31.1.06

PROBLEMAS DE CARREIRA

Ler "Indexação" , por Vasco Pulido Valente.

FACILIDADES

Eu e o professor de Coimbra voltamos a estar de acordo, menos na coisa do "código de ética". Como dizia a boazinha, quem tem ética passa fome.

O PARTIDO


Vários veneráveis "colegas" da blogosfera, v.g o Paulo Gorjão e o Manuel, andam numa verdadeira excitação por causa do PSD. Consta que se preparam facadas e navalhadas de índole diversa tendo com alvo principal o estimável dr. Mendes. Depois, fazem-se "prognósticos" sobre putativos candidatos ao trono de presidente do partido e especula-se sobre a saída de Passos Coelho (quem?) do lugar de vice-presidente. Imagino que o país - a parte que faltava não dormir descansada depois da eleição de Cavaco - sofra terríveis insónias com semelhante temática. Apenas duas ou três observações. Marques Mendes, apesar de baixinho, é, como alguém já lembrou, um osso duro de roer. Averbou, sem se mexer muito, duas vitórias eleitorais expressivas por interpostas pessoas. E é homem de "métier", o que não é nada desprezível. Por outro lado, a "elite" partidária, desde a dos economistas até outros mais plebeus, não deve estar muito interessada em passar três anos "a pastar a vaca". E depois, se Mendes ganhar as "directas" e "aguentar", não é assim tão verosímil trocá-lo por um vidente de última hora. Quem eu gostava de ver a disputar as "directas", nem que fosse para estar entretido durante uns dias, era Santana Lopes, o eterno defensor da ideia. Este congresso que aí vem é, pois, uma pequena missa solene para saudar o presidente eleito e cuidar de vaga burocracia estatutária. Os peões, os mesmos de sempre, mexer-se-ão, como de costume. Não tenho todavia a certeza que jogo se altere assim tanto. Sócrates pode governar descansado e, no essencial, apoiado até mais ver.

UM OUTRO MESMO DIA


Meio mundo, nosso e próximo, prostrou-se embotado perante o patrão da Microsoft, o sr. Bill Gates. Nem à pindérica Ordem do Infante D. Henrique a criatura foi poupada. Gates parece que veio dar um empurrão financeiro ao "plano tecnológico" e simultaneamente exercer filantropia. De caminho, parou para ensinar ao governo, aos "altos quadros da administração pública e local" e a outras luminárias dispensáveis a "técnica" da "boa governança" e da boa "gestão" de acordo com o seu cânone. Este comovente interesse por Bill Gates - com direito à parola exibição televisiva das "medidas de segurança" que envolvem o acontecimento - apresenta contornos do foro erótico. Muita gente se terá espremido para estar presente, mesmo que de longe, e "tocar" o homem. O pior da coisa não é Gates, alguém a quem, naturalmente, muito devem os tempos correntes. A assistência é que me preocupa. O que é que tanta "elite" democrática e burocrática pode "beber" da cartilha Gates? O que é que, tudo somado a final, nos conforta e "moderniza"? Escuso-me de lembrar as tentativas, desde as sérias às puramente grotescas, feitas ao longo da nossa história em prol da "modernização" e de um "novo homem", português e mais recentemente cibernético. Suspeito que Bill Gates não imagina com quem é que se veio meter, nem isso lhe deve interessar para o efeito. Daqui parte para outra, designadamente para a Europa a sério, e não se fala mais nisso. As "elites" e os burocratas regressam a casa mais contentes. Afinal, amanhã é um outro mesmo dia.

EVERNESS

No Minha Rica Casinha.

NADA



Hoje acordei assim. É mais ou menos isto, sem pensar.

30.1.06

É BOM QUE ELES EXISTAM

Agora que Vasco Pulido Valente chegou à blogosfera, está criada - finalmente, diria eu - uma nova "centralidade" (uma palavra altamente recomendada pelo "plano tecnológico") na dita. Estes anos de blogosfera nacional foram intensamente dominados pelo José Pacheco Pereira cuja atenção ao quotidiano político, cultural e "social" - ao dele e ao de alguns outros, extravagantes ou corriqueiros - fez "escola", instituindo-se como uma chamada "referência". Com o fim de um ciclo político - e muita da blogosfera seguia-o ferozmente - chega também ao fim uma "era" do ciclo blogosférico. E, muito naturalmente, talvez Pacheco Pereira - que me parece muito interessado, de novo, no "seu" próprio ciclo político e no do seu partido - abandone o tal papel de "centralidade" de que gozava por aqui. Não faço ideia. A "chegada" de VPV marca uma nova fase nestas aventuras. Eu estou habituado a ele desde, pelo menos, "O país das maravilhas". Nunca imaginei que viesse a ser meu professor em duas cadeiras extravagantes fornecidas ao curso de direito da Universidade Católica, com quatro ou cinco anos de intervalo. Excelentes aulas e excelentes indicações bibliográficas. Provavelmente nunca teria lido Joachim Fest, A.J.P Taylor ou Bullock se não fossem essas aulas e essas indicações. E jamais teria andado pelas livrarias de Londres à procura de "mais" Taylor para ler. Quanto à "política", estamos praticamente conversados. É patente que, descontando o desvelo tardio pela candidatura do dr. Soares - que não pelo homem e pelo político -, eu "sigo" a "linha", imaterial e tantas vezes improvável, de VPV. Como ele, mas a milhas dele, não tenho nada a perder que não tivesse perdido já. Ganhei sobretudo em mau feitio e no desprezo geral que nutro pelas circunstâncias e pelas pessoas "ocorrentes". Num texto com uns anos, VPV escreve sobre os telefones que deixaram de tocar e sobre um mundo que se deita aos nosso pés e que, de manhã, carregamos inexplicavelmente às costas. É por esse mundo que eu tenho andado e do qual dificilmente sairei. E, nele, é bom que pessoas como o VPV e a Constança existam.

ROMA


Fui informado pelo Manuel que estreia na 2: uma série da HBO chamada Rome. Como o nome indica, passar-se-á nos gloriosos tempos que antecederam o nascimento de Cristo, naquela maravilhosa sociedade pagã em que o excesso era o verosímil. Suetónio deu-nos um bom retrato desses tempos, através das biografias dos "doze Césares", e Gibbon o seu crepúsculo. Vejamos, pois, o que esta "Roma" nos reserva.

ECCE HOMO

Aqui.

AGORA...




...ando envolvido com este senhor.

PASTELARIA CISTER

Um acaso feliz levou-me a encontrar José Medeiros Ferreira num famoso café perto de sua casa, ao Príncipe Real. Precisamente no mesmo sítio onde, vai para vinte e sete anos, e por causa do "Manifesto Reformador", nos cruzámos. Nessa altura eu tinha todas as ilusões do mundo sobre o “homem” e o “futuro”. Agora não tenho nenhumas. Fiquei satisfeito por permanecermos ambos “reformadores”, um no registo "optimista", o outro no que se pode ler aqui. Ele, do lado “esquerdo” da vida pública, e eu modestamente mais inclinado à “reforma” do encosto “direito” do regime. Sempre admirei em Medeiros Ferreira e na sua intensa actividade política a capacidade de promover uma subtil e permanente aliança entre a reflexão e a acção. O impulso do “terceiro soarismo”, gorado nas urnas, vem daí, mas a história regista outros cujo acerto é hoje indiscutível. Quem sabe se, mesmo este, com o decurso do tempo, não se revelará interessante. O presidente Cavaco prescindirá de ouvir, em determinados contextos, Mário Soares? Mas adiante. Por causa da “justiça”, Medeiros Ferreira recordou-me um “desafio” não correspondido pela Grande Loja – sítio onde a “justiça” faz correr rios de posts – em que, a propósito do papel do Ministério Público, se falava do “recuo do estado acusador”, considerando as posições de alguns sobre o papel da Procuradoria Geral da República no contexto do Estado democrático de direito. E rematámos a conversa da melhor maneira, com Mitterrand, por causa dos cultores da superficialidade política. Escrevia Mitterrand, em "L’ Abeille et L’Architecte", que existe uma classe de políticos com algumas convicções e com muito métier. Apesar das discordâncias dos últimos tempos, arrumadas com a vitória de Cavaco Silva, eu continuo a preferir os homens com convicções e menos métier, mesmo quando concordo ou não concordo com eles. Homens contraditórios e por isso mais densos, como Medeiros Ferreira.

