31.12.09

BOA QUESTÃO

«It is a very inconvenient habit of kittens (Alice had once made the remark) that, whatever you say to them, they always purr. `If them would only purr for "yes" and mew for "no," or any rule of that sort,' she had said, `so that one could keep up a conversation! But how can you talk with a person if they always say the same thing?'»

Lewis Carroll, Through the looking glass

ANUALIDADES



Bem sei que os preclaros leitores padecem horrores com a minha ausência. Não tenho muita pena, mas registo o facto. Estou longe da civilização, que e é como quem diz no Portugal Rural. Viva a regionalização, sim e tal. Vim só aqui para desejar a todos umas belas entradas, como é da praxe. Considerações sobre o ano finado, não faço, que aborrece e já não interessa. Em dois mil e dez, façam o favor de ser felizes.

INÚTEIS, EM SUMA


No Expresso, Miguel Sousa Tavares - que recuperou alguma tramontana depois do forte ataque de "socretinice" de que padeceu até às eleições legislativas de Setembro - fala em década inútil. Não necessariamente aqui onde a inutilidade, salvo escassas intermitências históricas conhecidas, faz lastro desde praticamente o "nascimento da nação". O século XIX terminou no fim da primeira década do século XX com a 1ª guerra mundial. O século XX terminou mais cedo, no mês de Setembro de 2001 sem que, no entanto, o "novo" tivesse começado. As guerras do século XX tinham nomes, lugares e lideranças conhecidos, para o melhor e para o pior. O terrorismo do século XXI e os poderes "democráticos" tipicamente não têm nada disto. Entrámos numa era sem nomes, sem lugares e sem lideranças. Nem amigos nem inimigos têm propriamente rosto. O ser humano comportou-se ao longo destes dez anos como uma anémona. Até nas guerras anteriores havia uma certa ideia de honra, de nobreza e de lealdade. Nada disso existe mais, privadamente ou em público. Tudo é igual e tudo e todos aspiram a ser iguais a todos. Inúteis, em suma.

BALANÇO DO ANO


Uma boa merda.

30.12.09

PURO LIXO

Como é que Isabel Alçada se dispõe a fazer a figura que está a fazer nas televisões à conta dos boçais dos jornalistas que a interpelam ao mesmo tempo, sem a menor consideração pela ministra, uma mulher, no mínimo, paciente e delicada. E não há ninguém que encha as ventas destes papagaios de bofetadas. Puro lixo "desinformativo" ambulante.

Adenda: Por falar em lixo, o sr. Nogueira da "fenprof", outra insuportabilidade ambulante, apresentou trinta (30) pontos para "negociação". Ninguém de boa fé vai "negociar" - depois de não ter andado a fazer outra coisa durante uma legislatura inteira, supeito, apenas pelo gozo político-sindical de o fazer - com tamanho caderno de encargos. Não estaria na hora de os senhores professores começarem a rever o sr. Nogueira antes que o país comece a "rever" a bondade da "luta" dos professores?

Adenda2: Um valentão qualquer, designado por Mário Rodrigues (o comentador nº 7) no blogue de Paulo Guinote, incita aparentemente os "colegas" a virem malhar no "gajozeco" que sou eu. "Está mesmo a merecê-las", escreve o valentão. Pois fique sabendo que castas, aqui, só em vinhos.

VOCABULÁRIO HORIZONTAL

Noronha do Nascimento "redescreve" Jorge Coelho dos idos de noventa. Quem se mete com aqueles que não podem ser mencionados nem escutados, leva.

AQUILO

O que mais me espanta nas "polémicas" que andam na blogosfera em torno da tralha acolitada no Diário de Notícias não são as "polémicas". É as pessoas ainda lerem aquilo.

LÍNGUA


Nem aqui nem em nada do que terei de escrever daqui para diante sobre o que quer que seja alguma vez "aplicarei" o acordo ortográfico que impõe a "lulização" do português. Não aceito a degeneração da minha língua por causa de não sei quantos milhões que alegadamente a falam ou escrevem como analfabetos funcionais. Quando me apetecer ler algum autor brasileiro (dos "palops" não tenciono ler nenhum), leio e ponto final. Para além disso - e literalmente - burro velho não aprende línguas. Os prosélitos e os literatos do regime tratam da questão como tratam, aliás, de tudo. Como os pequeninos "kim-il-zinhos" de trazer por casa que são. É que um "intelectual" que fala em "uniformização da língua" não é um intelectual. É uma besta.

29.12.09

TUGAMILHÕES

Os jornais e as televisões informam que os portugueses gastaram não sei quantos milhões em prendinhas através dos movimentos "multibanco". Parafraseando Vasco Pulido Valente noutro contexto, pergunto-me como é que uma raça tão estúpida pôde alguma vez ter descoberto alguma coisa quanto mais o mundo.

CÉSARES E O ESPELHO DA NATUREZA


Depois de ler esta notícia, fiquei com a sensação de quem está precisar de tratamento são os excelentíssimos médicos. É evidente que a "intervenção" de coisas como "asssociações panteras rosas", "ilgas" ou "opus gays" são perfeitamente dispensáveis embora se perceba que não possam resistir ao panfleto. Passo a vida a recomendar a leitura da apresentação que Gore Vidal fez da edição de Robert Graves dos Twelve Ceasars de Suetónio. Chegou a vez de a recomendar a estes patetas, uns e outros afinal adeptos de uma legislação "moral" de sentido oposto. «Though some of the Caesars quite obviously preferred women to me (Augustus had a particular penchant for Nabokovian nymphets), their sexual crisscrossing is extraordinary in its lack of pattern. And one suspects that despite the stern moral legislation of our own time human beings are no different. If nothing else, Dr. Kinsey revealed in his dogged, arithmetical way that we are all a good less predictable and bland than anyone had suspected.»


Adenda de 30.12: O que estava a fazer mais falta, neste já de si sublime contexto, era a opinião do sexólogo do regime, o rebento Maria Clara, provavelmente uma das mais chatas criaturas em programas de rádio.

28.12.09

OFENSIVAS

Mário Crespo: «A Igreja lançou mais uma ofensiva contra o casamento entre homossexuais...». O jornal até estava a correr bem, para quê esta bojarda? O Mário também pertence ao vasto clube de crédulos que esperam ver um dia o Papa a lançar preservativos coloridos das janelas do Vaticano? Ou a Igreja a renegar dois mil anos de história? A haver "ofensivas", diga lá, Mário, de onde é que elas brotam? De onde?

POR QUE É QUE OS GOLFINHOS SÃO "HUMANOS"


«Berlusconi levou uma bolacha de um opositor com uma estatueta de ferro, num comício em Milão, dando-lhe direito a ida para o hospital. No mesmo dia abriu-se um clube de fãs na Internet em tributo ao agressor. Poucos dias depois, no Vaticano e em plena Missa do Galo, uma mulher salta a vedação de segurança e empurra o Papa fazendo-o cair. No mesmo dia abriu-se um clube de fãs na Internet em trituto à senhora que, segundo se diz, sofre de perturbações mentais. Não são escritores, nem cientistas, nem artistas, nem músicos. São gente da qual não se conhece qualquer talento ou traço biográfico excepto o terem praticado com relativo "êxito" o que de mais animal existe, garantidamente, em qualquer ser humano. Por isso mesmo, este tipo de êxitos fazem as delícias de seres humanos "quaisquer". Isto porque "qualquer" é a palavra de ordem e é como agora mais se deseja formatar toda a gente, incluindo quem é "alguém". Apoteoses e clubes de fãs deste tipo são um belo espaço que a mediocridade demolidora encontrou para se fazer importante. Todos querem muita democracia e res-pública, aqui as têm.»

José Maia, Frituras

O PROBLEMA...

«... é que MFL tem dito o que é preciso, tem insistido no que é necessário e tem-se mantido fiel ao que explicou aos cidadãos durante a última campanha. É o que o país espera de uma pessoa dedicada, sem ambições pessoais e responsável, que podia há muito ter ido para casa, mas não foi. E isto irrita, não é?»

Filipe Nunes Vicente. Mar Salgado

O "LADO"

O Presidente promulgou um diploma que adia a entrada em vigor do chamado "código contributivo". Deixa a todos - governo e oposição - a possibilidade de o aperfeiçoar. Trata-se de matéria não folclórica que diz respeito ao trabalho e às empresas, em suma, à economia que praticamente não existe. Veio logo uma vestal do grupo parlamentar do PS dizer que Cavaco se colocou "ao lado da oposição". Curiosamente, quando o mesmo Cavaco promulgou a vasta maioria dos diplomas saídos do anterior absolutismo governamental e parlamentar, a dita vestal não saiu ao caminho a saudá-lo. Não ocorre à criatura que o PR não está "ao lado" de ninguém. Nenhuma solidariedade institucional ou estratégica o obriga a estar "ao lado" do governo ou da assembleia. O PR tem legitimidade democrática própria para proceder às suas avaliações. É para isso que é eleito por sufrágio directo, universal e secreto. Não é para ser deputado da oposição ou secretário de estado do governo.

