31.7.08

OUTRA COISA - 2

A forma como os papagaios do costume reagiram nas televisões à mensagem de Cavaco Silva - os "escritores" Rodrigues dos Santos e Sousa Tavares, os jornalistas Magno e Resendes, este por sinal açoriano, e o prolixo Delgado, a man for all seasons - só serviu para demonstrar ao PR que a "mensagem" devia ter sido outra. Rodrigues dos Santos, novo mestre da propaganda e exímio prosador erótico moderno, foi ao ponto de perguntar ao Magno (um imitador barato e provinciano de Marcelo) se a "montanha não teria parido um rato". Eles todos é que precisavam de ir para outra coisa qualquer que os parisse. Bem feito para Cavaco. Pode ser que um dia perceba com quem anda metido. E que, daqui para diante, à medida que isto se afunda num pântano "moderno", é inevitável "meter-se" mais.

Adenda: A comunicação de Cavaco teve pelo menos o mérito de recordar a mediocridade geral que vigora no parlamento da República. O "estatuto" do Sr. César possuía oito inconstitucionalidades e mais dois ou três disparates pseudo-autonómicos. Deixaram-nas ficar para ver se passavam. Foi aprovado por unanimidade. Não se esqueçam. Unanimidade. Se fosse o "estatuto" do Jardim, o que é que estas falsas virgens comentadeiras não diriam.

Adenda 2: Duas pessoas que estimo, o Pedro Correia e o Tomás Vasques - sobretudo este último que pertence à maison socialista - estariam à espera que o PR fosse fazer a triste figura de comentador-mor do "estado a que isto chegou", que abrisse hoje um blogue ou que fosse o "convidado surpresa" da trupe da "Quadratura do Círculo"? Não estou por dentro da cabeça de Cavaco mas deu-me ideia que ele quis dizer que está atento aos detalhes. Isto é particularmente importante quando somos governados, a todos os níveis, por "generalistas" abstractos e por prosélitos pomposos e vazios.

Adenda 3: Comentários idiotas contra o PR não passam na "censura". Já deviam saber que eu não sou adepto "desta" democracia. E gosto do Sarkozy. Do regime dele.

FINALMENTE...

Um governo.

OUTRA COISA


A anunciada intervenção do Chefe de Estado só teria interesse se se destinasse a "dissolver" o regime, sujeitando-o a referendo, e a anunciar uma "nova república" presidencialista. Tudo o mais representa "dar vento" aos pequenos césares da pastagem.

RUÍDO

O mais recente candidato a salvador da nação, o dr. Passos Coelho, pretende "construir ideias" no PSD. Para o efeito, vão aparecer umas "plataformas estratégicas" onde as referidas ideias serão "construídas" e "criadas". O dr. Coelho foi dirigente da JSD anos a fio. Foi vice-presidente do partido. Depois hibernou para a vida académcia e profissional - da qual nunca devia ter saído - e vem agora brindar o partido e o país com as suas "plataformas". Isto quer dizer que, enquanto desempenhou aqueles cargos, o fez a título ornamental já que era aí que tinha todas as possibilidades de "desenvolver" as "ideias" que agora quer "construir". Reunir um bando de idiotas "especializados" que o país normalmente ignora, é no que costuma dar este propósito. Para "plataformas" e "construção de ideias" já estamos servidos com o primeiro-ministro, o dr. Pinho, o dr. Zorrinho e a "esquerda moderna", em geral. Para quê, pois, novos e inúteis profetas apenas destinados ao ruído?

30.7.08

O GÉNERO DAS QUESTÕES DE GÉNERO


Uma juíza de Felgueiras, numa sentença, escreveu que os ciganos, de que os réus naquele processo eram exemplares, são em geral »pessoas mal vistas socialmente, marginais, traiçoeiras, integralmente subsídio-dependentes de um Estado a quem pagam desobedecendo e atentando contra a integridade física e moral dos seus agentes.» A dra. Ana Gabriela Freitas vai mais longe e qualifica «as condições habitacionais» da ciganagem como «fracas, não por força do espaço físico em si, mas pelo estilo de vida da sua etnia (pouca higiene).» Vai daí a juíza não encontra «a menor razão para acolher a rábula da perseguição e vitimização dos ciganos, coitadinhos!.» Contra estas evidências - extensíveis a brancos, pretos, amarelos ou de outra "etnia" qualquer: um malandro é sempre um malandro quer se lave ou não - levantou-se a voz da sra. comissária para a imigração que foi imediatamente fazer a tradicional queixinha ao conselho superior da magistratura em nome da correcção política. No fundo, no fundo, quem é que não concorda com a dra. Freitas? É muito bonito ser "correcto" dentro de um condomínio fechado, rodeado das derradeiras produções da sociologia mundial e de duas ou três Vanity Fair. Experimentem a rua de vez em quando e depois logo vêem a quem é que se vão queixar.

A VARINHA MÁGICA


Este post do Jorge Ferreira leva-me a repetir duas ideias. Uma de Manuel Maria Carrilho e a outra de Maria Filomena Mónica. Escreve o primeiro - sobre a "vaga número um" da "banda larga" pela mão de Guterres (Sócrates já lá estava) - que «o slogan do «acesso de todos à Net» pretende, no seu fervor militante, passar a ideia de uma nova igualdade, agora ao alcance do teclado, como se entre o analfabeto e o investigador, o rural e o urbano, o europeu cosmopolita e o habitante de África, as diferenças desaparecessem quando se «surfa» na Net» já que, «pelo contrário, é justamente aí que as diferenças mais se evidenciam, se nada as tiver atenuado, ou anulado, antes.» E a segunda - num reparo que assenta perfeitamente ao "plano tecnológico" permanentemente apresentado como o novo "passe de magia" para o "progresso" da pátria - alerta para o facto de, «num país de analfabetos, o computador [se ter transformado] numa varinha mágica capaz de transformar um bronco num génio.» Não transformou. Nem nunca transforma. O problema é que, como lembra o Jorge Ferreira, «José Sócrates, quando não sabe o que fazer ou o que dizer anuncia banda larga, internet e computadores», na realidade «um número tão gasto como as corridinhas no estrangeiro antes das cimeiras.»

A CONSCIÊNCIA TRANQUILA DA "HISTÓRIA"


«Entre Agosto de 1974 e o início de 1975 os portugueses em fuga de África mal se vêem nas páginas dos jornais. É claro que se fala deles mas com o incómodo e os rodeios de quem tem de dar uma má notícia no meio duma festa. Esta é a fase em que os fugitivos são necessariamente brancos pois assim facilmente se integram no estereótipo que deles traçam homens como Rosa Coutinho que os classifica como “elementos menos evoluídos que têm medo de perder as suas regalias” ou Vítor Crespo que os define como “pessoas racistas que não abdicam dos seus privilégios”. Os jornalistas portugueses usam então tranquilamente expressões como “brancos ressentidos”, “brancos em pânico” ou pessoas que “reivindicam um desejo de viver num mundo que já acabou” para referir a maior fuga de portugueses nos seus muitos séculos de História. Os primeiros a chegar, logo em Agosto de 1974, ainda tiveram jornalistas à espera. Mas semanas depois, quando a catástrofe se torna não só óbvia como incontornável, as notícias sobre o “regresso dos colonos” quase desaparecem e o que temos cada vez mais são longos artigos sobre a descolonização cheios de declarações de líderes ou candidatos a tal.»


A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR


O Tribunal Constitucional deu razão a Cavaco em oito das treze "dúvidas" levantadas sobre a revisão do "estatuto" dos Açores que agora volta para trás para ser "emendado". Pouca gente deu por isso - o tradicional contingente de virtuosos sempre atentos aos "excessos" de Alberto João Jardim tende a esquecer-se do Sr. César - mas o PS regional não poupou o presidente da República por causa da devolução do "estatuto", enchendo os jornais regionais de comunicados estilo finis patriae e com o próprio César absoluto a dar entrevistas tremendistas e ameaçadoras à RTP Açores que não mereceram um pio dos moralistas anti-Madeira. Percebe-se a histeria do Sr. César. Tem eleições à porta - que, aliás, ganhará tranquilamente - e pretende aparecer como o novo herói da autonomia açoriana hipoteticamente "ameaçada" pela vigilância constitucional. Satisfeito com os dinheiros da República que o beneficiam em relação à Madeira, César usa a retórica política para mostrar músculo e "diferença" usando como pretexto o "estatuto". O poder de César e do PS nos Açores é tão "total" como o de Alberto João e do PSD na Madeira. É só dar uma voltinha pelas ilhas. A diferença é que ninguém fala de César por cá. O outro é um "palhaço", um "fascista", um "chantagista", um isto e aquilo. César não é nada quando, tipicamente, é um puro representante do regime. É, pois, tempo de reparar em César. A César o que é de César.

29.7.08

ENCARAR A COISA FILOSOFICAMENTE

«A estupidez não é o meu forte», escreve Paul Valéry em Monsieur Teste. É verdade. Vejo alguma da blogosfera (dos jornais já nem vale a pena falar) que prezo tão presa pela propaganda em vigor como convencida de que isto é para levar a sério. E não me refiro apenas nem especialmente à política. Um regime medíocre vive forçosamente da propaganda. Da estúpida e da inteligente. Da própria e da produzida por prosélitos e filisteus das mais diversas origens e com os mais diversificados "interesses". Por isto tudo, e talvez por ser um verão manifestamente do meu descontentamento, tenho saudades da prosa do João Pedro George (e dele), agora "emigrado" em Espanha e já presumivelmente pai ou quase. Uma das graças que o João Pedro possui é ser alheio à paróquia e à "norma" o que, num país de invejosos e de compulsivos analfabetos, maça. Estou cada vez mais como ele a propósito do que quer que seja. Procuro «encarar a coisa filosoficamente: "foda-se".»

