31.1.11

A MÁ EDUCAÇÃO

Isabel Alçada, escritora de "aventuras" e convidada de Fatinha C. Ferreira no canal oficial, fala em "educação para a cidadania". Tratar-se-á de alguma formação específica para o "socratismo", um produto tão avesso à boa educação quanto a ser educado para a cidadania?

Adenda: Ao lado de Isabel Alçada, a Fatinha sentou Isabel Soares, directora do Colégio Moderno. A título de quê? De representante (mais um) da dinastia Ming do regime?

DEBATE, DIZ ELE


«A realidade exige novas ideias», diz Santos Silva a propósito do congresso albanês do PS anunciado para Abril. Por que é que ele, com a sua "experiência" trauliteira, não se candidata em nome dessas "novas ideias" em vez de aparecer como um péssimo e pérfido tenor das mais "velhas"?

PENOSO


Rui Pereira, o MAI, ainda não se "curou" da vergonha com os cartões de cidadão do passado dia 23. Mesmo assim, veio, não se sabe bem a que propósito (obter o beneplácito do autarquismo rapace e rotundeiro?), defender a regionalização, essa pestífera mania que volta de vez em quando. Pereira está desprovido de "agenda" e, presume-se, de confiança política interna. Precisa urgentemente de "administrar" qualquer coisa nem que seja o prato requentado da regionalização que ele julga que iria "aprofundar" a democracia. Penoso.

PARA MEMÓRIA FUTURA


«O comportamento do Governo na campanha presidencial foi vergonhoso. Promoveu e alimentou calúnias e infâmias contra Cavaco Silva, com a conveniente cumplicidade de uns tantos palhaços e de um numeroso bando de idiotas úteis. Para culminar a sua actuação, impediu milhares e milhares de portugueses de exercerem o seu direito de voto na vã esperança de aumentar a abstenção e assim poder levar o seu triste candidato a uma mais do que improvável segunda volta. Como tudo falhou, resta-lhe espalhar por aí que, afinal, o grande vencedor de dia 23 acabou por perder e ficou ferido na sua credibilidade para exercer em pleno o seu mandato. Perante este quadro de miséria, não basta decretar tolerância zero ao senhor engenheiro relativo. A bem da Nação, exige-se do Presidente da República uma implacável vigilância

António Ribeiro Ferreira, CM

«Em 23 de Janeiro, com a reeleição do Presidente da República extinguiram-se não apenas a maioria que o elegeu mas também, e sobretudo, as minorias que se polarizaram nos candidatos derrotados. Descontado o eventual interesse dos elementos de análise que fornecem, os valores percentuais respectivos não servem rigorosamente para nada, nem dão qualquer autoridade ou força política aos vencidos. Por sua vez, a autoridade de Aníbal Cavaco Silva não sai beliscada, nem de perto nem de longe. Mas ainda há, aqui e ali, uns trejeitos ranhosos de gente que não desarma e, como não pode contestar a legitimidade da sua eleição, continua a regougar, a ratar, a roer, talvez a regurgitar e a remoer de novo, a propósito da figura e da força do Presidente, o qual, a despeito de vencedor, teria saído ingloriamente enfraquecido da eleição. Cavaco Silva não apenas ganhou com uma confortável maioria, como ganhou em todos os distritos, do Continente e das regiões autónomas, mas para essa malta é como se não tivesse ganho. Ganhou, mas agora há quem garanta que afinal ele... perdeu! Este prodígio dialéctico tem um intuito evidente, que é o de tentar desagregar na opinião pública os poderes que a Constituição confere ao Chefe do Estado, ou pela via de lhe quererem descortinar na prática uma diminuição de estatuto e de autoridade, ou pela das conclusões extraídas a fórceps de variados malabarismos aritméticos sobre os resultados eleitorais, ou ainda pela da crítica ao seu discurso de vitória na noite das eleições, em que, opinam eles de sobrolho contristado, deveria ter perdido a memória, oferecido a outra face e estendido a mão caridosa e conciliadora a quem o insultou sem escrúpulos (...). Dizendo as coisas por outras palavras: as minorias vencidas extinguiram-se, mas ficaram no terreno uns agentes póstumos, ao serviço de uma conveniência política manhosa e obscura

João César das Neves, DN

30.1.11

COITADINHA


"Exigente, vigilante e crítico" é como a azougada Gomes imagina o PS daqui para diante. Então a pobrezinha não ouviu como o "presidente" da seita, o repelente Santos, se referiu a Carrilho, estilo "um indivíduo a abafar porque não é dos nossos"?

