30.6.10

«A MINHA REDACÇÃO QUANDO CONCORRI PARA MAGISTRADO»


«Se corrermos a Europa, não encontramos justiça melhor que a portuguesa.»

Pinto Monteiro, PGR (via Manuel Pinheiro, O Cachimbo de Magritte)

ADEUS, SÓCRATES


O dado político mais interessante do dia, para além da pacóvia exibição patrioteira, foi o "descolar" de Ricardo Salgado de Sócrates. O BES terá sido porventura dos mais entusiastas do regime socrático, na teoria e na prática. Agora acena-lhe um adeus premonitório depois da "parvoíce anacrónica" de um governo "obsoleto", nas palavras do Finantial Times.

O "SENTIDO DE ESTADO"

Que o governo de Sócrates tivesse puxado da abstrusa golden share para impedir a "libertação" da PT de interferências político-partidárias de circunstância que tanto jeito fazem, é uma coisa. Que o PC e o Bloco, reputados apreciadores da sustentação de tudo pelos impostos em nome de ideologias de jazigo, apoiem a intervenção estatal, é outra. Mas que o dr. Portas, sem o fato às riscas que enverga sempre que é invadido pelo "sentido de Estado", venha defender a intervenção do governo na vidinha da PT, só pode explicar-se por um motivo assaz pequeno e prosaico. É que o PSD já está a "invadir" o dr. Portas e o dr. Portas precisa fazer prova de vida. Ficar, porém, num retrato politiqueiro ao lado de Sócrates e Louçã é daqueles "sentidos de Estado" que a direita dificilmente agradecerá. Sobretudo atendendo a quem continuará a pagar (literalmente) a factura da baval e "estratégica" PT que, depois de uma espectável decisão do Tribunal europeu a proibir golden shares, ainda acabará vendida a patacos. O que o eng. Belmiro se deve estar a rir desta palhaçada toda.

A CHEGADA DA GOLDEN SHARE À AG DA PT




TELEFONICA-ME

Está hoje em curso um enorme exercício de hipocrisia financeiro-regimental - isto para não levar a coisa para os lados do Intendente - em torno da horrível PT. Os accionistas portugueses, tesos que nem um carapau, precisam de dinheiro e estão-se nas tintas, mesmo que a retórica os desminta, para o "interesse estratégico nacional" que, nos tempos coevos, tem a importância real de uma vuvuzela. Se os espanhóis lhes derem um bom dinheiro pela Vivo, provavelmente Sócrates e Passos Coelho ficarão sozinhos a ruminar o dito "interesse", enrolados no quentinho da golden share, porque precisam do pai natal para sobreviver. A PT é uma monstruosidade atentatória dos mais elementares princípios da concorrência e uma sucursal dos partidos políticos do poder. Todo esta tagarelice digna de vendedores de carpetes na feira da Luz o evidencia. Desmantelar a PT e respectivos apêndices, ou vendê-los nem que seja ao Burundi, incluindo Bava e Granadeiro no pacote a título de desconto, tornou-se quase num desígnio nacional. Quem é que pode ter um pingo de orgulho numa coisa e em gente daquelas?

RONALDO, O PÓS-HUMANO


Ronaldo, aquela glória internacional do futebol espanhol, emitiu um comunicado na linha das "redacções" do ensino básico com que temos sido brindados ultimamente, quer por altas figuras e ex-figuras do Estado, quer por escribas menores que o regime aproveita para melhor significar a sua patetice iliterada. Reza mais ou menos assim. "Eu sou um ser humano. Eu sou um ser humano que está triste. Eu estou triste e quero estar sozinho". A última frase terá seguramente feito tremer de comoção milhares de bolas de silicone por esse mundo fora, desejosas de acolher no respectivo "seio" tamanha solidão e não menor tristeza. Ronaldo, se bem percebi, passeou a sua extraordinária pessoa pela África do Sul. Desde que chegou de helicóptero à Covilhã que se preparava para umas férias que incluiam, eventualmente, uns chutos na bola entre Joanesburgo e a Cidade do Cabo. Nada que o maçasse excessivamente. Agora que a coisa borregou, Ronaldo fez um breve intervalo na sua "pós-humanidade". A vida custa a todos.

29.6.10

A PÁTRIA CHICA

Enquanto decorria o jogo que, felizmente, devolveu o país à realidade, li uns pequenos artigos de Jorge de Sena acerca de Espanha. Definiu-a bem - «tão cheia de pompa e circunstância para quem vai de Portugal é, para quem regressa da Europa, uma espécie de múmia coberta de jóias e ataduras podres, onde as moscas passeiam ao sol da eternidade.» Fora a primeira parte (o escrito é de 1957), de facto a Espanha de Zapatero mumificou-se em torno de uma pretensa modernidade que nem já a economia salva do tranquilo passeio das moscas e da desagregação regionalista. De resto, como escreveu Sena e acabou de provar-se, «foi perfeitamente justo que tudo acabasse em Alcácer Quibir e em Filipe de Espanha.» É que, «para a maioria dos espanhóis, Portugal ou não existe, ou é uma "pátria chica" que, mais ou menos como disse um famoso autor espanhol, "escolheu a sua própria mediocridade a participar da glória da Espanha".» Nem de propósito, apareceu logo o sr. Lacão a falar numa carta que o sr. Macedo lhe mandou e mais não sei quê. Querem melhor pátria chica do que esta?

Adenda: A "pátria chica" também mora no Monte da Caparica e em coisas como «quando o principal partido a zelar pelos princípios liberais de reserva de privacidade é o Partido Comunista Português; e quando toda a opinião pública se preocupa, essencialmente, com guerras regionais e defesas abstrusas de supostos regimes de excepção; quando tudo isto acontece, torna-se tristemente óbvia a debilidade mental da raça.»

MENOS QUE ZERO


Mariano Gago, um ministro que em ambas as legislaturas de distinguiu pela irrelevância, vem agora defender que os portugueses devem estudar mais. Gago ficará conhecido, enquanto ministro do ensino superior, apenas como alguém a quem mandaram encerrar estabelecimentos comerciais de má nota a que apelidavam de universidades. De resto, entrou mudo e sairá calado do consulado socrático, com balanço menos que zero. Esta tirada era, por isso, dispensável. Tem tanta autoridade para mandar estudar os outros como eu.

MARIA VAI COM AS OUTRAS

Oficialmente hoje não há acontecimentos. Não há fait-divers. Seria o dia indicado para "introduzir" as portagens nas scut, para promulgar diplomas, para aprovar leis que acentuam a passividade pátria, para levar caixas multibanco para casa, para forjar diplomas nos liceus e nas universidades, para, em suma, exercitar a arte de ser português. Hoje é dia de "maria vai com as outras" que, verdadeiramente, é todos os dias. Por falar nas scut, faz dó observar aqueles obedientes cidadãos - que devem tocar vuvuzela através do buraco errado - que correram aos Correios para adquirir o kit scuteiro mesmo desconhecendo se aquilo ia entrar em vigor. É com estas "maria vai com as outras" que Sócrates conta. Espremam-se por favor.

Adenda: Por exemplo, isto já é assim uma redacção "a atirar" para o 5º ou 6.º ano da escolaridade obrigatória e com direito a medalha de bronze no meio de outras acerca da vaca, do cão e do papel higiénico. «Anteontem, depois do Brasil- -Portugal, ao ver milhares de portugueses dos mais diferentes cantos do mundo, brancos, pretos, castanhos, muçulmanos, cristãos, hindus, a falar português ou outra língua qualquer, senti que faço parte de qualquer coisa especial. Dum mundo multiétnico, com muitas religiões, muitas cores e, sobretudo, com muita história: o nosso mundo, o mundo português. Obrigado futebol.» Coitadinho e bem haja.