UM PARTIDO NUMA GALÁXIA DISTANTE


O regresso de Paulo Portas à liderança do PP, sem luto nem tréguas ao seu sucessor, não parece ter acrescentado nada. Fora o desempenho parlamentar que tem sido bom, ninguém dá praticamente por isso porque a "associação" a Portas dá ar de ser fatal. O CDS/PP aparentemente não "progride", não é escutado e, pelos vistos, implode mansamente sem que o país se comova com o facto. A presença de Ferreira Leite no partido imediatamente ao lado também não ajuda. Como "direita" pura e dura, o rosto da líder do PSD, apesar das pias intenções "social-democratas", convence mais do que o do ex-ministro do fato às riscas e da gravitas ensaiada. A lenta caminhada do CDS/PP para a irrelevância não consola. É que, nessas alturas, costuma emergir o pior que se abriga nas melhores das intenções. E, nessa matéria, o CDS possui um "passado" incómodo. Em 77/78, quando "deu a mão" ao segundo governo de Soares. E em 91, quando Freitas se proclamou tão "ao centro" que tanto se lhe dava voltar a "dar a mão" ao PS como ao PSD. Nesse instante, o CDS começou a lenta agonia "transformista" que, do partido "do táxi", conduziu ao PP de Monteiro e Portas e, finalmente, de Portas só e ao seu poder efémero. O descalabro da direita de 2004/2005 não poupou Portas e Portas, com despropósito e inoportunidade, regressou antes de tempo e de tudo, não poupando o partido à sua extraordinária pessoa. Está, pois, na hora de o PP começar a rever o dr. Portas antes que o país projecte definitivamente o CDS/PP para outra galáxia.

O EMBUSTE - 3 (actualizado)


Augusto M. Seabra avalia a "temporada Moreira-Dammann" do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC). Aqui , aqui e aqui. Chama-lhe, delicadamente, "o disparate anunciado". «O panorama aproxima-se de um desastre generalizado e da maior incúria. Sobre esta próxima temporada paira claramente a sombra do ex-secretário de Estado Mário Vieira de Carvalho, que de resto, em vários textos no “Público” e uma resposta ao actual ministro no “Expresso”, tem dados mostras suficientes de que não se dá por vencido, antes que continua a ser o ideólogo.» Desde sempre fui mais radical. O TNSC tem problemas estruturais por resolver desde que se tornou num "produto" de variadíssimas "experiências" de gestão. A "solução" seguinte limitou-se invariavelmente a juntar a sua própria ineficácia às que herdou. Empresa pública, fundação, instituto, "EPE", OPART ou outra coisa qualquer acumularam erros e vícios, vícios e erros. Em coerência, sempre defendi que, à semelhança do que aconteceu com outros teatros líricos, o TNSC devia encerrar para mudar de "registo". A opção, porém, tem sido a de empurrar as questões de funcionamento com a barriga ou com a marreca- ora Falstaff, ora Rigoletto - ou em varrê-las para debaixo do tapete como num momento cómico de Rossini. O ridículo foi atingido quando um dia o Teatro fechou como "EP" e abriu praticamente no dia seguinte como "fundação" para, dizia-se, celebrar o respectivo "bicentenário". E quando teve uma "direcção artística" a "trabalhar" no Teatro (Ribeiro da Fonte) e outra, a futura, a "preparar" ao mesmo tempo, na Ajuda, uma nova "temporada" (Ferreira de Castro). Estas trapalhadas custaram ao erário público milhares de contos em indemnizações e equivalentes sem que o Teatro tivesse ganho o que quer que fosse com tanta "mudança". Os problemas de que falo, com origem tanto nas "mudanças" como nas "permanências", precedem toda e qualquer temporada e a OPART já devia ter dado por isso e tirado daí consequências. Ou, em alternativa, o ministro tirá-las. Enfim, e como escreve o Augusto, «é mesmo inaceitável esta transformação do São Carlos em teatro alemão de segunda ou terceira ordem (ainda por cima, com os cantores a menos), o que de resto é um quadro restritivo de perspectivas e cosmopolitimo, e antes um outro modo provinciano, no caso “deslocalizado”.» Mais. «Tudo isto demonstra, além de graves incúrias, desde logo do director Christoph Dammann, esta espécie de “domínios privados” em que transformaram as instituições culturais: são as opções de Mário Vieira de Carvalho ou os “contributos” de Fragateiro e Mega Ferreira. E é um disparate anunciado, e o plano inclinado do vazio de perspectivas no São Carlos.»

Adenda: Uma infeliz "herança" do consulado Pires de Lima/Vieira de Carvalho na cultura, Carlos Fragateiro, o director do D. Maria, foi hoje removido por Pinto Ribeiro. Agora é preciso que Pinto Ribeiro "medite" sobre a OPART. Não necessariamente para o mesmo efeito, mas por forma a produzir um efeito.

28.7.08

ABSURDOS

Este post de Filipa Martins chama a atenção para um daqueles absurdos que tendem a passar despercebidos entre as "falas" e a demagogia dos protagonistas tradicionais. Este absurdo, como outros, prende-se com interesses. Porventura louváveis, mas interesses. O regime, de que aqui tanto se fala, também é isto. Uma mixórdia de coloração indefinida.

27.7.08

O OXÍMORO SOCIALISTA

A Cravinho respondeu o inefável Alberto Martins, o louvaminheiro parlamentar do governo, alguém claramente desprovido de um módico de densidade ou de interesse políticos e que está acostumado a debitar o que o mandam debitar. Lançou um oxímoro em forma de "farpa" ao seu camarada quando lhe atirou com o «quem faz deste combate uma bandeira, não o deixa a meio.» Na sua intrínseca paloncice, Martins, sem querer, deu a entender duas coisas. Primeira: Cravinho podia ter escolhido entre prosseguir o "combate" entre os seus, "fingindo" que erguia a "bandeira", e o BERD. Segunda: Cravinho e os seus "acordaram" que era melhor para ambos a sua remoção enquanto os seus prosseguiam o "combate" com a "bandeira" adequada às circunstâncias. Têm todos medo de quê?

CRAVINHO TAXISTA?


Cravinho, antigo ministro das "scut" e do betão estradal, deu por si, em dada altura, preocupado com a corrupção. A sua bancada maioritária desconfiou dos excessos do deputado e Sócrates delicadamente mandou-o para Londres. De vez em quando Cravinho vem aí para falar do leite derramado. Segundo ele, o "pacote anti-corrupção" que o PS aprovou é insuficiente e contém "factos anómalos". Mais. Cravinho considera-se "derrotado", nesta matéria, pelo seu próprio grupo parlamentar e não duvida que «na grande corrupção de Estado, toda a gente tem a sensação que estamos numa situação muito complicada e em crescendo (...) porque a grande corrupção considera-se impune e age em conformidade e atinge áreas de funcionamento do Estado, que afectam a ética pública.» É um ex-dirigente do PS e um seu antigo ministro do "equipamento"que diz isto. Não é um taxista qualquer. Por que é será que ninguém lhe liga?

NOVAS ERAS


Por cada novo "investimento" que promete ou celebra, Sócrates fala numa "nova era". Teoricamente, ele e o imaginativo Manuel Pinho andam, há quase quatro anos, a inaugurar "novas eras" dia sim, dia não. Pinho, o proto-ministro da cultura, até fala em "direcção comercial de luxo" para se referir ao governo e à sua extraordinária "vocação negocial" com gente tão improvável quanto imprevisível. Em breve, no ano que se segue, haverá ocasião para avaliar as "novas eras", em tese abertas por Sócrates e pelos seus ajudantes "de luxo". Numa delas, lembram-se decerto, garantia-se cento e cinquenta mil novos empregos numa legislatura. O camarada de Sócrates que preside à Câmara de Évora estava muito contente porque a "nova era" que abriram ontem por perto representará mais não sei quantos postos de trabalho e menos desertificação alentejana. A ver vamos. Era bom que os nossos jornalistas, sempre tão atentos, venerandos e obrigados ao poder socialista, começassem a preparar dossiês, preferencialmente isentos, sobre o que deram as "novas eras" sugeridas por Sócrates em quatro anos. Onde estão, o estado em que encontram e os benefícios que trouxeram. Nicolau Santos, por exemplo, podia "coordenar" esse trabalho já que é tão levianamente impressionável por "anúncios". Aguarda-se o balanço.

