31.8.07

FÁTIMA LOW COST


Vasco Pulido Valente - ainda não foi descoberto outro mais estimulante - é ateu. E está preocupado com a hipótese de o Vaticano, de mãos dadas com o governo português, criar um trajecto de voos "low cost" entre Fátima e o dito Vaticano, à semelhança do que parece que já acontece, ou vai acontecer, com Lourdes. Daí o perigo de alguém se lembrar de mais um aeroporto para "servir" Fátima, algo que muito legitimamente não deve ser exigido à cidadania. Não há nada a opor a isto. Segundo VPV, tivessem os pastorinhos nascido em Bragança e Fátima nunca teria acontecido. As circunstâncias ocorrentes, como diria Salazar, propiciaram Fátima. A República, a guerra e a localidade do Entroncamento para os comboios, foram determinantes no "fenómeno". Todavia, em nenhum momento do seu texto, VPV fala da fé. Não a dele, naturalmente, que é nula. Mas na fé que tem levado, ao longo dos anos, milhares de peregrinos àquele vale, entre burgessos e gente perfeitamente esclarecida. Mesmo que passasse pela vaticanal cabeça um "sistema" idêntico ao de Lourdes, já lá está a base aérea de Monte Real para tratar disso. Aliás, foi aí que aterrou, em Maio de 1967, o Papa Paulo VI quando visitou o Santuário. Não precisou vir a Lisboa para nada. Sem querer, VPV acabou por dar voz a uma boa ideia. Se a fé move montanhas, por que é que não há-de mover aviões?

30.8.07

DALILA, CAVACO E MENDES OU A FÁBULA DO GATO E DO RATO

José Pacheco Pereira colocou-se ao lado dos dois comissários ex-PC que o PS instalou na Ajuda, contra Mendes e Cavaco, por causa de Dalila Rodrigues, a directora corrida do MNAA. Acusou-a de falta de lealdade e de, no fundo, ser pouco institucional e isenta. Os outros dois também, já que não deviam apaparicar uma despeitada e desrespeitadora da hierarquia. Vasco Pulido Valente tinha exibido a mesma opinião, ou seja, que os altos funcionários do Estado são meros servos acéfalos de Napoleão que comem, calam, se demitem ou são demitidos. Não estão lá para ter pensamento próprio ou exigir o que quer que seja. Inserem-se numa respeitosa hierarquia que deve ser preservada a bem do conceito abstracto de nação que, até prova em contrário, se presume representado pelo governo. Muito bem. Dalila tem ar de "tia" e bom aspecto, e isso paga-se no meio da cultura no qual é suposto as mulheres aparentarem, no mínimo, um ar de camionistas envergonhadas, usar calças ou túnicas até aos pés calçados com sabrinas. Dalida foi excessiva nas críticas à académica Pires de Lima e, em Portugal, não se deve criticar os académicos. Aliás, a professora, como lhe competia, nunca se dignou responder. Respondeu demitindo previamente e com apenas um mês de antecedência. Até na saloia manifestação napoleónica, Pires de Lima não conseguiu cumprir a lei nem a antecedência requerida para o dejecto. Nestas coisas, e ao contrário de JPP e de VPV, sou pouco ou nada institucional. Dalila foi apanhada no meio de um episódio político e respondeu politicamente. Foi tosca? Se calhar foi. E Cavaco e Mendes também responderam politicamente. Não foi um famoso dirigente chinês que afirmou ser-lhe indiferente a cor do gato desde que apanhasse o rato? Nunca fui maoísta mas julgo que o respectivo cálice deve ser bebido até ao fim.

Adenda: Este post do Pedro Picoito. De facto, qual é a diferença entre o líder da oposição ir visitar o MNAA ou um hospital e ser acompanhado pela respectiva direcção? Os museus são do governo ou são nacionais? Pelo menos no museu não lhe foi negada a entrada como num hospital do SNS não sei onde em que a diligente administração não quis desagradar a quem lá a enfiou.

RETRATO DE UM MERDOSO

José Miguel Júdice começou na extrema-direita. Até esteve preso no PREC por causa disso. Não aprendeu nada. Já vai no PS e só pensa, muito legitimamente, nos seus negócios. É um homem de cálculo dissimulado num homem de "afectos". Ao falar dos portugueses nesta entrevista - uns "merdosos" - está a falar de si. Deixei intelectualmente de o conhecer.

Adenda: A propósito, esta iniciativa do Diário Económico pela mão de António José Teixeira (uma série de entrevistas com gente do regime e de fora) foi a coisa mais estimulante que apareceu nos jornais durante este verão esquecível. Nem os melhores "cronistas" se safaram do lugar-comum e do enfado.

EMBOTAMENTO



«Não podemos deixar de considerar a nossa actualidade, de um ponto de vista subjectivo, como uma situação única de embotamento: a vulgaridade no campo social, a neo-escolástica na teoria, o embrutecimento nos media, o ressentimento entre os mais velhos, a ambição agressiva e por vezes maldosa dos mais jovens... em suma, uma época carente de espírito. Entre os raros que ainda velam o fogo, a maioria isola-se nos seus túneis. Provavelmente, o menos que podemos dizer desta situação é, sem dúvida, que não se trata de uma época favorável às grandes sínteses.»

Peter Sloterdijck, O Sol e a Morte, Relógio D'Água, 2007

ENQUANTO HOUVER

Aqui e aqui, José Medeiros Ferreira - alguém com quem gostaria de me voltar a "aliar" - responde a esta sugestão. JMF tem alguma experiência na matéria (criações partidárias a partir de Belém) embora - e talvez tivesse sido esse o erro fundador e vício na formação do acto - seja sempre preferível um lance institucional a partir da magistratura presidencial ("à francesa") do que mais uma inscrição anódina no Tribunal Constitucional. E três notas concordantes. "Fora as medidas impopulares de carácter financeiro a maioria absoluta está cada vez mais vigiada «a partir de Belém». Há "sinais de afunilamento do actual quadro partidário" e, last but not the least, "só este governo aguenta o sistema". Isto tudo, claro, "enquanto houver regimes de partidos". Este, em particular.

VIAGENS NA MINHA TERRA


Sócrates foi a Leiria e reinaugurou-se a si mesmo enquanto não há mais computadores para distribuir. Uma amiga de lá enviou-me este mail que faz o post. "Olá João. Hoje houve festa cá na terra. O PM veio inaugurar as obras do Polis. Como dizia o meu miúdo, devia ter vindo há 5 ou 6 meses porque aquilo já está em uso há mais ou menos esse tempo. Até já há algumas obras a precisar de reparação. Pelo menos, e como sempre (país provinciano) lá foram limpar as ruas por onde o senhor ia passar, cuidar das rotundas e das flores dos separadores... a coisa ficou mais linda. Estas pessoas deviam vir à província mais algumas vezes... Não que Lisboa, por onde mais se passeiam, esteja melhor, mas aqui na terra estas coisas notam-se." E Sócrates, nota alguma coisa?

28.8.07

SUGESTÃO


O MAI

Rui Pereira, o MAI que sucedeu ao edil lisboeta, é um erro de casting. Pereira foi sempre um arcadiano do direito e, quando fala como ministro, esquece-se que o cargo é político e exprime-se como professor. "Atira" com as competências e as atribuições das polícias para cima dos jornalistas como se estivesse num auditório da FDL. Há dias, com Mário Crespo, a propósito da invasão do milheiral, foi desastroso. Pereira tinha nove anos de Tribunal Constitucional pela frente e trocou isso por esta funesta sinecura ministerial. Antes já tinha presidido, sem rasgo, à comissão para a reforma penal. Sem talento, sem verve e, sobretudo, sem política, Rui Pereira junta-se aos seus infelizes colegas da economia, das obras e da cultura, apenas para dar alguns exemplos. Não é mau homem, mas não chega. Que magnífica aquisição para a presidência europeia.

ABCESSO

Como andarão as "ameaças" a esta grande figura do regime, Francisco? Não a deixes cair. Ela, evidentemente, não se deixa. É vê-la reclamar eleições - para ela, claro - para a "distrital" de Lisboa do PSD para varrer a Teixeira da Cruz. Helena Lopes da Costa, deputada, é apenas um daqueles muitos nomes responsáveis pelo descrédito a que isto chegou. A sua passagem pela vereação da CML, com o infindável cortejo de assessores para tudo e para nada, é inesquecível. Não é subtil a exibir a sua pequenina ambição. Há quem a ajude, a ela e a muitos como ela, a ter uma biografia e um "currículo" político. Agora está com Menezes como já esteve com quem calhou, nomeadamente Lopes que a promoveu a vice-presidente do então maior partido nacional. Não sei se Marques Mendes tem rasgo suficiente - como teve Sá Carneiro - para varrer esta gente da face do partido. Este PSD paroquial e medíocre não pode durar muito mais tempo. Precisa urgentemente de uma ditadura que o salve da pocilga.