VASCO

A semana começa diferente na blogosfera. Vasco Pulido Valente vai escrever no Espectro . "O poder dos cidadãos" do Alegre, ao pé disto, não vale nada.

29.1.06

DA PARÓQUIA

Este post acerca da indicação de Tomás Taveira para o "conselho consultivo do IPPAR" e das reacções que a mesma suscitou é muito oportuno. O "lobby" dos arquitectos, capitaneado pela voluntarista-mor do reino, a emotiva Roseta, mandou o mais que pôde no IPPAR até à emergência de Elísio Summavielle. Tomás Taveira, por razões maiores ou menores que não vêm ao caso e que só olham para onde não devem, tem sido o "bombo da festa" destas magníficas cumplicidades. Pode-se gostar ou não gostar do homem, todavia tem obra e percebe da obra. "Se há arquitecto que protagonizou dos últimos e interessantes debates sobre cidade e arquitectura em Lisboa e Portugal, com todos a terem e darem a sua opinião, terá sido Tomás Taveira. Mesmo antes das suas aventuras pela cinematografia. Que não gostem do homem, tudo bem, também não gosto. Que se censure a sua arquitectura, nada do outro mundo, mas é pelo menos uma obra é passível de crítica, (ao contrário do grosso da construção das nossas cidades). Que se pretenda afastá-lo da história da arquitectura portuguesa contemporânea, já é menos sério. Lançar o anátema do cu da menina Kookai sobre ele é que me parece de uma mesquinha vingançazita de quem não tem obra visível e discutida tanto pela mulher de limpezas como pela Maria Filomena Mónica.", lembra bem o autor. O "Portugal dos Pequeninos" de que aqui se fala todos os dias também é feito destas misérias paroquiais denunciadas pelo João. "Sobre a intervenção do IPPAR na sociedade e na cidade haveria muito a dizer: dos tráficos de influências a arquitectos que num ápice adquirem uma valiosa carteira de clientes e ainda mais depressa uma exposição de trabalhos – trabalhos??? – no Centro Cultural de Belém, a promotores que obtêm a anuência do Instituto para o derrube de velhas sanitas de Garrett enquanto que outros, na mesma rua, num lote contíguo, por não serem amigos do IPPAR, não obtêm o mesmo deferimento. Todo um rol de actividades que no fundo no fundo mais não são que a ressonância da forma como a sociedade portuguesa se organiza.No meio dos pedreiros, dos arquitectos e engenheiros, há lobbys. Estes são legítimos. São, porventura, úteis. Neste momento o mais óbvio é o dos paneleiros. Controla a crítica, promove o rabo uns dos outros. Qualquer pequena e irrelevante obra é pretexto para um texto no suplemento cultural de um diário, de uma aparição no único programa dedicado à disciplina emitido na televisão portuguesa – Tempo e Traço, na SicNotícias – onde se debitam discursos à volta do “bar da Laranja Mecânica e da capa de um cd do Triky” como grandes linhas programáticas que orientam um projecto pouco menos que socialmente irrelevante."

VERGÍLIO FERREIRA


Este post lembra-me Vergílio Ferreira, cujo aniversário natalício passaria ontem. Numa outra minha encarnação, quando escrevia para a "secção" dita cultural do Semanário de Cunha Rego, conheci Vergílio Ferreira. Escrevi, até, uma pequena peça sobre ele a que chamei "parabéns, Vergílio Ferreira" e recebi em troca um amável cartão do autor. Nesses tempos o narcisismo literário-jornalístico ainda não estava completamente na moda, pelo que se podia perfeitamente escrever sobre autores e não apenas sobre os amigos, os amantes, as amantes, os conhecidos e criaturas afins, sem correr o risco de masturbação mútua. Por outro lado, também só se escrevia praticamente num único sítio porque não abundavam as capelas e só havia uma televisão. Tal como ao autor do post, Vergílio Ferreira entrou demasiado cedo na minha vida com o inevitável "Aparição". Anos depois, por causa de Évora, agarrei-me à "Carta ao Futuro" e, por minha causa, li praticamente tudo dele. Os corrosivos diários ("Conta-Corrente") são uma magnífica demonstração de erudição aliada a um curioso sentido do quotidiano, mesmo o político, numa fase ainda incipiente da nossa democracia. Os amores e os ódios de estimação de Vergílio Ferreira estão ali, em estado puro, para quem os quiser ler. O seu delicioso mau feitio, as suas "polémicas", jamais turvaram a amabilidade do trato pessoal. Vergílio Ferreira é um grande autor da nossa língua e foi, para muitas gerações, um professor inesquecível. Quando o vejo arrumado nas prateleiras ao lado da garotada escrevente que passa por "literatura portuguesa contemporânea", imagino a sua "língua de prata" a funcionar bem alto, lá numa eternidade qualquer a que tem todo o direito.

FANTASIAS

Um político, que o é profissionalmente há mais de trinta anos, como Manuel Alegre, deveria ter-se poupado à patética reunião com os seus duzentos apoiantes. Como ele bem sabe, "o poder dos cidadãos" exerceu-se livremente no último domingo. Descontando os candidatos líderes de partidos que tiveram de prestar contas às respectivas seitas, Cavaco dissolveu imediatamente a maioria que o elegeu e Soares compreendeu a mensagem, retirando-se discretamente de cena. Não foi por acaso que isso aconteceu com os dois candidatos politicamente mais "maduros". Alegre nunca percebeu nada do acaso que lhe foi parar às mãos - antes, durante e depois da campanha e do voto - e quer perpetuar o equívoco. O tempo, "esse grande escultor", encarregar-se-á de lhe explicar que não vale a pena. O país, para bem ou para mal, está "arrumado". Seguiu em frente, como se esperava, e daqui a uns meses ninguém se lembrará de Alegre, a começar pelo milhão e tal que votou nele essencialmente contra qualquer coisa. Prolongar uma fantasia é apenas juntar mais fantasia à que já existe.

O CAMINHO DO GRÃO DE TRIGO


Não é vulgar ver um Papa a citar Nietzsche, Salústio ou o Platão do Banquete numa encíclica. Todavia, Joseph Raztinger não é um Papa banal, nem tão-pouco o profeta das trevas que os seus apressados e analfabetos críticos teimam em ver nele. É um intelectual, por acaso da Igreja, com um profundo conhecimento do "homem moderno", nas suas luzes e nas suas sombras, nas suas cobardias e nas suas elevações. Cultiva um distanciamento aparente e prudente das "coisas terrenas", porém, e tal como o seu antecessor, conhece-as e pressente-as melhor do que qualquer um de nós. Ratzinger é um excelente "dissecador" do presente, um analista e um "comentador" privilegiado do contemporâneo, precisamente porque a sua extraordinária "couraça" filosófica lho permite. Ratzinger sabe que a sobrevivência da Igreja nestes tempos levianos e superficais depende muito dessa "couraça" e desse sentido profundo das coisas, teimosamente perseguido, com método e sem desfalecimentos, pelo mais alto dignatário do Vaticano. Foi assim com João Paulo II, um homem da resistência em todos os sentidos prováveis do termo, e é assim com Ratzinger, um firme sedutor pela palavra. Eu sou pouco dado ao "amor". As poucas vezes que o tentei entender, espalhei-me. Eu e o "amor" temos uma história complicada de amor e ódio. Diz-me Ratzinger que Deus anda lá sempre pelo meio, sobretudo através do exemplo do Seu Filho. De facto, se alguma coisa me conduz nesta permanente tentativa de "perceber", é o mistério ou, mais adequadamente, o escândalo da cruz, todos os dias renovado, cada vez mais mistério e cada vez mais escândalo. Bento XVI sabe como isto é importante para quem crê e para quem duvida. Eu sou um produto híbrido: um céptico que crê e um crente que duvida. Tudo o que até agora li de Raztinger, contrariamente ao que os seus detractores ignorantes possam imaginar, me permite continuar assim, crendo e duvidando. Como ele escreve na encíclica Deus Caritas Est, "isto é um processo que permanece continuamente em caminho: o amor nunca está "concluído" e completado; transforma-se ao longo da vida, amadurece e, por isso mesmo, permanece fiel a si próprio. Idem velle atque idem nolle - querer a mesma coisa e rejeitar a mesma coisa é, segundo os antigos, o autêntico conteúdo do amor". E é Jesus, finalmente, que no desalinho do seu sacrifício, nos mostra o caminho razoável: "Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á, e quem a perder, conservá-la-á » (Lc 17, 33) — disse Jesus, afirmação esta que se encontra nos Evangelhos com diversas variantes (cf. Mt 10, 39; 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24; Jo 12, 25). Assim descreve Jesus o seu caminho pessoal, que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto. Partindo do centro do seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, Ele, com tais palavras, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral."