GRANDES VOZES



Montserrat Caballé - "De España Vengo", da zarzuela "El Niño Judío", de Pablo Luna. 1975

PANERO

Un étranger

Produce cierta melancolía,
una tristeza decadente -literaria sin duda-
como algunas canciones de entreguerras
o páginas perdidas de Drieu La Rochelle,
ver a un hombre solo, apartado y distante,
en la barra de un bar con decorado internacional.
En esa imprecisa edad, tan imprecisa como la luz del ambiente,
en que ya no es joven ni viejo todavía
pero lleva en sus ojos marcada su derrota
cuando con estudiado gesto enciende un cigarrillo.
Las muchas canas y las muchas camas,
un indudable estómago que la camisa inglesa apenas disimula,
el temblor, no demasiado visible, de su mano en un vaso,
son parte del naufragio, resaca de la vida.
Un hombre que espera ¿quién sabe qué?
y aspirando el humo, mira con declarada indiferencia
las botellas enfrente, los rostros que un espejo refleja,
todo con la especial irrealidad de una fotografía.
y es aún, algo más triste, un hondo suspiro reprimido,
ver al fondo del vaso -caleidoscopio mágico-
que ese hombre eres tú irremediablemente.
No queda entonces sino una sonrisa: escéptica y lejana,
-aprendida muy pronto y útil años después-
de un largo trago acabar la bebida,
pagar la cuenta mientras pides un taxi
y decirte adiós con palabras banales.

"Antes que llegue la noche", 1985

28.6.10

OS INFREQUENTÁVEIS DO COSTUME

Lacão, personagem de categoria política média-baixa, tomou o lugar cativo de Santos Silva no programa da D. Fátima. Todavia, a D. Fátima tem o mérito de afeiçoar o seu programa ao curso dos tempos. Como os tempos são de, primeiro de proximidade entre o governo e o PSD e, a seguir, do PSD, a D. Fátima "retira" o CDS do palco e consente o PC e o Bloco. Não sendo propriamente adepto do dr. Portas, estou à vontade. Suspeito que, apesar das aparências, quem sai beneficiado é o CDS. Há gente que não se frequenta.

«O SISTEMA MOTA AMARAL»

«Portugal é o país dos que não querem ver. O regime dos que sabem mas fingem que nâo ouviram. O sistema Mota Amaral. À esquerda como em certa direita.»

Paulo Pinto Mascarenhas, ABC do PPM

O PACOTE


Cavaco promulgou o "pacote" PEC2. Porquê? Porque, caso pedisse a fiscalização preventiva do "pacote" ao Tribunal Constitucional (como devia ter feito), as medidas que lá vêm não entrariam imediatamente em vigor e, porventura, Sócrates viria a correr à televisão lavar as mãos. Aliás, Passos Coelho já lavou uma delas da decisão do Presidente uma vez que é co-autor do "pacote". A desculpa para isto tudo é a respeitabilidade externa do país. Sucede que, ao solicitar a fiscalização sucessiva, Cavaco mostrou ter dúvidas em relação à retroactividade do aumento dos impostos mas não quer desculpas por parte do governo e dos seus amestrados. Resta ao cidadão, se assim o entender, colocar a questão directamente nos tribunais já que constitui direito fundamental não pagar impostos retroactivos. Mas isso ocorreria noutro lado e não aqui onde, como salienta um estudo do ISCTE, se prefere empobrecer feliz.

SCUTEIROS DO REGIME


Depois desta "breve intervenção" - que é o que estava a fazer mais falta para a resolução do candente problema das scut - o país certamente poderá começar a entreter-se com outra coisa. Com, por exemplo, episódios de House no canal Fox.

O CURSO INCESSANTE


O mais relevante desta sondagem, se bem percebi de manhã, na rádio, não é o PSD ultrapassar, em intenções de voto, o PS ou o PC aparecer em terceiro. Essa será a ordem natural das coisas, com o CDS sempre subestimado nas ditas sondagens. Interessante mesmo é a taxa de rejeição do governo - mais de setenta por cento (mau e muito mau). E a noção - 51% - de que dificilmente outros fariam melhor. Isto é uma raça complicada de governar, já dizia, nos anos sessenta do século passado, Jorge Dias. Depois há outro "estudo", do inefável ISCTE, em que a raça aparece preocupada com o pouco que ganha e com o pouco que pode fazer com isso para além de comprar arroz e batatas. Mesmo assim, dizem, a raça é moderadamente feliz. No inferno em que tudo se tornou, semi-felizes é sinal de imoderada idiotia colectiva. Nada de surpreendente num povo irresponsável pastoreado por ilusionistas profissionais. Já não saímos disto, deste curso incessante do pior.

27.6.10

«A MINHA REDACÇÃO DA 4ª CLASSE»


«Eu elogiei o discurso que ele fez porque foi muito bonito e tinha muito conteúdo. Eu gostei do discurso.»

Mário Soares sobre Fernando Nobre, Arcos de Valdevez

TRÊS A UM



Saudações a esse pequeno génio da bola, Maradona, do tempo em que os futebolistas usavam mais os seus talentos no campo do que entre duas bolas de silicone. E a Buenos Aires, uma das cidades mais belas do mundo.

QUATRO A UM



Parece que a Alemanha derrotou valentemente a Inglaterra na África do Sul, remetendo a respectiva selecção de volta à ilha. Heidegger escreveu que a língua é a casa do ser e, talvez não por acaso, da língua alemã saiu a literatura filosófica mais decisiva para o século XX e, pelos vistos, para os primeiros anos do XXI - a do dito Heidegger e a de Nietzsche - sem a qual, aliás, outra qualquer jamais teria sido escrita ou redescrita. Também Wagner, na música, com o conceito dos leit-motiven, operou uma pequena revolução com o seu Ring que até hoje não foi superada. A Alemanha é um país de excessos. Ora a vida vale justamente por causa deles embora dure por causa da mediania. Dich teure Halle, grüss' ich wieder. (Wagner, Tannhäuser. Jessye Norman. 1991, Nova Iorque)

O NOVO FENÓMENO DO ENTRONCAMENTO


«Após cinco anos em sentido inverso, o povo decidiu que o eng. Sócrates é o responsável por todas as calamidades que se abatem sobre a nação. O dr. Passos Coelho, que há meses vem legitimando as calamidades, é um herói popular. Explicações? Não mas peçam. Talvez as desculpas do dr. Passos Coelho tenham tocado o coração das massas oprimidas. Talvez as massas andem tão cansadas do eng. Sócrates que o trocariam pelo Pato Donald ou por uma torradeira eléctrica. Talvez as massas sejam definitivamente malucas. Certo é que as massas querem o dr. Passos Coelho a primeiro-ministro, e só não vêem o desejo cumprido porque, pelos vistos, a nova forma de fazer política também implica evitar o poder a qualquer custo. A nova forma de fazer política ainda será política ou já entra na pura fraude?»
Alberto Gonçalves, DN