26.7.08

JOÃO UBALDO RIBEIRO


Deram-lhe o Prémio Camões deste ano. Pertence ao pequeno grupo dos que gosto. Vale meia dúzia de Lobo Antunes que recebeu o do ano passado. Eis um pouco dele, em A casa dos budas ditosos. «Explicar que sou um grande homem e não digo que sou uma grande mulher pela mesma razão por que não existe onço, só onça, nem foco, só foca, tudo isso é um bobajol de quem não tem o que fazer ou fica preso a idiossincrasias da língua, como aquelas cretinas feministas americanas que queriam mudar history para herstory, como se o his do começo da palavra fosse a mesma coisa que um pronome possessivo do gênero masculino, a imbecilidade humana não tem limites. Sou um grande homem fêmea, da mesma forma que os grandes homens machos são grandes homens machos, fica-se catando picuinha porque o nome da espécie é por acaso masculino e não neutro, como é possível que seja em alguma outra língua, como se a gramática resolvesse alguma coisa nesse caso. Explicar isso, não existem grandes homens e grandes mulheres, existem grandes homens machos e grandes homens fêmeas. Não há nada mais ridículo do que galeria de grandes mulheres isso e aquilo, fico morta de vergonha. A espécie é humana, como Panthera uncius, Panthera leo, um onça, no feminino por acaso, outro leão, no masculino por acaso, questão de língua, exclusivamente. Explicar isso como quem explica a um marciano. A um terráqueo. Escuta aqui, terráqueo, deixa de ser débil mental. Bem, ambições inúteis, vamos ao trabalho.»

A ANTI-POLÍTICA


Manuela Ferreira Leite não é uma "doutrinadora", como Salazar, nem uma "carreirista" como a maior parte dos dirigentes partidários. A sua "pose" consiste em não ter pose nenhuma. Adverte os jornalistas do Expresso que a entrevistam que escusam de esperar por fotografias dela a rir, de pernas cruzadas, num gesto parecido e forçado como o de Maria de Lurdes Rodrigues umas semanas atrás. Seca, explica que não é, para já, ela quem deve "dar explicações". Ela é quem as pede ao governo que considera "esgotado". A seu tempo, antes das eleições para as quais não pede maioria absoluta, revelará o seu "programa". Pelo andar da carruagem, Ferreira Leite poderá vir a ser a derradeira líder do PSD tal como o conhecemos. Como escreve VPV no Público, «em 2009, o PSD corre o perigo óbvio de uma cisão definitiva. Se Sócrates chegar a maioria absoluta, fica provada a impotência intrínseca do partido: do populismo, do "liberalismo" e, principalmente, da social-democracia, que Ferreira Leite à sua maneira representa. Se Sócrates não passar da maioria relativa, e apesar de enfáticos protestos de virtude, a perspectiva (ou a ideia) do "Bloco Central" vai dividir o PSD de cima a baixo. Para evitar o pior, Ferreira Leite precisa de transmitir uma convicção que se não sente (nada que se aproxime, por exemplo, do fervor de Cavaco por si próprio) e precisa de injectar um novo espírito no velho eleitorado do PSD, já que a unidade interna é hoje pura fantasia. Mas não se inspiram três milhões de pessoas com silêncio e uma aula ou outra de finanças públicas.»

A NOITE DO MUNDO


A RTP1 passa à noite o filme de Robert Benton, A culpa humana, baseado no livro A Mancha Humana (The Human Stain) de Philip Roth (tradução na Dom Quixote). O filme é perfeitamente esquecível, apesar das interpretações de Anthony Hopkins e Nicole Kidman. Roth, no essencial, conta a história de alguém que foi expulso da sua vida. Coleman Silk é um homem perseguido pela cor oculta no seu "rosto branco como a neve" na América racista e "profunda" dos anos 40, 50 e 60, agora pelos vistos em acelerado processo de "compensação" através da "obamomania". É uma palavra ("spook") proferida numa aula por Coleman, já no fim dos anos Clinton - referida a dois estudantes que ele ignorava serem negros - que leva à saída forçada da universidade da qual fora reitor, em nome do "correcto". Com a morte súbita da mulher, Coleman descobre Faunia, a mulher da limpeza da universidade, mais nova, sozinha depois de um marido errado e do desaparecimento dos filhos pequenos. Faunia nunca quer acordar ao lado de Coleman e diz-lhe a toda a hora que ali não há lugar para o "amor". Só no último dia das suas vidas aceita a ideia de "partilhar" o afecto de Coleman. A história é contada pelo vizinho de Coleman, o escritor Zuckerman, um dos alter ego de Philip Roth. A escrita de Roth, adaptada aos diálogos do filme, fala de vergonha - de uma imensa e escondida vergonha "identitária"-, da rejeição, da perda e da solidão final. Como na famosa frase de Hegel, «há uma noite que se descobre quando olhamos um homem nos olhos - mergulha-se então o olhar numa noite que se torna terrível: a noite do mundo que avança ao encontro de cada um de nós.»

25.7.08

ACOCORADOS - 2

«Não sou uma especialista em Angola. Não tenho histórias em primeira mão para contar nem relatórios de organizações internacionais para estrear. Mas não preciso. Basta-me saber que não há eleições no país desde 1992 para não gostar do Governo nem do presidente. E para tal tanto me faz que fale português ou outra língua qualquer. Tanto me faz que "nós" - sendo nós essa entidade chamada "os portugueses" - tenhamos "lá andado" 500 anos como não. Não aceito culpas históricas nem acusações de complexos colonialistas quando se trata de olhar para um país independente há 33 anos e constatar que está muito longe de ser uma democracia e por esse motivo muito longe de ser admirável ou "a todos os títulos notável". Percebo, claro, que uma coisa são os meus sentimentos enquanto pessoa, por acaso portuguesa, e outra muito diferente os interesses do meu país - sejam eles económicos, estratégicos, linguísticos, o que for. Percebo que as relações entre países não são relações pessoais e que se fazem muitas coisas em nome da chamada real politik que eu agradeço ao destino nunca ter estado em posição de ter de fazer. Mas creio que há coisas escusadas. E creio, sobretudo, ser tempo de percebermos, todos, portugueses e angolanos, que chega de facturas. Chega de confusões. Portugal colonizou e descolonizou, Angola é dos angolanos. Nenhuma razão para tantos paninhos quentes, nenhum motivo para tanto eufemismo, para tanto elogio rasgado. Façam-se negócios, certo. Apertem-se mãos, assinem-se acordos. Defenda-se isso a que se chama "o interesse português". Mas, por favor, não exagerem.»

Fernanda Câncio, in Diário de Notícias

24.7.08

ACOCORADOS


Patéticas e esclarecedoras foram as imagens do "dia Chávez" em Lisboa que passaram nas televisões. Gorilas venezuelanos a dar ordens à PSP, aos jornalistas e a garantir a "segurança" das escadas da Fundação Mário Soares onde o anfitrião fez de porteiro obrigado a esperar - melancólico e sentado à porta, mais com ar de frequentador assíduo de um centro de emprego do que de ex-chefe de Estado - pelo ilustre convidado. Não há mal nenhum em o país andar de cócoras. Mas parece-me desnecessário mostrar tão ostensivamente o rabo.

A GASOLINEIRA DAS NECESSIDADES


Passados uns anos sobre a criação da CPLP, descobriu-se finalmente a sua utilidade. Enquanto Angola e Moçambique a ignoram olimpicamente, nós aproveitámos para impingir o "acordo ortográfico" brasileiro aos restantes tansinhos menos relevantes e chamar à colação a Guiné Equatorial - que deve ter imenso interesse em "observar" a CPLP - porque tem, simplesmente, petróleo. Sócrates já nem se dá ao trabalho de disfarçar. As Necessidades portuguesas são, afinal, uma enorme gasolineira.

ALEGRIAS

Sobre o "bem" do TGV e das novas estradas , as pirâmides do governo, para o "progresso" e a prosperidade da pátria, talvez valha a pena ler hoje o Jornal de Negócios onde se demonstra que «a Alta Velocidade não é sequer operacionalmente rentável» e que, apesar dos «ganhos na redução de CO2 e de acidentes de viação», «nas estradas, umas são viáveis, a maioria não» e «são os impostos que se espera cobrar a mais que pagam a factura.» Só alegrias.

23.7.08

LER OUTROS


3. Rui Ramos, a melhor análise sobre a "câncização" do problema da pobreza acantonada em bairros "multiculturais" correctos (Público, sem link): «Eis a tragédia da pobreza: em troca do alívio público das suas carências, milhares de famílias tornaram-se carne para os canhões burocráticos e intelectuais do Estado Social.»

O EMBUSTE - 2


A OPART "atacou" de novo. Desta vez para "apresentar" a temporada de ópera. Apanhei o resumo da coisa por uma jornalista da Antena 1, no carro. "Muito economês e pouca música", disse ela. O presidente da OPART falou em números - de espectadores, de récitas, de concertos, de outros espectáculos -, da crónica falta de dinheiro e da sua aparente habilidade para "contornar" os "recursos" a menos. Na reportagem ouviu-se o director artístico, o alemão Dammann, a murmurar umas vacuidades e o dito presidente a "justificar" o fracasso de Das Märchen, de Emmanuel Nunes. Retive a continuação da tetralogia de Wagner, iniciada por Pinamonti, e uma coisa qualquer encenada por Maria Emília Correia. Também retive que não esteve presente ninguém do ministério de Pinto Ribeiro, designadamente a sua secretária de Estado que, por acaso, foi da direcção do Teatro noutra encarnação. Uma vez que o presidente aprecia - e só lhe fica bem - falar tanto em números, convinha que esclarecesse, por exemplo, os valores reservados para o funcionamento do São Carlos (sobretudo despesas com pessoal e outros "quadros") por comparação com os afectos à produção artística, aquilo que verdadeiramente justifica o único equipamento cultural destinado especificamente ao teatro lírico. Os contribuintes, pode ter a certeza, ficar-lhe-iam tão gratos como surpreendidos.