UM REGIME RAPACE

O Tribunal Constitucional condenou os partidos ao pagamento de coimas em virtude das suas crónicas "más contas", neste caso, por causa das legislativas de 2005. Antes veio a lume a questão Somague/PSD e, antes desta, a questão PS/empresário brasileiro/círculo fora da Europa. Não vamos mais longe. Quando Soares era 1º ministro, foi devidamente autorizada a alarvidade da urbanização do Baixo Mondego. O PS mandava e o gesto betoneiro não foi inocente nem resultou de nenhum almoço de borla. Anos depois, numa presidência aberta sobre o ambiente, o mesmo Soares classificou o acto como uma calamidade. Alguém lhe chamou a atenção para a circunstância de ter sido ele, como chefe do governo, quem havia autorizado a dita calamidade. Soares, naturalmente, não se desmanchou e disse estar a fazer "auto-crítica". A plutocracia regimental é rapace e não pára em nenhum partido em especial. E só terá fim se alguém, um dia, lho puser.

27.8.07

VITÓRIA PÓSTUMA?

Foi preciso o rapaz da foto ganhar uma medalha não sei onde para a bandeira e o hino nacionais se erguerem algures no mundo. Já tinha acontecido o mesmo com outro português de nome Obikwelu. E ainda existe uma Naide com expectativas. Vitória póstuma da famosa miscigenação da raça?

O CIRCO

O circo montado no BCP, o maior banco privado português - duas assembleias gerais folclóricas -, custou um milhão de euros. Com exemplos destes vindos da "sociedade civil", com que cara de pau se pode exigir ao Estado o que quer que seja?

EMPATA FOGOS

O governo emprestou um avião e duas criaturas da protecção civil à Grécia. As criaturas já lá estão mas o avião ficou "empanado" na ilha Menorca devido a uma avaria. Era apenas um e, mesmo assim, avariou-se e só amanhã vai juntar-se aos restantes da UE que combatem os pavorosos fogos que tomaram conta daquele país. Aquando da "guerra do Golfo", um submarino nosso também ficou "encalhado" para não atrapalhar. Uma vez empatas, sempre empatas.

26.8.07

O ESPAÇO VIRTUAL DA AMIZADE*


«Há pouco mais de dez anos, estava eu em Paris, na noite da minha casa no Marais, semiadormecido no sofá em frente da televisão, e de súbito o telefone tocou. Era uma rádio de Lisboa e pediam que comentasse a morte de Gilles Deleuze, o seu suicídio, em que se libertou da máquina de oxigénio a que vivia preso e se lançou pela janela. Estávamos em 4 de Novembro de 1995. Nesse mesmo ano, o Arte começara a transmitir o Abecedário de Deleuze, no qual este escolhia certas palavras para falar da vida, dos animais, da filosofia (lembro-me, por exemplo, das suas palavras sobre a "maldade" dos wittgensteinianos). Era a mais longa e dispersa das entrevistas, realizada com a cumplicidade de Claire Parnet (com quem Deleuze fizera em 77 o livro Dialogues, a melhor introdução à sua obra). No contrato inicial, tratava-se de um documento para ser divulgado depois da sua morte, mas Deleuze, considerando que a vida que ainda vivia estava mais perto da morte do que da vida, autorizou que ele passasse na televisão. É claro que os jornalistas eram extremamente sensíveis à questão do suicídio. Mas o seu significado continha uma afirmação solar, não um gesto nocturno. Ninguém pode ver nesta morte uma dimensão negra e destrutiva. De certo modo, Deleuze estava inteiramente presente naquilo que nele era a intensidade da vida: a imanência - uma vida, assim se intitulava quase enigmaticamente o seu último texto. Porque a obra ainda anunciada sobre a "a grandeza de Marx" não chegou a ver a luz do dia. Nunca conheci Gilles Deleuze. Vi-o apenas duas vezes. Uma foi na Grande Sala do Centro Pompidou, num debate sobre o Tempo musical. Estavam também presentes Pierre Boulez (a organização era do Ircam), Michel Foucault, Roland Barthes, Luciano Berio. Tudo isto tinha lugar em 20 de Fevereiro de 1978. A segunda vez já não sei quando foi: recordo apenas que num sábado à tarde vi Deleuze percorrendo as estantes de uma livraria que fica em frente da Sorbonne, na Rue des Écoles. Confirmei aquilo que já sabia e que sempre me deixara perplexo nas fotografias: as unhas encurvadas de tal modo estavam crescidas. Deleuze explicava que uma hipersensibilidade na ponta dos dedos o levava a proteger-se daquele modo. Dez anos depois da sua morte, surgem múltiplas iniciativas. Entre nós, o incansável Nuno Nabais organizou uma jornada com comunicações e leituras, no auditório do Instituto Franco-Português. Em França multiplicam-se as publicações. A difusão internacional de Deleuze foi sempre prejudicada pelo seu ódio às viagens e pela sua reserva em relação aos debates nos colóquios. Só agora começam a proliferar as traduções. Em Portugal saliente-se a publicação dos dois magníficos livros de Deleuze sobre cinema na Assírio e Alvim. Noutro dia, na televisão, nas Páginas Soltas de Bárbara Guimarães, alguém propunha a obra O Fio da Navalha de Somerset Maugham e comparava a sua legibilidade com a "chatice" de autores franceses como Gilles Deleuze. Era o mesmo que comparar um elefante com uma formiga. Como filósofo, Deleuze sempre foi um escritor admirável que se lê com um prazer desmedido: se a filosofia tem a ver com a felicidade, é isso que aqui acontece. Leitor admirável (de Spinoza ou de Leibniz), Deleuze tem livros extraordinários sobre a pintura (em particular, Francis Bacon), o cinema (páginas luminosas sobre inúmeros autores, entre eles Oliveira), a literatura (Proust, Melville ou Kafka). E deu-nos um exemplo de uma escrita em comum (publicou vários livros com Félix Guattari). Existe uma admiração que tece um espaço virtual de amizade. Quando naquela noite de Novembro falei ao telefone sobre a morte de Deleuze, eu sentia que uma amizade nos prendia na teia sempre improvável dos encontros.»

* por Eduardo Prado Coelho, publicado no Público sob o título "O século de Deleuze"

ALGARVE...

... de 2007. Allgarve, próximo entre o Algarve e o alarve.

25.8.07

A BANDA LARGA - 2

O José Pacheco Pereira tem razão. Também assisti ao telejornal da RTP, conduzido por esse grande escritor português contemporâneo que é Rodrigues dos Santos. Ele ia "entrar" na notícia do falecimento de Prado Coelho, mas alguém lhe deve ter soprado que devia esperar um bocadinho. E, coincidência das coincidências, o "directo" sobre o ensaísta "apanhou" Sócrates a sair das Galveias e a botar faladura. O Lagartinho - ou deveria antes chamar-lhe "lagartixa"? -, o "jornalista cultural" de serviço, ainda teve tempo para entrevistar Lídia Jorge a quem chamou de... Lígia. Sócrates, aliás, foi tridimensional neste telejornal. Deu computadores, falou do aeroporto e celebrou o "homem de espírito" (quem é que lhe terá ensinado esta?) que foi Prado Coelho. Até um funeral serve para a propaganda. Regressou em beleza.

ELITES, COMO ELES DIZEM - 2

O inventor da piloca que constitui o logótipo do ministério da Justiça é agora - não o sabia - presidente do conselho directivo do ISCSP. Nessa qualidade, escreveu uma carta aos seus colegas por causa do "apagão Maltez" e acusa o José Adelino de andar a pôr em causa "o bom nome" do ISCSP. José Adelino: se precisar de alguém para o processo que intentou junto de quem de direito sobre o assunto ou para este "processo de intenções" do sr. presidente, conte comigo. Nunca somos esdrúxulos para explicar aos bonzos do regime e aos "democratas" o que é a liberdade. E eu sou "salazarista", como eles dizem. Imagine se não fosse.

A BANDA LARGA

José Sócrates regressou ao seu posto de trabalho. Com a proverbial falta de imaginação que o caracteriza, foi até Setúbal dar computadores e falar pela enésima vez na "banda larga". Guterres, quando já não tinha mais nada para dizer, também se agarrou à "internet" como gato a bofe. E perdeu todas as suas batalhas, a começar pela "paixão" educativa e a da qualificação. Sócrates não tem um terço das qualidades - sobretudo humanas - que, apesar de tudo, Guterres possuia. A segunda metade do mandato, depois das passadeiras vermelhas, vai ser dura. Vamos ver quanto tempo dura.

O SR. BAPTISTA

Reparei, lendo os jornais, que o sr. Baptista, o líder dos tramposos "Verde Eufémia", está a tornar-se numa "figura de referência". Tem direito a "perfis" e a entrevistas. Num país civilizado, com um módico de respeito pelo direito, o sr. Baptista, quando muito, podia estar a dar entrevistas na prisão. Aqui não. É um novo ícone do regime que tem como "lema" de vida o "hasta la vitoria siempre", de Guevara, outro proto-fascista que enganou gerações anos a fio. Estamos em boas mãos.