27.12.09

AS COISAS SÃO O QUE SÃO


«São multidões de solitários. Fogem de qualquer luta, afrouxam-se em submissões, aceitam não ser donos deles mesmos. Nem sequer sabem que estão sós porque a solidão desliza sobre eles sem deixar vestígios como a água na pena dos cisnes. Todos nós somos convidados para entrar num castelo, diariamente, vá lá saber-se por quem. Pode o castelo estar cheio de esplendores e de multidão ruidosa que não deixará de acabar em sepulcro, mais depressa do que seria de esperar, se não desconfiarmos dessa exaltação de fraquezas e se, quando ficarmos sem fôlego, não soubermos que esse é o momento de nos reencontrarmos, reconquistando a dignidade e a personalidade. O castelo é um inferno onde cada instante é um milagre. Agarrar esses instantes, que formam o tempo, escapar da ladainha dos que mergulharam no ruído, viver como um desafio, ter a honra de não se submeter a quem não merece submissão e de depender do amor de quem merece essa dependência, é o que deveria ser - se pensássemos. Mas só quando se está cansado de nunca estar só é possível vencer a violência da solidão e pensar no que vale a pena. As coisas são o que são.»

Victor Cunha Rego

POSIÇÕES

Não sei a qual dos engraçadinhos se refere Pedro Santana Lopes mas a observação serve a todos. «Uma das mudanças que é necessária em Portugal é a de pôr as pessoas na posição que merecem.» E, estimando-lhe sinceras melhoras, razão ao homem do "Nacional." Um cretino é sempre um cretino tal como um conjunto de cretinos é só e apenas isso, um conjunto de cretinos. Mesmo (ou sobretudo) com chorudos tempos de antena em televisão.

LIDO

Num comentário: «o que o País precisa é de mais Cavaco e menos socialismo.» E numa entrevista a Rui Machete: «Um Presidente que se preocupa com os problemas do país não está a interferir no programa do governo, está a cumprir as suas funções.»

LITERATURA, MARTELADAS E ESTADOS DE SER


O Paulo Querido fez um comentário oportuno a este post. Sobretudo porque, ao contrário do que é costume em comentários, o Paulo defende a noção de "conversa" como participação numa conversa mais vasta que são as possibilidades de conhecimento. Vê-se que o Paulo leu o Thomas Kuhn. Todavia, mantenho que deve distinguir-se entretenimento de literatura o que não quer dizer que não possa haver muito do primeiro na segunda. O que sustento é que uma literatura que não passe de entretenimento não é literatura. Porquê? Recorro a uma das mais (para mim) emblemáticas "definições" de literatura que conheço, a de Vladimir Nabokov no posfácio a Lolita. «Quanto a mim, uma obra de ficção só existe se me consegue proporcionar aquilo a que chamo sem rodeios o gozo estético, isto é, uma sensação de estar, de certo modo e algures, ligado a outros estados de ser em que a arte (curiosidade, ternura, generosidade, êxtase) é a norma. Não há muitos livros desses. Tudo o mais é um acervo de lugares-comuns ou aquilo a que alguns chamam "literatura de ideias", a qual não passa muitas vezes de um acervo de lugares-comuns em enormes blocos de gesso, cuidadosamente transmitidos de século para século, até que aparece alguém com um martelo e dá uma boa martelada a Balzac, a Gorki ou a Mann.» Gozo estético e ligação por cima de coisas como presente, passado e futuro a "outros estados de ser" é que permitem falar, por exemplo, em literatura e em sabedoria, um termo recorrente no crítico Harold Bloom para os "autores fortes". Nada disto acontece com aquilo a que apelido de subliteratura que, se lida em demasia, causa obstipações irritantes e danos permanentes. Por mais que eu "leia" (não leio) Rodrigues dos Santos, Sparks, Nora Roberts, Rebelo Pinto ou uma senhora com um nome italiano que é muito "lançada" por cá, etc., etc., não só não me entretenho - para isso busco "policiais" - como nenhum daqueles objectos me permite encontrar com outros estados de ser que usam a mesma linguagem que eu uso mas que, ao contrário do que eu digo ou escrevo, provocam um gozo estético a que, à falta de melhor, chamamos literatura. Os "temas" destes objectos citados constituem uma pífia "literatura de ideias" e um amontoado de lugares-comuns que não resistem nesse confronto com outros estados de ser porque não pressupõem quaisquer estados de ser especiais para serem lidos. Limitam-se a borboletear com as palavras e com aqueles que as compram em blocos de gesso. Nem para a colecção de lepidópteros de Nabokov serviriam. Uma boa martelada nesses blocos de gesso e não se perde, de facto, nada.

26.12.09

SCRUTON

Também «para mim, há uma parte do Natal que é silêncio e leitura.» Roger Scruton, um "conservador", merece que a editora do autor do post (e de Scruton em português) o traduza. «And by thinking with wine you can learn not merely to drink in thoughts, but to think in draughts.»

GRANDES VOZES



Franz Lehar, Die Lustige Witwe. Beverly Sills, 1977.

Adenda: Breve "homenagem" às "viúvas alegres" da blogosfera (so)cretina que tantos "consolos" obtiveram em 2009 - «Temo que a consagração do casamento entre pessoas do mesmo sexo provoque uma sensação de orfandade aos meus leitores da esquerda moderna. Agora que o Rubem e o Martim podem juntar os trapinhos, haverá nesse roupeiro cheio de Versaces, Cavallis e Gallianos alguma coisa por que ainda valha a pena lutar? Será a blogosfera de Sócrates forçada a deter-se em temas áridos, como o desemprego, a corrupção ou o défice?» (Vida Breve)

COMO SE LEVANTA UM ESTADO


«Que fazer, como sucede hoje a Cavaco, quando não há maioria absoluta na Assembleia e o primeiro-ministro persiste numa direcção que ele considera desastrosa? Para dissolver, Cavaco precisava de duas certezas. Primeira, que os portugueses não lhe devolvessem um Parlamento igual a este. Segunda, que os portugueses não o desautorizassem, reforçando Sócrates. Ora, no presente estado do PSD, nada lhe garante nem uma coisa, nem outra. E, como percebe a evidência (que, de resto, toda a gente percebe), Cavaco não vai dissolver. Ao contrário do que por aí anda a declarar, o que lhe convém hoje é "alimentar a polémica com Sócrates". Diariamente, continuamente, sem ambiguidade ou fraqueza. Na ausência de uma oposição, tem ele de substituir a oposição. Portugal inteiro espera isso dele. E, depois, quando Sócrates cair, como cairá, na execração geral e ele, Cavaco, reeleito, reentrar em Belém, se tratará de pôr a casa em ordem.»

Vasco Pulido Valente, Público

ENTRETENIMENTO E LITERATURA


José Rodrigues dos Santos, apresentador da oficiosa RTP e "escritor" português contemporâneo, ganhou um "prémio literário" no Porto. O referido "escritor" vendeu para cima de não sei quantos milhares - julgo que já se pode falar em milhões - de exemplares da sua "obra". Estes quilos de livros fazem literatura? Não fazem. Ou então há que rever o conceito. Todavia, atribuir "prémios literários" a coisas que são irreconhecíveis como literatura é um atrevimento recorrente entre nós. Porque "obras" como os calhamaços de Rodrigues dos Santos são mero entretenimento. Tudo o que a literatura tipicamente não é.

25.12.09

NEM


No dia de Natal.

CARREIRAS

Por falar em falácias, convém atentar nesta, nesta "honra nacional" cujos princípios se reduzem a ele próprio. Faz uma dupla inimitável com o de cá. Porreiro, pá.

A FALÁCIA

O Le Monde - até o Le Monde - decidiu homenagear a falácia. Escolheu o "apedeuta" Lula da Silva o seu "homem do ano". Lula caiu nas boas graças mundiais em virtude de uma série de "reconversões" retóricas. Preside a um país "emergente" que interessa justamente a as essas boas graças. Nada mais. De resto, Lula apenas continua a ser mais sofisticadamente o mesmo arrivista popularucho que sempre foi. Os "mensalões" que varrem periodicamente o seu partido não impressionam os novos iluministas europeus. Só lhes interessa, a estes e a Lula, a cor do dinheiro. Deixam os princípios para os tolos das esquerdas que persistem em ter "heróis" com esta falácia ambulante.

ENTRE PRADA E BATA

No país das maravilhas e dos carros eléctricos, há regiões que estão há 48 horas sem luz. É como vestir Prada e calçar Bata. Quando se raspa, Bata devora sempre Prada.

ACENDER FOGUEIRAS NA NOITE DO MUNDO


«A luz do primeiro Natal foi como um fogo aceso na noite. À volta tudo estava escuro, enquanto na gruta resplandecia a luz verdadeira «que ilumina todo o homem» (Jo 1, 9). E no entanto tudo acontece na simplicidade e ocultamente, segundo o estilo com que Deus actua em toda a história da salvação. Deus gosta de acender luzes circunscritas, para iluminarem depois ao longe e ao largo. A Verdade e também o Amor, que são o seu conteúdo, acendem-se onde a luz é acolhida, difundindo-se depois em círculos concêntricos, quase por contacto, nos corações e mentes de quantos, abrindo-se livremente ao seu esplendor, se tornam por sua vez fontes de luz. É a história da Igreja que inicia o seu caminho na pobre gruta de Belém e, através dos séculos, se torna Povo e fonte de luz para a humanidade. Também hoje, por meio daqueles que vão ao encontro do Menino, Deus ainda acende fogueiras na noite do mundo para convidar os homens a reconhecerem em Jesus o «sinal» da sua presença salvífica e libertadora e estender o «nós» dos crentes em Cristo à humanidade inteira.»

