabaram as habilidades e os choradinhos. As coisas são o que são. E são, sobretudo, aquilo a que as fizeram chegar.

AFINAL

9.10.11

A LEALDADE POLÍTICA EM FORMA DE MÚSICA



Verdi, Don Carlos. Piero Cappuccilli, José Carreras. Herbert von Karajan, Festival de Salzburgo 1986.

O DIA SEGUINTE


O PSD obteve esta noite nova vitória eleitoral após as legislativas de Junho último através da maioria absoluta de mandatos alcançada pelo PSD/Madeira no parlamento regional. No conjunto, os partidos que sustentam o Governo da República alcançaram um excelente resultado na Madeira enquanto o PS entrou em puro descalabro, caindo para um triste terceiro lugar. Estes resultados implicam grandes responsabilidades para o futuro Governo regional liderado por A. J. Jardim. Parabéns aos portugueses da Madeira. E um abraço amigo para o Guilherme Silva, um grande patriota.

EM DEFESA DAS PRIMÁRIAS PRESIDENCIAIS


Os socialistas franceses, num processo eleitoralmente interessante que não se reduz aos soicalistas, escolhem este domingo o seu candidato ao Eliseu de 2012. Se ninguém obtiver a maioria, os dois mais votados regressam às urnas daqui a oito dias. Gosto deste sistema da mesma forma que gosto do sistema semi-presidencial francês que defendo para Portugal. E gostaria de ver os putativos candidatos das esquerdas e das direitas domésticas a disputar "primárias" em vez de andarem a enviar recadinhos frívolos uns aos outros. Seria uma prova de maturidade política desses putativos candidatos e da nossa democracia que ainda tem de tombar muitas panelas até chegar a adulta.

GESTO DE CORTESIA

Medeiros Ferreira, insuspeito para o efeito, discorre aqui sobre a melhor decisão política de Carlos César em dezasseis anos de presidência do Governo Regional dos Açores. Um belo gesto de cortesia. A de Medeiros em relação a César, evidentemente.

8.10.11

A ISABEL DA ELISABETE




Don Carlos, de Verdi, a sua obra porventura mais "negra" e mais "política", regressa ao São Carlos. A última vez que lá passou foi em 1977 e no papel de Isabel de Valois estava Mara Zampieri. Agora está a Matos, a Elisabete Matos, que por circunstâncias várias vive lá fora e ombreia com qualquer das melhores intérpretes líricas do momento. Dos restantes intérpretes, da encenação ou da direcção musical pouco sei mas a Matos consola-me. Vamos ver.

O FIM DAS SCUTS

Santana Lopes, quando esteve primeiro-ministro, foi famosamente sovado pela opinião dita pública (e por alguma da que se publica) por querer acabar com as scuts, uma aberração inventada pelo visionário Cravinho no tempo em que as vacas do Continente e dos Açores eram gordas (as da Madeira estão à beira de uma cura de emagrecimento forçado). Ou seja, era urgente acabar com o conceito e as respectivas consequências - "sem custos para o utilizador" - e não com as estradas. Anos volvidos, o actual Governo termina com essas inqualificáveis borlas para a semana e o ministro da tutela, Álvaro Santos Pereira, anunciou-o perante uma, também, inqualificável comissão parlamentar onde pontificam alguns dos mais ilustre tenores e aves canoras do regime "deposto" a 5 de Junho que (parece) ainda não se deram conta de tal defuntice política. Este folclore aberrante e de circunstância pouco importa. O que importa é a decisão política firme apesar da tentativa de crucificação mediática do ministro à custa de dois ou três esbirros irrelevantes. E essa decisão, podem ter a certeza, está tomada e é irreversível.

7.10.11

MADEIRA FOR ALL SEASONS



Aqui. O serão de domingo vai ser muito divertido. Para compensar o day after.

SEGURO E O VAZIO

António José Seguro aparentemente não tem mão na oposição interna. Queixa-se, aliás, abundantemente dela. Mas é ela quem continua a falar como se nada tivesse mudado no país e no PS entre Junho e Outubro do corrente ano. Por exemplo, a antena1 (RTP) anunciou uma entrevista com Silva Pereira - o braços direito e esquerdo do ex-1º ministro e antigo secretário-geral do PS e seu mais perfeito clone -, conduzida por Maria Flor Pedroso, que teve lugar esta sexta-feira. Sabemos mais dos amuos de Francisco Assis do que das "ideias" da nova direcção do PS para o país. E no parlamento continuamos a ouvir muitos daqueles que a "quota" Sócrates de 2009/2011 incluiu entre pessoas amplamente estimáveis. Se Seguro se queixa, deve começar por se queixar dele próprio. Há um momento em que é preciso mostrar quem manda. Por causa daquela coisa que a política tem do horror ao vazio e que criaturas como Pereira, com complacências várias, conhecem perfeitamente.