EDUARDO PRADO COELHO (1944-2007)


Na primeira viagem ao Festival de Cinema da Figueira da Foz lá estava ele, entre o grave e o divertido, sempre rodeado das mulheres que toda a vida o admiraram e que ele amava sinceramente e pelos mais diversos motivos. No ano seguinte, uma manhã mal dormida juntou-nos no pequeno-almoço na pastelaria em frente ao Casino, antes do começo das projecções. Víamos, então, cinco a seis filmes por dia, uma obra. Engraxavam-lhe os sapatos ao som de uma torrada e preparava-se para dar um salto à tipografia para ver o estado da edição da sua tese, Os Universos da Crítica. Comprei-a no verão de 1983, na Feira do Livro, acabada de sair e com ele a dar autógrafos - poucos - na barraquinha da Dom Quixote. Dias depois, na festa do primeiro ano do Frágil, no meio daquela gente bonita que foi desaparecendo, perguntou-me o que é que achava do livro. Eu tinha vinte e dois anos e, parvamente, prodigalizava a mim mesmo uma opinião. Com o Semanário, vieram outras conversas e outros livros. Em quase um quarto de século muda muita coisa. Entretanto a "noite do mundo", de Hegel, e título de um dos seus livros, avançou, improvável e imaterial como a voz da Greco num concerto no CCB. Nós também, para outros e diferentes lados. Os últimos anos foram de grande sofrimento pessoal para Eduardo Prado Coelho. Não merecia. Ninguém merece. Ocorrem-me - em mais um dia de verão interrompido pela mão desse Deus em que ele nunca acreditou ou que, tal como em Nietzsche, já estava morto há muito - as palavras de François Mitterrand sobre Malraux na data do seu desaparecimento. O Eduardo "pertencia às cercanias, à paisagem da nossa vida. Como uma luz na casa fronteiriça e que se apaga, assim um pouco mais de sombra ocupará o espaço e o tempo diante de nós." O Eduardo, lá onde agora se encontra, chega-nos com "a fulgurância que atribuímos aos astros mortos e que continuam a iluminar a nossa noite".

24.8.07

O PESSIMISMO


"O pessimismo é mais importante do que o optimismo. Em tempos difíceis, o pessimismo favorece a lucidez."


A "ARCÁDIA" E O "PROGRESSO"


«Não estou a ver, em mais de dois mil anos, homossexuais a terem como superlativo objectivo de vida casar e ter filhos - homossexuais, no fundo, a quererem ser macaqueações bacocas e burgessas de casais normalíssimos. Não, este paneleiro/a mimético/a, híbrido entre a puta carreirista e a fada do lar, é artefacto recente. Toda esta campanha global serve-se da homossexualidade apenas como pretexto e subterfúgio. Em suma: como máscara. A sua verdadeira motivação deverá procurar-se mais nas usinas e forjas olímpicas da "impotência" e da "psico-esterilização". O seu intuito, secreto, velado, mas cada vez mais óbvio, é apenas um: tornar-nos a todos impotentes, neutros, amorfos, estéreis, uniformes. O Mercado, entre outros, agradece. Um homem a sério é fraco consumidor. »


23.8.07

FOSSE OUTRO

«Uma coisa é andar a perseguir as pessoas, outra é um País saber, só, onde está quem tem a missão de o governar. E, se se está na Presidência de uma União a 27 Estados, nesse caso, passe a expressão, não pode haver férias para quem tem essa relevante missão. Os nossos analistas que ponham a mão na consciência e que pensem no que diriam, num caso destes, se fosse outro o Primeiro - Ministro.»

in Pedro Santana Lopes

MARA ZAMPIERI

... canta uma ária de Macbeth, de Verdi. Foi assídua do São Carlos nos tempos áureos de João Paes e Serra Formigal. No tempo em que o Coliseu ainda tinha "récitas populares" e se podia fumar no "promenoir". Nem toda a gente aprecia o timbre nem os excessos histriónicos. Sempre gostei.

A TRAMA DOS NEGÓCIOS E AS COMPROMETEDORAS SOLIDARIEDADES


A "história" da Somague mata qualquer um. Sabemos - sabemos isso há muito - da promiscuidade do betão com o regime. Uma visita aérea pelo país dá-nos bem o retrato dessa calamidade. A anteceder isso, há a plutocracia partidária e os interesses. O sr. Arnaut, uma das criações mais desconchavadas do regime, do PSD e do dr. Barroso veio assumir a "responsabilidade objectiva" pela aceitação da dádiva do sr. Vaz Guedes. O sr. Vaz Guedes, convém lembrar, é um daqueles betinhos do "Compromisso Portugal" que de vez em quando pretendem dar lições de "governança" e de "ética" empresarial ao país. E o dr. Canas, do PS, com aquele arzinho de aprendiz de catequista, mais valia estar calado. Em suma, esta gente não presta. Fazem qualquer coisa por um prato de lentilhas que, a avaliar pelo que se lê, o governo do dr. Barroso tratou de servir à Somague um mês depois de tomar posse. O problema não é haver almoços de borla. O problema é a factura que o regime tem de pagar por ser dirigido, dos partidos à sociedade civil, por essa gente dos almoços. Resta saber quem acaba primeiro com quem ou com o quê.

PORTELA+1

Decididamente o presidente da Câmara de Lisboa não gosta do aeroporto da Portela. Os PS's da CML abstiveram-se na votação de uma proposta de Helena Roseta - que vingou - no sentido de o governo incluir no estudo comparativo pedido ao LNEC a hipótese "Portela+1", sendo o "1" Alcochete. Costa, segundo disse aos jornais, absteve-se "porque se absteve". De facto, como é que alguém que passou a campanha eleitoral a falar nos "terrenos da Portela" tinha agora cara para, em apenas alguns dias, vir defender - como lhe compete, aliás - o aeroporto internacional de Lisboa? Como os helicópteros contra os incêndios, comprados por ele como MAI, e que não "descolam" por falta de licença, Costa também tem dificuldade em "descolar" da figura de "número dois" do governo e dos "compromissos" assumidos por causa da OTA. Paciência. Habitue-se.

22.8.07

DA POLÍCIA

Um pedreiro mordeu um polícia. Há dias, no Porto, umas mulheres bateram noutro polícia. E um condutor, mandado parar não sei onde, assim que saiu do carro arreou no agente que o mandou parar. E, em Silves, a GNR foi o que se viu. O mundo está de pernas para o ar. Esta não é a minha polícia.

O ANTI-ELITE

O dr. Menezes, de Gaia, é médico de formação. Parece que de pediatria. Talvez por isso - pelo menos desde o congresso do Coliseu de 95 em que saiu em lágrimas contra os "elitistas e os sulistas" - nunca cresceu. O dr. Menezes tem um blogue no qual honestamente derrama o que lhe vai na alma. Alguns dos últimos posts, consta, não eram dele mas da Wikipédia e de outras fontes. O dr. Menezes, no fundo, quis mostrar ao mundo que está perfeitamente à altura dos "elitistas e os sulistas" que só vagueiam na sua cabeça. Não está. O dr. Menezes é um excelente autarca e apenas mais um militante partidário ressabiado. Como ele podia existir um milhar de candidatos à liderança do PSD. Todavia, só ao dr. Menezes se colou a nefasta ideia de pastorear os "laranjas" e, por tabela, o país. Para viver de ideias emprestadas já basta o secretário-geral do PS que, aliás, Menezes tem tão bem substituído na oposição a Marques Mendes. O dr. Menezes recorda-me aqueles organizadores de festas dos bairros populares, sempre os mais disponíveis, os mais voluntaristas, os últimos a comer. Uma vez a festa acabada, ninguém se lembra mais deles.

BOM PETISCO


Eis, em todo o esplendor, o novo ícone pós-Castro e grande amigalhaço do dr. Mário Soares nesta sua derradeira fase em que decidiu tirar para sempre o socialismo da gaveta para lá colocar uma cópia da espada do Bolivar. Um bom petisco, sem dúvida.

21.8.07

A PULSÃO

A ERC emergiu, pela mão de Sócrates, do dr. Santos Silva e do PS, para substituir a defunta "alta autoridade para a comunicação social". A propósito das alegadas interferências e rodriguinhos deixados cair aqui e ali por causa do "dossiê" UNI/curso de engenharia civil, a ERC entendeu que Sócrates não tem qualquer pulsão controleira da comunicação social. Antes pelo contrário. Todavia, um dos membros da ERC votou contra porque lhe parece que há elementos no processo que confirmam a pulsão. Talvez alguém os publique. Entretanto a ERC podia perfeitamente chamar-se OMO. Sempre é uma marca conhecida.

UNS SAFANÕES - 3

O oito e o oitenta.

PIERO CAPPUCCILLI

Piero Cappuccilli canta "Eri tu" de "Un ballo in maschera", de Verdi. Os melhores tempos...

MIRELLA FRENI

Mirella Freni canta, da ópera Xerxes, de Händel, a ária "Ombra mai fu". Os melhores tempos...

A D. CONSTANÇA DO PSD

"As pessoas é que se incompatibilizam comigo! Eu não me incompatibilizo…", diz Marcelo nesta entrevista ao Diário Económico. É um sagitariano optimista. Como eu, em pessimista.