Papa Bento XVI, Mensagem Urbi et Orbi, 25 de Dezembro de 2009


24.12.09

OS CÃES E A CARAVANA

Parece que esta noite, na SICN, o alcaide de Lisboa vai fazer de híbrido de Ricardo Rodrigues e de Sousa Pinto, os dois "reis magos" de Sócrates no parlamento. Ao sugerir que Cavaco deve "recuperar" o seu poder moderador, Costa está a participar da manhosa narrativa anti-PR que consiste no programa do PS (e do governo) para os tempos mais próximos. Apenas Paulo Rangel, aos microfones de uma rádio, denunciou esta evidência em termos clarificadores. Todavia, julgo que Cavaco - para seu bem e honra já que não deve confundir-se com estas aberrações políticas - deve fazer como recomenda o provérbio árabe. Os cães ladram e a caravana passa.

RASGAR A FINITUDE


Chegamos ao Natal e ao fim do ano com o país a saque. A saque dos "duros" do PS - como o Expresso designa os prebostes de Sócrates que se "distinguem", tão valorosos quanto capachos persas, pela virulência contra o Chefe de Estado e na defesa do extremoso líder -, a saque da nomenclatura angolana cuja testa de ferro é a "empresária" filha de dos Santos com a benção, segundo o mesmo jornal, do banco público, a CGD, a saque do acordo ortográfico que vai aplicar-se já ao Diário da República (aqui nunca se aplicará), a saque das televisões que macaqueiam o espectador, a saque da indigência "cultural" cúmplice do regime e das suas prebendas, a saque, em suma, de tudo o que confina o que já devia ser uma sociedade liberal sem aspas há muito tempo mas que persiste estupidamente autoritária e refém de donos precários que só a diminuem. Para o autor deste blogue, o Natal é acolher o Filho do Homem nos nossos corações e deitar para o caixote do lixo pessoal e colectivo a "ideia" de um pai natal cheio de prendas e de ilusões montado no bezerro de ouro. Jesus é, a partir do seu Advento, Aquele que nunca nos abandona. Neste sentido, é impossível "passar" o natal sozinho ou pretender que o natal se reduza a uma mesa farta de gente, de couves e de bacalhau. Como escreve Ratzinger na ilustração deste post, Deus fez-se a si mesmo finito para rasgar a nossa finitude e a Fé encontrará de novo o homem. É só isto que interessa. Um Santo Natal.

Postal: Povo

23.12.09

KIMISMOS DE NATAL


Ao observar, na tv, a hipocrisia institucional natalícia no Palácio de Belém, lembrei-me das palavras do 1º ministro no parlamento em "momento democrata". «Ninguém está acima de críticas em democracia», disse ele sem se rir. É que ele, aparentemente, está. Tudo o que lhe diga respeito e que não seja bajulação à la Pitta (cito esta porque parece mais sofisticada do que a da ténia Delgado), é "campanha negra", "maledicências", "ataques pessoais" e de "carácter". Nunca é crítica.

A BEM DA ERUDIÇÃO DAS GENTES



Antonio Vivaldi - Gloria (excertos). The English Baroque Soloists and Monteverdi Choir. John Eliot Gardiner

ENFIM

Os senhores conselheiros Noronha e Monteiro são tão ciosos do seu "segredo" que, não tarda, aparece tudo escarrapachado nos jornais. Enfim.

A NATUREZA DAS COISAS

A natureza reagiu imediatamente aos "acordos" de Copenhaga. Um pouco por todo o mundo, gela-se, afoga-se ou arde-se consoante a latitude. Não vale a pena remar contra ela, a natureza das coisas. Por cá, não basta a desgraça como, a seguir a ela, surgem as aventesmas oficiais a proferir trivialidades burocráticas como se estivessem a despacho. Pobretanas de espírito.

EXISTIR SOZINHO OU A HIPOCRISIA DO "NATAL"


«Oa laços entre nós e outra pessoa existem apenas na nossa mente. A memória, à medida que se vai tornando mais ténue, solta-os e, não obstante a ilusão pela qual queremos ser ludibriados e com a qual, por amor, amizade, delicadeza, deferência e dever ludibriamos os outros, nós existimos sozinhos. O homem é a criatura que não consegue escapar de si própria, que conhece as outras pessoas apenas em si mesmo e que mente quando afirma o contrário.»


Marcel Proust

OS AJUDANTES


A dra. Ferreira Leite foi, nestas curtas semanas de nova legislatura, a única líder da oposição a confrontar Sócrates com o essencial e não com rendilhados populistas de efeito fácil. Viu-se no derradeiro debate quinzenal do ano. Enquanto a senhora faz o que tem de fazer, o seu partido parece-se cada vez mais com um aglomerado acéfalo de ajudantes de Sócrates, entretidos com jogos florais internos a que o país é, tipicamente, alheio. Dá ideia que é calvário para durar para aí uns três ou quatro meses, com velhos e novos "barões" em bicos dos pés para ver quem grita mais alto por que é que não se deve confiar neles.

Foto: Ephemera

Adenda: Os que recusam a ideia de um congresso nos termos propostos por Pedro Santana Lopes são, no fundo, os que não se importam de servir o partido numa bandeja a essa metonímia "socrática" que é Passos Coelho.

O PACIFICADOR?


«As críticas a Cavaco Silva por José Sócrates e companhia não deixam muito espaço a Manuel Alegre para o efeito.» É, de facto, a lógica das coisas. Todavia, os primeiros-ministros que "provocaram" PR's não acabaram bem. Não foram os PR's que saíram prejudicados. Balsemão, Soares, Cavaco ou Santana Lopes removeram-se ou foram removidos. Eanes, Soares e Sampaio pouco ou nada tremeram. Na cabeça de Sócrates porventura paira a ideia, sufragada pela pequena história do regime, de que a melhor maneira de remover um obstáculo é ocupar o seu lugar. O resto que se lixe. Ainda ninguém teve a amabilidade de explicar isto a Alegre entre dois jantares de amigos?

O PACIFICADOR

Enquanto Manuel Alegre vai percorrendo a amada pátria em jantarinhos de apoiantes – um milhão, parece – José Sócrates continua no mais incompreensível desvario. Poderia eu passar umas horas à procura de uma forma de descrever o que se passa mas, manifestamente, penso que o esforço seria em vão. Aquilo que José Sócrates anda a fazer, numa democracia que se respeitasse, já teria sido motivo para moção de censura no Parlamento ou demissão do Presidente da República. Nem de um lado nem de outro vem o menor sinal de vontade e um atrevido Sócrates continua a andar nos intervalos da chuva. Esticando a corda tanto quanto pode, vai abusando da falta de coragem e, atrevo-me, lucidez que transborda dos titulares dos principais órgãos de soberania.
A questão é muito simples. Nesta guerra criada por José Sócrates há duas possibilidades: ou ganha o Presidente da República, que já tem um rol imenso de motivos para demitir o Primeiro-Ministro, e o país pode respirar um pouco de estabilidade com a nomeação de um outro Primeiro-Ministro socialista com apoio da bancada parlamentar; ou ganha José Sócrates e um Cavaco Silva enfraquecido chega às eleições presidenciais dando, isto se se recandidatar, um fácil lugar a um Alegre bem apoiado por todas as «esquerdas». Alegre apresentar-se-á como um pacificador, por oposição ao litigioso Cavaco. E sabemos que em política o que parece vale bem mais do que aquilo que é.

E SE TU

O NINHO



Uma amiga diz-me de forma constante que a blogosfera a desilude cada vez mais. Curiosamente essa foi a amiga que me trouxe para a blogosfera, foi quem me empurrou. Maldita, eu sei, mas depois logo acerto contas com ela.
A verdade é que eu não posso dizer que a blogosfera me desilude, ou que está pior em relação a não sei quando. Cheguei tarde e a más horas e, tirando uma ou outra excepção, não me esforcei propriamente por vasculhar arquivos de blogues falecidos. Simplesmente posso olhar para o que tenho agora. E o que vejo agora nesta blogosfera que vou conhecendo é um mero ninho de cobras em que todos parecem querer comer-se uns aos outros, como se com isso ganhassem algo – pessoal ou materialmente. Como se isto valesse alguma coisa. Não ganham e não vale.
Uma banal disputa ideológica é motivo para a ofensa gratuita (e não, não estou a falar do que aconteceu um dia destes, apenas estou a escrever algo sobre o que vou pensando há algum tempo). E a vacina vai-se tornando tão forte e a lucidez tão fraca que, por oposição, um mero gracejo, um piscar de olho que não se vê, uma boca que tem mais de simpatia que de ataque é considerada, também, ofensa e respondida à letra.
E depois são as conversas de bastidores. O «olha que giro, aquele que faz não sei o quê aos blogues». São os objectivos que se pretendem, ingenuamente, obscuros e que são, por não passar tal obscuridade de mera pretensão, ridículos. E são, também, aqueles que julgam que por o seu blogue ter meia dúzia de gatos-pingados que o lêem são alguma coisa mais que mera poeira adiada e risota presente.
Eu não quero dar para esse filme. Entrei nisto porque me queria divertir e mantenho-me nisto porque vai havendo gente que, no meio de tanto traste pseudo-engraçadista, faz com que valha a pena. Desde que aqui ando nunca ofendi ninguém, ou, pelo menos, nunca tive tais intenções. Não sei porquê, fenómeno recente, alguns sentiram necessidade de passar por cima desse pormenor e, sei lá, atirar a primeira pedrada, a ver no que dava. Repito: não quero dar para esse filme.

TGVISMO

Aforismo para futuros seminários em faculdades de economia: o endividamento externo combate-se com mais endividamento externo para pagar investimentos públicos de longa duração até ao ponto em que o país já não tiver mais crédito internacional porque, pura e simplesmente, não é credível.