28.1.06

SALIERI


Por causa do aniversário mozartiano - por uns dias, muita gente decidiu gostar de Mozart e de música dita clássica, mesmo que nunca tivesse gostado -, fui rever Amadeus, o filme de Milos Forman. Nunca foi a personagem do idiota genial criada por Tom Hulce que me impressionou, muito menos aquele risinho estereotipado. O filme, baseado na obra homónima de Peter Shaffer, vale sobretudo pela interpretação de F. Murray Abraham no papel do famoso compositor da corte, Antonio Salieri. Não é certo que a história, a verdadeira, tivesse sido assim, como o ensandecido Salieri conta ao padre que o quer confessar. Salieri foi mais do que o filme o "pinta". Teve alunos célebres como Beethoven, Schubert ou Liszt. O primeiro dedicou-lhe as "sonatas para violino". Entre os finais do século XVIII e o princípio do seguinte foi deixando de compôr aos poucos porque percebeu que estava a ficar "démodé", o que é uma manifesta prova de lucidez. Talvez Armida e L'Europa Riconosciuta tenham ficado como as suas "master pieces", a última, aliás, escolhida para a inauguração do Teatro Alla Scalla de Milão. No fim do filme, Salieri/ Murray Abraham abençoa, por interposto padre, todas as mediocridades do mundo, vendo-se a ele próprio como o "Deus" dessas mediocridades. Deus propriamente dito teria protegido Mozart e deixado a Salieri o talento do fracasso. Não foi bem assim. Todavia, como eu costumo dizer e praticar, até para fracassar é preciso ter talento. E Salieri tinha.

VIVER HABITUALMENTE


Uma semana depois das eleições presidenciais, temos o país de volta. O "viver habitualmente" de que falava Salazar, o sábio rústico que nos percebeu como ninguém, regressou sob a forma do "benfica-sporting" - não se fala de outra coisa há cinco dias e hoje é aconselhável fugir das imediações -, do "euromilhões" e, mais extravagantemente, do frio. Ao contrário do que alguns bloggers profetizam, eu julgo que a "política" vai hibernar. Em menos de um ano, foi esse o sentido maioritário do voto: uma maioria absoluta para nos "tratar da vida" e um presidente austero, "político ma non troppo", para vigiar por nós. Em suma, podemos viver habitualmente.

27.1.06

MOZART


Pode-se, por exemplo, ir por aqui.

26.1.06

A MURALHA D'AÇO

"ESTA GENTE NÃO CAI COM OS MUROS: " Cavaco não pode esquecer que a maioria do povo português não votou nele", Ruben de Carvalho dixit, hoje, no DN."

Filipe Nunes Vicente, in Mar Salgado

A CADEIRA ABENÇOADA


Eu sou o que se pode chamar um católico foleiro. Não pratico e sou mais dado à teoria e à contradição, graças a Deus. Daí a minha tendência "hiper-ratzingeriana". Todavia, em matérias de Estado, sou ferozmente laico. Por isso, não compreendo muito bem o que é que o cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, pessoa que eu muito estimo, estava a fazer na abertura do ano judicial ao lado do Estado e das corporações. Tal como não percebo que, por esse país fora, em determinadas inaugurações, ocorram bençãos. Deve ser mal meu.

PARA QUE SERVE UM PRESIDENTE

"Cavaco Silva tem pela frente uma tarefa rigorosamente inédita ele é o primeiro presidente eleito que não responde pela herança do PREC ou pela tradição do antifascismo. Trinta anos depois do 25 de Abril, este momento traduz a inauguração de um novo ciclo na vida portuguesa. Não apenas na "vida política", mas na sua dimensão cultural e afectiva, até aqui prisioneira da bênção dos "proprietários da história" e do "republicanismo histórico". A sua eleição significa que a Presidência deixou de ser encarada como património dessa herança e dessa memória. Em vez do "republicanismo", os valores republicanos (o respeito pelas leis, o rigor e a qualidade da vida pública). Em vez do respeito acrítico pelo passado, a necessidade de uma atenção permanente à vida dos portugueses. Para isso se quer um presidente: que ele seja exigente e rigoroso num país que tem de ser mais exigente e mais rigoroso. O presidente sabe que não tem de ser o exemplo ou o símbolo dos nossos lugares-comuns; esses, temos em abundância, misturados com defeitos e virtudes. Pelo contrário, tem de ser o exemplo desse novo ciclo da vida portuguesa e da transformação que o deve acompanhar."


Francisco José Viegas, in Jornal de Notícias

E DEPOIS DO ADEUS

"Depois a cidadania desaparece, no meio dos problemas do dia-a-dia, e os partidos ficam. Iguais a si mesmos. Ou talvez não…porque, a haver alguma reorganização à direita, ela será feita, a partir de Belém, pelo eleito que não é de direita. Não tem emenda, a direita."

Constança Cunha e Sá, "A Direita", em O Espectro

ALGUNS ANTECEDENTES MITOLÓGICOS


Ameinias canta no sémen de Narciso
a muralha cujo nome findou. Esmaga
no dardo duma fonte o ermo do fascínio.
Hastes de sangue rompem em corola. Rude
a praga súbita da alma, o encontro,
corusca na sorte do pinhal. Talvez
haja na calamidade um resto que
não é calamidade: isso nos faz viver.


Joaquim Manuel Magalhães

25.1.06

POR QUE É QUE NOS ESQUECEMOS DE JANE?


Por causa de um "trailer", fui reler "Orgulho e Preconceito". Nem que de propósito, pelo Francisco, encontro esta magnífica prosa sobre Jane Austen, de João Pereira Coutinho. Por que é que nos esquecemos de Jane? "Orgulho e Preconceito" é uma meditação brilhante sobre a forma como as primeiras impressões, as idéias apressadas que construímos sobre os outros, acabam, muitas vezes, por destruir as relações humanas. De igual forma, "Orgulho e Preconceito" não é, como centenas e centenas de histórias analfabetas, uma história de amor à primeira vista. É, como escreveu Marilyn Butler, professora em Cambridge e a mais importante crítica de Austen, uma história de ódio à primeira vista. E a lição, a lição final, é que amor à primeira vista ou ódio à primeira vista são uma e a mesma coisa: formas preguiçosas de classificar os outros e de nos enganarmos a nós."

UM DESEJO

Gostava que o Pulo do Lobo estivesse "em linha" até ao dia 9 de Março. Foi para esse dia que ele foi criado.

"CHEGOU O PRESIDENTE"

Relembrar, lendo-o nesta altura, o artigo de Vasco Pulido Valente, transcrito pelo Minha Rica Casinha.

NEM NA VIDA



"Não existe lugar para as emoções nos negócios. Nem na vida."

Will&Grace

FODA-SE



"Já contei a alguns amigos mas ninguém acredita: "Quando um dia for casada e tiver um filho, vou fazer uma sopa de peixe com o leite das minhas mamas". A cena, fruto da imaginação extraordinária de José Rodrigues dos Santos, aparece n’O Codex 632. É um daqueles momentos que marca, para sempre, a carreira de um escritor. O magnetismo desta passagem é tal que se torna impossível falar da história do livro, das qualidades estilísticas do autor ao nível das descrições, da construção das personagens, a sua psicologia, as suas emoções, etc." Continue a ler a "leitura" do livro pelo João Pedro George. Desculpem a expressão, foda-se.