20.8.07

A LER....

... a corajosa entrevista de Mário Crespo ao DN. Em tempos de reles subserviências e de estranhas ambiguidades, um jornalista delicado, sem temores reverenciais.

MOMENTO NORTE - COREANO

Há polícias e há polícias. A GNR, por exemplo, especializou-se em ver papéis de condutores, em analisar-lhes o bafo e em ser paternalista com javardos. Já a ASAE é outra coisa. Contou-me um amigo, cuja mãe cozinha divinamente e que fornecia, feitas em casa, coisas para um determinado estabelecimento, que a ASAE irrompeu pelo dito estabelecimento adentro e proibiu-o de vender os magníficos produtos caseiros. Ao fim de vinte e um anos, a mãe do meu amigo foi forçada a deixar de vender as suas boas coisas para o estabelecimento porque a ASAE entende que aquele não deve" comprar comida feita por gente não autorizada". Como ele me dizia, qualquer dia não podemos cozinhar em casa.

UNS SAFANÕES - 3

O ministro da agricultura associou o BE à destruição selvagem em Silves. Aguarda-se a reacção do evangelista Louçã e, naturalmente, da parte do "PS do futuro" que tem um acordo com o Bloco para a Câmara de Lisboa.

O MILHEIRAL, A CANALHA E A BOLA

Depois do milheiral e da canalha, a bola. A eterna bola. No telejornal da TVI, um "jornalista" está a fazer uma triste figura a correr atrás de um pequeno avião que traz o treinador de um clube de futebol. Se o ridículo dos pormenores matasse em directo... Pobre país.

CATARINA SEM EUFÉMIA


Os badalhocos que lançaram fogo ao falso verão e a este falso país político possuem um nome fantástico, "Verde Eufémia". Já existem por aí prosas semióticas a esgaravatar um "comunicado" e a "origem" desta derivação torpe da Eufémia. De facto, não há mesmo mais nada para fazer. E Catarina, só a da foto.

UNS SAFANÕES - 2

O estado a que isto chegou, afinal, "apoia" bandalhos. De que é que os responsáveis pelo inenarrável IPJ estão à espera? Mitterrand, que era da esquerda mas tinha sentido de Estado, não hesitou quando foi preciso mostrar aos idiotas do "Greenpeace" quem mandava. Ninguém ganha com o abastardamento das instituições por muito pouco ou nenhum respeito que elas mereçam ou imponham. O afogadilho tardio dos ministros do interior e da agricultura, dois "destalentados" políticos, não chega. O episódio do milho, em si, é apenas um episódio. Ligado ao resto, é um sintoma. Mais um a juntar às dezenas em curso que desacreditam, a cada dia que passa, um regime que se esboroa como farelo. Ainda bem.

19.8.07

DISCLOSURE


Sugiro firmemente aos leitores que não se sentem confortáveis neste retrato que troquem o anonimato por um e-mail ou por um comentário com nome verosímil para que a censura seja aliviada. Ninguém mais do que eu aprecia este "diálogo" virtual, cem vezes mais rico do que o "real" que não tenho com praticamente ninguém. Vá lá. Cresçam.

DEAN


Faz cá falta um "Dean" para agitar esta morbidez colectiva. Sempre tinham com que se entreter e com que entreter os telemóveis. Enquanto não regressa o "pretty boy".

SILLY SEASON

O Francisco Almeida Leite, vamos lá, também tem direito ao seu momento "silly". Aliás, o país agradece, muito penhorado, "notícias" deste calibre. O autarca de Gaia também.

Elisabeth Schwarzkopf

Im Abendrot, Richard Strauss (Vier letzte Lieder)

UNS SAFANÕES

Uns badalhocos quaisquer destruíram uma plantação de milho transgénico no Algarve. Na televisão, a coisa ressumava a PREC mal resolvido. Parece que a democrática GNR, tão pressurosa noutras coisas, não mexeu uma palha. Aquela canalha devia ter sido tratada com os famosos safanões dados a tempo e não com paninhos quentes. Aprende-se muito com os velhinhos.

Adenda (depois de ler os jornais) : O eurodeputado Miguel Portas falou em "desobediência civil" para justificar o acto. Depois deve ter "caído em si" - deve ter falado com o mano - e passou a coisa para um "ilícito" sem contudo deixar de relevar (sic) a "estética do movimento". Estética, estética, e apesar da idade, era Portas apanhar dois valentes estalos naquela cara esquerda caviar sem vergonha.

18.8.07

UMA FORMA DE SAIR DO MUNDO

«O maior prazer é ler. É a possibilidade de ao fim de três páginas estar em Roma ou nos problemas da Madame Bovary… É uma forma de sair do mundo.»

Vasco Pulido Valente ao Diário Económico


O CASAL PINHÃO


João Botelho tem um filme interessante, "poético" até, de 1982, Conversa Acabada, sobre a amizade de Pessoa e Sá-Carneiro. Depois disso, tem sido quase só o marido de Leonor Pinhão. Pinhão é uma jornalista da bola, esquerdófila e benfiquista. Até podia ser do "Estrela da Amadora". Mas não. Pinhão, em artigos na imprensa da especialidade e naqueles intermináveis programas de televisão entre adeptos "famosos" dos clubes "famosos", Pinhão nunca escondeu as suas preferências. O casal Pinhão decidiu "adaptar" a "autobiografia" de uma senhora do Porto - livro esse editado pela Dom Quixote da Tereza Melo (ao que a editora e ela chegaram) - onde, entre outros pormenores técnicos de relevante interesse nacional, se aborda a flatulência de um presidente de um clube de futebol. Da "adaptação" - o argumento corre por conta de Pinhão - sairá um filme intitulado "Corrupção" cuja feitura é vigiada por perto pela autora da "autobiografia" e pelos seus guarda-costas da PSP, pagos com o dinheiro dos contribuintes. Pinhão anda agora indignada por causa de um documento apócrifo que circula nos meios da investigação criminal e nos jornais e a que chamam de "apito encarnado". No meio desta cãzoada sem nome, há propósito e método. Escuso de dizer o que é não vá algum polícia dos costumes futebolísticos acusar-me de "portista". É que eu, do Porto, só mesmo Serralves e Agustina. A Pinhão é que é do Benfica.

ELITES, COMO ELES DIZEM


O país não tem elites, nunca é esdrúxulo repetir. Tudo foi invadido por gente grosseira, oportunista e videirinha. Enquanto se pasta o gado com "Maddies", com a bola e com trivialidades sem nome, essa gente grosseira avança. Ligo o telemóvel e leio uma "sms" do José Adelino Maltez que passo a transcrever:

"Os novos donos do poder do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) acabam de eliminar dos arquivos de consulta pública o "Centro de Estudos do Pensamento Político" (CEPP), isto é, 183MB com 12 mil ficheiros e meio milhão de entradas."

O José Adelino foi director do CEPP. O José Adelino tem uma obra e um pensamento próprios, inadmissíveis para os alarves que andam a tomar conta das instituições públicas um pouco por toda a parte. O José Adelino é, finalmente e para permanente vergonha destes capachos, um homem livre que, no seu ensino, nos seus livros e nos seus arquivos online, persiste em formar homens livres. E um homem livre não é de esquerda nem de direita. É apenas livre. E como o velho pescador de Hemingway, pode ser destruído mas nunca derrotado.

17.8.07

GERGIEV...


... às 22.00, em Cascais.

Adenda das 2 e 20 de sábado: Como é que um maestro como Gergiev se sujeitou e sujeitou a Orquestra do Mariinsky à ventania de Cascais, tocando maravilhosamente para uma plateia enregelada e em grande parte indiferente aos acordes da 7ª sinfonia de Mahler que só terminou depois da meia-noite e meia? Coisas à Tito Celestino da Costa. Em mar de tempestade, qualquer buraco é porto. Boa noite.

TUDO EM FAMÍLIA



Por causa deste post e de alguns comentários, muitos deles censurados, apenas duas ou três observações. Não conheço nenhuma família exemplar. Sobretudo heterossexual. Os tribunais e as assistentes sociais que trabalham para os tribunais estão atafulhados com as "disfuncionalidades" destes sublimes agregados maioritários. Ainda ninguém me conseguiu provar que uma criança criada e educada por uma mãe ou por um pai que não pertence à "maioria" e que não comunga do ideal pequeno-burguês do "amor e uma cabana", é mais infeliz e "incompleta" do que outra qualquer. Pelo contrário, o que me chega é a notícia de um filho dessas famílias exemplares que estava a estudar em Inglaterra, que adquiriu uma neurose e que aproveitou um passeio de domingo, numa vinda até cá, para parar o carro na Ponte Salazar e atirar-se à água. O corpo apareceu uma semana depois ao largo de Sesimbra. O que me chega é a notícia de um rapaz que andou em Belas Artes, que esteve na Bélgica no Erasmus e que eu conhecia, que aproveitou uma escapada à casa de férias dos pais, onde tinha um atelier, para se enforcar. Não pretendo impressionar ninguém. Quero apenas chamar a atenção para a circunstância de, quer o ensino ("Bolonha", a botar cá para fora, para a vida material, criaturas que ainda cheiram a cueiros), quer as famílias, poderem estar a gerar perfeitos idiotas sociais ou cadáveres em férias que ignoram tudo sobre a perversidade do mundo apesar de já terem experimentado, sensualmente, quase tudo. Para conquistar o mundo, como uma pessoa, é preciso conhecê-lo primeiro. Muitos jovens são completamente desconhecidos dos seus progenitores, e vice-versa, e andam literalmente por aí às apalpadelas. Estão, aos vinte anos, mortos de cansaço e de idiotia. Fingem todos uma alegria familiar que só o papel da fotografia garante. A felicidade não se herda nem se "supôe", como sublinha indirectamente o Filipe Nunes Vicente. Só os malditos dos genes.