SUL PERIFÉRICO


Também li e, de notável, registei ser o único texto do respeitável hebdomadário que não ajoelha perante a lulização da língua portuguesa que atingiu, como doença fatal, alguma imprensa doméstica já de si obcecada pela "redacção única". De resto, é como Carlos Vidal resume. «Análise rigorosa, compreensão e solidariedade expandida no notável texto “A caça ao homem”, publicado no ”Expresso”, 26/6/2010, texto que consubstancia uma tese de uma sofisticação só comparável à obra “literária” (por assim dizer) “Equador”; tese, vamos lá: J Sócrates é vítima de uma “caça ao homem”; J Sócrates está fora de todas as confusões em que o querem envolver só por ódio gratuito e sabe-se lá que mais; a culpa de tudo o que se passa é única e exclusivamente dos colaboradores, “serventuários” e amigos de J Sócrates; [Sousa Tavares] está pois em posição de assegurar que J Sócrates nada tem a ver com nada (cale-se sr. magistrado de Aveiro), e são os seus amigos que, por amizade, ou zelo-amizade excessiva, desenharam ou soltaram os maiores cometimentos comprometedores, uma gente “infrequentável” (contudo, por sinal frequentada por J Sócrates, ah mas isso [Sousa Tavares] esqueceu-se de referir)»

O REGIME NUM PRÉMIO

«Anuncia-se que lhe será atribuído o Grande Colar de Santiago, reservado, por regra, a chefes de Estado. Para fazer esta excepção, é necessário um decreto especial. O acto de investidura é marcado para o Palácio da Ajuda. Estão todas as figuras do Estado e as televisões fazem directos. Vou no meu carro oficial acompanhado de batedores, buscá-lo ao Hotel Altis, onde está hospedado. Sento-me à frente. No banco de trás, Saramago e Pilar gracejam. (...) Pilar é sempre ela - eis a sua força.»

José Manuel dos Santos, Expresso


«O prémio Nobel não garante a importância literária de ninguém. Basta ver a longa lista de mediocridades que o receberam. Pior ainda, o prémio Nobel é atribuído muitas vezes por razões de nacionalidade ou pura política, sem relação alguma com a obra, que num determinado ano a Academia Sueca resolveu escolher. Que Saramago fosse o único escritor de língua portuguesa a receber essa mais do que duvidosa distinção não o acrescenta em nada, nem acrescenta em nada a língua portuguesa. Só a patriotice indígena (de resto, interessada) a pode levar a sério e protestar agora indignadamente porque o Presidente da República se recusou a ir ao enterro do homem. Por mais que se diga, e até que se berre, Saramago não era uma glória nacional indiscutida e universalmente venerada.»

Vasco Pulido Valente, Público

A ABORRECIDA REALIDADE


Quem não se lembra do simpático e bem parecido dr. Miguel Oliveira e Silva, campeão mediático, ao lado da esquerda caviar abastada, na campanha do referendo acerca do aborto? Quem esquece as suas aplaudidas e inflamadas intervenções televisivas a favor da lei em vigor? Entretanto, o dr. Oliveira e Silva "evoluiu" para presidente do Conselho de Ética e deu pela realidade. De certeza que a maioria das mulheres a que alude na entrevista não pertence às classes média e média alta que estavam tão bem representadas nesses movimentos pelo "sim" e que, alarvemente, destratavam em público os seus oponentes quando estes falavam justamente de realidade.

«O número de abortos está a subir. De 12 mil passou para 18 mil em 2008 e para 19 mil em 2009.

Aumentaram os abortos ou a visibilidade sobre eles?
Está a subir o registo legal do número de abortos até às dez semanas.

Era expectável...

É expectável durante dois a três anos que isso aconteça porque são muitas mulheres que vêm do aborto clandestino e que o deixam de fazer às escondidas. Mas vamos ver até quando vão continuar a subir. Se os números continuarem a subir, a subir, é o total falhanço do planeamento familiar.»

É não é, dr. Oliveira e Silva? Temos pena mas não temos culpa. Pensasse nisso antes.

26.6.10

SUGESTÃO "ÚTIL E CONSTRUTIVA"


«Talvez se Cavaco desse um passeio em cima de um elefante animasse a malta

André Levy, 5 dias

O "GLEIMUR" DE SÓCRATES



No clip do filme "Feios, Porcos e Maus, a "matriarca" está a aprender inglês pela telescola. Repete as palavras que a deixam ouvir e, no fim, depois de alguém dizer "nada", a senhora esclarece que "nada" em inglês é "nating". Tal como "glamour", na boca de Sócrates, se pronuncia "gleimur". Foi nos Arcos. Entre Camões e Mário Soares.

UMA COISA SIMPLES


Há para aí uns cretinos, simples e funcionais, que apreciariam que Cavaco entrasse em "licença sem vencimento" até à tomada de posse do PR em Março do ano que vem. Nunca - e já lá vão três presidentes eleitos - foi feita uma marcação tão toscamente evidente a um Presidente em exercício. Sá Carneiro, em 1980, não queria a reeleição de Eanes (quase no fim do ano juntou-se-lhe Mário Soares) mas teve a elevação de, pura e simplesmente, deixar de comparecer, como primeiro-ministro, em actos oficiais com o Chefe de Estado. Delegava. Apesar de ter sido presidente de um partido e chefe de governo, Cavaco é olhado pelos dependentes partidários e pelos serviçais do regime como um estranho e um intruso, um pouco à semelhança do que aconteceu a Eanes. Alguém se lembrou de chatear Soares ou Sampaio, duas vetustas glórias socialistas, no derradeiro ano do primeiro mandato por terem exercido plenamente as respectivas funções? Todavia, enganem-se aqueles que imaginam vergar Cavaco com os seus delírios ou as suas necedades. Independentemente da maior ou menor felicidade nas formulações, o PR disfruta de uma popularidade que decorre, acima de tudo, de uma coisa simples. Não possui dilemas com a verdade.

Adenda: O telejornal da RTP (noite) esteve mais de quinze minutos em campanha descarada contra o Chefe de Estado a pretexto da "homenagem" minhota a Mário Soares. Não haverá, como na PT, nenhum estrangeiro, sobretudo da Nigéria ou da Coreia do Norte, interessado em levar a RTP e o seu "conceito" de "serviço público" daqui para fora?

«A MINHA REDACÇÃO DA 2ª CLASSE»


«Mário Soares é um patriota, gosta de Camões. Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Eu gosto muito do doutor Mário Soares.»

José Sócrates, Arcos de Valdevez

O REGIME NUM ARTIGO DE UMA LEI

«O Governo propõe [na lei da televisão] que as administrações possam "interferir na produção dos conteúdos de natureza informativa, bem como na forma da sua apresentação", se houver a hipótese (!) de incumprimentos legais pelos jornalistas. Esta norma alteraria profundamente a relação entre as administrações e as direcções de informação e programas, agravando os processos de autocensura e de interferência nas linhas editoriais por pressão externa. As redacções, conselhos de redacção e associações de jornalistas e defensores da liberdade de imprensa devem atentar neste Artigo 35.º da proposta do Governo. E os deputados devem votar contra esta nova tentativa governamental de apertar o garrote às liberdades.»

Eduardo Cintra Torres, Público

O REGIME NUMA PERGUNTA

«Para que serve Sócrates?»