UM PREC VIRIL

A cena "ternurenta" ilustrada pela foto - retirada daqui - não se passa num cartório de Lisboa. São dois egípcios, um soldado e o outro civil, no PREC em curso no Cairo. A fraternidade viril é poderosa e nada "maricas". A coisa promete.

A "CRUELDADE" DO POVO


O honorável ancião socialista Almeida Santos falou da alegada "crueldade" de Cavaco há oito dias. Quando, uma semana volvida sobre as presidenciais, a melhor narrativa política que se consegue produzir é sempre e só sobre uma mísera parte do que o homem disse no CCB (a que interessa para alimentar a narrativa), isso é revelador do estado desgraçado a que chegou o "debate" público em Portugal (no PS ninguém estará preocupado com as derrotas sucessivas em presidenciais?). Relativamente ao espertalhaço do ancião (o tal do "para amigos, tudo; para os inimigos, nada; para os outros, cumpra-se a lei") existe uma atenuante. Em Outubro de 1985, o homem era exibido nuns cartazes ridículos do PS como o "vamos a isto!", sendo o "isto" uma maioria absoluta do PS onde ele figuraria como putativo 1º ministro. Todavia, o espartano e recém-chegado Cavaco Silva é que acabou por "ir a isto", sofrendo Santos (e o PS) uma humilhação eleitoral traduzida num "incremento negativo" da ordem dos 23% de distância em relação à almejada maioria. O "cruel" Cavaco vinha para ficar. Como ficou no domingo graças à "crueldade" do eleitorado.

Adenda: O mesmo Santos, mesquinho, sobre Carrilho que tem por hábito usar a cabeça dele - «Neste momento, o dr. Carrilho é quase um adversário do PS, porque está agastado por ter sido apeado do lugar que tinha [embaixador de Portugal na UNESCO, em Paris]. Está zangado connosco, compreendo isso, mas não é bem o exemplo típico do indivíduo que se possa citar como característica da situação interna do partido.» Pior do que um Kim-Il-Sócrates só um provecto e patético Kim-Il-Santos-Sung.

Adenda2: Um tal Filipe Santos Costa e o fatal Luís Delgado, na sicn, insistiram na narrativa "vingativa" que, pelos vistos, os ajuda a gastar saliva - o primeiro até mencionou o ancião Santos a título de uma gravitas que só deve pairar na cabecinha parva do dito Filipe. De facto, que mais de pode esperar de gentinha que só produz escarros mentais?

Adenda3 (do leitor João Sousa):
«
Eu bem me recordo dessas eleições Almeida Santos. Um dos slogans socialistas era "Prá maioria já falta pouco - já só falta sete por cento". Foi um pouco mais do que isso. Ontem, num programa da TVI24, o convidado foi a criatura Soares-filho, cujo currículo em pouco mais consiste do que, como diria o Luis XIII de Dumas: "eu ser filho do meu pai". Também este legume tentou disseminar a teoria do "discurso rancoroso" em vez de "conciliador". Conciliação como a de Soares-pai para com a eurodeputada que teve a ousadia de lhe ganhar a presidência do parlamento europeu, algo a que a criatura-pai certamente se achava no seu direito natural. Ou ainda a absoluta falta de rancor que era visível na sua voz quando mencionava o candidato Alegre. Mas a criatura-filho foi ainda mais longe. Estaria etilizado - ou simplesmente é impossível surgir algo mais substancial daquele cérebro. Delirou com a questão Cartão Único, "um exemplo de sucesso, de tal forma que até já tem mais de quatro milhões de utilizadores". Disse também que "os eleitores que não votaram foi por não terem pachorra de esperar uma hora ou duas para saber o seu local de voto". Disse que não fazia sentido pedir a demissão de Rui Pereira por a demissão de um ministro ser um acto político e esta questão, pelo contrário, ser técnica. Claro, nada está mais longe de ser político do que um ministério ser nitidamente negligente na preparação de um processo eleitoral. Mas a jóia da noite, a cereja no topo do bolo, foi a sua descrição do ministro ASS: "Augusto Santos Silva é um homem de qualidade". Aqui, concordo com ele. Augusto Santos Silva é um homem de qualidade - péssima qualidade. Ninguém consegue internar esta gente num hospício?»