16.8.07

WEEDS


Um major da BT da GNR proferiu doutrina administrativa na televisão. Segundo ele, de acordo com a nova legislação destinada a catar qualquer vestígio psicotrópico no sangue do condutor, mesmo que o dito ande munido de uma justificação médica para o uso de anti-depressivos ou de ansiolíticos, está tecnicamente tramado na mesma. "Os testes rápidos" na fiscalização de condutores sob efeito de substâncias psicotrópicas "são realizados em plena estrada e ao ar livre", "numa amostra de urina, saliva ou suor e só no caso de ser positivo se submeterá o indivíduo a um exame de confirmação em amostra de sangue". Como a maioria dos portugueses consome relaxantes, tranquilizantes e anti-depressivos para, entre outras coisas, suportar a arrogância dos "agentes da autoridade" que adoram vasculhar as nossas viaturas e esconder-se atrás das moitas e das árvores, esta "inovação" promete. O Código da Estrada dos socialistas, bem como a respectiva regulamentação, não evita o pior. Os condutores assassinos continuarão impávidos e serenos a matar e a matar-se onde calhar. Eu apenas reclamo o meu direito a tomar os Prozac's ou os Lexotan's que necessitar sem correr o risco de ser incomodado por uma qualquer brigada policial, seja ela da ASAE, da PSP, da GNR ou o dr. Saldanha Sanches. Mais vale proibirem-nos de mexer no carro. Lá chegaremos.

O ANTI - IDÓNEA - 2

Pinto da Costa é tão bom ou tão mau que teve direito a "documentário" na RTP-1, em horário nobre e com comentários "sociológicos" de Pacheco Pereira e humorísticos de Octávio Machado, entre outros. Só prova que o homem tem, no mínimo, interesse. Mais do que qualquer um - ou uma, a das "meninas" - daqueles que por lá passaram.

ÂNGELO


Há muitos anos, no tempo em que os animais nem sequer falavam, o engenheiro Ângelo Correia foi ministro do Interior. A dada altura, lembrou-se que estaria em curso uma conspiração qualquer e foi à televisão, a única da época, falar em pregos espalhados na rua como sintoma da dita conspiração. Posto a bom recato, longe da política, aquele que era o quase eterno cabeça de lista do PPD/PSD em Aveiro, dedicou-se aos negócios. "Virou" sumidade do regime, opina com vigor e frequência na SIC Notícias e, consta, é entendido no mundo árabe. Agora volta para dizer ao PPD/PSD que Mendes não serve e que o autarca de Gaia é que é bom. Ângelo nunca foi pessoa para ser levada excessivamente a sério. Infelizmente Sá Carneiro e Mário Soares levaram-no, e estamos a pagar a factura. No fundo, no fundo, politicamente Ângelo nunca deixou de ser aquele homem que imaginou um golpe de estado assente naquela meia dúzia de pregos nas ruas de Lisboa. Bem haja por nos ter prevenido.

INVESTIGAR

O inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito sobre o inquérito.

SÓ NO PAPEL


"A mania das fotografias. Tiram-se muitas. Demasiadas famílias inteiras. Vai custar, mais tarde, esta suposição de felicidade. Todos juntos, só no papel."


15.8.07

GERGIEV


Em pleno Agosto, depois de Barenboim, Gergiev. Em Cascais, na sexta-feira à noite, no Palácio dos Condes Castro Guimarães. Dirige Tchaikovsky e Mahler, com a orquestra do Teatro Mariinski de S. Petersburgo. Conheci pessoalmente Gergiev, na Ópera de Zurique, em Outubro de 2002, numa estreia de Benvenuto Cellini, de Berlioz, conduzida por John Eliot Gardiner. Fui ali tratar de pormenores relacionados com uma co-produção (Charodeika, A Feiticeira, de Tchaikovsky) do Teatro Nacional de São Carlos com o Teatro Mariinski de S. Petersburgo onde Gergiev era director artístico. Mas isso agora não interessa nada. Gergiev sim.

A ARTICULISTA

Como é que o Público dá guarida a um artigo da sra. D. Helena Lopes da Costa, uma cacique do PSD, apoiante do autarca de Gaia contra Mendes, um dos piores exemplos da vida partidária portuguesa, um daquelas que impede qualquer cidadão minimamente sério de poder levar a sério esta democracia?

SANCHES, O PURO - 3

Ainda há quem se admire de o professor Saldanha Sanches ter "chumbado" na sua agregação ou lá o que era. Ele não tem tempo para a academia. Ele pertence ao vasto clube tagarela dos prosélitos do regime. Com a agravante do moralismo, da pretensão de estar permanentemente a dar lições de moral cívico-fiscal ou de qualquer natureza aos outros. Não deve. Sanches é apenas um homem de pensamento débil que quer estar em todas. Só que ainda ninguém lho explicou.

PRISON BREAK


Uns quantos reclusos fugiram da prisão de Guimarães. O estabelecimento prisional era dirigido por uma senhora que, como é dos costumes, foi transferida. A referida senhora deve ter tido tanto a ver com a fuga como eu. O sistema penitenciário - para adultos e para menores - tem sofrido com o esplendor facilitista dos tempos. Em vez do direito, a psicologia. Em vez da política criminal, a sociologia. Em vez da pena, a assistência social. Isto, mais tarde ou mais cedo, paga-se. À frente de estabelecimentos prisionais e das antigas casas de correcção (nome mais apropriado do que o presunçoso e democrático "centro educativo") colocam-se pessoas que normalmente não possuem a mais vaga ideia do que significa tratar com criminosos. Estimáveis criaturas - centenas delas - espalhadas por "equipas de reinserção social", "formadas" nos mais extravagantes cursos, acompanham a execução da política criminal como se fosse coisa para tratar de ânimo leve. Não vou ao ponto, decerto reaccionário, de considerar que certas funções não deviam ser exercidas por mulheres. Todavia, afigura-se-me que o regime (por causa dos complexos antifascistas e de outras questões mal resolvidas) ainda não encontrou o equilíbrio em sede de política criminal e de execução de penas. E sempre que o PS é poder, a coisa agrava-se. António Costa, ministro da justiça de Guterres, e Alberto Costa, ministro da justiça de Sócrates, são os dois maiores responsáveis pela esquizofrenia vigente. Só me admiro que não fujam mais.

NAÇÃO DESALMADA


Ontem à noite, entre comes e bebes, o dr. Marques Mendes falou aos fiéis algarvios. O objectivo era falar ao país e, naturalmente, contra Sócrates, essa sombra de primeiro-ministro desde há três semanas. Mendes vai continuar a mandar no PSD. E o PSD vai continuar a não mandar em nada. Esta situação devia preocupar-me. Só não me preocupa tanto porque, graças a Deus, cada dia que passa estou mais longe desta democracia. Do PSD já estava há três anos. Porém, que a Providência o conserve por muitos e bons. Do resto - da democracia em geral-, e graças a esse mestre do embuste que governa o PS e a pátria, e do seu silencioso vigilante de Belém, só prodigalizo distância. É tempo de a democracia - este "modelo" concreto que nos atormenta os dias e a alma - aprender a conviver com aqueles que a detestam, não "doutrinariamente", mas por causa dos papagaios e vilões que a usurparam e que a exibem em "travesti". Por isso foi-me penoso ver o dr. Mendes - que estimo - a pregar a partir de uma esplanada marítima para um país deserto de ideias e de Homens. Não há nada pior para uma nação - mesmo lateral, miserável e irrelevante como a nossa é graças aos referidos vilões - do que ser pastoreada por desalmados. Ontem também se comemorou Aljubarrota. Desses, já não se fabrica.

14.8.07

POBRE, FILHO DE POBRES... - 2

Os ricos estão cada vez mais ricos. O "fosso" entre eles e os pobres é dos maiores da União. Os mais ricos de entre os mais ricos estão assim por causa da especulação e não necessariamente porque a produtividade do país aumentou. Não aumentou. Eles é que tratam bem das respectivas vidas. E, finalmente, a economia não medra. Ou seja, andamos a gerir um imenso fracasso há já alguns anos. Não fosse a circunstância europeia e, mais tarde ou mais cedo, alguém da cepa do antigo catedrático de finanças de Coimbra deveria tomar conta disto. Nunca se sabe.