EM BOAS MÃOS


Em apenas oito meses, é a terceira vez que Sócrates e o sargentão venezuelano se encontram para tratar de "negócios". Angola é, por sua vez, o maior accionista do BCP e outro "amor de estimação" da diplomacia nacional. Aprendi na história diplomática do prof. Borges de Macedo que a nossa independência era mantida através de um permanente equilíbrio entre a fronteira marítima e a fronteira terrestre. No dia em que os mesmos tomaram conta de ambas, perdemos a independência na ordem externa. A fronteira terrestre é hoje, através da Espanha, a UE, um conceito geoestratégico indefinido que, em tese, pode terminar na Rússia. A marítima vai do Brasil ao norte de África, passando, com dedicação servil, pelas ex-colónias, especialmente Angola. É, como já o disse, uma diplomacia de tesos num mundo sem independências bem recortadas. O "ocidente" está cada vez mais prisioneiro destas "novas fronteiras". Veja-se o trajecto de Chávez nesta sua descida ao velho mundo. Portugal, a pobre periferia de tudo, tem de fazer de "maria-vai-com-as-outras" a reboque do "ocidente" vergado a estas maravilhosas "novas emergências". Estamos em boas mãos.

O EMBUSTE


Estamos em Julho. Em qualquer país "médio" da Europa, as temporadas de ópera já estão, de há muito, anunciadas. Por cá, o melhor que a OPART - que gere em conjunto a Companhia Nacional de Bailado e o nosso único teatro de ópera, o São Carlos - consegue anunciar é um eterno "Quebra-Nozes", dançado no palco do S. Carlos, lá para Novembro e Dezembro. De ópera, nem um pio. O dr. Pinto Ribeiro, numa das suas raras intervenções como ministro da cultura, não se mostrou agradado com a OPART, um embuste que serviu apenas para remover Paolo Pinamonti da direcção do Teatro. Está mais do que na hora de tirar daí as devidas ilações.

22.7.08

O INTELECTUAL NO SEU LABIRINTO


À excepção do PC que, suponho, mantém um "organismo" específico interno de "enquadramento" dos "intelectuais" - como tem para quase tudo -, os restantes "grandes" partidos tratam particularmente mal os seus "intelectuais". É evidente que o PC "enquadra" porque o "centralismo democrático" pressupõe tudo muito arrumadinho, nas gavetas adequadas, e sem veleidades "individualistas". O PC "cedeu" o sr. Saramago ao país e o sr. Saramago aceitou a "cedência" porque foi adoptado pelo nosso provincianismo paroquial. Bajular o sr. Saramago é o sonho de qualquer dirigente partidário fora do PC. Ora isso, por definição, agrada a Saramago mas não agrada ao PC. Vem isto a propósito do lançamento do livro* do José Pacheco Pereira (na foto à direita). Do PSD , "actual" ou menos "actual", estava o dr. Arnaut e a editora, Zita Seabra, evidentemente na condição de editora. Seria de elementar cortesia, para dizer o menos, que alguns membros da "família laranja" celebrassem a saída de um livro de um "dos seus" marcando presença. O ano passado, quando Zita Seabra lançou o seu "Foi Assim", não faltou ninguém da "nomenclatura" e Marques Mendes, o líder do momento, esteve lá. O "projecto" de JPP - "seguir" o trajecto da extrema-esquerda, "ideológica" e partidária, desde os anos 60 em diante, com o indispensável "quadro" internacional em que a doméstica se moveu - merece atenção até porque se trata de um trabalho pioneiro. Muitas das nossas "elites" actuais vieram dali. O PSD, que já teve à sua frente um ilustre maoísta, possui um negativo lastro "anti-intelectual". É o resultado, em parte, da própria história do partido, forjada num "registo" mais pragmático do que ideológico e de uma presença assídua no poder. No poder, por natureza, pensa-se pouco e tende-se a desprezar quem pensa. Veja-se, no caso do PS, o que aconteceu a Manuel Maria Carrilho. JPP é atípico da condição "militante", dentro ou fora do poder. Todavia, são militantes como JPP no PSD, Carrilho no PS ou como foi Lucas Pires no CDS que demonstram a subsistência, dentro dos partidos, de formas de vida inteligente apesar do cartão partilhado com outras formas de vida inqualificável.

*"O um dividiu-se em dois" - origens e enquadramento internacional dos movimentos pró-chineses e albaneses nos países ocidentais e em Portugal (1960-1965), Alêtheia Editores, 2008

CONSCIÊNCIAS TRANQUILAS - 3

O dr. Alípio Ribeiro, alguém que, primeiro, a prudência recomendaria que nunca fosse nomeado director da PJ e, em segundo lugar, que estivesse calado, escreve um artigo "de opinião" em que defende o não arquivamento do "caso Maddie". O consulado do dr. Alípio na PJ dava seguramente um conto de um desses escritores portugueses "contemporâneos". Não se esqueçam de "convidar" mais como ele para isso ou para outra coisa qualquer. Vistas bem as coisas, que diferença é que faz no "estado" a que isto chegou?

21.7.08

CONSCIÊNCIAS TRANQUILAS - 2

O Mário Crespo, sempre tão equilibrado, decidiu debater o caso Maddie, na Sic-Notícias, a partir da "via inglesa". Isto é, começa por partir do princípio que há na PJ uns tipos que escandalizaram a exemplar disciplina britânica com almoços de duas horas e conferências de imprensa dadas num inglês abaixo de "técnico". Está coadjuvado pela língua de pau do Rogério Alves, por coincidência advogado da "Kate" e do "Jerry". O delegado da PJ também não ajuda e o dr. Pinto da Costa ainda menos. O outro nem sei quem é. Com tanto Heidegger para ler, para quê perder tempo com isto?

LÍNGUA TROPICAL


O Doutor Cavaco Silva - aproveito para o classificar assim enquanto a "língua" o permite - promulgou o "acordo ortográfico" que "abrasileira" a língua portuguesa. O presidente porventura julga-se mais "moderno" pelo facto perpetrado e também deve imaginar que é bom (para ele, naturalmente) ficar associado a tamanha "gesta". Que lhe faça bom proveito porque ao português, ao meu português, não faz nenhum.

ESPECTÁCULO NULO

Decorre em Loures uma "manifestação" encabeçada pelos inevitáveis padre Melícias, Maria Barroso e Helena Roseta em que os devotos da causa "multicultural" vestem de "branco". Supostamente esta palhaçada destina-se a "juntar" as "etnias" africana e cigana num mesmo e salutar convívio. A "comunidade" cigana adequadamente não compareceu. Tem mais dignidade do que esta gente regimental, sempre disposta ao espectáculo nulo.

CONSCIÊNCIAS TRANQUILAS

Lembram-se dos contingentes policiais mandados para o Algarve em Maio de 2007? Das missas? Das "peregrinações" familiares à improvável praia da Luz? Da "voz do povo"? Das velinhas? Dos "sites"? Do circo montado à porta da PJ de Portimão? Das televisões? Do "Jerry", da "Kate" e do ursinho que já eram quase, por assim dizer, da nossa família? Pois bem. Este espectáculo produziu o fim abrupto de uma carreira policial, o arquivamento do inquérito e a continuação da ausência inexplicável de uma criança deixada a dormir no quarto do hotel com os irmãos enquanto os pais e os amigos jantavam por perto. Ignora-se se é viva ou morta. Ainda vai dar para, certamente, extorquir uns cobres ao Estado (o sr. Murat, muito adequadamente, vai reflectir sobre a hipótese e não sei se a Kate" e o "Jerry" não pensarão nisso) e para umas quantas conferências de imprensa do melancólico casal inglês, e dos seus advogados, em busca do tempo perdido. Como diria a minha amiga Teresa Ribeiro, tudo como dantes, quartel-general em Abrantes.

A EXTREMA DO REGIME

Não sei o que é que deu ao JPP para convidar o insuportável prof. Rosas para apresentar o livro da foto sobre os "extremas" e no que, presumivelmente, deram. "Extremas" da esquerda, naturalmente, porque nessa matéria ainda estamos num "estado infantil" em que apenas o "correcto" é permitido e nos pastoreia agora em versão "esquerda moderna" ou "social-democrata". Lá estarei sem ouvir o embotado do BE.

A FÁBULA

Estamos a entrar- como se alguma vez tivéssemos saído - naquele período de doce e mansa hibernação que tanto convém aos poderes mais diversos. Um país de irresponsáveis pode dar-se ao luxo de "fazer férias" de tudo ou de praticamente tudo. Como num título de um capítulo de Nietzsche, o mundo verdadeiro torna-se fábula. A malta aprecia.

O ASTRO MORTO


«Tenho um dia a começar, uma semana a começar. E é como se tivesse de erguer a pulso a vida toda e ela fosse um astro morto.»

Vergílio Ferreira

20.7.08

NÃO SER DEUS


Eduardo Pitta leu em tradução espanhola a "autobiografia" do filósofo italiano Gianni Vattimo (Non essere Dio - un’ autobiografia a quattro mani , Aliberti, 2006). Em rigor, é mais uma "biografia", escrita por Piergiorgio Paterlini, do que as "confissões" do autor de "O Fim da Modernidade". Vattimo vai falando e o outro vai escrevendo. Existe um "interlocutor" com quem Vattimo "monologa", o seu jovem namorado Stefano, e esse registo - que, aliás, aprecia exibir por vezes de forma desnecessariamente "débil", para usar um termo seu, nas discotecas de Roma - nem sempre o tem favorecido junto da opinião que se publica ou dos seus "pares". Vattimo, no entanto, convive bem com isso. Acaba, aliás, por reconhecer que «riescono - lo ammetto – a farmi sentire sempre un po’ fuori posto. Non c’ è niente da fare. Mi sento e mi sentirò sempre un parvenu.» Exagera, naturalmente. É um dos melhores pensadores do nosso tempo. Um católico "mezzzo credenti" como quase todos nós.