Vasco Pulido Valente, Público

POR QUE É QUE ISTO É INSUSTENTÁVEL



«O presidente da Caixa (Geral de Depósitos) diz que a situação dos bancos portugueses é pior do que a vivida nos dias que se seguiram à falência do banco americano Lehman Brothers» (...) e «os mercados interbancários e os mercados financeiros em geral continuam praticamente fechados para a banca dos países do sul da Europa.» (da 1ª página do Expresso). As trupes inconsequentes (Sócrates, Soares e meia dúzia de analfabetos funcionais do PS) e as ignorantes (Alegre) preferem as trombetas do "optimismo" e da "confiança" como quem abre o canal panda às criancinhas para elas comerem a sopa que execram. Começa a ser insustentável sustentar estas marionetas da propaganda.

25.6.10

PEQUENINOS DE NASCENÇA

O Paulo Pinto Mascarenhas percebeu o que é aquilo a que chamo a "direita amiguinha" deslumbrada, entre outras coisas, pelo "fenómeno Galamba" - um rapaz em estágio político-mediático para chegar a híbrido de Vitalino Canas com Sousa Pinto e Marques Lopes quando for grande. E sentiu, pelos vistos, como se manifestam as "solidariedades" mais inesperadas e improváveis entre membros dessa "direita amiguinha" e destacadas figuras, conhecidas ou "anónimas", do "socratismo" (e não necessariamente do PS apesar do cartão ter a mesma proveniência.) Aliás, sei bem o que custa pessoalmente não ser complacente com essas lixeiras morais pela frequente "coincidência" com que muita gente deixou de me conhecer. O telefone toca menos vezes? Paciência. É tempo ganho a conviver com esses amigos persistentes que são os livros ou a música. E, Paulo, não há nada mais agradável do que poder respirar em zonas livres de pulhice e de comadrio. Razão tinha o admirado, por tanto "liberal" português a bibe e a fraldas, Churchill. Os nossos inimigos estão "deste" lado até porque, para se ser e ter adversários, é preciso ser-se intelectualmente adulto, logo, sério. Quem é pequenino de nascença, não chega lá.

AS ÁRVORES E A FLORESTA

O senhor conselheiro Pinto Monteiro ficará na história da PGR como o homem que mais inquéritos internos abriu aos inquéritos que justificam, entre outras coisas, a existência de uma PGR. O senhor conselheiro parece preocupar-se sempre mais com as árvores do que com a floresta. Ainda lhe cai uma em cima.

TENTAR NÃO IR AO FUNDO


Com honestidade e verdade. Sempre é um princípio no meio da falta deles.

PARA O FUNDO


«Muitas vezes sinto-me sozinho a puxar pelo país.»O que lhe vale é que há sempre uma alma cristãmente caridosa para lhe lamber as feridas fora do "circuito profissional lambe-botista Canas e Cia."

A VELADORA DO ESQUELETO CULTURAL


A mulher desta entrevista é a mesma desta? Apesar do desdém que revela pelos "administrativos" (sic) lá pelo meio, Canavilhas, afinal, é mais uma "visionária", inconsequente e burocratizada, que o ministério da Ajuda acolheu sob a tutela de Sócrates. «Esta é a altura em que temos que parar para pensar. Perceber, por exemplo, de que forma podemos preparar o terreno, para, quando a crise for ultrapassada, termos um esqueleto cultural com capacidade de ser mais perene e fundamentado.», debitou a pobrezinha. Canavilhas está apenas, como o seu querido líder, à espera que o tempo passe. E depressa. Foi o que ela quis dizer.

O PODER DAS PALAVRAS


«When words lose their integrity so do the ideas they express. If we privilege personal expression over formal convention, then we are privatizing language no less than we have privatized so much else. “When I use a word,” Humpty Dumpty said, in rather a scornful tone, “it means just what I choose it to mean—neither more nor less.” “The question is,” said Alice, “whether you can make words mean so many different things.” Alice was right: the outcome is anarchy. In “Politics and the English Language,” Orwell castigated contemporaries for using language to mystify rather than inform. His critique was directed at bad faith: people wrote poorly because they were trying to say something unclear or else deliberately prevaricating. Our problem, it seems to me, is different. Shoddy prose today bespeaks intellectual insecurity: we speak and write badly because we don’t feel confident in what we think and are reluctant to assert it unambiguously (“It’s only my opinion…”). Rather than suffering from the onset of “newspeak,” we risk the rise of “nospeak.” (...) Though I am now more sympathetic to those constrained to silence I remain contemptuous of garbled language. No longer free to exercise it myself, I appreciate more than ever how vital communication is to the republic: not just the means by which we live together but part of what living together means. The wealth of words in which I was raised were a public space in their own right—and properly preserved public spaces are what we so lack today. If words fall into disrepair, what will substitute? They are all we have.»
Tony Judt

24.6.10

DOS CHIPS AO SHIPWRECK


De facto. Mais do que os ridículos chips fascistóides, o que aí vem é um imenso shipwreck sobre o qual ninguém fala dada a maciça vuvuzelização em curso, irresponsavelmente alimentada pelas "elites" paroquianas. Só os Pravdas rosa-choque da blogosfera é que prosseguem na sua colorida agitprop como se os amanhãs socráticos ainda cantassem. Que pobreza material e de espírito.

O MIÚDO QUER ANDAR ÀS CAVALITAS


Manuel Alegre - que aparece todos os dias sem que haja alguém que lhe explique que não é suportável aguentar-se tamanha basófia irrelevante até Janeiro - parece um miúdo a tentar chamar a atenção ao mais velho (que não lhe liga nenhuma) para ver se o mais velho o leva às cavalitas. É melhor entreter-se sozinho, embalado pela doce voz de Maria de Belém, entre tiros a pássaros e caçadas menores.

HISTÓRIA CONCISA DE PORTUGAL CONTEMPORÂNEO


«Temos hoje uma classe política corrupta, um governo autoritário, 600 mil desempregados, menos imprensa livre, educação medíocre, justiça lenta, saúde para alguns, mais impostos e um Estado arruinado. E o povo, prosperou? O Eurostat diz que não: Portugal e Malta são os únicos países que, com um PIB per capita inferior à média europeia em 1998, se afastaram desta média nos dez anos seguintes. Ou seja: os outros convergiram, Portugal divergiu. Os números estão aqui
Luís M. Jorge, Vida Breve

LITERATURA E COISA DE FUTEBÓIS


Este é um artigo idiota e oportunista, não acerca de uma personagem política ou de um escritor, mas sobre a porteirice que domina as redacções de certos media e deste, onde o escriba debita, em particular. Um tipo que fala em "uma conspiração na sua (de Cavaco) Casa Civil para colocar notícias desagradáveis ao Governo" revela uma "categoria" deontológica. Já este é um artigo de um intelectual - que também é político - acerca de um escritor e, como tal, é uma opinião de quem conheceu de perto o escritor, quer por motivos oficiais, quer por genuína atenção àquilo que por aqui passa por cultura. O mais interessante das impressões de Carrilho é demonstrar que, muito provavelmente, Saramago teria detestado o que fizeram por aí com o seu cadáver durante dois dias. «Preparava-se então para seguir para Lisboa, mas estava preocupado com as notícias que tinha sobre o tipo de recepção que lhe estavam a preparar, "como se fosse uma coisa de futebóis". E acrescentou, em palavras que recordo como se fosse hoje: "Eu sou escritor, o que se fizer tem que ser uma homenagem à literatura.» Em 1998, vivo, como em 2010, morto, foi como "coisa de futebóis" que a varanda e o salão nobre do munícipio o acolheram e não como uma homenagem à literatura. Deixem-no finalmente em paz.