CONDOMÍNIO

Convém andar atento ao que prega este evangelista. Aliás, o vereador Sá Fernandes deu uma entrevista ao DN em que, freudianamente, se viu na necessidade de varrer, em retórica, com o governo da CML. O evangelista vem agora dizer que o Bloco é uma coisa e o PS outra, que tem um programa e que não sei quê. Serão e terá. Acontece que, poder, há só um. E esse é do PS, de Sócrates a Costa. O Alfredo Marceneiro, quando lhe perguntavam pela vida, dizia sempre: "filho, fiz muita coisa por fora, mas voltei sempre para casa". Se em 2009 estiverem todos à rasca - uns porque vêem a absoluta mais longe, outros porque apreciam o fauteil em vez da reles cadeira de plástico - talvez haja, finalmente, condomínio, aquilo a que os antigos doutrinadores deles chamavam "a casa comum da esquerda". Como a única ideologia socrática é o poder, tanto se lhe dá. E o evangelista, assim como assim, já tem cara de quem engoliu uma vassoura.

13.8.07

POSTAS DE BACALHAU

O prof. Miguel Beleza está na SIC Notícias a evacuar postas de bacalhau para cima de Mário Crespo, excessivamente curvado perante a estrela da economia internacional. Beleza deve achar-se sublime e, naturalmente, mais um salvador da pátria, um dos milhares da manada que nos vem governando desde 1974. Para além disso, formou-se nos EUA e reclama praticamente o exclusivo do conhecimento da economia. Deu, por isso, uma surra no Vasco Pulido Valente por causa da moeda, começando por perguntar onde é que ele tinha tirado o curso de economia. Fantástico país que tem destes ex-maridos de fantásticas "escritoras" portuguesas e de fantásticas apresentadoras de televisão. Curioso. Como é que com tamanhas e fantásticas inteligências - todas redondas - não perdemos esta maldita periferia tão clara no provincianismo embotado e engraçadinho de Beleza?

ÉTICA REPUBLICANA


Perto da CML, na fatal esquina da Rua do Arsenal com a Praça do Comércio, a canalha sujou a parede nos termos constantes da foto. De que é que o dr. Costa está à espera para cumprir a famosa ética republicana, mandando limpar o dejecto?

POBRE, FILHO DE POBRES...


Uma gentileza do António Luís. Ao menos a fachada está pintada. Quando visitei o local, faz este mês seis anos, metia nojo. É só comparar com os condomínios de luxo onde se alberga a maioria da nossa elite democrática, com ou sem vista-mar.

JE NE REGRETTE RIEN



É uma cena a que assisto - ou assistia, dada a minha actual condição de excomungado socialmente por amigos, amantes e conhecidos - com frequência, esta aqui bem descrita pelo Miguel. Só não passei pelas suas agruras pós-"25 do silva". E, como ele, e apesar da actual solidão, "je ne regrette rien".

12.8.07

LER OS OUTROS

O melhor Eduardo Pitta - tenho saudade suas - em dois posts. Sobre a família MacCann e respectiva soap opera, a síntese é a correcta. Acerca do dito de Margarida Pinto Correia - "A Direita está cheia de preconceitos que se instalam, dominam e oprimem. Um filho de uma família de Direita tem muito menos abertura de espírito do que um filho de uma família de esquerda. E faz-me impressão uma sociedade em que se premeie apenas o mérito, independentemente das condições à partida. Isso é a Direita e isso faz-me muita impressão." - apenas duas observações. Primeiro: os trinta e três anos deste regime produziram coisas como esta Margarida ou como a outra, noutro registo, a Rebelo Pinto, que nos impingem diariamente como ícones de um tempo novo. Apesar disso, e com uma frase destas, a primeira das Margaridas dá ideia de ter aprendido o jargão na democrática ilha de Cuba onde o seu marido tinha (não sei se ainda tem) interesses imobiliários. Segundo: se há coisa que a esquerda que a primeira Margarida frequenta não possui é "abertura de espírito". A sua estúpida frase é a prova disso.

NÃO É FÁCIL DIZER BEM - 20


Passa hoje o centenário do nascimento do bardo Torga. A oficiosa RTP mandou uma jornalista qualquer sentar-se no meio das serras e apresentar o telejornal da tarde. Tudo, naturalmente, por causa do dito Torga. Torga nunca me impressionou como escritor. Um conto ou outro, um ou dois poemas e basta. O "Diário" é de fugir. E toda a mitologia construída à volta do autor de Bichos também. Foi um putativo Nobel, julgo que apenas na cabeça de meia dúzia de luminárias da "cultura". Tinha uma coisa boa: mau feitio. De resto, preferirei sempre Vergílio Ferreira a este montanhês constantemente incensado. O padrão do nosso rusticismo literário e saloio escreveu uma vez no seu infindável "Diário" que "não há nada mais repugnante do que um escritor a ejacular pela caneta" referindo-se a Henry Miller. Tomara ele.

DESCONFIADO DOS CUSTOS DO PROGRESSO- 2

Um leitor deixou um comentário neste post que merece um comentário. Fala em "historiadores" que "cortam a direito" e que vão "desmascarar" criaturas como Hermano Saraiva, Nogueira Pinto ou - honra suprema - eu próprio no que toca à figura do Doutor Salazar. Não faço ideia a que "historiadores" que "cortam a direito" se refere. A cortesãos do regime que lambem as botas de tudo o que lhes cheire a pequeno poder imediato independentemente do partido ou do PR? A deputados da extrema-esquerda caviar? A comentadores televisivos sempre atentos, venerandos e obrigados a quem está? Não faço ideia. Este ano faleceu um grande historiador que nunca bajulou ninguém para ter obra (e da grande) mesmo quando não se concorda com ela em matéria, por exemplo, de I República. Refiro-me a A. H. de Oliveira Marques que praticamente morreu ostracizado pelo regime que ajudou intelectualmente a formar. E, nas "fornadas" mais recentes, só enxergo o Rui Ramos que não me parece tributário da corte. Espero que me esclareça no próximo comentário e, de preferência, com o seu nome como fazem as pessoas adultas.

11.8.07

A SORTE DELE


Em 1975, debandámos de Timor em condições que são conhecidas. Em 99, salvo erro, andámos de mãos dadas e vestidos de branco pelas ruas de Lisboa a bradar "ai, Timor...". O dr. Sampaio fartou-se de lá ir gastar resmas de lenços de papel onde secou as honestas lágrimas que verteu pela "causa". O sr. Horta e o sr. Xanana, por causa da má consciência nacional (a nossa, claro), foram amplamente subsidiados pelos impostos portugueses para se chegar ao actual estado da arte. A Fretilin - ex-partido de ambos e agora uma "força" aparentemente tomada de assalto por criminosos e violadores - anda na rua a escavacar o que sobrou dos desastres anteriores. Razão tem Jaime Nogueira Pinto no seu livro sobre Salazar. Sorte a dele não ter assistido à triste agonia do Portugal ultramarino. É uma espécie de agonia permanente que havemos de expiar até à eternidade, desde a remota ilha de Timor até àquela que foi a luminosa baía de Luanda ou Lourenço Marques. Toda esta bandalheira tem a mesma origem. Sorte a do Doutor Salazar que já não estava cá para a ver.

DESCONFIADO DOS CUSTOS DO PROGRESSO


«Os fascismos eram demagógicos, populistas, progressistas, industriais, ateus, racistas, urbanos. O espírito e a obra do professor Salazar é o contrário de tudo isso: elitista, conservador, rural, tradicionalista, crente, desconfiado dos custos do progresso, surdo ao clamor das massas, essencialmente humanista e democrata-cristão, inspirado nas encíclicas papais. Pode argumentar-se que os fascismos não eram pela democracia baseada nos partidos políticos e o dr. Salazar também não. Mas concluir que quem não é democrático é fascista, é boçal ou desonesto.»

José Hermano Saraiva, Álbum de Memórias

NO CORAÇÃO DAS PESSOAS


Levei dois cd's de Amália Rodrigues para o carro. Não a ouvia há muito tempo. Num deles, ao vivo em diferentes locais, do Café Luso ao Japão, Roma ou Paris, percebe-se perfeitamente por que é que Amália tinha génio. Andam por aí uns betinhos e umas betinhas que passam por fadistas e que se reclamam da herança da fadista. Eu, que acho que não sou surdo, não vejo possibilidade de comparação. Amália nunca foi uma mulher frágil como estes novos "sensíveis" querem parecer que são. Vinda do "povo", tinha os pés bem assentes na terra, sabia muito bem o que queria e era uma mulher muito inteligente. Teve dois regimes e diversos papalvos a seus pés. Tirando o folclore ou o repertório internacional, nenhuma letra cantada por si o foi ao acaso. Entrevistei-a, em 1985, na sua casa da Rua de S. Bento. Explicou-me por que é que o fado se cantava de preto, por que é que gostava de apanhar flores, que cantaria até que houvesse aplausos, etc. Escolhi para título da entrevista esta frase dita por ela: "gostava de ficar no coração das pessoas". É dos poucos portugueses que fica.