O EMPEDRADO

Sócrates foi ao Porto ao congresso da sua "juventude". Ferreira Leite foi à Figueira da Foz a uma pinderiquice qualquer da JSD na praia. O chefe do governo aproveita estes momentos light para se fazer de esquerda. Aborto, procriação assistida, alterações no divórcio, etc., etc. são peças recorrentes nestes eventos partidários íntimos. Já Ferreira Leite surgiu preocupada com a necessidade de os jovens serem mais "empreendedores" e não dependeram tanto do subsídio, uma vulgaridade copiada do país "dos roteiros" de Cavaco Silva. Sócrates e Ferreira Leite dirigem os dois maiores partidos nacionais em tempos de "morte assistida" das ideologias. Nenhum tem nada de novo a dizer nesta matéria, embora a vantagem do poder maioritário permita a Sócrates fazer umas "flores". Ferreira Leite nem isso. Limita-se a discorrer na praia como numa aula do ISEG. É um pouco o oposto do Maio de 68. Debaixo da praia, o empedrado. A calçada portuguesa.

A DIPLOMACIA POSSÍVEL


Sócrates esteve em Angola. Depois em Tripoli, com Kadhafi. E esta semana recebe Chávez. Isto revela o país de tesos que somos. A diplomacia da "esquerda moderna" - como, no passado, a de Barroso que está onde está não por acaso - precisa mais de dinheiro do que de proclamações em torno dos "valores ocidentais". A democracia não se alimenta de direitos humanos. Muito menos os "negócios". É por isso que os "negócios" estão à frente do resto com a desculpa da "falta de energia". Há dias houve por aí uma corrida qualquer promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a única delegação estrangeira presente era, significativamente, a da Venezuela com a qual a dra. Maria Barroso se desfez em amabilidades. Um país miserável não se pode dar ao luxo dos "valores". Sócrates limita-se a tratar da casa o melhor que pode e sabe. Daí falar tanto com quem pode e com quem sabe. Eles todos lá sabem porquê.

19.7.08

A BEAUTIFUL WORLD


A propósito da "Quinta da Fonte" e das redacções escolares que proliferam nos jornais e nalguns blogues sobre "racismo" e "multiculturalismo", convém lembrar o seguinte. Embora haja brancos que gostavam de ser pretos e pretos que gostavam de ser brancos, um branco é um branco e um preto é um preto. Tal como um cigano é um cigano embora haja muitos brancos e pretos que gostavam de ser ciganos e alguns ciganos (poucos, de certeza, porque são mais convictamente ciganos do que um branco é convictamente branco ou um preto convictamente preto) que porventura gostariam de ser brancos ou pretos, dependendo da qualidade do "negócio". Há dias, numa paragem de autocarro, um preto dizia aos brancos presentes que eles tinham de "pagar" os 500 anos de "África minha". Era por isso, esclarecia enquanto chupava um "calipoo", que eles- presume-se, os pretos - por cá andavam. É este o sentido oculto daquele disparate do "todos diferentes, todos iguais" que provoca sempre frémitos pungentes nas almas mais sensíveis como os comentadores Tavares ou Câncio, por exemplo. Nada como um preto para o explicar. Seja numa paragem de autocarro, seja aos tiros em Loures.

O LEÃO FERIDO


A minha primeira "recordação" do Major Valentim Loureiro é da Avenida dos Aliados, no Porto. Era a véspera da 1ª volta das eleições presidenciais de 1986. Soares encerrava ali a campanha com um comício. Não falou. Estava afónico. Por ele falaram Maria Barroso e o Major. A imagem é inesquecível. Valentim Loureiro berrava o mais que podia com duas bandeirinhas do PSD, uma em cada mão. O desfecho é conhecido. Passaram mais de vinte anos. Pelo caminho, Loureiro foi tudo o que quis e que o deixaram ser. Da bola às Câmaras, dos cargos "institucionais" aos simbólicos, o Major defendeu sempre as suas "causas" com estrondo e vigor. Ficou célebre a rábula dos electrodomésticos em troca de votos. Apareceu ao lado do poder, independentemente da cor, e não consta que tivesse sido sacudido. Só Marques Mendes lhe fez a "desfeita" de o não querer. Mesmo assim, sozinho, ganhou. Agora caiu do pedestal em que o regime o tinha colocado. Valentim Loureiro tem uma "biografia" que se confunde com o "chico-espertismo" que domina a sociedade portuguesa desde os tempos das antigas colónias. O regime deu-lhe a mão e ele deu a mão ao regime. A peripécia judicial ainda não terminou por causa dos recursos. Todavia, a sua simples existência e as conclusões de uma 1ª instância já determinaram a "queda" deste falso anjo. É altura de o regime arranjar o seu privativo parque jurássico no qual caibam os seus leões e as suas pombas. Valentim é, goste-se ou não dele, um leão. Está ferido mas não está morto.

18.7.08

NIILISMO COMPLETO


O Pedro, como eu, está farto. Do ruído - no meu caso, sobretudo o humano -, de obras, de turistas que atafulham o metro com o seu ar idiota de mapa na mão, dos portugueses que não se sabem comportar nos restaurantes em que cada mesa fala mais alto do que a outra, do trânsito que não parece preocupado com o custo do petróleo. A primavera e o verão eram as mais belas estações da minha vida. A boçalidade que a democracia também comporta, as mudanças climáticas e um país varado, de alto a baixo, pela mediocridade e pela superficialidade deram cabo disso. Sobram os livros porque, ao menos esses, os podemos escolher. A pior conquista dos últimos tempos foi o "aumento da esperança média de vida", causa de todos os males presentes e futuros. Nietzsche e Heidegger não se enganaram.

MORDEDURAS


«Não tenho dúvidas de que éramos mais representativos, intelectualmente mais sólidos, culturalmente mais bem preparados, politicamente mais experientes, ideologicamente mais esclarecidos, mais carismáticos e melhores comunicadores.» Este plural majestático pertence a Luís Filipe Menezes. Chega e sobra para o definir. Enquanto liderou o PSD, Menezes foi um belo "aliado" de Sócrates. Pelos vistos continua a ser. Do seu consulado, apenas se safou o desempenho parlamentar de Pedro Santana Lopes. Menezes não tem nenhum dever especial de solidariedade para com os que o substituíram, mas, imagino, deve ter algum com o partido que o mantém em Gaia. Estes elevados militantes dos partidos "democráticos" - quase todos - são parecidos com os cães. Possuem as qualidades do animal salvo a lealdade. Sócrates agradece este ano de mordeduras. E segue.

PILARES LITERÁRIOS

Mas, para efeitos "didácticos" e de propaganda, não existe apenas um escritor português? Para que servem Vergílio Ferreira, Sena ou Nemésio se há um Saramago e, ainda por cima, uma Pilar? A Mécia ao pé desta era uma "menina de Odivelas".

VERGONHA

Lamento que o 1º ministro do meu país chegue a Angola e profira esta frase: «É um prazer poder assistir a um país com dinamismo, vibração, com entusiasmo e com consciência do seu futuro.» É mais do que um lamento. É vergonha.

17.7.08

CONSELHO


E se não podes fazer a tua vida como a queres,
pelo menos procura isto
quanto puderes: não a aviltes
na muita afinidade com o mundo,
nos muitos movimentos e conversas.

Não a aviltes levando-a,
passeando-a frequentemente e expondo-a
em relações e convívios
da parvoíce do dia-a-dia,
até se tornar como uma estranha pesada.


Konstandinos Kavafis (tradução de Joaquim Manuel Magalhães)

CASA SARAMAGO

Ao ressequido Saramago vai ser atribuída a Casa dos Bicos, durante pelo menos uma década, para asilar a sua "fundação". Não tenho nada contra a "fundação" do sr. Saramago. Todavia, é interessante verificar como estas figuras "nacionais" não dispensam a muleta estatal, directa ou pela via camarária, para montagem da respectiva tenda. Berardo "apropriou-se" literalmente do CCB, um equipamento do ministério da cultura pago pelos contribuintes, e Saramago fica com um edifício da CML para se perpetuar. Há muitas formas de "subsídio-dependência" e de o Estado se acocorar perante estas "honras nacionais". Esta, apesar de mais sofisticada e do sotaque espanhol, é apenas uma delas.

Adenda: O acto foi consumado e, uma vez mais, o Estado - nas pessoas do ministro da cultura, o advogado Pinto Ribeiro, e do presidente da CML, António Costa - bajulou o antigo director do DN do velho PREC, nos termos repugnantes desta notícia. Pinto Ribeiro, essa quintessência praticamente nula que Sócrates colocou a estagiar na Ajuda, até falou em "reconciliação" de Portugal com o sr. Saramago como se alguém lhe devesse alguma coisa. Costa orou sobre a "mesquinhez da direita portuguesa" e desfez-se em salamaleques, certamente em nome da "esquerda moderna", perante o escritor estalinista. Nenhum dos três se enxerga. Metem-me nojo.