Adenda: No dito media ainda trabalham formas de vida inteligente livres de "raciocínios" louceiros primários à la Roseta ou à la Ana Gomes. «Seria de um grande cinismo Cavaco ir ao funeral do escritor. Hipocrisia. E seria atacado por isso. Preso por ter cão, preso por não ter. O PR fez a nota que lhe competia e mandou o seu chefe da Casa Civil. As presidenciais explicam o histerismo de quem o criticou. E a arrogância cultural de quem não percebe como se tornou possível o povo eleger para PR o filho de um gasolineiro de Boliqueime.»

A CAUDA ABSOLUTA


«Nós e os malteses encaminhamo-nos galhardamente para a cauda absoluta.» A situação é excelente, como diria o desdentado Mao secundado pelo nosso querido e original líder.

PODER DE ATRACÇÃO

O que será esta coisa da «duplicação das suas fichas na AR»? Há pessoas com uma improvável capacidade para atrair o que normalmente repele em outros. Há, pois, coincidências.

23.6.10

A MODA ÚNICA


Proibir o uso da "burca" é tão estúpido como vetar crucifixos em escolas ou hospitais. Aliás, são "ideias" comuns aos mesmos dominantes estafermos da correcção, à esquerda e à direita.

DAS REFERÊNCIAS

Alegre aprecia falar dele próprio como uma "referência" do PS, um pouco à semelhança de um incontornável sinal de trânsito. Sucede que Alegre nem sequer fundador do partido foi, contrariamente ao senhor da fotobiografia que ilustra este post. O Nuno Ramos de Almeida é neto dele tal como o Manel Tito de Morais, meu amigo há muitos anos. A apresentação é quinta-feira, 24 de Junho, pelas 18.30, na Bertrand do Chiado. Pelo Nuno e - não se pode ter tudo - pelo "faz-tudo" Guilherme d'Oliveira Martins.

«ERA SÓ O QUE FALTAVA»

Foi neste tom sobranceiro que Sócrates reagiu à eventualidade de vir a intervir num processo judicial. Se todos os potenciais intervenientes em processos judiciais reagissem assim, independentemente do objecto dos ditos, dir-se-ia que estávamos de volta a um PREC difuso no qual as fronteiras entre os diversos poderes andariam pelas ruas da amargura. O primeiro-ministro, num momento destes, não deve perder a cabeça nem tão pouco deixar-se enredar em jogos florais. É apenas lá onde for (e se for) demandado que deve, se assim o entender, responder até com prerrogativas legais a que tem o direito de recorrer. "Era só o que faltava" agora ao país ter de assistir a cenas destas em público.

«UM HERÓI MAIS LIVRE QUE EU, O DEUS»



Para "celebrar" a mudança no design deste blogue, o "Vorspiel" e o princípio do 2º acto de A Valquíria, de Wagner, que recentemente vi na Ópera da Bastilha. No clip aparecem Bryn Terfel (Wotan), Lisa Gasteen (Brünnhilde), a orquestra é da Royal Opera House, de Londres, e o maestro é Antonio Pappano (num soberbo momento orquestral digno dos grandes maestros de Wagner). A gravação data de 2005. A Valquíria, a ópera nuclear do "ciclo do Anel", aparentemente possui uma "moral" simples que parafraseio livremente a partir de Hölderlin. Aos mortais, bem como aos deuses, nada é dado de graça.

POLTRÕES

O que é que recomenda especialmente este Pinho para isto (ou para o que quer que seja) a não ser o comadrio do costume?

UMA DERROTA MORAL


Gostei de ouvir a ministra francesa dos desportos falar em derrota moral a propósito da vergonha por que passou a França na África do Sul. É raro um político associar ao termo "derrota" o qualificativo "moral", normalmente reservado à soltura demagógica. Sobretudo quando o futebol, que podia ser uma coisa aceitável, se transformou na mais universal manifestação da derrota do pensamento.

Adenda (de leitor): «A "derrota moral" da ministra francesa compensa na balança etérea desse tipo de moralidade as muitas "vitórias morais" de que os adeptos do futebol, os de cá, pelo menos, costumam falar quando perdem.»

EMPEQUENECER IRREMEDIAVELMENTE, 2


«No dia 16, o PS agendou um projecto de voto de pesar pela (...) morte [de António Manuel Couto Viana], subscrito na véspera por doze deputados socialistas. No dia 18, presumo que em reunião dos grupos parlamentares, a intenção de voto foi retirada depois dos protestos apresentados pelo BE e PCP, com o argumento, e vou citar terceiros, de que o Parlamento não podia homenagear quem combatera «ao lado das tropas nacionalistas, na guerra civil de Espanha.» Não imagino qual pudesse ter sido o contributo de um garoto na Falange: Couto Viana tinha 13 anos quando a guerra começou, e 16 quando acabou. Adiante. O imbróglio surpreende-me a vários títulos. Em primeiro lugar, pela passividade dos doze subscritores, entre os quais se encontra um capitão de Abril (Marques Júnior) e pessoas com responsabilidades na área cultural. Em segundo lugar, pela indiferença da direita, que não foi capaz de pensar pela sua cabeça. Ninguém no PSD e no CDS-PP achou pertinente homenagear Couto Viana. (...) A direita, que tanto barafusta com o monopólio literário da esquerda, mostrou-se incapaz de celebrar o mais corajoso dos seus. Têm vergonha de quê? Quanto ao silêncio dos media, estamos conversados. Couto Viana? Quem é esse gajo?»
Eduardo Pitta, Da Literatura (o segundo link é da minha responsabilidade)

Adenda: Em compensação, o mesmo parlamento - com "p" pequenino - aprovou por unanimidade um "voto de pesar" pelo passamento recente de um outro escritor português cuja morte equivaleu, editorialmente, a um excelente "career move".

AS PALAVRAS E AS COISAS


Numa entrevista ao Público, Henrique Granadeiro - que foi o primeiro chefe da Casa Civil de Eanes certamente por engano do incumbente -, a propósito das negociatas que envolvem a PT (e não há meio de nos vermos livres de tão horroroso trambolho "estratégico"), afirma que «a fronteira não é entre o preço e a honra mas entre o preço e o futuro.» O "futuro", evidentemente, é um eufemismo e a "honra", posta nos termos em que Granadeiro a coloca, define um carácter e o estado catatónico a que chegou a natureza humana. Mais terra-a-terra, Teresa Guilherme explicou tudo uma vez - quem tem ética passa fome. Isso implica que, entre outras coisas, à honra se chame futuro. Quem gostar de viver nesta estrumeira moral, pode servir-se à vontade como se estivesse num Intendente de luxo. Como lá, as palavras têm apenas o sentido que o dinheiro aparentemente lhes confere.

OS AMIGOS DE ALEGRE

Manuel Alegre, na SICN, defendeu que uma candidatura "à direita", concorrente com uma eventual recandidatura de Cavaco, é boa para ele o que qualquer miúdo do básico já tinha percebido antes de Alegre, com a subtileza política que o caracteriza, o verbalizar. Tal como é bom que a "direita" se divida, acrescentou, por entre elogios a quem, na dita "direita", tem andado nestes fandangos, com cartinhas e ameaças veladas. Ao menos ficam a saber que contam com Alegre. E que Alegre conta com eles.