10.8.07

SOARES, O PRÓDIGO


Depois de ter andado meses a fio a prodigalizar apoio a Sócrates e aos seus régulos, Mário Soares vem agora dizer que é preciso "um pouco menos de arrogância". E que não, que não existe bufaria, coisa dos tempos do "Estado Novo" e que ele, como bom anti-fascista técnico-profissional que sempre foi, pode assegurar que, de facto, não existe. Quando muito, uns casos "desagradáveis", "empolados". De resto, são as mesmas inocuidades dos últimos tempos de regressão político-intelectual que constituem o acervo do texto. Bush, já se sabe, é o demónio encarnado e Chávez gere "uma democracia". Tenho saudades de outro Soares. Mas, pensando bem, tenho saudades de muita coisa. Como se diz em alemão - fica melhor - "alles ist vorbei". Soares também.

LER OS OUTROS

"P: Que qualidades procura nos amigos?
R: Em primeiro lugar, não devem ser estúpidos. Uma ou duas vezes estive apaixonado por pessoas estúpidas, e muito; mas isso é outro assunto - pode-se estar apaixonado por alguém sem estabelecer a menor comunicação. É assim que a maioria das pessoas se casam e é por isso que a maioria dos casamentos são infelizes."

Truman Capote, The Bogs Bark

9.8.07

O ANTI - IDÓNEA


Pinto da Costa transformou um clube relativamente secundarizado numa instituição nacional. Outros reduziram clubes que eram instituições a meras tertúlias de intriguistas. Digo isto com o à vontade de quem não gosta de futebol nem tem clube. É idóneo? É seguramente mais do que uma pessoa despeitada. Usar o ressentimento e um desastre da vida pessoal como canais privilegiados de uma investigação, é, no mínimo, desagradável. Até ao trânsito em julgado de alguma eventual sentença condenatória, Pinto da Costa é apenas um cidadão que trata bem da sua casa. Não quero com isto dizer que aprecie o género. O que definitivamente não aprecio - nem em relação a ele, nem em relação a ninguém - é que se enxovalhe, com método e persistência, quem quer que seja em nome da "moral" e dos "bons costumes" abstractos e estatísticos. Pinto da Costa é apenas um português que é competente naquilo que faz.

DADDIES - 3

Os pais da criança inglesa desaparecida no Algarve em Maio possuem dois (2) assessores de imprensa. Quem verdadeiramente são estes pais? Quem? Dostoievsky não teria criado melhores personagens.

AGOSTO, AGOSTO, MINHA MÃE ESTOU NO MEU POSTO

Onde pára o presidente em exercício? Será que, em Agosto, a presidência europeia não funciona? Na Polónia, por exemplo, as coisas andam animadas. E essa animação pode, qualquer dia, "colar-se" à pele da União. Sócrates vai ter muito com que se entreter quando voltar a descer à terra. Cá e lá fora. Na bovinidade do mês, desapareceram praticamente os chamados "serviços de atendimento permanente" do SNS, quando muito entregues a apenas um enfermeiro durante a noite. Sinal de que o dr. Correia de Campos anda em perfeita roda livre. Resta uma consolação. Depois do serão televisivo proporcionado pelo sr. Berardo, esta noite é a vez do sr. Pinto da Costa na SIC-Notícias. Vamos a ver se a minha estranha estima tardia pelo homem cresce um pouco mais.

OVOS PODRES


Uma memória de elefante dá sempre jeito. A partir de Setembro este blogue irá acolher, em forma de pequenos posts, ficção. Terá o nome de série Ovos Podres e a cada um corresponderá um breve "retrato", inventado mas baseado em factos e pessoas bem reais, de compatriotas que passaram pela minha vida - e eu pela deles - deixando, evidentemente, rastos. Alguns até me deixaram de rastos. Uns são conhecidos, outros são ou foram apenas meus conhecidos. Prometo que vai ter graça. Muita.

8.8.07

PODÍAMOS SER NÓS

Onde Gore Vidal diz USA, ponha-se "Portugal" e não se nota grandes diferenças.

MAIS UMA VEZ, SEMPRE A MESMA


Em homenagem ao Cesariny que, se fosse vivo, faria oitenta e quatro anos amanhã - o Crespo, sempre bem informado, enganou-se - devorei sozinho uma santola (€ 32, seus cabrões e putas invejosos) e deitei abaixo uma garrafa de Verde da Lixa, terra do meu querido amigo Coutinho, dos poucos homens com "H" grande que tive o privilégio de conhecer e com quem trabalhei, ainda do tempo em que a PJ era viva. Já percebi que os cortesãos do regime se preparam para "lançar" umas coisas dessa "velha desdentada que morava para as bandas de Benfica", como dizia o aldrabão do Pacheco sobre o Cesariny. A ver vamos, como pensava o cego. São todas muito finas, mas não arriscavam um terço do que o Cesariny arriscou. Em sua homenagem - e de tantos desgraçados pantomineiros que por aí arrastam o cadáver - aí vai, mais uma vez, sempre a mesma.

o regresso de ulisses

O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIC DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA "CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL" SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE. PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS DISTÂNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO PUERILIDADES, COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA), GUERRAS, ETC, ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA "ESCRAVA DO HOMEM" E ELA RI ÀS ESCÂNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM HOMEM. DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS, ANTES DA ROBOTSTÂNICA GREGA, OS ÚNICOS HOMENS-HOMENS QUE APARECERAM FORAM OS HOMENS-MEDICINA, OS HOMENS-XAMAS (HOMOSSEXUAIS ARQUIMULHERES). ESSES E AS AMAZONAS (SUPER-MULHERES-HOMENS). MAS UNS E OUTRAS ERAM DEMAIS. E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM.

A ALIANÇA INGLESA


De uma leitora devidamente identificada:

Envio-vos em anexo a foto do jornal que é distribuído de graça à porta das estações de metro em Londres. E não é só neste jornal que se afirma a desonestidade e incompetência da polícia e do sistema judicial português; todos os jornais da tarde têm este tipo de notícias e suspeito que amanhã de manhã será capa dos matutinos (de baixa qualidade, espero). De qualquer maneira, baixa qualidade ou não, são estes os jornais que são lidos por aqui por milhões de pessoas. Para resumir: foram buscar a história da Joana e as queixas da mãe, Leonor Cipriano, que afirma ter sido vítima da polícia portuguesa ao ser acusada da morte da filha e estão a fazer o paralelo com a história da Madeleine McCann dadas as recentes pistas que apontam para a possibilidade da criança ter sido assassinada no quarto. Ou seja, estão a dizer que o Inspector da PJ Gonçalo Amaral está a tentar fazer o mesmo com a mãe da Madeleine. Não há muito que se possa fazer para esclarecer o público britânico. No entanto, eu estou neste momento a escrever e-mails de protesto para os jornais ingleses com o link para este blog do Paulo Reis que explica a situação da Joana em inglês ( http://gazetadigitalmadeleinecase.blogspot.com/2007/07/truth-about-leonor-cipriano-mother-of.html ), de pedido de algum tipo de acção de relações públicas e esclarecimento da opinião pública junto da embaixada portuguesa em Londres bem como junto da embaixada britânica em Lisboa. Usando as palavras do blog acima indicado:

"And so, here we have a terrible story of a dysfunctional family, a child murdered and a very difficult police investigation. The only thing – in my humble opinion - that has some similarity with Madeleine McCann disappearance is the fact that the person in charge of Madeleine's case is the same that successfully headed Joana Cipriano investigation: CID Chief-Inspector Gonçalo Amaral. And success, in Joana's case, is clear: the murderers were found, accused, went to court, they were sentenced, they appealed the sentence and the Portuguese Supreme Court reduced it to 16 years of jail to both of them – the mother, Leonor Cipriano and her brother, for the murder her daughter and nice, eight year old Joana Cipriano."

Para quem queira participar, os endereços são os seguintes:
London Lite & Evening Standard: news@standard.co.uk
Embaixada Britância em Lisboa: ppa.lisbon@fco.gov.uk
Consulado Geral Português em Londres: mail@cglon.dgaccp.pt

Obrigada
Claudia
http://claudia.weblog.com.pt

UM HOMEM COM FUTURO

O sr. Marcos Perestrello, um homem do aparelho do PS, foi designado pelo dr. Costa como vice-presidente da CML. É jurista e um notório apparatchik sem nada na sua biografia (a não ser a partidária) que o recomende para a função. O pai foi padre e depois abjurou, dedicando-se às delícias da vida civil. Tal como João Soares senior, o paizinho de Mário. Tem futuro.