22.12.09

PODER TOTAL


Num regime presidencialista semelhante ao francês, como defendo para cá, Sócrates nunca teria chegado a primeiro-ministro. Duvido, aliás, que qualquer presidente - mesmo socialista - aceitasse apresentar ao "povo", no dia da sua posse, alguém com aquelas características políticas e pessoais. Tinha, além disso, uma vantagem para o dito cujo. Jamais teria de congeminar uma maneira mais ou menos airosa (não conspirativa nem doentia) de deixar de ser primeiro-ministro sem ser em regime absolutista. E de arrastar o país para essa sua obsessão primitiva com o poder total.

DEFESA DA HONRA

O DN, em resposta à Sábado – do grupo Cofina –, publica um artigo onde dá conta que, afinal, é o Correio da Manhã – do grupo Cofina – que, tendo as mesmas audiências que o Jornal de Notícias, é o principal fornecedor de publicidade do Estado, sendo «responsável» por 50% dos gastos, um valor francamente desproporcional se atendermos ao facto de ter um número de leitores muito semelhante ao Jornal de Notícias – do grupo do Diário de Notícias.
Isto, obviamente, levanta questões. Não sabemos – e julgo que gostaríamos de saber – por que critérios se regem as decisões dos publicitários do Estado. No entanto, isto não branqueia o resto. O Diário de Notícias e o Público são jornais com audiências, também, muito semelhantes e as «oscilações» no financiamento directo a cada um foram francamente estranhas.
Resumidamente, o DN fez o que lhe competia: foi mais além que uma Sábado condicionada por si própria e pelo grupo a que pertence. Falta o resto. Falta que alguém nos explique o motivo pelo qual o Correio da Manhã é alvo de tanta e tão anormal preferência em relação ao Jornal de Notícias (em relação ao qual, convém dizer, consegue ter algum avanço nas audiências) e, também, o motivo pelo qual o Público sofreu o que sofreu em 2007 e porque é que é preterido em relação ao DN, que, e aqui também convém que se diga, está atrás nas audiências.

POR QUE SERÁ?

«Pq instiga Sócrates a escalada de discurso do PS em relação ao PR? Que movimento do PR antecipa? Veremos. Por enqto a lógica escapa-me.» (Paulo Pedroso no Twitter).

VOZES DO DONO


O admirável líder, no jantar natalício dos seus deputados, fez questão de destacar dois deles, o pequerrucho Sousa Pinto ("cultíssimo", segundo fontes geralmente bem informadas) e o embotado Ricardo Rodrigues, ambos vice-presidentes de um céptico Assis. Não foi por acaso. É da boquinha deles que tem partido tudo o que o admirável líder gostaria de dizer de Cavaco mas que, por enquanto, não diz. No caso deles até se pode afirmar que possuem todas as qualidades dos cães incluindo a lealdade.

21.12.09

BASICAMENTE TUDO SE RESUME A ISTO

«If we cannot find a way to interpret the utterances and other behaviour of a creature as revealing a set of beliefs largely consistent and true by our standards, we have no reason to count that creature as rational, as having beliefs, or as saying anything.»

Donald Davidson, Radical Interpretation (1973)

UM CHEFE

Contra o que tem sido costume, não concordei com quase nada do que Santana Lopes disse na SICN. Era desnecessário o frete a Sócrates na pseudo-disputa com Cavaco que Lopes devia saber de onde parte e por que é que parte. Era desnecessário o "apoio" ao TGV com argumentário pedestre. Era desnecessário um "programa" a quem ninguém liga como nunca ninguém liga mesmo em campanhas eleitorais. No fundo, a Santana bastava ter dito o seguinte. Deve haver um congresso, como o da Figueira da Foz em 1985, onde chegue alguém ao púlpito, peça silêncio e que não o interrompam com palmas antes de ele dizer o que tem a dizer. Um chefe, em suma.

JOCOSO E SARCÁSTICO


Mais uma pequena e simbólica vitória da liberdade de expressão sobre o pretenso delito de opinião, de vez em quando inventado pela língua de pau em vigor para sobreviver no seu inner circle. «Palavras jocosas e sarcásticas não têm potencialidade para difamar.»

REVERSIBILIDADES


O país está a passar por um grave momento de "identidade sexual". Ao fim de não sei quantos séculos após o "aqui nasceu Portugal" surgem, graças a tropismos de agenda, dúvidas. A Ordem dos Médicos prepara-se para decretar que a homossexualidade é uma doença não letal porque, parece que é assim, se trata de um "comportamento reversível". No parlamento, o chefe do partido menos minoritário "obriga" os mesmíssimos deputados que vão votar a alteração às regras do contrato de casamento a votar disciplinadamente contra a adopção por casais cujo "comportamento" é "reversível", isto é, que podem a qualquer momento recuperar a "lucidez" e , presumivelmente, adoptar. Tudo isto, porém, é contraditório e, no limite, tosco. Primeiro: numa perspectiva à la Popper, por que é que não se poderá ponderar a "reversibilidade" do "comportamento heterossexual"? Desde quando é que existe uma "norma" dita científica nesta matéria que não seja uma unended quest? João Villaret, tão acarinhado pelo Estado Novo quanto pelo PC a quem dava dinheiro, traçava a coisa a grosso - "de lá para cá já vi passar muitos, agora de cá para lá ainda não vi passar nenhum". Segundo: por que é que só dois deputados oficialmente "fracturantes" têm autorização para votar a alteração às regras da adopção (que teria, sem hesitações, o meu voto favorável) e os outros desgraçados são tratados como atrasados mentais que consentem nesta "reversão" funcional sem pestanejar?

FORMAS DE VIDA MAIS SAUDÁVEIS


O PS - falho de ideias para o país e sem saber o que há-de fazer no governo - lançou-se na longa cruzada contra Cavaco. É, aliás, o único programa do governo já transformado precocemente em "comissão de honra" de alguém que ainda não está escolhido em definitivo. Remover Cavaco nas presidenciais e, de caminho, aliviar Sócrates do fardo da governação sem dinheiro são as faces desta má moeda. Figuras menores, desde o sr. Rodrigues dos Açores ao ex-pequenino Sousa Pinto, passando hoje por esse modelo político que é o Joãozinho Soares vêm, com método e inegável persistência, todos os dias zurzir no PR. Digamos que o PR se pôs a jeito mas estes indícios são mais do que suficientes - como, se depois de quatro anos e meio de absolutismo "democrático", fosse preciso mais - para se perceber que a "kim-il-sunguização" do regime prossegue despreocupadamente e com a complacência (quando não a obediência cega) dos media tradicionais. Ontem a RTP, por exemplo, não se coibiu de abrir o telejornal com a frase "conflito institucional" por causa do que um papagaio foi obrigado a dizer para manter a "telenovela" com razoáveis níveis de audiência politiqueira. Nada, vindo desta gente perigosa, acontece por acaso enquanto o PS estiver refém dela. Acredito, porém, que existem outras formas de vida no partido menos minoritário. Mais saudáveis em todos os sentidos. A ver se aparecem.

AQUI É MESMO ASSIM?

Depois de três ou quatro linhas que aqui escrevi, e onde ainda não disse nada, já percebi que há quem leve isto a sério como se alguma coisa fosse para levar assim. Quem não perceber que aqui não se destilam ódios nem amores pessoais e que o modo como se rascunha não é indicador de mais do que um estilo sujeito a críticas e não uma caçada de extraordinárias pessoas, então não há nada a fazer por cá. Quero lá saber se o designer é bom homem ou se Perestrello, apenas por cumprimento das funções que assumiu à velocidade reprodutiva de coelhos e que nenhum recém-licenciado com empregos precários seria capaz de acompanhar, teve de embarcar para a Somália. É que quem está bem é ele, não sou eu nem a importância do que aqui se diz é alguma.

MALAPROPISMOS


Por que é que o Daniel Oliveira e o Tiago Moreira Ramalho não vão (porque é natal com letra pequenina) até um café qualquer ler a meias Donald Davidson - o ensaio «A Nice Derangement of Epitaphs», mais concretamente - para ver se crescem?

PASSEAR A ESPIRITUALIDADE

O jornal Público, que é um misto de jornal de referência - dentro do que se pode arranjar - com celebrações masturbatórias trendy, apresenta um rapaz chamado Ricardo Mealha como o designer gráfico mais "cotado" de Portugal. Acresce, também para o retrato, que é gay. Também diz lá no papel que se vai casar amanhã com o "David", em Portugal, e numa discoteca com uma lista de convidados que vai das 300 às 500 pessoas. Este é, para começar, um bom retrato de um homem médio extraordinariamente activo, livre de problemas e um exemplo do sucesso massificado comparável ao do primeiro-ministro que, simpaticamente, viu o seu nome mais uma vez ligado a uma ocorrência que lhe dá votos. Uma espécie de apresentadora de televisão, em funções de mandatária, a passar creme na cara na televisão. Mealha arrota umas coisas que, pressupõe-se, acredita serem a assinatura da sua competência e confunde-se onde acha precisamente que não faz confusões. Diz ele que "espiritualidade e sexualidade não têm nada a ver" e, realmente, têm pouco. Contudo, convém distinguir o sentido tornado natural e inevitável das coisas daquilo que a criatura poderá querer sugerir ao utilizar a palavra "espiritualidade". Esta gente que, ao jeito do melhor design gráfico para um panfleto, assume em charivari as fanfarrices pífias onde circula e que não interessam a ninguém que tem a vida prática para enfrentar, pode bem ir passear a sua espiritualidade ao Lux. Passeie lá mais alguma coisa, por favor. Que se aproveite.