"O VARIADO GRAU ESTRUTURANTE"


A semiótica do regime ou o variado grau estruturante. Por que é que o Eduardo não reescreve, em português "socrático", as "Mitologias" do Barthes? Vejo que o sol latino-americano lhe fez mal à cabeça embora ela já fosse daqui devidamente "amanhada".

SITUAÇÕES

Numa coisa assiste razão à líder do PSD. O governo, o PS e os seus papagaios de papel dirigem-se a Ferreira Leite como se ela fosse a chefe do governo ou o como se o PSD fosse o "governo-sombra" do próprio governo. Faz lembrar os primeiros meses de Guterres, em 1995. Para eleger Jorge Sampaio contra Cavaco, estas mesmas almas "fingiam" que ainda não eram governo e que Cavaco representava o lado mau do que "estava". Estes agora "fingem" que já não são governo para as "questões duras" e que são proto-modernos para as "questões moles", como, por exemplo, o "urgente" tema do género. Vamos ter muito disto até às eleições. Ferreira Leite "transformada" no que não é e a "situação" a fingir que é outra coisa qualquer, precisamente "oposta" a tudo o que Ferreira Leite for. Sucede que Ferreira Leite ainda não é e eles são. São e estão. E não sei o que é mais perturbador. Se o silêncio de Ferreira Leite ou se a estéril histeria da propaganda de um país que não existe.

SÓCRATES EX MACHINA

«Na maioria dos casos, os jornalistas contentam-se com a palavra do primeiro-ministro.»

Constança Cunha e Sá, Público

TOMARA ELA

Há uma tendência para colocar a dra. Ferreira Leite na "tradição" da direita do Doutor Salazar. Tomara ela.

16.7.08

LINGUAGEM E SILÊNCIO

Ferreira Leite tinha esta noite o jantarzinho da praxe com os seus deputados. Talvez lhes fale. Talvez não. Ontem visitou Sócrates para o cumprimentar. Também não falou. Pôs o dr. Borges - uma relíquia que o país conhece perfeitamente e por quem suspira - a "comentar" o dr. Constâncio e as suas previsíveis previsões. Devem ter convencido a dra. Ferreira Leite - e ela mesma deve estar convencida - de que o silêncio é a melhor forma de tratar com o país e com o mundo. Um país e um mundo que manifestamente não concordam com o chamado "país político" ao qual a dra. Leite parece ter nojo de pertencer. Acontece que ela e Sócrates são patrulha de uma mesma embarcação a que apelido de regime. Por mais que isso custe ao louvaminheiro oficioso de todos os líderes do PSD sejam eles quais forem. A alternativa, sem dúvida assustadora, seria mais ou menos esta: e se a dra. Ferreira Leite não tem mesmo nada para dizer?

DIPLOMACIA "FREUDIANA"


O governo perdoou a São Tomé uma dívida no valor de 35 milhões de dólares (22 milhões de euros). É uma gota? É. Todavia, é uma gota - ia a dizer de sangue português recordando-me de Senghor - que, juntando-se a outras, faz falta. Com Moçambique e a barragem, foi o que se sabe. Sócrates entretanto regressa a Angola para se avistar com a cleptocracia no poder. Carregamos não apenas o nosso fardo como ainda por cima ajudamos a pagar o dos outros. Isto por não termos sabido tratar da história como devia ser. Há trinta e quatro anos que praticamos, com o antigo Ultramar, uma diplomacia "freudiana". Já era tempo de crescermos.

«ALGO VAI TER DE ACONTECER» - 2

«Hoje já não somos um povo, mas uma tribo; já não somos uma nação, mas um país. Acabámos mal: desprezados pelos europeus, envergonhados do nosso passado, só nos resta um lugar marginal de bantustão no puzzle das pequenas negociatas em que caiu o velho continente. Saudosismo ? Não, vergonha por ver o meu país reduzir-se à condição de uma Sérvia, de uma Croácia ou de uma Macedónia.»

Miguel Castelo-Branco, Combustões

«ALGO VAI TER DE ACONTECER»

«Para o optimista, não pode haver problema sem a respectiva solução, de preferência sob a forma de uma "medida concreta". E assim vivemos as últimas décadas em Portugal, de "medida" em "medida". Estamos atrasados? Auto-estradas. Continuamos atrasados? Educação. Alguém reparou que as taxas de crescimento económico nunca pararam de descer? Tal como o pessimismo não é sinónimo de lucidez, o optimismo também não é de eficácia.Até agora, os que argumentavam a favor de reformas em Portugal, irritando igualmente pessimistas e optimistas, pouco mais puderam do que fazer exortações. Sim, já quase toda a gente decorou qualquer coisa acerca da nossa natalidade ou endividamento. Nada, porém, chegou para abalar a indiferença nacional. Não apenas por a fé em "salvações" ter decrescido (como notou Vasco Pulido Valente), mas sobretudo porque, no passado, nunca houve alarme que tivesse tido sequência. Em 1985, já se falava da absoluta urgência das "reformas estruturais". Foi até o pretexto para romper o Bloco Central. Mas logo a baixa do preço do petróleo e o dinheiro europeu vieram dispensar complicações. Pouco se fez e tudo correu bem. Só que, entretanto, o mundo mudou, e também neste país onde nada acontece algo vai ter de acontecer. Há quem não queira ver: uns por optimismo, outros por pessimismo.»

NUNCA NADA DE NINGUÉM

Cada vez mais ele e só ele. Vê como é bonito aquele título "nunca nada de ninguém", da Luísa Costa Gomes, Paulo Gorjão?

QUESTÕES DE HÁBITO

Antes de ir de férias, o Pedro Magalhães "explicou" as derradeiras sondagens. Quer a dele - da Católica - quer as da "concorrência". Pormenor interessante consiste em verificar que a da "Eurosondagem", do sr. Rui Oliveira Costa para a "galáxia Balsemão", somadas as "intenções" e as "indecisões", produz uns fantásticos 102,1%. As da "Aximage", pelo contrário, não chegam aos 100% porque, explica o Pedro, "não divulga - pelo menos no site do Correio da Manhã - dados sobre indecisos, outros partidos, brancos ou nulos." Isto dificulta comparações, mas duas ou três observações são verosímeis. O PSD "ganhou" com a eleição de Ferreira Leite, embora a distância entre este partido e o do governo oscile entre o 1 e os 11% conforme a sondagem. O PS mantém-se à frente das "intenções" de voto, sem maioria absoluta. A "esquerda" do PS - PC e BE - "soma" intenções de voto na ordem dos 20, 5%. Moral da história: Sócrates está mais "ameaçado" pela sua "esquerda" e pelo mundo, em geral, do que pelo PSD. É por aí que perderá a maioria absoluta porque o "povo", infelizmente para ele, não distingue. Convém ir-se habituando à ideia.

O BOM BOMBEIRO


Chego a casa e aparece-me o dr. António Costa, num jantar do PS, a auto-elogiar-se como presidente da CML. Parece que passou um ano sobre a sua original eleição: cerca de 57 mil votos num universo potencial de cerca de 500 mil eleitores. Percebi que o dr. Costa já pagou uns bons milhares aos fornecedores - isso é bom - e que pouco mais fez. E isso é mau. Lisboa perdeu, em 2005, a hipótese de ter tido um excelente edil. Daí para diante, sucedeu-se o desastre e o dr. Costa, com o treino obtido como MAI, apareceu como o possível bombeiro voluntário. Costa é um homem íntegro e, em qualquer circunstância, a CML (ou outra coisa qualquer) estará sempre em boas mãos. Todavia, sabe a pouco. Se Costa se decidir por uma recandidatura, tem de procurar ir além da mercearia e "puxar" pelo seu indiscutível talento político. Sem o insuportável sr. Fernandes, naturalmente.

15.7.08

«MORE UXORIO»

Esta "acção" não incluirá aquelas generosas "uniões de facto" que juntam, debaixo do mesmo tecto, dezenas de militantes do mesmo partido, todos com a mesma morada como é hábito acontecer sobretudo nas vésperas de congressos ou de eleições de caciques locais? Às vezes apetecia-me dar um conselho às pessoas das quais brotam estas ideias. É do Almada Negreiros, adaptado por mim. Não te metas na vida alheia antes de olhares para a tua.

14.7.08

QUANDO O FERRO NOS TOCA NA GARGANTA


Querem um bom escritor "contemporâneo" e um bom livro? J.M. Coetzee e Disgrace (Desgraça, tradução na Dom Quixote), relido por causa disto: «O moinho das bisbilhotices, pensa, trabalhando noite e dia, moendo reputações. A comunidade dos virtuosos, à conversa pelas esquinas, ao telefone, à porta fechada. Murmúrios exaltantes. Schadenfreude. Primeiro a sentença, depois o julgamento.» E disto: «O seu prazer em viver foi apagado. Tal como uma folha na corrente do rio, tal como uma bufa-de-lobo na aragem, ele começou a caminhar em direcção ao fim. Compreende-o muito bem e isso enche-o de (a palavra não o larga) desespero. O sangue da vida está a abandonar o seu corpo e o desespero a tomar o seu lugar, desespero esse que é como um gás, sem odor, sem sabor, sem sustento. Inspira-se, os membros relaxam, perde-se o interesse, mesmo quando o ferro nos toca na garganta.» Fim de citação.