THE DANCING QUEEN


Não sei bem porquê, talvez por ter andado hoje de metro, deu-me saudades do José Manuel Rosado. Lembrei-me dos postais divertidos que me mandava de Marrocos onde regressava sempre. Lembrei-me da nossa risota nos bastidores de um concurso televisivo em Paço d' Arcos onde ele compunha uma figura qualquer. Lembrei-me no nosso último encontro, justamente no metro, e na conversa que se prolongou à porta do Colombo. Depois disso, só a notícia do seu suicídio, no Algarve, me voltou a falar dele. O Zé Manel, como grande comediante que era, seria porventura um homem infeliz e melancólico. Nós não o podíamos perceber nas noites e madrugadas em que a sua e a nossa loucura se juntavam. Nunca chegámos a ir a Marrocos. Pode ser que no deserto que ele escolheu sozinho , a loucura continue.

SE

Alguns dos "discursos" sobre as respectivas derrotas presidenciais - foram cinco - assentam na "teoria do se". "Se" a esquerda não se tivesse dividido, "se" Cavaco tivesse falado mais, "se" Alegre não tivesse avançado, "se" houvesse segunda volta, "se" houvesse uma "candidatura patriótica", etc, etc. Acontece que se hoje não estivesse tanto vento, o dia até teria sido aprazível. Acontece que, se nenhum daqueles cinco candidatos conseguiu ganhar a eleição, alguém a ganhou. "Tudo verdade, portanto" . Como diria a mais famosa dona Constança da política portuguesa contemporânea, habituem-se, caramba.

A MITOMANIA ALEGRE

A tonteria que envolveu a campanha de Manuel Alegre pretende prolongar-se. "O poder dos cidadãos", uma coisa que Alegre parece ter descoberto nesta fase tardia da sua vida política, depois de ter estado mais de trinta anos em actividades exclusivamente partidárias, comove alguns dos seus mais afoitos apoiantes. Era bom que alguém explicasse a essas almas duas ou três coisas. Em democracias da natureza da nossa, e embora a representatividade política não se deva esgotar nos partidos, é fundamentalmente com eles que a coisa funciona. Até o general Eanes, que era alérgico, acabou por fundar um. Ou seja, as criaturas que berram que "ninguém pára Alegre", ou querem um PS "novo", ou querem outra coisa parecida e nada filantrópica. Depois, fazia-lhes igualmente bem perceberem que os votos de domingo se esgotaram naquela eleição. Quer os do candidato vencedor - que realçou claramente este aspecto -, quer os dos outros todos, mesmo os tribunícios que apareceram apenas para contar os deles. O ter ficado à frente ou atrás só interessa para efeitos domésticos, logo, de partido, a tal entidade de que os apoiantes de Alegre querem aparentemente fugir. A mitomania Alegre terminará oportunamente como começou. É só dar tempo ao tempo.

24.1.06

CRÓNICA DA VIDA QUE PASSA


"Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeismo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeismo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes da sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas acções - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espectaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade. Depois, além dum plebeismo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de génio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu génio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele-próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz. E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que "homem de génio desconhecido" é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos. Diz-se que os herméticos da Rosa-Cruz, seita esotérica e magista, descobriram, desde o início dos tempos, o segredo da vida-eterna, o elixir da vida; que, nunca morrendo, passam de época em época, através dos ciclos e das civilizações, despercebidos, nenhuns e, contudo, pela grandeza da cousa transcendental que criaram, maiores do que os génios todos da evidência humana. Da sua seita é o preceito, que cumprem, de se não darem nunca a conhecer. A sua presença eterna, que vive à margem da nossa transiência, vive também fora da nossa pequenez. Vão-se-me os olhos da alma nessas figuras supostas - e quem sabe a que ponto reais? - que, verdadeiramente, realizam o supremo destino do homem: o máximo do poder no mínimo da exibição; o mínimo da exibição, por certo, por terem o máximo do poder. O sentido das suas vidas é divino e longínquo. Apraz-me crer que eles existam para que possa pensar nobremente da humanidade.

Fernando Pessoa, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação

"WISH WE HADN'T"


"It’s impossible to grasp just how powerful love is. It can sustain us through trying times or motivate us to make extraordinary sacrifices. It can force decent men to commit the darkest deeds or compel ordinary women to search for hidden truths. And long after we’re gone, love remains burned into our memories. We all search for love, but some of us, after we found it, wish we hadn’t."

LER

Esta "hipótese de trabalho".

MEA CULPA


A quente, "malhei" outro dia no Diário de Notícias. Não gostei de algumas reportagens de campanha e de crónicas repetitivas do argumentário tradicional contra Cavaco Silva. Também não apreciei o ostracismo a que a candidatura vencedora votou o jornal durante a campanha. Há contas do rosário que eu não conheço. Dito isto, e lembrando-me que no jornal trabalham ou trabalharam meus conhecidos e amigos (o Eurico de Barros e o António Valdemar) e outros que eu gostaria de conhecer e cujo trabalho estimo (o João Morgado Fernandes), "amigos como dantes, quartel-general em Abrantes". "She is looking at you, kid".

LER

"Como não assumir a derrota em dez lições" , de Paulo Pinto Mascarenhas.

AS COISAS SÃO O QUE SÃO


"Pero hay más; según el último Eurostat, Portugal es el país más desigual de la UE. En 2003, la comparación entre la renta acumulada por el 20% más rico y el 20% más pobre daba una ratio de 7,4, es decir: los más pudientes ingresaron 7,4 veces más que los más necesitados. La cifra es idéntica a la de 1995, cuando acabó la década del Gobierno Cavaco. Hoy, en las cien mayores fortunas de Portugal se mezclan las históricas familias lisboetas, asociadas a la época salazarista (Champalimaud, Espírito Santo, Mello, Monteiro de Barros o Queiroz Pereira), con las nuevas fortunas surgidas tras la Revolución de Abril, entre las que destacan los empresarios norteños Belmiro de Acevedo y Américo Amorim. Entre unos y otros tienen 22.500 millones de euros, es decir, el 17,6% de la riqueza nacional. Pero si el viajero sale de los centros urbanos, deja atrás los campos de golf y recorre las periferias o el interior rural del país, la cosa cambia. Ahí el dinero es como si no existiera. La barriada gitana de São João de Deus en Oporto recuerda más a la favela de Río que a las afueras de cualquier ciudad europea. Y en el deprimido y bellísimo campo, al que, eso sí, se llega por espléndidas autopistas de peaje (de la era de Cavaco en el Gobierno), miles de hombres se siguen viendo obligados a emigrar a los núcleos urbanos o a la vecina España."

El Pais, suplemento de domingo, dia 22

A BEAUTIFUL CHILD


A rádio proporcionou-me, logo pela fresquinha, Rachmaninov e o seu concerto nº 2 para piano e orquestra. É uma peça recorrente nos programas de música dita clássica, mas é também a lembrança de um filme famoso de Billy Wilder, Seven Year Itch. Nele aparece Marilyn Monroe, a desconcertante vizinha de um bom marido e honesto pai de família, apanhado sozinho em casa, e que não resiste à "comichão" supostamente ocorrida nos anos sétimos dos casamentos e que o obriga a prestar mais atenção ao "pecado que mora ao lado". À saída de um cinema, dá-se a célebre cena ilustrada aqui ao lado. Um ar fresco que vinha do metro e um calor que vinha do corpo. Do corpo eterno e malogrado de Monroe, essa "beautiful child" de que falava Truman Capote.

COMO...

... é que eu não me lembrei deste?

23.1.06

ALIEN

Helena Roseta, a única especialista em política na falecida candidatura de Manuel Alegre - e, mesmo assim, má -, veio dizer que o milhão e não sei quantos mil votos no homem valiam mais do que o PS. É uma visionária, esta Helena. Depois disse que os "valores" da candidatura de Alegre (quais valores?) vieram para ficar e mostrou vontade de os arregimentar juntamente com o tal milhão. Num acesso de magnanimidade, Alegre esclareceu que não pretende "armar" nenhum partido ao lado do PS. Todavia deixou pairar a ideia de que aquela "cidadania" toda tinha de ser bem estudada. Julgo que os que votaram em Alegre - e que me merecem todo o respeito - não tinham bem a noção no que é que se estavam a meter. O atomismo basicamente nulo das suas "propostas" permite tudo e o seu contrário. Como alguém disse com manifesta felicidade, Alegre era Américo Tomás e Humberto Delgado ao mesmo tempo. O "voto de protesto" em Alegre mostra que os partidos não sabem cuidar das suas crias. É como a série do "Alien, o oitavo passageiro". Quando dão por isso, já é tarde.