POR AMOR DE DEUS

O sr. dr. Dias Loureiro, farto empresário e eminência parda do PSD, apoia o dr. Marques Mendes. Claro. O dr. Loureiro é uma das mais extraordinárias criações destes 33 anos. Tal como Jorge Coelho e mais meia dúzia dos chamados "senadores". Estão quase todos no Conselho de Estado, escolhidos pelos respectivos "seus". O dr. Loureiro é de todos os líderes do PSD e todos os líderes do PSD são do dr. Loureiro. Na fase do "Pedro", jamais nos esqueceremos do papel de guru que assumiu. Jorge Coelho, apesar de ter adquirido mais recentemente o estatuto, é a mesma coisa. Antes de existirem, já tinham sido todos "retratados" pelo Eça. Quando olho para estes indispensáveis do regime, tenho saudades das conversas com os meus Mestres Pedro Soares Martinez ou o desaparecido Borges de Macedo. Eminências? Por amor de Deus.

OS "NOVOS PÚBLICOS"


Acorreram massas, de manhã à noite, à exposição Amadeo na Gulbenkian? Acorreram. Cem mil criaturas já passaram pela Colecção Berardo? Parece que sim. Isto, em si, quer dizer alguma coisa? Não. Massas atraem massas. É giro esperar pela câmara de uma televisão e botar faladura. Proferir umas banalidades sobre o evento. No carnaval da "Festa da Música" era a mesma coisa. As pessoas iam porque iam. Ocorreu-me isto a contemplar o auditório da Gulbenkian ao princípio da noite. Cheio, esgotado para escutar Barenboim? Ou esgotado porque sim? Entrei no Grande Auditório da Gulbenkian por volta dos meus dez, onze anos. Fui com o meu pai ver e ouvir o insuportável Orfeo de Monteverdi. Oficiava a veneranda figura do chefe de Estado, o Almirante Tomás. Ou seja, com intermitências, frequento aquele Auditório há mais de trinta e cinco anos. Encontro ainda muitos dos caquéticos que encontrava no final dos anos setenta e durante os noventa. Também noto muitos "jovens" e gente que, de repente, passou a "ir a todas". Significa isto que a demagogia dos "novos públicos" - uma coisa dos últimos ministros da cultura e das leis - é mesmo uma realidade? Não é. Os "novos públicos" - refiro-me sobretudo à música e à ópera que é o que conheço melhor - são falsos públicos. A cultura é um trabalho lento, de paciência e de uma longa e sofisticada aprendizagem. Não é por muito frequentar tudo o que mexe que o espectador passa, por mágica, a possuir o estatuto de "culto". Nem tão pouco por exibir farta biblioteca. A cultura é um calvário jubiloso em que simultaneamente se joga o sentido da beleza e o sentido da improbabilidade. Não é coisa de "massas", muito menos coloridas. O público que aplaudiu freneticamente a "Patética" de Tchaikovsky "comeria" qualquer peça que Barenboim, com um fantástico instinto de espectáculo e de gozo, lhe pusesse à frente dos olhos e dos ouvidos. Este "novo público", que esgota uma sala, não percebe o que está a ouvir. Basta atentar nas palmas a despropósito que apenas revelam a profunda "incultura" musical destes alegres veraneantes da cultura. Também tenho dúvidas que a arte contemporânea ou o nosso Amadeo os mudem. Ora um dos méritos da cultura é justamente mudar-nos. Depois de um certo quadro, de uma determinada ária, de um particular andamento ou de um livro, passamos a outro. Os "novos públicos" ficam rigorosamente no mesmo ponto em que estavam antes do quadro, da ária, do andamento e do livro. Isto começa no ensino básico ou nunca chega a começar. E, claro, numa disposição devidamente educada para apreciar o belo. Não tem de ser inata. Mas deve ser preparada e jamais "socializada" como uma festa de verão entre canecas e imperiais.

7.8.07

DADDIES -2

Pois é.

DANIEL BARENBOIM EM LISBOA


Edward Said e Daniel Barenboim fundaram, em 1999, a West-Eastern Divan Orchestra, nome que foram buscar a um título de Goethe. Goethe, um alemão cosmopolita e não chauvinista, aprendeu árabe em idade adiantada. Barenboim já dirigiu Wagner em Israel. E Said entretanto desapareceu. Talvez em nome desse cosmopolitismo intelectual - uma coisa que nós desconhecemos como desconhecemos, aliás, quase tudo - Barenboim dirige logo à noite a West-Eastern Divan Orchestra na Gulbenkian. Passam Beethoven, Schönberg e Tchaikovsky. Uma pequena pérola a porcos no feliz deserto de Lisboa em Agosto.

PAÍS COM CARA DE FODA-SE


«O animador de Combustões vai abandonar o país, livrar-se de uma atmosfera que se foi putrificando a extremos dolorosos e da qual me liberto com alívio. A partida está para breve, pelo que assinalar a passagem do segundo aniversário de Combustões poderá significar o anúncio, sorridente e plácido, do passamento de uma conta-corrente que se vem arrastando há mais de setecentos dias.» O Miguel vai-se embora, deixando para trás este pobre país com cara de foda-se, esta bosta pseudo-democrática. E faz dois anos de Combustões. Podia fazer duzentos que eu não me fartava. Dois anos dele é pouco. Dois desta gente é de mais.

6.8.07

OS NABABOS


A imagem de umas dezenas de nababos a deixar a Alfândega do Porto, agarrados ao telemóvel, depois de uma assembleia geral falhada do BCP por causa dos computadores - que ironia -, nababos que são accionistas de um banco onde todos os portugueses têm conta e onde a finíssima administração não se entende, merecia que os mencionados portugueses - todos - tirassem de lá as suas continhas e os deixassem a falar sozinhos. Enjoativa gente.

ESTA PORCARIA


A propósito da morte de Marilyn, Truman Capote, outro que tal: por que é que a vida tem de ser esta porcaria?

5.8.07

THE POWER TO WEIGH DOWN UPON ONESELF (ou o nosso poder de acabar com isto)



«Marylin is gone. She has slipped away from us over the edge of the horizon of the last pill. No force from outside, nor any pain, has finally proved stronger than her power to weigh down upon herself. If she has possibly been strangled once, then suffocated again in the life of the orphanage, and lived to be stifled by the studio and choked by the rages of marriage, she has kept in reaction a total control over her life, which is perhaps to say that she chooses to be in control of her death, and out there somewhere in the attractions of that eternity she has heard singing in her ears from childhood, she takes the leap to leave the pain of one deadned soul for the hope of life in another, she says goodbye to that world she conquered and could not use. We will never know if that is how she went. She could as easily have blundered past the last border, blubbering in the last corner of her heart, and no voice she knew to reply. She came tu us in all her mother's doubt, and leaves in mystery.»


in Marylin, de Norman Mailer

O TEMPO E AS ALMAS


Não sei quantos directores de museus públicos vieram "demarcar-se" - com as calças na mão e a cauda a abanar em direcção à Ajuda - de Dalila Rodrigues, a demitida directora do Museu de Arte Antiga. Faz lembrar uma "história" contada nas "memórias" de José Hermano Saraiva, passada com António José Saraiva e Jacinto do Prado Coelho, no outro regime, com outra gente, mas em semelhante registo atento, venerando e obrigado. "Padrinho do filho, licença pedida para o poder tratar por tu, admiração imensa - e aqueles dois artigos no jornal a denunciar o António como comunista. Os pseudo-críticos, foi o título que deu a essas denúncias torpes. Ambos visavam o provimento numa única vaga na Faculdade. No clima do tempo, era evidente que um candidato publicamente denunciado como comunista não obteria a chancela da PIDE, o nihil obstat inevitável para se ser admitido a concurso. O resultado foi esse mesmo. É nesse momento que se desencadeia a perseguição policial que destruiu a vida privada do António."

MEMÓRIAS DE SARAIVA- 2


Prosseguem, no Sol, as "memórias" de José Hermano Saraiva. No fascículo desta semana vem o desaparecimento, em Março de 1993, do irmão António que marcou gerações de portugueses interessados minimamente nesta treta. Mas também lá vêm as habituais picardias decorrentes do - graças a Deus - espírito petulante do autor. Sobre um assessor presidencial de Mário Soares, Saraiva escreve o seguinte: "Respondi, portanto, ao tal senhor do telefone, que um pedido presidencial é um assunto sério e não se trata pelo telefone. Devia, pois, enviar o convite escrito, preto no branco, e depois se veria. Aí o dialogante identificou-se: era o eng.º José Manuel dos Santos, nós até já nos conhecíamos de qualquer parte, etc. Confirmava-se a minha desconfiança: em Portugal toda a gente pode chamar-se José Manuel dos Santos.". Mais adiante, e a propósito das gentes que frequentam as escolas secundárias, Saraiva dá-nos um retrato muito fidedigno e actual: "Penso que ainda são bípedes mas já não são racionais. A percentagem de jovens deste tipo, que já nem sabe falar e vive numa penumbra instintiva, que não consegue atingir o patamar da consciência plena e responsável, é cada vez maior". Finalmente, e agora do irmão António, por ele citado, acerca de licenciaturas - um assunto tão depressa dentro como fora da "ordem do dia" -, esta reflexão: "Por este caminho, acabamos por anexar a certidão de licenciatura ao registo de nascimento. Nascem todos srs. drs., e não se fala mais nisso." Aprende-se muito com os velhinhos.