"CONTINUIDADES"


«Quando se estuda o século XIX ou se lê um escritor do século XIX, o que espanta não é que as coisas tivessem mudado muito, é que no essencial tivessem mudado tão pouco. A dívida e o défice, por exemplo. Toda a gente falava da dívida e do défice longamente, constantemente, obsessivamente. Falava o Parlamento, falavam os jornais, falavam os particulares (também eles, como hoje, em aflições). Não havia semana em que não aparecesse um novo plano e um novo salvador. E não havia semana em que não se anunciasse um desastre próximo: vinha aí o dia, e não andava longe, em que as receitas do Estado não iriam chegar para pagar os juros dessa enorme dívida que não parava de crescer e cada vez crescia mais depressa. Já estávamos bem abaixo da Grécia e talvez mesmo do Egipto. Que fazer? Claro que se percebia a evidência: o Estado não podia gastar o que gastava. Mas depois de se estabelecer um acordo fervoroso e geral sobre esta verdade básica e depois de os políticos jurarem a pés juntos que o cumpririam, as despesas aumentavam sempre. Para uma parte da opinião (da direita e da esquerda), só acabando com o regime se podiam pôr as finanças na ordem. Os partidos não passavam de centros de negócios (e, consequentemente, de corrupção) e de agências de empregos. Com eles no poder, ou alternando no poder, nada mudaria. Portugal precisava de um remédio ardente, de uma revolução (fosse ela qual fosse), que o purificasse. Bastava olhar para os deputados e para os ministros, um bando sem letras, sem moral e sem vergonha, saído de um canto obscuro da província para enriquecer em Lisboa. Roubavam? Claro que roubavam. E distribuíam a família (o sobrinho, o tio, o primo e o cunhado) por um Estado, como se dizia, a saque. E quem pagava? Pagava o contribuinte, o sacrificado e sofredor contribuinte, que de resto também se endividava e uma vez por outra também passava fome. Claro que, sendo o país rural, com crise ou sem ela, em parte se alimentava a si próprio (embora nunca produzisse trigo e milho que bastasse). Quem sofria era principalmente a plebe urbana, que, fora o desporto nessa altura popular de achincalhar o rei e os padres, não via para ela um lugar no mundo. Durou isto à volta de 60 anos. Quase o dobro do tempo desta nossa amável e gloriosa República.»

Vasco Pulido Valente, Público

29.1.11

O PONTO DE VISTA DA MORTE

Os puristas não devem gostar de Hereafter, de Clint Eastwood (na foto com um dos protagonistas em Londres). Videntes que "falam" com mortos, vivos que procuram falar com mortos não "cola", de facto, à primeira vista com a sobriedade iconoclasta de Eastwood. Mas isso é o que menos importa no filme. Na realidade, Hereafter pode perfeitamente ser encarado como uma espécie de ensaio acerca da literatura. Não apenas pela obsessiva presença de Charles Dickens - dito pela extraordinária voz de Derek Jacobi, ao vivo e no silêncio dos quartos em gravação ouvida a título de Lexotan - mas porque as personagens passam o tempo a interrogar, a interrogar-se e a interrogar a morte que é aquilo de que a literatura, se for feita de alguma coisa, é feita. Às tantas, o rapazinho da foto pergunta ao vidente/Matt Damon se, depois de tantas "sessões", ele já sabe o que é que está no "lado de lá". "Ainda não", respondeu o incrédulo vidente a fazer lembrar a Alice de Carroll. É neste "ainda não" que a literatura "vive" a sua morte - «dying around us every day» (Dickens, Bleak House).

ANTI-CESARISMO INSULAR

Há "vida" nos Açores para além de César e dos "cesaristas" de Lisboa.

TENTATIVAS E REPETIÇÕES


Hoje foi um fartote de "inaugurações de escolas requalificadas" (sic). Ou seja, nada foi inaugurado que não estivesse já aberto. O que na realidade foi "inaugurado" foi a pintura nova, a escadaria restaurada, a sala mais aprazível, o muro solidificado. Deu para Sócrates, ministros e secretários de Estado voltarem à estrada depois de duas semanas de intervalo. E continuarem tranquilamente a fazer o que fazem melhor - tentativas e repetições, em suma, propaganda de tesoura na mão.