20.12.09

CRETINICES

Daniel Oliveira chama-me, a propósito de um texto meu, cretino. O Daniel Oliveira não me conhece de lado nenhum. E mesmo que conhecesse, dificilmente lhe daria confiança para tanto. Não desço tão baixo como o Daniel Oliveira e não lhe vou responder à letra. Deixo-o a chafurdar na sua própria lama argumentativa. Poderia aconselhar-lhe alguma literatura, mas acho que nem isso vale a pena.
Apenas acho curioso que aqueles que de forma mais aguerrida se batem pelo pacifismo e contra a utilização de violência física a propósito de questões políticas sejam os primeiros a alinhar num outro tipo de violência. É invisível e por poucos percebida. Mas existe. É a violência de desqualificar o adversário, directa ou indirectamente, a bem do pensamento único e obrigatório. Quem pensa diferente, independentemente dos argumentos, é um cretino ou, quem sabe, algo pior. Mais vale que o ensinem, ao pensamento obrigatório, nas escolas, que assim a malta já vem preparada.

MENINAS

Os jornais andam a tratar Isabel dos Santos por empresária.

INEVITÁVEL COMO MORRER


Ao fim de sessenta e cinco anos, fechou finalmente (este "finalmente" é escrito sem sombra de ironia e com uma enorme tristeza) a Buchholz. Na realidade, a Buchholz já estava fechada há muito tempo e a derradeira devassa - livros a um ou dois euros - só acentuou esse fim melancólico e inglório. Entrei lá pela última vez a semana passada. A Buchholz devolvia-nos, apesar da duradoura antipatia das senhoras encarregadas daquilo anos a fio, o prazer de frequentar uma livraria que é um termo que se tem vindo a perder para os amontoados comerciais onde livros ombreiam com tudo e com nada. Por isso, não vale a pena acrescentar algo ao dito noutra ocasião. «Livrarias como a Buchholz fazem parte daqueles raros lugares de silêncio onde podemos sentir intimamente a euforia que representa o amor pelos livros e pela leitura. Fomos nós, os leitores, que as "traímos" quando as trocámos pela "facilidade" dos "grandes espaços". Talvez tudo isto seja inevitável como morrer que é o que, afinal, um livro nos "ensina".»

IMPUTAÇÕES

Como um esbirro insignificante e nulo pode "dividir opiniões" e fazer com que se perca tempo com ele. Detesto a patética figura de deputado Rodrigues mas não lembra ao careca um título daqueles.

O NOIVISMO DE SANTO ANTÓNIO AO LUX


Tinha jurado não voltar ao assunto*. Porém, uma longa entrevista do "mais cotado designer gráfico português" (é assim que a revista Pública do Público o apresenta), Ricardo Mealha - destinada aparentemente a "explicar" a vileza da sociedade nacional, por um lado, e a equanimidade da figura do casamento, por outro - suscita duas ou três observações. Mealha, o tal maravilhoso e praticamente único designer nacional - o que é que pensas disto? -, é o produto típico da classe média alta lisboeta. Os colégios, as "vivências" (essa expressão medonha), a educação, em suma, tudo fazia de Mealha um bom betinho, destinado a belos voos. Aterrou bem, de facto. O seu talento - pois algum terá - foi devidamente apropriado pelo regime que lhe comprou catálogos para exposições oficiais e símbolos (o do Ministério da Cultura é dele). Deve estar já naquela fase da vida em que podia precocemente aposentar-se. Ficamos a saber (como se isso interessasse a alguém) que Mealha "casa" amanhã na discoteca Lux, em Lisboa, perante uns quinhentos convidados, Sócrates não foi esquecido como a entrevista salienta. "Casa" com o seu namorado David que, evidenciando um bom senso que Mealha manifestamente não tem, não falou. É evidente que Mealha e David não vão casar. O gesto é uma mera manobra publicitária destinada a consagrar uma nova espécie de anti-concurso de "noivas de Santo António" bcbg. Mealha nem sequer tenciona ficar por cá à espera da "nova" lei. Ruma para o Brasil, por um ano, com o seu marido e o seu talento. Convém, pois, registar esta "moda" de "noivismo" chique de capa de revista social em que o Lux - ou seja, a mistificação - substitui com facilidade a Sé de Lisboa. Não releva ser. Importa parecer. Casado. Habituem-se.

*sobre ele, e para variar, este post sereno.

EVENTUALIDADES

Sob o manto branco daquilo a que os antigos chamavam Inverno, terminou a Cimeira de Copenhaga. Claro que estas semanas foram especialmente profícuas na criação de muito cientista eventual. Eram muito giros com as suas apresentações pomposas. «Eu sou um céptico em relação às alterações climáticas», disse ontem João Pereira Coutinho no A Torto e a Direito. Obviamente, João Pereira Coutinho, bem como muitos outros – apenas lhe peguei, coitado, por causa daquele poderoso statement – fartaram-se de queimar as pestaninhas nas bibliotecas americanas, estudando registos e teorias. Suponho até que um ou outro tenha ido ao Antárctico ver os cilindros de gelo. Mas não são só os autoproclamados «cépticos» a divertir-me. São também os outros. Aqueles que dizem que, realmente, isto antigamente não era assim. Que só não vê quem não quer. E, e esta é a maior pérola no meio da discussão, mesmo que não haja alterações climáticas, é bom, muito bom, avançar com as reduções disto e daquilo porque «mal não faz». Como se o dinheiro nascesse das árvores ou se fizesse com um divino mandamento.
Pode ser que com o fim da cimeira, com as risadas à conta da neve, e sem grandes acordos feitos, os nossos cientistas eventuais fiquem caladinhos, sem se intrometer em campos que não são os seus. É que a ciência, aquela que não leva aspas, ainda não é feita nos gabinetes de estudos dos partidos nem decidida por sufrágio. Uma pena, eu sei, mas é mesmo assim.

LEITURAS

O mesmo tipo de imprudência com as leituras revela-se em José Sócrates sempre que quer mostrar que lê, o que faz mais amiúde do que devia. Na campanha eleitoral meteu os pés pelas mãos a falar de Pessoa num registo pseudo-intimista e agora, há dias, numa entrevista da Visão, diz, numa frase displicente, que já não lhe interessa ler Marx, agora vai ler é Keynes. Já esta maneira de falar denota o escasso convívio com os autores que cita como se fossem seus familiares, porque conhecer Marx é tão importante, senão mais, do que conhecer Keynes. E se a frase pretende mostrar que um está “desactualizado” e o outro não, então estamos perante uma boca que se admite num blogue adolescente, mas que não tem sentido num grande deste mundo que está a falar do que lhe interessa.
Quem diz uma coisa destas - ele não está a dizer que Keynes é mais importante no seu entender para perceber a realidade actual, mas sim que “vai ler Keynes” em contraponto com um Marx que já teria lido - não faz a mínima ideia do que está a falar. Keynes escreveu muito e sobre muitas coisas, do alcoolismo a vários artigos sobre economistas, e um ou outro pequeno livro mais popular. Será que o Keynes de que ele está a falar é o de alguns desses pequenos livros, que conheceram alguma notoriedade nos anos trinta? Duvido, porque o Keynes de que se anda para aí a falar a pretexto da crise económica - e é desse que Sócrates está a falar - é o da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.
Ora, eu não li a Teoria Geral, mas tenho uma ideia do conteúdo do livro, da sua complexidade e do seu tamanho. Tenho aliás um exemplar completo (muitas vezes há apenas antologias) que consultei para escrever este texto e não tenho dúvida nenhuma de que falar assim do livro, ou da obra de Keynes, é um pouco semelhante à do operário que num “romance social” aparecia cheio de ardor revolucionário na fábrica depois de ter lido o Capital durante a noite, ou da minha aluna leitora de Kant.
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda é um texto complexo, com mais de 400 páginas cerradas, muitas vezes com fórmulas matemáticas (anexo um exemplo ao acaso do texto original), um livro que para um economista é matéria de estudo e mesmo assim sem precisar de o ler todo, para um estudioso de Keynes obrigatório, mas sempre longe de ser a leitura displicente que José Sócrates sugere.
Ninguém é obrigado a ler, nem sequer se deve julgar Sócrates como primeiro-ministro por ter lido Marx ou Keynes, mas não fica bem parecer que se lê o que não se lê, ou que se vai ler, o que não se vai ler. Aliás, como acontece sempre nestas escorregadelas, ninguém lhe pediu para mostrar saber e leituras.

José Pacheco Pereira, na Sábado Online

«BENDITA ÉS TU»


Estamos no último domingo antes do Natal. Dizer isto ou que está frio é a mesma coisa. O que interessa é correr às lojas e, mais tarde, ao estádio de futebol ou para as televisões que o substitui com manifesto conforto. Sucede que o Natal não é esta falácia nem a blasfémia do "pai natal" das prendas. O Natal é o mistério do nascimento de Jesus e a percepção da possibilidade de uma vida nova nos nossos empedernidos corações. O Menino representado nos presépios é o mesmo mistério da Cruz que constitui o maior escândalo das nossas vidas. Não intuir isto é não perceber o que é o Advento. É, verdadeiramente, não perceber nada. No Evangelho de hoje lê-se: «Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor. (Lc 1,39-45)» O Natal representa, não uma epifania circunstancial de alívio da má consciência, mas a consciência de Isabel denotada na Palavra: presença permanente e jubilatória do Espírito Santo na Fé consagrada de Maria, Mãe de Deus.