«SEGURANÇA»

Rui Pereira, uma "sombra" de ministro da administração interna, continua a "garantir" segurança ao país. Pereira, cada vez que fala da "segurança", deve estar a pensar exclusivamente no agente da PSP que "guarda" o seu domicílio. Nada mais. Sucede que toda esta confusão "multicultural" começou no tempo de Guterres e, pelos vistos, continua com "programas" e "equipas de projecto étnicas" entretidas em conversetas com as "autoridades" e das "autoridades" com elas. A realidade, contudo, prossegue impiedosamente sem ligar muito ao conceito de "segurança" do ministro ou a estas "comissões" de natureza mística. Os agentes - sugestionados pelos tiros da "multiculturalidade" que não conseguem conter - perseguiram, noutra zona, um tipo que levava a mulher ao hospital. A mulher morreu com um ataque cardíaco enquanto os agentes cumpriam o ritual "operacional". A bola está a rolar devidamente.

Adenda: A ideia do jardim "convivial" do pequeno Vitorino é digna do canal Panda e imprópria de um mitológico ex-comissário europeu.

14 DE JULHO



Um país a sério e não uma permanente "feira do relógio."

13.7.08

IMPROVÁVEIS E PERIGOSOS

Sarkozy promoveu duas inutilidades quase simultaneamente. Pela enésima vez, desta vez em Paris, juntaram-se o chefe do governo israelita em exercício e o senhor que supostamente manda na Palestina. Agora é que sim. Agora é que não. É só esperar mais uns dias. Depois, reuniu a Europa com meia África e chamou-lhe "união para o Mediterrâneo". A presença do israelita foi suficiente para este "sucesso" não ter tido direito a "foto de família". Durão Barroso, com a sua habitual desfaçatez, até falou num "estaleiro" não sei de quê mas deve ser, seguramente, de qualquer coisa que lhe interessa. Sócrates esteve lá e deixou aos jornalistas a "cartilha" aprendida como ministro do ambiente e como recente "presidente em exercício" da Europa. Apenas vulgaridades num mundo improvável governado por tanta gente improvável. E perigosa.

O PACTO COM DEUS


«O Papa chamou parte da hierarquia a Roma e, talvez devidamente esclarecido, o próprio cardeal-patriarca de Lisboa resolveu reconhecer uma certa "negatividade" na catolicismo indígena. Que espécie de negatividade? Inadaptação da Igreja ao tempo, deficiências na formação dos padres, má proclamação da "Palavra de Deus". Sem cânticos, nem homilias de "qualidade", por exemplo, a juventude acha a missa uma "seca" - como se o fim da missa consistisse em a divertir. De qualquer maneira, nada disto conta. Uma fracção importante dos fiéis pensa (e sempre pensou) que o problema é a natureza "retrógrada" da Igreja em matéria de género e de sexo. Por outras palavras, na doutrina sobre a homossexualidade e nos limites que o Papa põe e reitera ao papel institucional da mulher. Os "reformadores" exigem que a Igreja acompanhe o século (sem perder, evidentemente, o "núcleo da sua mensagem") e sonham com uma Igreja democrática e conciliar. Quem leu Ratzinger, como cardeal e como Papa, sabe que ele nunca aceitará essa aventura. Para ele, qualquer cedência diluirá a "mensagem" (e não só o seu "núcleo") e, tarde ou cedo, provocará um cisma.» Isto escreve Vasco Pulido Valente hoje e eu assino por baixo. Há mais de trinta anos que Ratzinger advertiu a Igreja para se preparar para viver em minoria, para maus tempos, para as "aflições" de que fala João (16:33). Por isso, valorizo mais o "pacto com Deus" (mencionado nas palavras seguintes de Alexandre O' Neill) do quaisquer manifestações de "vulgarização" da "mensagem " que a diluem, como espuma, na futilidade e na inutilidade do quotidiano da transigência videirinha. «O exílio interior pressupõe um corte total com os meandros por onde se movimentam os chamados carreiristas, sempre prontos à transigência. O exílio interior pede uma grande força de ânimo (e um nojo não menor), a alimentação constante de um ideal, um amor sem limites à verdade, o afrontar corajoso de uma envolvente solidão, um elevado espírito de sacrifício. O exílio interior tem algo parecido com a atitude mental dos místicos: o abandono dos pactos com este mundo mundanal para a preservação de um único: o pacto com Deus.»

FOGO REAL EM LOURES


Um comentador pergunta por que não escrevi sobre os tiros de Loures. Aquilo não aconteceu só anteontem. Aquilo "aconteceu" porque foi filmado e passou nas televisões, particularmente nas SIC's que, como sempre, ficaram lá como que à espera de mais tiros e mais folclore. Quem não tem um Afeganistão por perto, caça com Loures. A periferia - cada vez menos periferia e mais Lisboa - sempre existiu e, pelos vistos, com armamento "legal". Pena não ter havido uma demonstração de fogo real para o ar em vez de umas pretitas a dar ao rabo quando o dr. Pereira, o MAI, foi lá fazer "fogo de vista". Nem sequer enxergo qualquer vantagem em chamar a criatura ao Parlamento para "prestar esclarecimentos". Ele não é de cá, deste mundo. Como é que ele pode esclarecer o que quer que seja?

12.7.08

IMPUREZAS

A notícia de uma investigação ao dr. António Nunes, director da ASAE, por causa do momento em que foi director-geral de viação, só pode ter uma explicação: há pessoas que querem continuar a comer descansadas com as mãos.

UM ESCRITOR CONFESSA-SE

Aquele romancista português - concorrente na qualidade da prosa com a Sra. D. Rebelo Pinto - que dirige o semanário Sol e que possui uma "intuição" política muito especial digna do prof. Karamba, vaticinou que «se à frente do país estiver uma governante macambúzia e triste, Portugal tornar-se-á facilmente um imenso velório.» O arq. Saraiva prefere o quê? Um circo de idiotas felizes pastoreado, em alternância, por palhaços ricos e pobres?

O MUNDO QUE EU PERDI - 1



Mara Zampieri e Renato Bruson em Macbeth, de Verdi, Ópera de Berlim.

A FACHADA INACABADA


O advogado Pinto Ribeiro, que está a fazer as vezes de ministro da cultura, acedeu falar ao Expresso, a gramática jornalística do regime. Ao contrário do que quiserem fazer crer, Pinto Ribeiro não tem um pingo de interesse. Não acrescenta nada ao governo de Sócrates que, muito eloquentemente, não lhe liga nenhuma. Apesar de afirmar que "faz política para que outros façam cultura", Ribeiro, na realidade, tem-se salientado por não fazer nada. Agarrou-se à língua como gato a bofe e apenas como defensor do medonho "acordo ortográfico". Justifica isso com esta trivialidade digna de uma jovem professora do ensino básico da Buraca: «somos e sentimos através da língua, relacionamo-nos, namoramos, fazemos negócios.» Depois, vá lá, suspendeu o "Museu do Mar da Língua", uma extravagância da voluntarista que o antecedeu, e promete "multiplicar" o que não tem: «quanto mais me derem, mais espero multiplicar.» O resto do "programa", para o qual ele não possui um tostão, ao contrário do seu "concorrente" Manuel Pinho, é o do costume. O governo não precisa "deste" ministro sem força política que, cada vez mais me convenço, foi trocado à nascença como inquilino da Ajuda. Está bem para a fachada inacabada do Palácio.

JORNALISMO DELGADO

«As medidas que vêm sendo tomadas em democracias formais de limitação das liberdades são preocupantes não só em si como pelo silêncio dos próprios media e jornalistas, as suas primeiras vítimas. A maioria dos jornalistas portugueses que escrevem notícias está proletarizada, tem de seguir o que agrada ao chefe e ao patrão, seja ele privado ou público. E parte do jornalismo de elite vive no mundo do poder: há colunas de comentário de alguns jornalistas que defendem quase sempre o poder político-económico e atacam as oposições, todas elas. São jornalistas de green & PIN, vêem o país a partir do green de um golfe ou de uma varanda de resort PIN.»

Eduardo Cintra Torres, in Público

O PRESIDENTE DO CLUBE PRIVADO


Acordei tarde, vítima da greve parcial da "groundforce" do aeroporto da Portela - prepare-se quem tiver de viajar nos próximos dias porque passará a "total" -, e acordei com a Maria Flor Pedroso a entrevistar o dr. Jaime Gama na Antena Um. Gama é o género de pessoa em quem, se fosse militante do PS, votaria tranquilamente para chefe. Não se confunde com o formigueiro que pastoreia, soberano, do alto da mesa do Parlamento. Não aprecia ruído. A sua formação filosófica, certamente pessimista, não o compromete demasiado com a vulgaridade parlamentar. Deixa-os, literalmente, falar. Governo incluído. Faz a rábula de quem defende que o "debate político" está "centrado" na AR e que isso é um sinal da "maturidade" dos "protagonistas", dos de lá e dos do governo. Graceja incorrectamente com as "quotas" afirmando que melhora a "estética" parlamentar. E termina a entrevista com a escolha musical a recair em Carla Bruni, contra a "indiferença" e contra a "Europa do nosso descontentamento". Como são tão hegelianos estes nossos políticos açorianos, sempre a deambular na catedral gótica que têm dentro das suas insulares cabeças. Todavia, nem por isso Gama consegue livrar-se daquilo a que preside e que, nas palavras de Vasco Pulido Valente, não passa de «um clube privado que, de quando em quando, a televisão mostra a um país mais do que indiferente», no qual vagueiam «a indigência intelectual, a mesquinhez de propósito, a irresponsabilidade política.» Em suma, gente de quem «não se pode esperar nada.» Gama, na verdade, merecia melhor.