22.6.10

DEPOIS DO ACORDO ORTOGRÁFICO, A MATEMÁTICA


«A Sociedade Portuguesa de Matemática é digna de encómios pela posição que vem mantendo e mais uma vez reafirma: aprender matemática exige esforço, exige papel e lápis, exige praticar, praticar, praticar. E que se saiba a tabuada. E que se eliminem as máquinas de calcular nos primeiros anos.»

Pinho Cardão, 4ª República

O KIMZINHO DE FARO


Não fumo. E não gosto que fumem para cima de mim. Mas não me esqueço da parolice paranóica deste homem, quando passou pelo ambiente há uns anos, contra o consumo de tabaco. Agora também é daqueles que julga que vai salvar a pátria evitando, sob ameaça, que os funcionários camarários bebam café e "percam" muito tempo nisso. Coisa de kimzinho.

Adenda: A avaliar pela generalidade dos comentários, Macário e o seu eugenismo político-laboral são muito apreciados. Porque é que não adoptam um "macário" e o colocam, respeitosamente, do lado de dentro da porta de casa em vez de tomarem cafés e "drogas" (cito de cor o dito Macário na tv) similares como, por exemplo, visitar este blogue? Mais do que a vuvuzela, o que o português gosta mesmo é de uma trela. Como escreve o Sena ali ao lado, «com que há-de pagar-se quem se agacha«? Boa noite e boa sorte.

ÀS ARMAS?

Ao dr. Rui Rio - das poucas pessoas estimáveis e enxutas do PSD até porque frequentou um colégio alemão - deu-lhe para incitar o bom povo do norte à revolta. Porquê? Por causa das scuts, uma invenção do profeta anti-corrupção Cravinho nos tempos do bonzinho Guterres em que as vacas eram anafadas. Desde aí que a coisa estava errada. "Sem custos para o utilizador" é uma expressão que denota perfeitamente um propósito - pôr todos os "não utilizadores" a pagar o que de nada ou pouco lhes serve. Santana Lopes tentou colocar um ponto final neste disparate mas sem sucesso. A crise, a tal que veio "de fora" e que se juntou à endémica, arrumou a demagogia socialista a um canto e obrigou à revisão da matéria. Toda, aliás, deve ser revista e não apenas quanto às scuts à volta do Porto e vigiadas politicamente pelo dr. Rio. A sua bravata regionalista soa pífia. Rio e demais elites nortenhas demonstraram sempre uma estranha complacência com Sócrates em quem vislumbraram um "reformista" determinado e intransigente. Logo agora (que remédio tem ele) que tem razão é que pedem festa?

EMPEQUENECER IRREMEDIAVELMENTE


Este post do Bruno podia perfeitamente ler-se como um "comentário" ao que se passou nos últimos dias em torno da morte de um escritor. Por exemplo, a ninguém ocorreu perguntar às múltiplas carpideiras que desfilaram nas televisões - a começar por Sócrates e Costa que, suspeito, poucos livros terão lido na vida, muito menos do falecido - qual era o personagem que preferiam nos livros dele, qual foi a "fase" que mais apreciaram e porquê, se consideravam o estilo ou a substância inovadores, etc., etc. Nada. Gosto e é muito grande, prontos. Ou, no resumo de Canavilhas (que a resume), levaram-lhe as palavras todas, mesmo as que ela nunca teve ou saberá ter seja em que circunstância for. O homem queria mesmo ficar debaixo de uma oliveira simples, na ilha ressequida que escolheu para viver, mas o marketing político (idêntico em tudo ao do futebol) prevaleceu tendo à cabeça a gerente da "marca" e de quem teremos bastas ocasiões para ouvir falar. Estes episódios apenas revelam «um país “que se empequeneceu irremediavelmente”» e ao qual nem Sena nem Sophia pertenciam completamente. Só que o amavam com o ódio de todo o genuíno amor. O que não era pouco.

O SAPADOR E AS CONCORDÂNCIAS


Ângelo Correia é o Jorge Coelho (na versão betoneiro-política deste) da nova liderança do PSD , simultaneamente sapador e fiel depositário do poder por vir. Por isso, nesta matéria, deve concordar-se com Pedro Santana Lopes. «Fátima Campos Ferreira transformou aquele programa [Prós e Contras] na sala de visitas do regime. Cada vez estamos mais parecidos com a antiga RDA... Vários falam mas dizem todos a mesma coisa. Concordam, sorriem, trocam cumprimentos.»

21.6.10

BEM HAJAM

Para além de magnífica cangalheira, a ministra da cultura vai ficar no rodapé da sua micro-história política por ter apresentado um dia destes, no CCB, um daqueles prontuários da D. Edite Estrela. Bem hajam estas queridas.

UMA FALÁCIA


«António Costa fez obra.» Vê-se mesmo que o Miguel vive na Tailândia e que só vem a Lisboa de passagem.

A LÓGICA DA BATATINHA

«O Presidente da República não foi ao funeral de Saramago por uma razão apenas: para recuperar os votos que terá perdido com a lei do casamento gay O resto do post é mais desta coisa totalmente digna de um trolha sofisticadamente iletrado e não de quem o escreveu. No ensino básico, as criancinhas chamam a isto a lógica da batata depois de devidamente instruídas. Talvez, aqui, seja mais da batatinha.

Adenda: Afinal, o "caso" é mais grave. Porque se há coisa que me arrepia a toponímia capilar é o analfabetismo académico, uma modalidade muito desenvolvida entre nós e com sucesso garantido. Esconjurar Ezra Pound porque supostamente era "fascista", define um trolha literário. Ignorar que Salazar produziu da melhor retórica política do século XX e que, nas circunstâncias políticas em que emergiu e se manteve até certa altura, é impossível rasurá-lo, afirma um trolha politiqueiro. Temos pena.

DO APROVEITAMENTO INTERNACIONAL DE UM "EXEMPLO"


Como sugere um leitor, e depois de Junqueiro ter falado em "exemplo", «o grande cargo internacional que Kim-Il-Sócrates ambicionava já está à sua disposição - treinador da equipa da Coreia do Norte.»

AS INQUIETAÇÕES DO DR. PINTO



A "direita" mais estúpida do mundo continua enredada no seu novelo para dentro. Primeiro foi aquela coisa de tentar fazer das eleições presidenciais um "debate" de uma questão religiosa que não existe. As vozes lúcidas de D. Jorge Ortiga e de D. Manuel Clemente desfizeram o equívoco a que Policarpo deu corda. Agora é o nobre editor Teixeira Pinto, duma comissão do PSD para rever a constituição, que pretende revolver as ossadas da questão do regime, república ou monarquia, deixando em aberto, ao abrigo da ambiguidade do termo "democracia", a possibilidade de, a dar-se o caso, se restaurar a última. A constituição precisa ser reduzida e agilizada e não continuar a ser um depósito de "problemas" meramente intelectuais, sejam eles a natureza do regime ou o caminho para o socialismo. A constituição deve ser modificada no sentido de aperfeiçoar a República e não de a liquidar. O país - e a República - tem mais para fazer do que indagar os mistérios da "identidade nacional". Fique-se pelos livros, dr. Pinto, que está muito bem.

20.6.10

KIM BACK


Segundo um dos mais destacados membros da nomenclatura "socrática", o sr. Junqueiro, o chefe é um "exemplo" para a Europa e "uma oportunidade para o país". O sr. Junqueiro costuma destacar-se pela extraordinária leveza de pensamento aliada a uma forte propensão ao disparate partidário. Quando o PS precisa de uma manobra de diversão, recorre ao friso onde alinha Junqueiro, Lello, Madame Estrela, Canas ou Rodrigues, sempre disponíveis para se prestarem às mais torpes ou tolas declarações conforme os níveis de necedade de cada um. A "oportunidade" de que o país precisa é, afinal, ver-se livre deles e do seu "exemplo".