O MAIS VELHO E O "NOVO" CICLO


O matusalém do CDS, o dr. Portas, quer ir rapidamente para o governo. Falhado Sócrates, Portas vira-se agora para Passos Coelho a quem sugere um "movimento político" que os abranja e a "independentes". Da última vez que Portas "participou" numa AD pré-eleitoral, em 1999 com Marcelo, bastou uma entrevista sua na televisão para acabar rapidamente com ela (e com Marcelo). Só em 2002, depois de umas eleições que deram Barroso à frente mas em minoria, é que Portas se tornou indispensável para viabilizar um governo de "direita" que durou pouco mais de dois anos. E não foi por sua causa, diga-se a bem da verdade, que a coisa borregou porque Portas apreciava (e aprecia) o poder nem que fosse às cavalitas de Barroso e, depois, de Santana ou de outro do PS. Todavia, a reeleição de Cavaco não "abriu" nenhum "ciclo político" novo como Portas veio a correr sugerir na noite do passado domingo. Nem tão pouco despertou em Passos Coelho quaisquer pressas apesar de já estar aberta a "montra de vaidades" ministeriáveis. E, depois, Portas é a pessoa menos indicada (parece um "sempre em pé" da "direita", há mais tempo no activo partidário do que Jerónimo de Sousa ou Louçã) para vir falar em "novo ciclo" precisamente por ser o mais velho em exercício em vários "ciclos". Como bastas vezes aqui escrevi, Sócrates tem todas as condições políticas internas (o resto ninguém sabe) para terminar a "sua" legislatura. Alguém da "direita", no seu perfeito estado mental, está interessado em pegar nisto agora ou a curto prazo, com mais ou menos "movimentos"? Julgo que não.

UM OTELISTA À DEFESA


«Se há cargo que suscita vocações em Portugal, esse cargo é o de Presidente da República. Não é só o cargo que mais estabilidade oferece ao seu titular – dez anos é a média e a norma – mas ainda é aquele que recompensa o simples aspirante, desde que se anuncie como candidato independente, ou simplesmente se apresente. O almirante Pinheiro de Azevedo estava numa cama de hospital em 1976 quando recolheu 14% dos votos, quase tantos como Otelo, que atingiu 16%, e na altura estava activíssimo e era apoiado pela fina flor dos intelectuais críticos do sistema nascituro.» Medeiros Ferreira lembra bem esta "otelice", uma "doença infantil" que atacou muita gente hoje patroa da chamada "esquerda democrática". Como Santos Silva, o actual ministro da defesa e adepto do terrorismo verbal como método político. Silva desculpa-se no Expresso, em relação aos impropérios que lançou contra o PR - quando afirmou que o Chefe de Estado não se deve meter onde não é chamado - com um "estava a pensar em... Ramalho Eanes". O mesmo Eanes que derrotou o "seu" Otelo em 1976 e, de novo, em 80. Silva só à superfície deixou de ser MES e "otelista". É caso para perguntar se a sua presença na Avenida da Ilha da Madeira não constituirá um erro de casting. Mesmo de rastos, as Forças Armadas mereciam melhor do que isto.

Adenda: Extrordinário exercício de hipocrisia política que só mesmo um antigo quadro do MES (frio e não lamechas como Sampaio) poderia perpetrar sem se rir.

28.1.11

PORTUGAL


Ou Albacora. Vai dar ao mesmo.

O ÓBITO


O "mundo" ficcionado nos livros de Durrell está definitivamente morto. Já estava, evidentemente, mas agora certifica-se, de forma espectacular, o óbito.

O POLTRÃO MICAELENSE


Sócrates e os "seus", entre os quais o pequenino César dos Açores, perpetraram uma enorme peixeirada aquando das verbas madeirenses. Procuraram "virar" o país todo contra a Madeira até à catástrofe de há um ano atrás. Agora, o mesmo Sócrates - quando o sobazito micaelense decide, com a complacência do Bloco, do PC e do CDS locais, infringir normas nacionais sobre cortes nos salários públicos - acha "mal" mas, em nome da autonomia (a Madeira é "diferente"), façam favor de gozar à vontade com os restantes papalvos. Incluindo ele que nem sequer César poupou nas tradicionais alarvidades com que aprecia brindar-nos de vez em quando. Poltrão*.

*pusilânime(s): os dois

DA PERDA


«O dr. Cavaco perdeu», escreve com solenidade Vasco Pulido Valente, quiçá inspirado num híbrido de Mário Crespo com São José Almeida e um tal Paulo Moura (quem será?) do mesmo Público que pergunta por que é que o dito Cavaco foi "vingativo" na noite em que, pelos vistos, perdeu. Por este andar, estamos lamentavelmente não a perder o dr. Cavaco mas a "perder" o Vasco Pulido Valente para a doxa onde meio comentarismo nacional se encontra acantonado. Como ele escreveu um dia, talvez esteja na hora não de rever o dr. Cavaco mas de o rever a si, Vasco. De V. se rever.

NÃO SE ENXERGAM?


Decorre um inútil debate parlamentar com o 1º ministro. Parece que é sobre economia e propaganda, propaganda e economia. Porém, para quê papaguear acerca da economia (que está bem morta e enterrada entre nós) quando o presidente da TAP ganha o dobro ou o triplo do presidente do EUA/ano e há 600 mil desempregados? Julgo que estas duas evidências resumem perfeitamente o estado da arte e poupa na demagogia. Depois, com a lata típica da insignificância, o ministro Silva Pereira e o duplo do outro, numa entrevista, "conta" com a "responsabilidade do PR". Esta gente não tem espelhos em casa ou criancinhas a quem limpar o ranho? Ele julga que está a falar com quem ou para quem? Não se enxergam?