TAMBÉM É SUA...

... a derrrota, Pedro Santana Lopes, regressado por breves instantes do anonimato político a que o forçam duas "voltas" consecutivas em perda. Este original morto-vivo - a melhor peça intuitiva da "direita" que não há meio de perceber que deve hibernar por uns tempos - não resistiu a um comentário politicamente nulo sobre os resultados eleitorais. Por que é que não avançou?

TAMBÉM É SUA...

... a derrota, caro Vital Moreira, e do seu tremendismo constitucionalista coimbrão. No género da sua prosa da "despromoção", recebi alguns "sms" ilustrativos deste pensamento jacobino que não suporta conceptualmente a vitória do "santinho de Boliqueime" ou, na versão monárquica, "pouco sofisticado" e "rústico". Há gente que não consegue, por muito que se esforce, deixar entrar a realidade pelos respectivos olhinhos adentro. Não aprenderam nada e reclamam eterno paternalismo democrático. Não há pachorra. Em sentido contrário, ou seja, lúcido, o "soarista" Eduardo Pitta remata bem: "uma vitória curta não tem menos legitimidade que uma vitória gorda."

TAMBÉM É SUA....

... meu caro Medeiros Ferreira. Sua e daqueles que insistiram com Soares nesta aventura arrogante e duplamente perdedora. Perdedora para o antigo Chefe de Estado e perdedora para o PS, um partido a braços com a responsabilidade maioritária de conduzir o país na legislatura. Vale, no meio deste jogo de sombras, a credibilidade de José Sócrates que as candidaturas de Soares e Alegre visavam essencialmente atingir. Teve sorte. "Saiu-lhe" o presidente certo.

OS PERDIDOS (actualizado)

Esta eleição presidencial registou um verdadeiro exército de derrotados. À semelhança do que aconteceu no final do ano, elenco, à medida que me for lembrando, as coisas, os gestos e as pessoas em causa.
  • o discurso de derrota de Jerónimo de Sousa que veio "branquear" a imagem simpática que tinha deixado na campanha ou o regresso do estalinista de Pires Coxe;
  • o discurso de derrota de Louçã, que é candidato a tudo e mais alguma coisa que lhe dê tempo de antena evangélico, prometendo mais "luta";
  • o discurso de derrota de Alegre, interrompido a frio por Sócrates, onde insistiu no seu equívoco vazio que deve ter deixado as "esquerdas" à beira de um ataque de nervos;
  • os cortesãos de Mário Soares, mais do que o próprio;
  • a chorona Helena Roseta que falou na SIC directamente para a estratosfera;
  • as reportagens de Anabela Neves na SIC contra Cavaco;
  • o Padre Melícias que nunca escamoteou o seu odiozinho pouco católico a Cavaco;
  • a Joana Amaral Dias que é duplamente derrotada, dentro e fora do BE;
  • o Diário de Notícias;
  • a sobranceria das esquerdas acerca de tudo e de todos, particularmente em matéria de subtileza "cultural";
  • Santana Lopes, na sua segunda volta como derrotado;
  • os meus amigos que sobrepuseram a sua "lucidez" política à amizade;
  • o "aparelho" do PS, nas pessoas de Jorge Coelho, Lello, Edite Estrela e outros e de alguns membros do governo que decidiram ir brincar às presidenciais;
  • alguns blogues cujos "discursos" e respectivas ilustrações, muitos já realizados depois dos resultados, mostram pouco discernimento democrático;
  • o inefável dr. Cadilhe, a quem o País fez a desfeita de mandar o "Pai do Monstro" para Belém;
  • os míseros 50,59% de Cavaco Silva (2 745 491 votos), tão relembrados pelos contabilistas habituais (já nos idos de 80 faziam contas para provar que a Aliança Democrática de Sá Carneiro era "minoritária" mesmo vencedora), correspondem a mais 334 341 votos do que os esmagadores 55,76% de Jorge Sampaio (2 411 150 votos);
  • quatro criaturas que fizeram do combate a Cavaco Silva o respectivo programa de candidatura, alternando apenas no primarismo, na "imaginação" e no "tempo" de apresentação do programa;
  • o indeciso, essa categoria de português "mole" que gosta de ver passar os comboios.

22.1.06

PRESIDENTE CAVACO


Não fui festejar. Há dez anos, quando Cavaco perdeu, estive no Meridien e apertei-lhe vigorosamente a mão. Lembro-me que chuviscava e retenho a imagem final: Cavaco a despedir-se dos seguranças que o acompanharam na campanha e a subir as escadas de sua casa. Dez anos depois, Aníbal Cavaco Silva desceu de novo essas escadas, porém como presidente eleito de Portugal. A sua eleição tem também um significado pedagógico importante. Cavaco sofreu uma derrota e não desistiu. Esperou metodicamente por esta vitória. É curioso que tenha sido um homem da não esquerda a dar este exemplo de paciência democrática. Por outro lado, pôs-se um termo à falaciosa e fantasiosa ideia de que determinadas funções de Estado têm donos. Não têm. Têm eleitos. Finalmente, houve muita gente, muitos preconceitos e muitas vaidades derrotados nesta breve noite eleitoral. A eles iremos depois. Só uma nota final relativamente "às décimas". Numa eleição presidencial, perde-se ou ganha-se absolutamente. Cavaco ganhou absolutamente. Todos os outros cinco perderam absolutamente.

DEZ ANOS DEPOIS


Valeu a pena esperar. Está quase.

LER

O Tiago, para sua felicidade, encontra-se em Marselha e de lá fornece-nos um "sumário" do que a imprensa autócne pensa do acto eleitoral em curso no nosso cantinho suave.

LES FLEURS DU MAL

"O mal já está obviamente a ser atribuído ao país. O país "que confunde progresso, e modernidade, com jipes topo de gama" (Da Literatura); o país dos "broeiros" (Natureza do Mal); o país que bebeu demais : "A embriaguez ou a excitação do momento podem levar um homem a acordar ao lado de alguém que, sem o benefício da maquilhagem, se revela um susto para o parceiro que entretanto recuperou a sobriedade." (JPC no Super Mário); o país que não percebe a "grandeza" e o mérito de "estar fora do tempo" (CCS no Espectro); o país em que "a grandeza acaba assassinada pelos seus pares" e o "tempo (...) é medíocre, os punhais brilham na sombra de César" (CFA no Expresso) e muitas, muitas outras páginas sobre o mesquinho, ignorante, ingrato, desmemoriado, masoquista, kitsch, traiçoeiro, rasteiro, e vil acto que os portugueses vão praticar hoje ou daqui a um mês."

in ABRUPTO

A CANETA NO PAPEL

O João votou assim.

EXPRESS YOURSELF




Mexa-se. Exprima-se. Vote.

CAVACO PRESIDENTE


Julgo não estar enganado quando pressinto que o país se inclina, de novo, para Cavaco Silva. Não por causa do "providencialismo" que lhe é atribuído maliciosamente pelo jacobinismo empoeirado de uns e pelo "nacionalismo" patético de outros, ou pelo estatuto de "regedor ditatorial" que lhe é colado pelas candidaturas tribunícias. E muito menos, porque o argumento é rídiculo, por ser "professor de finanças". O "regime", se não se regenerar, afunda-se, mais tarde ou mais cedo, nas suas trapalhadas e na sua venalidade. Restaurar com sensatez a sua autoridade, sem pôr em causa a "natureza das coisas", é a tarefa mais nobre do próximo PR. Não é preciso ser "presidencialista" para achar que não é com magistraturas "monárquico-republicanas", requentadas com discursatas redondas e vazias, que "isto" lá vai. Cavaco não virá para a "desforra", como se insinua maliciosamente, e o país sabe-o. Sócrates tem um mandato claro que o obriga a ser mais clarividente do que tem sido. Ninguém mais do que Cavaco Silva aprecia a "estabilidade" para que se possa fazer alguma coisa. É só seguir em frente.

"O FADO DA SINA"


O Amigo da Música, o José Nuno Martins, dedicou o programa de hoje ao fado. Amália, Marceneiro, D. Maria Teresa de Noronha, Fernando Farinha ou Carlos Ramos passaram. Mas foi o "Fado da Sina" da Hermínia Silva, numa gravação do 1980, no Teatro São Luiz, que me chamou a atenção. Pode ouvir-se através desta ligação.