19.12.09

NÃO HÁ HOMENS


1. «Por que razão não há homens? Porque, tanto no PS como no PSD, e até, ocasionalmente, no próprio CDS, a oposição à ditadura (clandestina, aberta ou "colaborante") os criara. A maioria dos deputados de 1975, de 76, de 79, de 80, chegou a São Bento por convicção, com sacrifício, com risco (principalmente, em 75) e, ponto importante, com uma carreira respeitável. Poucos vieram por oportunismo. Quase nenhum para se promover, para ganhar influência, para entrar nos "negócios", para ar-ranjar um emprego. As coisas mudaram quando a política se profissionalizou e o interesse geral foi subordinado ao interesse particular do partido e, dentro do partido, ao de cada indivíduo. O país que se lixe. A obsessão da Assembleia (e do Governo) é meramente táctica: o voto, a vantagem imediata, o efeito na televisão ou na imprensa. É uma obsessão estéril e torpe. Não, de facto, não há homens.» (Vasco Pulido Valente, Público)
2. A propósito de não haver homens, o rapazola Sérgio Sousa Pinto - um pequeno enfatuado que foi líder da JS e que andou a pastar pelo PE para regressar ao parlamento português nesta legislatura - "acusou" o Chefe de Estado de se "meter" na maravilhosa agenda do PS sobre casamentos não sei quê. Mais. O pequeno idiota "adverte" Cavaco para não fazer "coro" com a oposição acerca de tão fantástica matéria sob pena de colocar em causa (reparem até onde a idiotia pode ir) a "estabilidade política". Tudo serve de arremesso para tapar o sol com a peneira. Não, de facto, não há homens.
3. Manuel Alegre, antes de ser o candidato oficial do PS às próximas presidenciais, já é o do dr. Louçã. O Bloco "lançou" ontem o poeta antes mesmo dele se lançar. Num raro momento de lucidez, Jorge Sampaio recordou que a única forma de um candidato a PR falar directamente com o país, sem ficar refém de partidos sobretudo do dele, é fazer uma "declaraçãozinha" a dizer "eu sou candidato" e, depois, quem quiser que o siga. Ora Alegre começa logo mal ao deixar que o profeta Louçã faça a dita declaração por si. Não há homens.
4. «Há duas maneiras de governar os países: a grega e a outra. A nossa é a grega e, acreditem, acaba sempre mal.» (Miguel Sousa Tavares, Expresso) Não se governam países sem homens capazes de o governar. Nem a lanterna de Diógenes, cheia de pilhas de longa duração, os acharia por cá. Não, de facto, não há homens.
5. «A devassa da vida privada tornou-se uma actividade comum e deixou de ser considerada devassa. Nos nossos talk-shows, como os de Júlia Pinheiro (TVI) ou Fátima Lopes (SIC), uns indivíduos com mau aspecto e umas indivíduas passadas pelo ferro de engomar do botox discutem as noites, os dias, as roupas, os corpos, as declarações, os namoricos, os arrufos, as separações, as relações com os filhos, enteados, pais e padrastos dos "conhecidos". As próprias apresentadoras comprazem-se nessa odiosa tarefa. Enquanto nos entretêm com o circo, o pão é o que se sabe: o desemprego aumenta, a crise rouba o melhor das vidas a milhões de pessoas, os corruptos prosperam, a política é altamente deficiente e os media que mitificam e destroem os Tiger Woods do mundo ou da nossa aldeia sobem nos jogos de bolsa (...). Uma Canção para Ti é um horror estético. Júlia Pinheiro grita como um vitelo à beira do choque eléctrico fatal. Manuel Luís Goucha, que faz muito bem as manhãs da TVI, não consegue acompanhá-la na gritaria. As crianças canoras gritam como la Pinheiro, mas agravam com uma desafinação desenfreada e generalizada. As famílias das criancinhas exploradas desartisticamente gritam na assistência pela vitória dos seus monstrinhos queridos.» (Eduardo Cintra Torres, Público). De facto, não há homens.

TUDO POR UMA «CARA»

Ao contrário de noutros regimes, no nosso o Chefe de Estado não presta contas ao Parlamento. Aliás, a haver prestação de contas, ela será inversa a esta. Por este motivo, o comentário do sr. Sousa Pinto, uma inversão do Pinto de Sousa que nos governa (ou se calhar nem tanto), deveria ser alvo de condenação veemente por parte de Francisco Assis, líder parlamentar do seu partido. Um deputado não pode vir para os órgãos de comunicação dizer que o Presidente da República se «intromete» na política nacional ou que o Presidente da República provoca «instabilidade política», que na mente socrática significa simplesmente ter todo e qualquer comportamento diverso ao pretendido pelo admirável líder e pelos seus seguidores. Mesmo que tivesse toda a razão do mundo, não podia, por uma questão de respeito institucional. Infelizmente, respeito institucional é o que menos há e a única consequência desta história será que o sr. Sousa Pinto vai ganhar uma «cara» e, com alguma sorte (dele, não nossa), ainda pára num programinha de «comentário» «político» qualquer.

OS PRECONCEITUOSOS

«Isto ainda vai acabar de novo com a vitória de Cavaco Silva...» O mais divertido da coisa é que são, de novo, os "soaristas" os preconceituosos.

EPISÓDIOS


O João teve a indelicadeza de me apresentar como um episódico TVI. Acontece que não chegou a ser um episódio porque nunca, em tal sítio, fiz o que quer que fosse a não ser observar vulgaridades com excepção do JN6 e da jornalista que o apresentava. Antes, fiz outras coisas, depois também, e nada foi relevante para agora estar com o nome aqui nos colaboradores. Como bem disse, não sou do meio dos blogs e, acrescento, não vou passar a fazer parte a não ser a título, agora sim, de episódios.

A BOA ALTERNATIVA DE PENSAR



No meio de tanto tagarela oriundo do actual poder socialista minoritário - Assis, o sr. Rodrigues dos Açores, o parvinho Sousa Pinto ou o ministro Lacão, sempre "ajudados" pela oficiosa RTP - faz falta a a palavra de Manuel Maria Carrilho. Porque a palavra de Carrilho, polémica, irónica e nunca pedestre, entre outras coisas serve para recordar aos cansados deste PS estilo "pinhal de Leiria" que há sempre quem tenha a boa alternativa de pensar.

INTENDÊNCIA

Como anunciei anteriormente, este blogue cuja autoria é minha, para além da colaboração de Tiago Moreira Ramalho, passa a contar com a escrita de António Leite-Matos, alguém fora da blogosfera que, episodicamente, passou pela redacção da TVI e que, na minha modesta opinião, pensa e escreve bem. A "ideia" é a mesma. «Outros porventura virão ou não. E mesmo este(s) pode(m) estar apenas de passagem. Estamos todos, aliás. É pena que a maior parte das pessoas morra sem perceber esta trivialidade. É evidente, porque (são) maior(es) de idade, que o(s) dito(s) colaborador(es) ser(ão) o(s) único(s) responsáv(eis) por aquilo que escrever(em). Por isso assina(m) em baixo.»

Aventura com Marcos e com Perestrello

O senhor Marcos e o senhor Perestrello que, por estranha ocorrência, são a mesma pessoa, vão visitar os militares portugueses que andam numa fragata qualquer a "neutralizar" piratinhas no mar alto. Este senhor, de facto, só serve para personagem de desenho animado. A senhora aventura, agora ministra, ainda não pensou num título?

Regime do Espectáculo

A senhora Seixas, a da RTP e agora da Cinemateca, deu uma "entrevista" ao Expresso na versão Diogo Infante que cada um tem em si. Do que disse, nada foi sobre o futuro do órgão que agora dirige. Infante, quando lhe foi delicadamente oferecida a direcção do D. Maria, depois de estar há dias no Maria Matos, também veio dizer ao mesmo jornal que estava a pensar comprar tapetes novos para o dito. E lá anda, entretido com o seu tacho, como se as salas cheias daquele teatro correspondessem a alguma verdade. Mérito lhe seja atribuído: até algumas pessoas que lá trabalham, o senhor convence. Voltando a Maria João Seixas, quero lá saber se a senhora acha graça às suas rugas e à sua gaguez, se Bénard da Costa gostava dela ou se ter nascido em Moçambique, sempre esse lugar comum dos periféricos de serviço, lhe "deu mundo". Afinal de contas, o que é que alguém que nunca foi à Cinemateca pode esperar desta senhora?

ABERRAÇÕES

É capaz de haver razões desconhecidas para que a Red Bull Air Race tenha passado para Lisboa; seja como for, o meu país discute uma prova de aeronaves enquanto um presidente da Câmara de Paredes ergue um mastro de cem metros para hastear a bandeira. Cem metros, um milhão de euros. Um mastro destes nem merece discussão – é para o Guinness. É o que se chama recentrar o debate.

CONSTRUIR IDEIAS

Pedro Santana Lopes sugere que se faça um congresso extraordinário para que se «construam ideias», presume-se. Manuela Ferreira Leite acha muito bem e outros, quase todos os outros, acham muito mal – mais por medo do agora senhor vereador que outra coisa. Eu acho que é simplesmente inútil. Se o problema fosse de ideias, então uma reunião assim cheia de luz e brilho para que elas se discutissem seria extraordinária. O caso é que o problema do PSD não é, de todo, um problema de ideias. É um problema de pessoas.

18.12.09

APRENDER A VIVER


«You'd be surprised with the things you can live without.»