O SENHOR DO LADO É QUE DEVE PAGAR A CONTA

«A pindérica festarola do "5 de Outubro", a que ninguém ligou, só serviu para António Costa exibir a sua costela socialista e a ideia eminentemente indígena de que o senhor do lado é que deve pagar a conta. O dr. Costa quer uma estratégia para o "desenvolvimento" , como toda a gente, e não quer "cortes", e menos "cortes cegos", na educação, que ele, como toda a gente, considera a grande esperança no renascimento da Pátria. "Cortar" na educação seria "cortar" no "essencial". Como não seria, imagina com certeza o basbaque, "cortar" na saúde ou na segurança social - que o dr. Costa, num tropo obrigado, se dignou a explicar que, mesmo assim, se não deviam confundir com uma "caridade anacrónica" ou com um "assistencialismo serôdio". Ficámos cientes. Ficámos principalmente cientes que os nossos políticos se poderiam com vantagem substituir por um realejo.»

Vasco Pulido Valente, Público

6.10.11

SUGESTÃO DE LEITURA


Foram hoje conhecidos os novos nomes que os dois maiores partidos com representação parlamentar indicam para o conselho regulador da ERC. A ERC é uma imposição constitucional pelo que apenas uma futura revisão da constituição poderá ponderar o seu fim. Enquanto cidadão sou inequivocamente favorável à não existência de uma entidade reguladora para a comunicação social. A experiência da ERC, aliás, não se pode considerar propriamente feliz numa sociedade ainda demasiado longe de ser "aberta". Uso um termo de José Manuel Fernandes no livrinho da foto, Liberdade e Informação. As páginas sobre a ERC são eloquentes a respeito da referida infelicidade. Não diria melhor.

DISTRAÍDOS

«Passámos a última década distraídos, muito distraídos. Primeiro, com a declamatória "estratégia de Lisboa" aprovada em 2000, que deveria ter feito da União Europeia "a economia do conhecimento mais competitiva e dinâmica do mundo, antes de 2010, capaz de um crescimento económico duradouro acompanhado por uma melhoria quantitativa e qualitativa do emprego e uma maior coesão social"... Depois, arrastando os problemas institucionais da UE, de cimeira em cimeira, de tratado em tratado, só descobrindo a quase inutilidade de tudo isto quando a ratificação do último, o Tratado de Lisboa, coincidiu com o rufar dos tambores da crise, a dizer que afinal os problemas que se impunha tratar eram outros.»

Manuel Maria Carrilho, DN

5.10.11

PORREIRO, PÁ


A sra. Merkel esteve em Bruxelas com o nosso venerando dr. Barroso. Antes ou depois disso, no parlamento europeu, elogiou Portugal e forneceu-o como exemplo à Itália quanto ao sucesso no cumprimento de medidas devidamente concertadas. Até parecia que a Europa tinha, finalmente, recomeçado a funcionar. De tal forma que Merkel e Barroso, dois fervorosos entusiastas do extraordinário tratado de Lisboa, já falam em revê-lo. Porreiro, pá.

A MENINA DO 5 DE OUTUBRO


A "novidade" do 5 de Outubro na Câmara de Lisboa foi uma menina de dezassete anos, vinda da Maia, que perorou sobre a História. Tudo o que disse resultou da vulgata que lhe ensinaram no básico e secundário a propósito da "revolução" e dos seus "heróis" a quem ela apodou de "intelectuais". Uma vulgata que inclui as inevitáveis tiradas sobre a liberdade e a escola, o "progresso" e a sociedade civil "elevada". Com o devido respeito, a menina está equivocada embora mereça amplamente o prémio que o regime que a formatou lhe deu. Desde logo, a 1ª República pouco ou nada teve a ver com a liberdade. Foi uma tirania de origem urbana, centrada em meia dúzia de luminárias, em geral nefastas, que sustentaram a primeira das duas ditaduras que marcaram o século XX português. Aliás, a segunda (a de Salazar) só foi viabilizada porque existiu a anterior, iniciada a 5 de Outubro de 1910, da qual apenas a leviandade política pode guardar saudades. Como republicano, o 5 de Outubro e a as suas sequelas não me suscitam o menor aplauso porque nada há a aplaudir. Não é por acaso que toda a gente anda com a "mudança" na boca desde a outra revolução, a florida do 25 de Abril. E ainda será da dita "mudança" que se falará no segundo centenário da coisa e assim sucessivamente. A menina de 2011 deve rever a matéria rapidamente.

4.10.11

BOM GOSTO


Literário - pelo menos a avaliar pela ilustração - dos meus amigos "portistas de bancada". E a prosa (de futebol não percebo nem quero perceber) está à altura da ilustração.

A MEDIDA DA NOSSA SERIEDADE


«Esta era a sua maneira de expor um assunto - não propriamente lisonjeira, mas ele nunca lisonjeava ninguém, nem falava connosco para nos achincalhar. Ele simplesmente acreditava que a capacidade de deixar a nossa auto-estima estrutural ser atacada e feita em cinzas era uma medida da nossa seriedade. Um homem devia ser capaz de ouvir, e de aguentar, e de ultrapassar, o pior que pudesse ser dito dele.»

BELLOW, Ravelstein

2.10.11

ACÇÃO DE GRAÇAS

O dr. Pacheco encontrou finalmente uma - nele equivale a uma centena, no mínimo - medida positiva tomada pelo Governo Passos Coelho.