DA CONVERSA DE CHACHA

Pretenderam fazer da ausência física do Chefe de Estado no funeral de Saramago um assunto de Estado. Com Louçã à dar o mote, os jornalistas de serviço encarregaram-se do resto. Enquanto PR, Cavaco fez-se representar junto do féretro e da família do escritor pelos seus chefes das casas civil e militar e, assim, honrou o que havia a honrar. Mais do que isso seria hipocrisia de Cavaco Silva que os fartos viúvos e viúvas de Saramago não deixariam de anotar, como anotaram o contrário. Todavia, alguém que, na opinião do falecido, «não tem ideia nenhuma do que é a literatura ou a arte», que era tido como «génio da banalidade» e a quem Saramago não tencionava conceder o "privilégio" da sua presença se o outro fosse eleito PR, ia lá fazer o quê?

LEMBRANÇA DE ISABEL DA NÓBREGA


De um leitor, Tomás: «No dia da morte de Saramago, Isabel da Nóbrega sai de casa vestida de preto como nunca a tinha visto. Curiosamente não vi em lado nenhum, qualquer menção a Isabel da Nóbrega nem aos quase 20 anos de vida em conjunto e de apoio incondicional. Provavelmente não é muito interessante para os outros.»

ALEGREM-SE QUE AMANHÃ É OUTRO DIA



Entre nós, o panteão é mais ou menos um lugar obscuro, simbolicamente irrelevante, que acolhe figuras pátrias pelas mais disparatadas razões consoante o caprichismo dominante. Saramago ficar ou deixar de ficar lá é mais uma questão de lobby político do que de mérito literário ou nacional. Aquilino está por causa da maçonaria e não por ter sido um extraordinário escritor ou um egrégio patriota. Entre Herculano, Garrett, Junqueiro e João de Deus talvez apenas o primeiro merecesse a "distinção" porque percebeu perfeitamente o que isto sempre foi, da política à literatura, salvo duas ou três excepções. Uma choldra que dá vontade de morrer.

Adenda (Alberto Gonçalves, no DN, para "variar"):

«Portugal ficou mais pobre? Se a pobreza for de espírito e a julgar pelas carpideiras, sem dúvida. A morte de José Saramago iniciou uma competição de louvores e levou uma extraordinária quantidade de sujeitos, notáveis e anónimos, a elogiar um homem que, evidentemente a título elogioso, todos acham "polémico". É verdade que Saramago tentou a polémica. E se agora muitos aconselham a separar o autor da respectiva obra, é igualmente verdade que o conselho não possui efeitos retroactivos. Após O Evangelho... e sobretudo após o Nobel, que insuflou Saramago com uma importância proporcional à importância que um país periférico dá a essas coisas, os seus romances confundem-se frequentemente com sebentas de apoio às controvérsias públicas que o autor buscava e, na maioria dos casos, obtinha. Menos lidos do que comentados, os livros de Saramago pareciam-se com uma mera versão escrita do chinfrim que o próprio anunciava ainda antes de cada publicação e se esforçava por alimentar depois. E tudo isso para quê? Vasculha--se a imprensa e, entre a excitação dos epitáfios, não se encontra uma voz dissonante. Saramago orgulhava-se de fomentar inimigos, mas, fora dos comentários sem rosto na Internet, aparentemente não há um com a decência de aparecer e proclamar que desprezava a obra ou que detestava o autor. Para quem se sonhou incómodo, não haverá maior traição do que partir neste sufocante consenso


QUEM PODE ADIVINHAR A ETERNIDADE?


«Somos fracos juízes do nosso tempo, sobretudo quando pretendemos adivinhar a eternidade no pedaço de história em que nos coube viver. (...) No início do século XXI, o panorama literário de Portugal é dominado por duas figuras quase intangíveis, tão longe se estende o seu prestígio nacional e internacional. José Saramago e António Lobo Antunes são as incontestadas eminências das nossas letras contemporâneas, os autores mais vendidos, os mais autopsiados pela academia, os mais consagrados pela crítica. Não se vê ninguém que lhes denigra o mérito nem alguém que lhes pise o manto da preponderância.»

José Navarro de Andrade, É tudo gente morta

19.6.10

GRANDEZA

É PROIBIDO?

O tom consensual e jubilatório em volta das exéquias oficiais de Saramago roça o obsceno patético. Não haverá ninguém que tenha a coragem - ou a oportunidade - de manifestar outra opinião sem ser votado ao ostracismo ou acusado de bruto? Ou é proibido não ser "fã" do escritor e do homem?

Adenda: Uma parvinha da RTP (a Felgueiras júnior) quer à viva força que Cavaco Silva apareça. E apareceram Céu Guerra e a tonta Roseta, para a secundar, a "mandar" Cavaco aparecer. Está tudo doido ou é mesmo assim?

Adenda2: Mas lá fora há direito a pensar de outra forma. «Foi um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico, aliás marxismo. (...) Colocado lucidamente entre o joio no evangélico campo de trigo, declara-se sem sono pelo pensamento das cruzadas ou da Inquisição, esquecendo a memória do ‘gulag’, das purgas, dos genocídios, dos ‘samizdat’ culturais e religiosos. (...) Relativamente à religião, atada como esteve sempre a sua mente por uma destabilizadora intenção de tornar banal o sagrado e por um materialismo libertário que quanto mais avançava nos anos mais se radicalizava, Saramago não se deixou nunca abandonar por uma incómoda simplicidade teológica.»

Adenda3: Para mim também. «Para mim, literatura é outra coisa. Ofício de palavras e não de ideologias. Com ou sem vírgulas, com ou sem parágrafos, com ou sem maísculas. Até porque muitas vezes o estilo, como bem disse o Mário Quintana, "é uma dificuldade de expressão".»

PARA A HISTÓRIA DO LIXO BLOGOSFÉRICO NA ERA SOCRÁTICA


Vale a pena seguir as ligações indicadas pela Helena Matos e assim sucessivamente. É simples - ou , melhor, simplex - e constituem contributos para a desgraçada "história" de umas quantas esforçadas almas, umas com cara e olhos, outras cegas de profissão, que serviram (e servem) o "socratismo" praticamente de joelhos, agora que ele começa a "dar de si". As coisas - literalmente - são o que são e foram o que foram. Não adianta tentar reciclar estas.