RESPONSABILIDADE

Hoje foi votada uma proposta de aumento do Salário Mínimo Nacional para os seiscentos euros. Os autores da proposta, como não podia deixar de ser, foram o Bloco de Esquerda e o PCP. Claro que o PSD e o CDS votaram contra – nem se esperaria outra coisa. O que não se esperava era que o PS se abstivesse.
Enquanto exige «responsabilidade» – que na novilíngua socrática mais não significa que inércia e anuência – aos outros partidos, o Partido Socialista abstém-se em votações desta importância. Imaginemos, por momentos, que a «oposição irresponsável» tratava, também, de se abster.

«FEITOS PALHAÇOS»

Sem crescermos mais depressa não recuperamos o que perdemos, pelo que, quando chegarmos ao fim de 2011, estaremos 1,6 por cento menos ricos do que no final de 2007. Um desastre. Neste quadro, não há milagres. Sem criação de riqueza - o nosso principal problema há mais de dez anos -, não há riqueza para distribuir. Sem riqueza para distribuir, quem quiser ganhar eleições terá de continuar a ir buscar lá fora, cada vez mais caro, o dinheiro para ratear entre uma população que começa a ficar desesperada. Quem, em contrapartida, quiser seguir uma política capaz de evitar o colapso grego corre o risco provocar a fúria geral. Sócrates, em minoria, não o fará, e com Sócrates ninguém se juntará ao PS no Governo. Logo... É elevadíssima a probabilidade de tudo acabar muito mal, pois nenhum político fala, e muito menos actua, de acordo com estas verdades elementares. E se Sócrates é cada vez mais parte do problema, o Presidente, que vai entrar não tarda em campanha para a reeleição, não está a ser solução. Já a oposição parece deliciada com a agonia. Vivemos, a par com a crise económica, em ambiente de fim de regime. Cantando e rindo, feitos palhaços.

José Manuel Fernandes, Público

O "ACORDO"

A parte cómica daquela assembleia de Copenhaga - para não dizer trágica - é os presentes não se darem conta do ridículo a que estão expostos. A coisa decorre como uma espécie de assembleia geral da nula ONU na qual, por resolução ou "acordo", a Terra fica mais fresquinha daqui a uns longos anos. Logo este diferimento interesseiro evidencia a tolice do propósito de "controlar" a Natureza. Se uma brecha se abrisse debaixo dos pés das eminências, motivada por um farto terramoto e os engolissse a todos, qual seria a "resolução" ou o "acordo" que os salvava?

ABENÇOADO DRAMA


Há uma passagem fundamental no Anel do Nibelungo de Wagner - em A Valquíria - na qual Wotan, descrevendo à sua filha preferida Brünnhilde a "história" precedente que fez dele o deus que em breve deixaria de ser, deseja simplesmente "o fim" (das Ende). Por aqui também se defende, sem hesitações, dramas ou jogos de linguagem o fim deste regime. Porquê? O Rui Ramos sublinha perfeitamente a coisa. «O primeiro governo de Cavaco e os de Guterres eram minoritários, mas tinham dinheiro; o de Sócrates, não tem. Este é o problema. Em minoria, só se governa bem quando há um bolo para dividir – não quando é preciso apertar o cinto. Guterres, em 2001, fugiu mal percebeu que ia acabar a abundância. Durante anos, a classe dirigente arranjou adesões, selou compromissos e cultivou boas vontades através da despesa pública. Era assim que se governava – e é assim que já não é possível governar. A chamada "ingovernabilidade" traduz o esgotamento desse modelo político e social, e não o simples medir de forças entre os partidos no Parlamento. Mesmo que os políticos decidissem dar-se bem e fosse feita a vontade a Manuel Alegre, que não quer ouvir mais "profetas da desgraça", nem por isso deixaria de haver drama. Porque há um drama: o do fim deste regime.» Abençoado drama.

QUEM BEBE PELO GARGALO COMPRA A GARRAFA

Os defensores do casamento que ontem foi, digamos assim, "governamentalizado", incorrem num tropismo hipócrita que revela a natureza meramente política - e, dentro da política, politicamente correcta - do objectivo enquanto cartaz. O cartaz é giro, já pode ser afixado e não se fala mais nisso. Porém, devia falar-se. Na adopção. Defendo, sem hesitações, a adopção seja por quem for que prove ter condições para melhorar a vida de crianças que estariam bem pior sem essa possibilidade. Os conceitos de "pai" e de mãe" estão há muito destruídos nos arquivos dos tribunais de família. Seria cruel impedir a hipótese de felicidade de uma criança por causa de falácias intelectuais e de oportunismos políticos. Esta "revolução" legislativa parou onde não devia ter parado porque não passa de um cartaz. O argumento expresso no post anterior - que se resume, em caricatura, ao "faz, faz mas devagarinho para não doer" - denota precisamente este ethos original e retórico. Nunca há coragem para levar uma narrativa destas até ao fim. Ou seja, ainda não aprenderam que quem bebe pelo gargalo compra a garrafa.

DIFERENÇAS

O Pedro Pestana Bastos conta aqui a história de um Pedro. Não sei que Pedro é. Se calhar nem o Pedro, o autor, sabe quem é. Pouco importa. O que importa é a mensagem.
O Pedro Pestana Bastos tem-se mostrado contra o acesso dos homossexuais ao casamento civil – um contrato, um mero contrato que num país que cumprisse os requisitos mínimos de decência nunca teria sido proibido a ninguém – participando, até, em iniciativas que levem à realização do referendo. Não tenho nada contra, como até já escrevi em «vidas» passadas. O que revolta um bocadinho, desculpe lá a honestidade Pedro, é que depois de defender a diferença – um contrato igual, mas com nome diferente, ou, simplesmente, um contrato diferente – venha agora lamentar a diferença. O casamento avançou, como devia avançar, sim senhor. O resto vem depois, com tempo e com cuidado. Porque o Pedro sabe perfeitamente que a adopção não se trata de um «direito» de quem quer que seja, até porque há imensos casos em que casais heterossexuais que não reúnem condições para adoptar. A adopção tem como objectivo o interesse da criança e até se provar (e aqui o ónus está sobre quem quer mudar, lamento) que o interesse da criança não é afectado, os casais homossexuais têm de esperar.
Agora, e peço por favor, aqueles que querem um referendo para que a população fique esclarecida, para que haja um debate público sério e tudo mais, não contem histórias coxas de Pedros nem de Marias, histórias que não esclarecem nem levam a lado nenhum.

17.12.09

REVUELTOS E SENCILLOS

A "quadratura do círculo" é a mais desaforada evidência televisiva do falso adversadorismo político que grassa no regime. Ninguém ameaça levantar-se e ir embora a meio. Levanta-se mesmo e vai. Não ameaça. Numa coisa, porém, Pacheco tem razão. Aquilo parece mas não é um programa familiar acerca de culinária.

ASSEXUALIZAR O CASAMENTO


Uma das coisas que se aprende com o decurso do tempo é a redescrever acções, circunstâncias, pesssoas ou objectos não tanto em razão da sua "verdade" intrínseca mas porque nos vamos apercebendo que essas acções, circunstâncias, pessoas e objectos dependem mais de determinadas contingências do que deles próprios. Se são valiosos para nós, então redescrevê-los é a nossa maneira privativa de os homenagear nas suas intenções e de tornar a sua "verdade" razoável. Deu-me para isto depois de ter lido este post. Na realidade, há qualquer coisa de positivo em "dessexualizar" a figura do casamento. Prós e contras acentuaram o "picante" same-sex para defender a alteração ou para a combater. A ninguém, porém, ocorreu que esta mudança se inclina jubilosamente mais perante os sexualmente brancos ou os assexuados do que perante os que julgam que são sexualmente alguma coisa, defendendo-os da insolência destes precários heróis tagarelas do pró e do contra. No fundo esta legislação (um biombo que a política ergueu para se defender por instantes da realidade) é uma paródia da sexualidade destinada a resolver questões de tesouraria e de intendência entre pessoas que entendem não dever abdicar de uma coisa chamada casamento para conviver entre si. Não me diz respeito e apenas posso respeitar a ideia de que ninguém é obrigado a casar-se.

AUMENTEMOS A PARADA

Está decidido que o Salário Mínimo Nacional vai aumentar. O aumento não é francamente significativo. No entanto, numa norma que nem devia existir, o aumento é absurdo.
Em primeiro lugar, a própria existência de um salário mínimo é destituída de sentido. O Estado impõe que determinadas actividades têm de valer mais que aquilo que efectivamente valem, numa suposta medida de apoio social em que a caridade é empurrada para o patronato. Facto que interessa pouco, porque os empresários são, na mente bolchevique de alguns senhores, todos uns ladrões, pelo qualquer ataque que lhes seja feito é bem-vindo.
Além disso, um aumento do Salário Mínimo cria mais desemprego. Felizmente a fase negacionista já passou e até João Proença admite que o desemprego pode subir. Mas isso também interessa muito pouco, que o desemprego nem está a atingir níveis históricos nem nada que se pareça.
Com tudo isto, alguns senhores exigem que o Salário Mínimo Nacional suba para os seiscentos euros. Confesso que me daria uma alegria imensa viver num país em que ninguém vivesse com menos do que aquilo que se pode comprar com esse valor. Teríamos uma sociedade, ouso dizê-lo, próspera. No entanto, a riqueza não se cria por decreto, como alguns senhores pensam. Aquilo que não me cabe na cabeça é como é que tais senhores, que vêem o mundo pelo seu prisma revolucionário e inconsequente, não pedem um Salário Mínimo superior. Pedir por pedir, impor por impor, que se imponha coisa melhor. Comecemos nos dois mil?