A DERROTA DO PENSAMENTO


Os inventores das "novas oportunidades" têm aqui a ocasião de criar mais um cursinho "técnico-profissional". We are the world, we the children.

11.7.08

O VELHO E SEMPRE ADMIRÁVEL NOVO MUNDO



Afinal, nem tudo é mau. As notas de matemática do 9º ano "melhoraram" conforme "previsto" pelas estatísticas, o PS é o garante da "mundivisão" pós-Vaticano II em Portugal, encabeçada por esse "modelo" de homem "moderno" e cosmopolita que é o sr. Alberto Martins e, à meia-noite, fomos um entre os primeiros vinte e dois países que, precisamente por causa de tanta "modernidade", pusemos à venda um objecto apelidado de "iPhone 3G", um bem seguramente de primeira necessidade a avaliar pelo número de "modernaços" que esperaram por ele como os miúdos pelo derradeiro Harry Potter. Uma senhora explicou a espera por causa da "mudança". De telemóvel, naturalmente. Esta discípula involuntária de Sócrates - o mundividente e pós-moderno Sócrates que nunca deve ter lido um livro na vida - "espelha" o país de novos monstros que estamos a incubar. De um lado, está a realidade onde vegeta a maioria passiva e resignada à sua miséria material e instintual. Do outro, está o "novo homem socrático" como já esteve, no passado, o "novo homem cavaquista" com a sua irremediável e imoderada superficialidade. O português médio aprecia a ilusão da felicidade e, como tal, revê-se no "amanhã" que Sócrates lhe promete. Sócrates é o demiurgo que vende "ânimo", "coragem" e "determinação" como o sr. Carrapatoso vende "iPhones 3G". Estão bem um para o outro. Mesmo que não sejam deste mundo por estarem sempre "muito à frente". Tão à frente que nem reparam no precipício que os espera a seguir.

10.7.08

A TAXA

Numa primeira reacção à "taxa", um senhor que representa as petrolíferas já avisou que há que repercutir a dita "taxa" nos "produtos" oferecidos. Dito de outra forma, a "taxa" engorda a receita e não alivia os consumidores. O anunciado "desvio" dessa receita para o "social" tem o mesmo problema da "emergência" da dra. Ferreira Leite. Não existem receitas consignadas. Tudo o que se disser nesta matéria é pura propaganda e bolsos continuadamente vazios.

O PASSE

Sócrates, desta vez, trazia na manga um "passe escolar". E uma "taxa" sobre os lucros das petrolíferas. E, finalmente, o tradicional regresso ao passado que ainda nos levará, de novo, aos "quarenta e oito anos de fascismo". Numa coisa, porém, Sócrates tem razão. É no passe. Portugal caminha a passo estugado para o "estado lupanar". O "estado" digno de uma casa de passe. E das mais ordinárias.

O ESTADO QUE A NAÇÃO MERECE

Com escreve um leitor num comentário, o país precisa de mais "medinas" e de menos "júdices". E há tantos nos blogues, nas televisões e nos jornais. São o melhor "escudo" do regime mesmo quando julgam que "julgam". Este "reino da Dinamarca" está podre mas, como os gaseados, estes "fazedores" da opinião conveniente não reparam que estão a ser intoxicados. Outros, a maioria, reparam e agradecem. A nação, afinal, está no estado que merece.

ESTADO (DEMENTE) DA NAÇÃO - 3

«Apesar do progresso, do acesso à Educação e à Saúde, das infra-estruturas construídas e da melhoria das condições de vida da população, o país encontra-se à beira do precipício. Os sacrifícios, pedidos por todos os Governos, desaguam inevitavelmente em mais sacrifícios: continuamos a divergir da Europa, com um crescimento económico que, mesmo antes da crise internacional ser decretada pelo Governo, não chegava a 1,5 por cento do PIB. Com uma agricultura destruída, uma indústria incipiente e uma classe empresarial que não se distingue pela sua capacidade empreendedora, Portugal vive hoje a ressaca de todos esses amanhãs que cantavam ao som do consumo desbragado e dos vários "choques" que nos iriam abrir as portas do desenvolvimento. O rosário ou a "lengalenga" estende-se a quase todos os domínios: à Saúde, à Justiça ou à Educação, essa grande aposta da democracia, que nos atira para a cauda da Europa, com uma taxa elevadíssima de abandono escolar (perto de vinte por cento) e com um défice de formação que se reflecte na competitividade das empresas e dos produtos nacionais. Paralelamente, o país "descobriu" agora os valores assustadores da pobreza (perto de 20 por cento da população) que já existiam muito antes de serem "descobertos": infelizmente, a pobreza é um fenómeno persistente em Portugal, com tendência a agravar-se, nos próximos tempos, graças à subida do petróleo e ao aumento dos bens alimentares. Em matéria de desigualdade somos um país recordista, com um fosso cada vez mais profundo entre os mais ricos e os mais pobres. O envelhecimento da população, que caracteriza as sociedades ocidentais, atinge em Portugal níveis assustadores. De acordo com dados do Eurostat, em 2050, as pessoas com mais de 65 anos representarão mais de trinta por cento da população portuguesa. Não se vê como é que poderá haver capacidade orçamental que suporte este aumento assustador das necessidades. Mas, aparentemente, há quem veja. Embora o estudo apresentado por Rui Ramos e pelo Compromisso Portugal não seja propriamente pródigo em propostas ou soluções. E, na ausência destas, talvez seja preferível a "lengalenga" dos epígonos de Oliveira Martins à hipotética apresentação de alternativas que ninguém consegue detectar.»

Constança Cunha e Sá, in Público

ESTADO (DEMENTE) DA NAÇÃO - 2

A "casa da democracia" recebe hoje o 1º ministro que vai palestrar sobre a crise internacional. Sócrates imagina-se uma bomba de gasolina. Como ela, não tem culpa.

9.7.08

MÉTODO NA LOUCURA


O pequeno que entrevistou Medina Carreira na SIC é um brincalhão "sistémico" que diz que "nós, jornalistas, temos de acreditar em qualquer coisa". Ele dá ideia que acredita bastante no PS e no governo. De resto, Medina Carreira é muito prático. O governo é excessivo e ridículo, o "bom caminho" não é o que prega o governo pela voz do pequenino jornalista, vivemos num circo, numa palhaçada, não há "reformismo", há espectáculo, os que ousam pensar vão-se embora (citou Cravinho e Carrilho), o crime compensa, a corrupção compensa, a "educação" é criminosa, os manuais escolares são para analfabetos e lá para 2020 seremos os mais pobres da UE. Defensor do presidencialismo, como eu, Medina Carreira seguramente passa por louco junto dos "certinhos" do regime, da esquerda à direita. Prestem-lhe mais atenção porque há método naquela loucura.

O REFORMISTA IMPENITENTE

Fora o dinheiro - algo que, num país de famélicos, impõe "respeitinho" - não enxergo o que é que habilita particularmente o dr. José Miguel Júdice a "comentador" da pátria. O dr. Júdice, como se não bastasse a sua ziguezagueante "intervenção" pública, também opina na SIC-Notícias com António Barreto. Aliás, são de uma comovente cumplicidade mútua. "Zé Miguel" para lá, "António", para cá e o pobre Teixeira a fazer de ponto. No último programa, de que a SIC emite excertos como se estivéssemos perante uma homilia, Júdice "bateu" na dra. Leite, nos portugueses em geral e nos funcionários públicos, em particular, por causa das "reformas" e das "mudanças". Segundo este antigo discípulo de Primo de Rivera (porventura o seu melhor "momento"), nós não apreciamos as "mudanças" e as "reformas" que nos conduziriam aos céus "socráticos". Não. "Isto" não "muda" nem se "reforma" porque os portugueses em geral e os funcionários públicos, em particular, não seguem exemplos como os do dr. Júdice, um fantástico "reformista" por natureza. O dr. Júdice, por pudor, devia privar-se de falar tantas vezes no Estado e nos seus servidores já que não tem razões para se queixar. Mais. O dr. Júdice foi vice-presidente do PSD e não consta de nenhum rodapé de jornal de província qualquer remoto contributo seu para a "mudança" e para a "reforma" da nação. Pelo contrário, o dr. Júdice está sempre atento às subtilezas do Príncipe na esperança de que o Príncipe acompanhe as suas. Lamento a entrega da opinião que se publica a estes inócuos mandarins. Com gente como Júdice, exclusivamente preocupada com a sua "mudança" e com a sua "reforma", é que, de certeza, isto não vai a lado algum. Por que é que não vai derramar para a Quinta das Lágrimas?

A ABOLIÇÃO DA REALIDADE

«Nos últimos tempos, poucas vezes os portugueses deixaram a realidade incomodá-los. Há uns dez anos que as faculdades de Economia emitem um ruído permanentemente angustiado acerca da queda de quase todos os indicadores de saúde económica nacional. E como passámos nós esta década devastadora? Num dos países europeus com mais casas, mais carros, mais telemóveis e mais centros comerciais. Para a perfeição, só nos faltou um detalhe: atribuir ao Governo ou à Assembleia da República o direito de emendar as publicações do INE e do Banco de Portugal, de modo a podermos olhar para estatísticas à altura, não dos recursos que temos, mas dos recursos que gastamos.»

Rui Ramos, in Público