VICTOR, VICTORIA


À semelhança da Constança, também lido mal com o presente. Apeteceu-me iniciar a madrugada deste domingo "especial" com a revisitação de um filme de 1982, Victor/Victoria, de Blake Edwards, que me diverte às escâncaras. Julie Andrews e um genial Robert Preston foram os meus companheiros desta noite, pela enésima vez. A primeira ocorreu há muitos anos, no defunto São Jorge, numa inesperada tarde de sábado com o José Ribeiro da Fonte, o João Carneiro e porventura o Luis Madureira. Tudo isso acabou e o Zé já nem sequer cá está há quase dez anos. Não, mas não era disto que eu queria falar. Todavia acordei assim, "victor, victoria", bipolar como hoje se diz.

21.1.06

REFLEXÃO - 2


"Wisdom is knowing what to do next, skill is knowing how to do it, and virtue is doing it."

David Starr Jordan, via Minha Rica Casinha

REFLEXÃO


"A decisão é, na verdade, o que de mais próprio concerne a excelência e é melhor do que as próprias acções no que respeita à avaliação dos carácteres humanos. A decisão parece, pois, ser voluntária. Decidir e agir voluntariamente não é, contudo, a mesma coisa, pois, a acção voluntária é um fenómeno mais abrangente. É por essa razão que ainda que tanto as crianças como os outros seres vivos possam participar na acção voluntária, não podem, contudo, participar na decisão. Também dizemos que as acções voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão. Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção, ou anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo correctamente, porque os animais irracionais não tomam parte nela. Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e, desse modo, não age de acordo com uma decisão. Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão, mas não age, ao sentir um desejo. Um desejo pode opor-se a uma decisão, mas já não poderá opor-se a um outro desejo. O desejo tem em vista o que é agradável e o que é desagradável. A decisão, contudo, não é feita em vista do desagradável nem do agradável."


Aristóteles, Ética a Nicómaco, via Citador

LER


Sobre o "silêncio" do dia, imposto pelo "legislador" - essa abominável e anónima criatura -, o Jorge Ferreira e a Constança fazem a melhor síntese.

O TÚMULO DO ROSSIO


Como nem eu nem o Francisco aderimos ao folclore das petições contra Isabel Pires de Lima a propos do Dona Maria, não merecemos citação. Por causa daquela coisa sobre a qual é proibido falar no dia de hoje, não tenho dado muita atenção ao folhetim. Porém, outra coisa é certa. Quanto mais "peticionam", mais Pires de Lima resiste. Alguém imagina Sócrates, não digo sequer a ceder, simplesmente a ler uma petição?

CAFÉS


A partir de segunda-feira a Joana Amaral Dias já poderá regressar aos seus belos textos sobre os cafés da Europa.

SILLY DAY



Citei aqui outro dia Agustina Bessa Luís acerca de Woody Allen. Valeu-me uma meia dúzia de insultos por desrespeito ao jargão. Como qualquer cinéfilo razoável que se preze, também tive a minha "fase" Woody Allen, pré-clarinete, claro. Confesso que nunca me embeveci com as obsessões afectivo-sexuais de alguns dos seus filmes e não enxergo o que é que as suas várias mulheres vêem nele. Perdi, aliás, o rasto às suas últimas películas e não vibro de ansiedade à espera da próxima. Match Point, porém, merece outra atenção. Dão muita a Scarlett Johansson, irrepreensivelmente bonita e uma actriz surpreendente (estava a pensar em Lost in Translation e em A Love Song for Bobby Long, por exemplo). Todavia, também me parece que o rapaz Jonathan Rhys Meyers merece alguma. Como ela, é inexplicavelmente bonito e constroi uma figura daquelas de que Mitterrand gostava, uma pessoa pouco "transparente". Sem o irritante clarinete, aí está um Woody Allen que vale a pena. Acordei assim, no "silly day".

SILLY DAY


Reflectir sobre o quê?

20.1.06

LER

"Está visto" , pelo Rui Costa Pinto.

LAÇOS DE TERNURA

Desarmante, de facto, esta sua fina ternura pelo dr. Soares. Como de costume, eu praticamente subscrevo tudo. Acontece que Soares optou por um combate, sim senhor, mas em geral feio e despropositado. Tal significa que ele perdeu um bocado o pé em relação ao país real, goste-se ou não dele, e eu nem sequer sou dos maiores adeptos. Nesse sentido metafórico, Soares deixou de ser "fixe" no dia daquela inútil exibição cortesã do final de Agosto. Pode ser que no domingo,finalmente e sem explicador, Soares perceba.

O LUXO DA INDECISÃO

Algumas sondagens mostram que, para além do "exército dividido" de que falava Sócrates, existe um verdadeiro batalhão de indecisos que oscilará entre os dez e os vinte e tal por cento. Este luxo da indecisão merecia melhor estudo. Não tanto em termos eleitorais, mas no que respeita à idiossincrasia portuguesa. Quem é o indeciso? Nestas eleições, sabemos que fundamentalmente se arrasta pelo eleitorado tradicional do PS, "dividido" por três candidatos, Soares, Alegre e o próprio Cavaco. Todavia, e se olharmos bem nos olhos desses indecisos, vamos encontrar, bem lá no fundo, o português "profundo". O português que não gosta de dar a cara, o português que não se compromete, o português que sobrevive, o português oportunista, o português que "nunca é nada" e que gosta de, se possível, ser tudo, o português "suave", da carreirinha certinha, o português que se levanta todos os dias da sua imaculada cama onde nunca se passa nada de transcendente para além do sono. Este português é, no essencial, aquele que, mediante o seu trabalho de formiguinha anódina e anónima, constroi todos os dias um Portugal mais pequenino. Julgando-se subtil e decisivo na sua indecisão, este português cobarde é o melhor retrato de um país-caranguejo, cheio de respeitinho e sempre em diminutivo.

... SE PODE SER HOJE?

"Vimos de um longo período eleitoral, estamos há um ano em campanha, para quê adiar para amanhã se pode ser hoje?"

Marcelo Rebelo de Sousa, Viseu, 19.01.06

CAVACO E SOARES

"Soares não saiu da presidência em triunfo. Principalmente, não saiu com poder nem no partido, nem no Estado. O seu tempo em Belém não vai provavelmente ficar na história e, se ficar, fica por razões que sem dúvida não o lisonjeiam: até 1991, como a época do esplendor do "cavaquismo" e da "modernização"; depois como a guerra com um "cavaquismo" em decadência. Claro que Soares "normalizou" o regime, afastando Eanes da política e com ele o "socialismo militar", de que o PRD seria o hipotético instrumento. Mas não infuenciou muito a revisão constitucional de 1989 (um passo decisivo), que era na altura inevitável. Quanto ao que sobra - a transformação material do Estado e do país - pertence a Cavaco."

Vasco Pulido Valente, Público, 19.01.06

SENTIDO DO VOTO - 3

Quando se olha para a famosa - porque esquizofrenicamente perseguida por Manuel Alegre - sondagem da "Eurosondagem", percebe-se a vacuidade do homem. Tanta agitação por umas miseráveis décimas. Por outro lado e ao lado de Soares, Sócrates vem falar de um "exército dividido". O país merece seguir em frente apesar desta escaramuça paroquial que não lhe interessa. Sobretudo por causa disso.

19.1.06

UM ATREVIMENTO DE MEDÍOCRES

"A alegria dos alegres é uma doença como qualquer outra, uma espécie de vício que desordena a vida e a falsifica. Gente alegre todo o dia. Gente que ama profunda e desorganizadamente a vida. Não tinha opinião sobre isso, mas reconhecia que era preciso ter algum ressentimento contra a vida, em algum lugar, em algumas horas, em certos dias. O bom humor permanente é um atrevimento de medíocres."

Longe de Manaus, de Francisco José Viegas (Edições ASA)

GRAU ZERO



Não acredito que este cavalheiro aqui à esquerda fique à frente daquele aqui em cima. Não só não acredito como não o desejo, apesar de não votar em nenhum dos dois. A recandidatura de Soares foi um erro. Todavia, não se deve premiar o absoluto grau zero da política.