"O FALSO DEUS ADORA O VERDADEIRO"*

Também reparei nas nuances filológicas do trolha do "comentarismo" oficioso, pelos vistos, devidamente parafraseadas.

*De Os Lusíadas.

ABALOS

O melhor Medeiros Ferreira.

16.12.09

NAS TINTAS

Ao Tomás Vasques apeteceu brincar com as coisas que, bem vistas as coisas (sim, estou a repetir demasiadas vezes a palavra «coisas», evidência do meu analfabetismo), até são sérias. Começa com uma história de uma tarada súbita – a quem teria agradado, certamente, mais que ao Tomás ver a presidencial pernoca – e termina numa ode à bermuda. Pois eu acho que o Tomás fez aquilo a que, na gíria de quem acha que sabe o que não sabe, chamamos um exercício de estilo daqueles sem grande substância lógica por detrás. O Tomás diz que gostava de um Presidente de bermuda. Eu asseguro-lhe que se Aníbal Cavaco Silva se tivesse atrevido a optar por tal indumentária para o encerramento de uma Cimeira internacional, haveria muito post, muito artigo, muito programa televisivo a condenar, e com toda a razão, tal desfaçatez.
Mas não pense o Tomás, nem os outros, bem entendido, que o meu problema é só com a menina Sofia. O meu problema é com todo e qualquer deputado, homem ou mulher, que por atrevimento beto vai de camisola e calça de ganga para o Parlamento. São os revolucionários do século XXI português. Gente que nunca teve de pedir duas vezes a mesma coisa, mas que ainda assim acha que o mundo é cão e que o melhor a fazer é lutar contra o estabelecido. Abaixo as gravatas e tal. A menina Cabral que use o que quiser. O professor Cavaco também. O Tomás desfrute tudo, que eu, sinceramente, estou-me nas tintas.

O BODE EXPIATÓRIO

Há arguidos e arguidos. O procurador "foge Fatinha", que se demitiu as funções de presidente do Eurojust, teve o seu advogado, o "sampaísta" Magalhães e Silva, nas tv's a falar em "bode expiatório". Ou seja, ficámos a saber que Lopes da Mota será o "bibi" do "caso Freeport".

COITADINHOS

O apresentador do telejornal da TVI, um tal Castro, persistiu na parvoíce por causa do Papa e do casamento entre católicos e não católicos. Foi ao ponto de confrontar um convidado com a "menor tolerância" de Ratzinger com a "maior tolerância" de João Paulo II. A ignorância é atrevida como delicadamente lhe tentou explicar o convidado. À criatura televisiva, porém, não ocorreu que não existe qualquer hiato intelectual ou teológico entre os dois Papas. Talvez julgue que João Paulo II, como Diana Spencer, era uma espécie de "Papa do povo" e que, mais um bocadinho, ia a Queluz aos programas do Goucha e da estridente Pinheiro. Coitadinhos.

AREIA

Apesar de eu ser a favor do casamento homossexual e de um processo de regionalização (ou de, pelo menos, descentralização efectiva e que não se trate apenas de mera cosmética – como meter ministérios nas Penhas Douradas), este texto do Paulo Marcelo é um belíssimo texto para se ler. A par deste, já agora.

ATRASADOS

Parece que o senhor secretário-geral do PS e 1º ministro andou todo o dia atrasado. Atrasou-se numa cerimónia da GNR com as "massas" civil e militar à chuva, atrasou-se para o sermão aos seus deputados e, de atraso em atraso, não compareceu, em Belém, à posse de membros do conselho de Estado e ao encontro semanal com o Presidente. Por menos do que isto, Santana Lopes foi crucificado a torto e a direito, culminando naquela famosa justificação jurídica e política de Sampaio para o demitir: "vocês sabem porquê." Aparentemente Sócrates goza de um estatuto de beatitude política e de inimputabilidade genérica em matéria de educação. A raça porventura não merece melhor. Ele, atrasado. Nós, atrasados mentais. Todos muito bem uns para os outros.

A PRENDA


O país está podre, endividado e falho de crédito. As fábricas fecham ou ameaçam fechar. Não há dinheiro para nada a não ser para o Magalhães, para o betão e para o TGV. Todavia, a "prenda" de natal do governo para os portugueses (era, aliás, o que lhes estava a fazer mais falta) é a aprovação em conselho de ministros da proposta de lei sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo que depois seguirá para o parlamento. Já aqui disse, a propósito da desnecessidade do referendo, que o dito parlamento tem legitimidade para se pronunciar. É, porém, necessária esta pressa toda? E o termo "casamento" é o adequado ou usa-se "porque sim" e porque Sócrates quer começar o ano com o seu neurónio de esquerda descansadinho? Isto parece paradoxal, mas então por que é que deixam a possibilidade da adopção de fora se essa era a que mais "sentido" social fazia e não chamam união civil a algo que que não é um casamento? Não estou a ver homossexuais do "interior profundo" a correr à "loja do cidadão" para se casarem. Este diploma é uma cedência ao elitismo urbano com capacidade mediática reivindicativa. Até aquelas duas moças, a "Lena" e a "Teresa", não resistiram ao show e foram por aí exibidas como duas "joanas d'arc" ao contrário. Que lhes faça, pois, a todos bom proveito.

Adenda: Já agora, "como se cria um boato" conveniente.

FAZER VER É OUTRA COISA

Às vezes, aparecem e desaparecem instantes em que o mundo parece feito só para nós. Li o nome de Inês Gonçalves na capa do Ípsilon e fui logo a correr ver as fotografias dela, porque as fotografias da Inês fazem-me lembrar o dia, em 1964, na Rua da Prata, à porta do Oculista Gil, em que eu vi o mundo como devia ser. Como era provável que fosse.
Até aos nove anos, não sabia que era míope: pensava que os impressionistas tinham razão. De repente, Lisboa ficou uma cidade pontiaguda, em que as pessoas e as coisas tinham contornos que as separavam umas das outras.
Lá dentro, vejo, ardendo, duas fotografias dela de dois espantosos edifícios de Francisco Castro Rodrigues: o Bloco Sol (1952) e o Liceu do Lobito (1966). No mês passado, uma amiga que eu não sabia ter mandou-me um livro de memórias e conversas dele, maravilhosamente editado pela Eduarda Dionísio e publicado pela Casa da Achada.
O livro chama-se Um Cesto de Cerejas e é um retrato vivo de um ser livre. Não sabia que era possível tanta liberdade num ser humano, sem teimosia e sem egoísmo, com tanta inteligência e generosidade.
Nesse livro, Castro Rodrigues mostrou-me o que nunca tinha visto: o meu avô, com bons olhos. O meu pai e o meu tio odiavam o meu avô, culpando-o pela morte da minha avó. Nunca ouvi dizer dele uma boa palavra. Até ler este livro.
Fiquei esclarecido. Como fizeram os óculos e as fotografias da Inês. A luz é uma coisa; ver é outra, mas fazer ver é outra coisa ainda. Obrigado.

Miguel Esteves Cardoso, Público


Há dias, quando fui ver os meus pais, fiquei chocado com a minha antiga escola. O pátio parecia um estaleiro do Dubai, mas não era isso que me chocava. Uma tarja da Mota-Engil estava presa entre duas árvores. Por sinal, as árvores onde a Maria deixou gravada a inscrição que fulminou a Dulce: 'Maria loves Henrique'. Mas também não era isto que me inquietava. Ter o Jorge Coelho em cima das memórias amorosas é uma coisa que se aguenta em nome do PIB pátrio. O que me incomodava era outra coisa. Num dos mastros da escola erguia-se uma bandeira. Não era a bandeira de Portugal ou da UE. Era a bandeira da Mota-Engil. Ali estava o esplendor do regime no portão da minha escola. Não dava para dar menos bandeira, dr. Jorge Coelho?
Não pense, caro leitor, que estou a invocar o tema da corrupção quando falo no esplendor do regime. Não sei nada de corrupção, nem ia sujar a memória da Maria com esse assunto. Quando falo de 'regime' refiro-me a algo bem claro: a burrice económica do PS. Os socialistas, coitados, não fazem por mal. É mesmo burrice. Uma burrice pura, ingénua e quase inimputável. Eles acham mesmo que vamos sair do buraco fazendo obras públicas. O evangelho socialista assim o determina. O mundo, segundo esta crendice, começou quando o investimento público criou as obras públicas à sua imagem. Aliás, algures no Largo do Rato, deve estar escondido um velho papiro que reza assim: "No princípio, o investimento público disse 'faça-se luz', e a luz foi feita. Depois, o investimento público disse 'façam-se as construtoras civis', e as construtoras foram feitas. A seguir, alguém perguntou: 'mas quem paga isso tudo?'. Enquanto se queimava o herético perguntador, o investimento público disse 'faça-se a dívida pública, que deve ser consumida acima dos 100%'. E assim se fez o PS". Se procurarem bem, este papiro deve estar escondido na secretária de Sócrates. É o segredo que passa de secretário-geral em secretário-geral, tal como a maleta dos códigos dos mísseis americanos.
Caro leitor, fica assim a saber por que razão o PS olha para o Estado tal como a dona Fátima, a casta mãe da Maria, olhava para Deus. De forma piedosa, os socialistas acham que 'Política' é o mesmo que torrar dívida pública e espalhar betão pelo país. É por isso que eu não me importava de ver a Mota-Engil sair do país, tal como ameaçou o seu presidente há dias. Podem ir embora, sim senhor. Ide, meus amigos, ide. E não se esqueçam das tarjas.

Henrique Raposo, no Expresso