UM PRESIDENTE METICULOSO


«Nem vale a pena falar daqueles que, à esquerda, convictos de que a presidência é a sua reserva natural, desde o primeiro dia se prepararam para tratar como intruso um presidente em quem não mandaram votar. Para eles, tudo nesta presid~encia foi "sabotagem" da governação ou indício de uma "agenda conservadora". Mas nem por isso as direitas foram capazes de mostrar-se satisfeitas. Há por esse lado quem não perdoe ao Presidente não ter combatido ou ganho as guerras que as próprias direitas não quiseram combater ou não souberam ganhar no tempo e no lugar certos. (...) Prometeram-nos em 2006 que o antigo primeiro-ministro não saberia ser presidente. Afinal, soube. Contra os devaneios de uma presidência executiva ou profética, respeitou a concepção institucionalista da função. Por convicção? Por feitio? Por cálculo? Não importa agora o motivo, mas o resultado. O seu mandato ficou definido pelo protesto contra o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, em Julho de 2008, quando a constituição foi cinicamente pisada para servir os interesses eleitorais dos partidos. Nem a classe política nem a população, indiferentes a tudo o que não diga respeito ao poder e às suas benesses, o pareceram compreender. Pudemos então medir a ocasional solidão de um Presidente meticuloso. A exorbitância é uma das tendências dos nossos órgãos de soberania: proliferam, com sucesso, os juízes que se julgam justiceiros e os governantes com aspirações a demiurgos. Raramente um titular de cargo público admitiu não poder corrigir e salvar o mundo: era só ter os "recursos" necessários ou o apoio "suficiente". Contra a corrente, tivemos nestes anos um Presidente que, com mais ou menos felicidade, acabou por ser apenas o Presidente tal como estava previsto na constituição - nem o messias da pátria aflita, nem o vingador das oposições, nem o guarda-portão de um qualquer sectarismo. Saberemos perdoar-lhe esse escrúpulo?»

Rui Ramos, Expresso

O QUE VALE...

Um prémio Nobel da literatura? E «o que unirá estes (...) escritores? Leo Tolstoy; Fernando Pessoa; Jorge Luís Borges; [Thomas Mann]; Marguerite Duras; James Joyce; Iris Murdoch; Salman Rushdie; Ian McEwan; Jorge Amado; Rafael Alberti; Mario Vargas Llosa; Andrè Malraux; Marcel Proust; Ezra Pound; Vladimir Nabokov; August Strindberg; Henrik Ibsen; Émile Zola; Mark Twain; Anton Chekhov; Eugène Ionesco. Nenhum deles conseguiu ganhar o Prémio Nobel.»

DA MUTILAÇÃO


Isto nada tem a ver com Saramago porque, dizem, era um tipo do "futuro" e o país, a esta hora, está de cócoras a contemplar-se nesse "futuro". É antes do "avant-propos" do livro de um autor bem mais "modesto" e "desnobilizado", Jean Daniel. Daniel tem a bonita idade de 90 anos. E o livro recolhe cinquenta e um "retratos" de pessoas que conheceu, da mãe a Gide, Malraux, Mitterrand, Camus, Foucault, Barthes ou Derrida. É precedido de uma epígrafe de Apollinaire. «Rien n'est mort que ce qui n'existe pas encore/Près du passé luisant demain est incolore.» Reaccionário? Impossível. Daniel é um compagnon de route socialista. E Apollinaire, enfim, está permanentemente a ir e vir de e para outro planeta. No dito "avant-propos", Jean Daniel fala dos "seus" mortos como se poderá falar dos "nossos" vivos. «Tant que les amis demeurent, ils remplacent les enfants, mais dés que l'un d'entre eux disparait, c'est une mutilation qui souligne la solitude, la poussée des générations et l'épreuve de l'expulsion.» O tempo não é mais do que isto. Mutilação, solidão, expulsão.

18.6.10

SARAMAGO


Morreu Saramago. As "elites" não cessam de perorar sobre o Nobel. Enquanto bebia um café e comia um pastel de nata, desfilavam na tv, ao vivo e ao telefone, derramando sobre o dito cujo tanto quanto nunca se derramou sobre escritores maiores do que Saramago como, por exemplo, Jorge de Sena. Há uns anos Saramago entrou nos curricula liceais do regime e varreu a possibilidade de os meninos e de as meninas conhecerem literatura portuguesa aproveitável ou sofrível para além da dele. A "oficialização" cultural de Saramago começou quando, estupidamente, lhe proibiram um livro num concurso qualquer. O Nobel, festejado pela paróquia provinciana como uma vitória internacional no futebol, acentuou o carácter quase místico da figura que, daí em diante, passou a tratar abaixo de cão qualquer poder politico que não o bajulasse adequadamente. O que afinal subsistiu em relação a Saramago foi o velhinho temor reverencial de um país com lamentáveis "tradições" culturais que, entre outros, fez de Saramago um "símbolo". E é esse que vai ser exibido por estes dias. Poucos ou nenhuns recordarão o pequeno tirano do Diário de Notícias, a seca vaidade vingativa da criatura ou o homem que eliminou de edições posteriores à emergência da afamada Pilar as dedicatórias a Isabel da Nóbrega. "A morte absolve tudo", como ensinavam os latinos, mas nem tudo é absolvível pela morte. Paz à sua alma.

Adenda: O governo vai decretar - mediante conselho de ministros "extraordinário" - luto nacional. Ainda mudam o 10 de Junho de 1580 para o 18 de Junho de 2010. País de pequeninos parolos deslumbrados sem a menor noção da verdadeira grandeza.

EM FORMA DE ASSIM

«O opróbrio é geral.» Pois é. Mas em vez de escrever tanto disparate jubilatório acerca de coisas e homens que toda a gente execra, talvez fosse mais inteligente averiguar o motivo de tamanho opróbrio. É que, quando esses perigosos celerados que tomaram conta do PS saírem, não restará pedra sobre pedra. Se é isso que pretende, continue assim. A mim, o PS faz-me tanta falta como beterrabas.

HISTÓRIA CURTA E CURTA GENTE

Tem razão. Mas, como deve saber, em política não há gratidão e a memória há muito que foi penhorada em troca de falácias circunstanciais.

DA PAISAGEM


«A queda que dia a dia se acelera para uma catástrofe que não se consegue imaginar é para a maioria dos portugueses, talvez por isso mesmo, irreal: uma coisa que sucede num outro mundo e a outra a gente. Não basta que os comentadores de serviço não parem de se queixar, de explicar, de protestar. A consciência exacta do sarilho em que nos metemos (ou nos meteram) não dispensa uma expressão política; e em Portugal, tirando algumas polémicas sem sentido, a política parou pela vontade conjunta do dr. Cavaco, do PS e do PSD, a pretexto de que a menor agitação nesse capítulo só poderá agravar a crise. Segundo a teoria oficial, um Governo fraco, paralisado e que o país despreza é preferível a qualquer mudança. Sócrates não serve, mas já faz parte da paisagem.»

Vasco Pulido Valente, Público

17.6.10

A INCONCLUSIVA CONCLUSÃO


A comissão parlamentar amaralesca vai aprovar um relatório. O mais relevante dele, porém, não é não ter ficado provado que alguém mentiu. É não ter ficado provado que alguém não mentiu. Porque aparentemente é essa, sob a forma de dúvida, a única conclusão que fica. Inconclusiva, portanto.

UM BELO SALTO

Pela primeira vez vi o deputado João Galamba, do PS, na AR. Estava na primeira fila a defender a política fiscal do governo, a tal que começa a ler-se nos recibos de vencimento dos portugueses, em Junho, e que não constava do programa eleitoral que Galamba representava quando foi candidato a deputado por Santarém. Num país sério, tal "política" já estaria hoje mesmo a ser impugnada em tribunal. Mas como isto é um país alarve e submisso, há Galambas, o argumentário pífio e sorridente dos Galambas perante uma realidade que desconhecem e ombros cá fora a encolher como os salários. Um país assim merece todos os Galambas do mundo. Ele, na sua alegre inconsciência, não tem culpa da triste e simultaneamente contentinha figura que fez. Parafraseando Gore Vidal aquando da morte de Truman Capote, todavia foi um belo salto na sua promissora carreira política neste regime.