VIAGENS NA MINHA TERRA

Ainda gostava que alguém me explicasse por que é os candidatos decidiram dedicar grande parte dos seus quilómetros de campanha por terras e terreolas perfeitamente inúteis, eleitoralmente falando, em vez de tratar do litoral e dos grandes centros. A três dias das eleições, e com o devido respeito pelo "bom povo", o que é que Cavaco Silva, por exemplo, anda a fazer pelos montes e vales nesta altura do campeonato? Ou o que é que andou Soares a fazer perdido nas montanhas e na neve durante uns dias? Ou Louçã, o crente, no deserto algarvio?

"GENTE QUE VAI VOTAR NO ANÍBAL" - 2

Ler, no HardBlog do JMAC, "um post sem a palavra foda-se" . Em certo sentido, é um "follow up" deste aqui citado.

A SEMANA QUE VEM....


... é dele.

LER

O Crítico - neste caso, o Henrique Silveira, que é matemático - acerca das "sondagens" diárias do Diário de Notícias. Logo mais vêm outras sondagens, a da Universidade Católica e, se for em parceria com a SIC, a do Expresso/"Eurosondagem", a tal com que Alegre tristemente embirra.

O SENTIDO DO VOTO - 2

"Portugal, bem vistas as coisas, está um estaleiro. Os últimos dois anos, em vez de terem contribuído para reorganizar esse estaleiro, em vez de se terem traduzido num aumento de exigência à nossa disponibilidade para sermos portugueses (na grandeza e na pequenez, na euforia e no quotidiano) e ao nosso sentido de responsabilidade, deixaram o país mergulhado em ressentimentos e fugas. Votar num candidato presidencial, nestas circunstâncias, não é votar num símbolo mas escolher um diagnóstico o mais correcto possível da situação em que nos encontramos. Se, na segunda-feira encararmos o resultado das eleições presidenciais com esse pressentimento de normalidade, poderemos dizer que este ciclo político está em vias de ser encerrado. Lamento, mas a política também quer dizer isso."


Francisco José Viegas, in Jornal de Notícias

O SENTIDO DO VOTO - 1


O Paulo Gorjão faz a sua declaração de voto. Não concordo com todos os pressupostos dessa opção - a "teoria dos cestos", nomeadamente, ou a mera consideração das hipóteses Soares e Alegre - todavia, como é patente pelo que aqui se tem escrito, subscrevo-a. Ao fim de muitos anos a votar na "direita" - leia-se, no PSD - decidi, por causa da debandada de Barroso e do episódio Santana, votar em Sócrates. Digo-o assim, porque mais do que votar no Partido Socialista, foi a personagem racional, fria e determinada de José Sócrates quem mais fez pela minha contribuição para a maioria absoluta do PS em Fevereiro último. Apreciei a forma como conquistou, diante do país, a liderança do partido contra dois candidatos medíocres. Aliás, a triste figura que Alegre anda por aí a fazer, cheio de empáfia e pendurado em sondagens, tem também subjacente a tentativa de desforra tardia contra um secretário-geral social-democrata que jamais conseguiu engolir. Já Soares é um caso mais sério. Sócrates, mantendo a "grace under pressure", não podia deixar de aparecer. Soares colou-se-lhe no verão como uma lapa justamente para tentar desfazer o lance "moderado" e vagamente autoritário - no sentido clássico e nobre de demonstração da autoridade do Estado depois do desvario "santanista"- que conduz o primeiro-ministro. As outras "esquerdas", nesta eleição, encarregaram-se do resto. Por mais voltas que se dê, Soares e Sócrates constituem um binómio inverosímil. Não defendo essa superficialidade oportunista de dizer que Sócrates se dará melhor com Cavaco. Porém, sei perfeitamente - sabe e pressente o país - que não se daria melhor com Soares. E isso é que importa. Parte da maioria absoluta de Sócrates, a conquistada ao "centro" e à "direita", é sensivelmente a mesma que empurra agora Cavaco Silva para a maioria do próximo domingo. Ao contrário de Cavaco, que anuncia que a sua vitória não será a derrota de ninguém, eu entendo que será importante nomear os derrotados. Porque os vai haver. E muitos.

18.1.06

LER

O nosso amigo Pedro Magalhães actualiza o quadro comparativo das sondagens. É só seguir em frente. Por outro lado, o Eduardo Pitta recorda José Carlos Ary dos Santos num oportuno post. Como ele dizia, "isto vai meus amigos isto vai". Só que o "isto", agora, é outra coisa.

"IT'S THE ECONOMY, STUPID"

Em menos de vinte quatro horas, dois "eventos" - ou não estivéssemos nós no "país de eventos" tão caro a Medeiros Ferreira - marcaram, por assim dizer, a "actualidade económico-financeira" da pátria. O primeiro teve lugar em Ponte de Lima e foi mais propriamente um não evento. Um sueco de quase dois metros de altura, em representação da IKEA, uma monstruosidade que vende móveis a granel, ponderou instalar na terra do ex-deputado "limiano" uma fábrica da dita. Digo ponderou porque o vi na televisão a dizer precisamente isso. "Vamos estudar o assunto no verão", acrescentou. Sócrates, com o diletante dr. Pinho a sorrir por trás dele, foi abençoar esta hipótese a Ponte de Lima onde, com a habitual irresponsabilidade autárquica, o respectivo presidente da Câmara já dava o facto como consumado. O outro "evento" passa-se em Bruxelas mas reflecte-se aqui directamente. Segundo consta, o Parlamento Europeu prepara-se para chumbar o magnífico arranjo financeiro de Dezembro último que previa para Portugal uma boa "fatia" do orçamento europeu - os famosos "fundos" - para o período 2007-2013. Por causa disso, Sócrates veio dessa cimeira em ombros e recebeu o justo aplauso da nação pedinte e agradecida. O argumento para o chumbo devia dar-nos que pensar, não fosse o caso de andarmos entretidos com a medíocre campanha presidencial. Consta que os países "do alargamento" -ou seja, os "centrais", de Leste, e não a periferia esquecível - não são suficientemente beneficiados pelos ditos "fundos". Em nome dos deputados portugueses, a glamorosa Edite Estrela já veio garantir que não seremos atingidos. Pelo sim, pelo não, um secretário de Estado já caminhou, apressado, para Bruxelas. Estes é que são os eventos que interessam e que devem pesar no voto de domingo. "It,s, once again, the economy, stupid".

AGRADECIMENTOS

Ao Rui Costa Pinto pela "listagem" de blogues que me permitiu "alargar" a corrente da direita, salvo seja. O site que descreve os "most infamous" anti-spywares está aqui.

17.1.06

SEGUIR EM FRENTE

O que de mais simpático aconteceu hoje, sobretudo para um tipo com mau feitio como eu, foram as mensagens de "solidariedade blgosférica" depois do vil ataque da bicharada. Por causa dela, e de um qualquer em especial cuja finalidade básica é supostamente evitar o "spyware" mas que é absolutamente desastroso (depois forneço o "link" no qual constam os falsos anti-"spywares"), não pude "andar para a frente" aqui. Quanto ao resto, ao que interessa até domingo, o lema é sempre o mesmo: seguir em frente.

BACK


Aproveitei esta "crise" informática para renovar, com o apoio de uma colega de trabalho, o "aspecto" do blogue. Os links habituais voltarão a seu tempo. A música, logo se vê.

16.1.06

AVISO À NAVEGAÇÃO

Por causa das "músicas", o "Portugal dos Pequeninos" - e o meu pc pessoal - foi "atacado" por um vírus e o meu analfabetismo informático e de linguagem "html" levou a que, ao tentar "limpar" o "template" dos "bichos", estraguei tudo. Paramos por aqui, até mais ver. Seguimos no "Pulo do Lobo" e na "Grande Loja". Mas não hoje. Quando recuperar o fôlego. E alguém me ajudar a recuperar isto. Até já, "somewhere over the rainbow". (Nem sei se conseguem ler isto)

CANTORES DO RÁDIO


Para fugir à modorra tagarela da campanha, houve um número de circo sob forma tentada. A trupe "esquerdina" concorrente ao cargo presidencial, em hipócrita homenagem a Garcia Pereira, o excluído, dispôs-se a um "debate" na Antena 1. A peça mais comovente veio de João Paulo Velez, o homem do marketing de Soares, que passou o atestado de "coitadinho" ao líder do MRPP, um candidato injustamente preterido nos debates de Dezembro. Alegre, o mais insuportável "poseur" desta campanha, pela voz da sua assessora de imprensa, fez um trocadilho qualquer em torno da hipótese do tal debate a seis na sexta-feira (um dia muito indicado para debates, quando os candidatos querem estar na rua) que acabou por o inviabilizar. Estava, parece, a dar uma entrevista ao Le Monde e quis que se soubesse. Digo isto porque sobra sempre para Cavaco a "culpa" quando, convém recordar, desde Novembro que ele explicou cordatamente a todos os órgãos de comunicação social que não aceitava debates circenses. Felizmente que Maria Flor Pedroso, a editora política da Antena 1 e insuspeita de "cavaquismo", já explicou isto bem explicado aos microfones da sua rádio. É só ter a paciência de ouvir.

O SOM DA MÚSICA


Apesar das "bocas" foleiras por causa da "música de fundo", eu esclareço que, até domingo, serei conscientemente sectário. Como não sei mexer nisto, preciso que alguém me forneça endereços de música clássica, de "chanson française" e de "lights" de outras eras. A Madonna é sempre bem vinda.

"ISTO VAI MEUS AMIGOS ISTO VAI"

15.1.06

ESTILOS

"Expresso - Admite fazer, como Mário Soares, um congresso "Portugal, que futuro?"
Cavaco Silva - De certeza que não vou organizar nenhum congresso "Portugal, que futuro?". Nunca farei actuações para fragilizar quer os partidos políticos quer o Governo.
Expresso - Aceitaria receber algum grupo que estivesse em conflito com o Governo?
Cavaco Silva - Nunca utilizarei audiências para fragilizar o Governo."

HÁ...

... um inesperado "retrato" do evangelista Louçã no Abrupto que vale a pena ler: "Um mau "Gato Fedorento" - Louçã e a "stand-up comedy".

ALGUÉM ACREDITA NISSO?

O dr. Augusto Santos Silva, do governo e do PS, acompanhou em Vila Real o dr. Soares. É um homem amável que, noutras funções, conheci. Lá foi cumprir o papel do bonzo numa sessão de campanha do seu candidato oficial. Todavia não resistiu a uma tirada melodramática contra Cavaco, mencionado como o "candidato da direita". Disse que ele propunha "golpes de estado constitucionais" e que não se trata de "uma segunda volta das eleições legislativas". Isto tudo, suponho, para "agarrar" o eleitorado que deu a maioria absoluta ao seu partido. Sucede - e Augusto Santos Silva sabe isso tão bem como eu - que a maturidade eleitoral dos portugueses, a mesma que varreu Santana Lopes de cena e que elegeu Sócrates para ser o que ele efectivamente é - um moderado social-democrata -, não se assusta com este tremendismo de última hora. Manuel Alegre, por seu lado, dos precários degraus da sua fugaz superioridade estatística face a Soares, não dá seis meses, seis, para que Cavaco não conflitue com Sócrates. A análise política não é o forte de Alegre, muito menos a subtileza. Esta diabolização de Cavaco, em que Alegre surge como aderente da 25ª hora por causa da mítica "segunda volta" e das migalhas que vai colhendo nas sondagens, cheira a falsa e vale o que vale, ou seja, nada. Alguém, de boa fé e no seu perfeito juízo, pode olhar para Cavaco Silva e ver inscrita na sua fronte a palavra "instabilidade"? Alguém acredita nisso?

"GENTE QUE VAI VOTAR NO ANÍBAL"


Vamos ver se eu consigo reconstituir a "cadeia" para lá chegar. Por causa do Francisco, fui ter à Isabel que por sua vez me levou ao Hardblog. Tudo isto para sugerir que se leia, com atenção, este texto:

"Sei de rapaziada, uns inconscientes com certeza, a quem já podemos chamar de trintões, que pela primeira vez na vida vai votar com toda a convicção. Por uma vez não é o voto de protesto, não é um voto no mal menor. É o voto que foram desejando protagonizar à medida que iam crescendo com O Independente religiosamente às sextas-feiras sobre a mesa do café com o respectivo baldanço à aula de geografia do 10ºano. Entre os primeiros cigarros e as últimas tacadas de snooker viveram um tempos que os marcou. Foram a primeira geração que viveu a democracia plena. Normalizada. Que ainda se lembravam das discussões domésticas sobre a escalada vertiginosa das taxas de juro e a necessária intervenção do FMI, ao tempo do Bloco Central, (a que nunca acharam muita graça pois diminuía os níveis de pancadaria na classe). Lia-se Miguel Esteves Cardoso e achava-se piada às coisas do eixo Manchester-Guincho-Carrazeda de Ansiães. Paulo Portas fazia estragos no governo, tratava do acessório enquanto o essencial era a descida da inflação e o acesso à “Europa”. Vasco Pulido Valente cilindrava a Picareta Falante. Os primeiros rasgos de modernidade, os BMW’s do Fundo Social Europeu, as primeiras mamas na televisão nacional e o fim dos inenarráveis programas culturais da matinèes televisivas. Gente que para quem o suplemento Olá do Semanário era leitura de sanita. E a revista Bravo trazia o último som do mundo desenvolvida - e os respectivos posters. Que daí a pouco tempo descobriria os Smiths e o New Musical Express. Há uma geração que nunca ficou entusiasmada com o Guterres - a Picareta Falante - não mais que uma emanação de um conspirativo sótão de Algés. Para quem Marques Mendes mais não era (é) que um apagado oportunista sem rasgo e membro do Grupo da Sueca. Gente que se riu às lágrimas pelas lágrimas sulistas-elitistas-e-liberais do Menezes em pleno Coliseu. Gente que ainda se ria com as Noites da Má Língua, (que parva aquela Rita Blanco). Que conheceu a Europa pelo inter-rail e viu a primeira MTV e que um dia até achou que a Catarina Furtado era uma bonita rapariga. Gente que acompanhou José Rodrigues dos Santos nos voos cirúrgicos dos F-16 em Fevereiro de 1991 no início da primeira Guerra do Golfo. E nos dias seguintes nas páginas do Público. Gente que ficou emocionada com o a queda do muro de Berlim e para quem o vai-e-vém lançado da Florida era o futuro hoje. E que até concordou com o Vicente Jorge Silva que os chamou Geração Rasca. Gente a quem diziam que os propósitos eleitorais e intenções de voto se manifestava dentro de uma parcela populacional mais rural do que urbana, mais rústica que sofisticada. Gente que jamais compraria um automóvel aos Jorges Coelhos, aos Santanas, aos Torres Couto. Gente que ainda hoje não percebe porque é que os supermercados fecham ao Domingo. Gente, como este que abaixo assina, que vai votar no Aníbal. E há os outros, claro, os que baixaram as calças numa manifestação anti-PGA. É a pré-história da democracia. E a história de algumas vidas."

COMA


"E o D. Maria continua no seu coma secular, soturno e vazio, à espera de uma dramaturgia portuguesa ou que os portugueses se comovam com uma dramaturgia americana ou inglesa, que ignora a sociedade em que vivem e não lhes diz, directamente, seja o que for."

Vasco Pulido Valente, Público, 15.1.06

JEITO

... os dois posts de Constança Cunha e Sá intitulados "Falta de jeito?":
"Com Cavaco Silva não há estados de alma, nem improvisos de última hora. Há um programa que tem que ser rigorosamente cumprido. E que, diga-se o que se disser, com ou sem "agenda escondida", está a ser rigorosamente cumprido. Quem o acompanhou, no passado, sabe que Cavaco Silva não deixa nada ao acaso. E que, ao contrário do que dizem, é um profissional em campanhas eleitorais. A pretensa "desenvoltura" de que agora dá mostras só espanta quem não tem memória e não se lembra da "desenvoltura" exibida nos bons tempos do cavaquismo. Vamos ver o que nos espera esta semana. Sabendo, à partida, que nos espera a apoteose final."

LUCIDEZ

"Já fui presidente dez anos e isso basta."
Mário Soares, num comício em Vila Real de Trás-os-Montes

THE SOUND OF MUSIC


Recorri à Carla que por vez me remeteu para a Sofia e consegui instalar som neste blogue, até aqui surdo-mudo. Não levem a mal, mas para "testar" a coisa pus a Katia Guerreiro a cantar. Depois mudo.