A RECOLHA DO LIXO


«Os comentários dos dias seguintes também permitem confirmar que Cavaco Silva continuará a contar com a antipatia dos media durante o segundo mandato. A crítica aos seus discursos da noite — que foram de vitória eleitoral de candidato, não de presidente em exercício, nem de posse — contrasta com a simpatia com os candidatos derrotados, apresentados como vitoriosos: Nobre, Lopes e Coelho. A promoção deste ainda mal começou, pois a TV gosta do estilo e das traulitadas do madeirense. Defensor Moura foi, dos pequenos, o único sem a simpatia dos media, porque a sua campanha foi demasiado mesquinha para atrair os próprios anticavaquistas. Manuel Alegre terminou como começou: irrelevantemente. Os três canais desprezaram olimpicamente a sua declaração de derrota, preferindo a publicidade, o que é inaceitável enquanto serviço ao público e provimento de igualdade de circunstâncias a todos os candidatos. A candidatura de Alegre foi incompetente na escolha do momento da declaração (um dos canais já estava em intervalo há minutos), mas os canais deveriam ter interrompido os intervalos. A televisão, fanática do directo, falhou um dos mais importantes da noite.»


Eduardo Cintra Torres, Público

27.1.11

A ILHA CESARISTA

Marques Mendes denunciou na tvi24 mais umas "tiradas" cesaristas nos Açores. Autarquias e outras entidades públicas (empresas) ficam fora dos cortes salariais no Estado decretados a nível nacional. No primeiro caso, trata-se de um diploma regional que se preparam para aprovar apenas com a oposição do PSD. Para além de inconstitucional, a coisa é amoral. Mas de um Carlos César e respectivos acólitos localistas o que é que se pode esperar?

MISTURAS

Aquelas massas do SOS parece que se deslocaram hoje até Fátima. Simultaneamente fecharam escolas. Misturar a fé com um acto certamente ilegítimo e porventura ilícito não ajuda um átomo a causa.

A ESTACA

Gilberto Madail, ao arrepio do que tinha pensado (?) fazer, deverá recandidatar-se à federação da bola. Madail é um bom exemplo daquilo que é o pessoal do regime. Uma estaca em busca da mumificação em vida.

CIDADÃOS COM ELEVADO TEOR MORAL


Corre aí um processo mediático que está a criar um novo conceito "sociológico", o do "cidadão com elevado teor moral". Para adquirir esta qualidade, basta que dois ou três ex-ministros e um ex-PR atestem a coisa. Como a maioria dos cidadãos não tem acesso a ex-ministros e, muito menos, a ex-PR's, o país está aparentemente infestado por cidadãos de baixíssimo teor moral incapazes de aceitar, sei lá, um relógio, uma baixela de prata, uma caneta não bic ou uma caixa de vinhos antigos (ou de robalos congelados) porque ninguém se revê neles como "exemplo".

OS MORTOS SÃO A ARMA DO VOTO


«O Correio da Manhã é um grande desmancha-prazeres. Andavam já por aí uns tantos crânios de caneta em punho a dissertar sobre os altíssimos valores da abstenção e eis que o jornal revela que, afinal, há um milhão e duzentos e cinquenta mil mortos e emigrantes nos cadernos eleitorais. Feitas as contas, a abstenção nas eleições de domingo andou por volta dos 46 por cento, um valor perfeitamente razoável nos tempos que correm. Ainda por cima, por obra e graça do Governo do senhor engenheiro relativo, milhares e milhares de indígenas foram impedidos de votar nestas presidenciais. Algo normal num País indigente e falido que adora fazer figura de rico e desenvolvido. Pois é, queridos intelectuais, analistas e comentadores. Que grande maçada. Maldita realidade.»


O TEMPO O DIRÁ

«O fundamental da nossa situação já está fora do controlo dos nossos governantes, dependendo agora sobretudo do modo como se desenrolar nas próximas semanas o impasse europeu. Por cá, gere-se o poder e a margem de manobra - é o que resta. Sócrates vê a sua diminuir, e vai ter de recorrer a todo o seu reconhecido tacticismo para resistir. O calendário é o melhor aliado dos tacticistas, mas o tempo pode ser o seu maior adversário. Convocar um congresso é natural, mas sem alterações de fundo de pouco servirá. António Vitorino pressentiu-o, nas declarações que fez no último fim-de-semana, ao clamar por debate no PS. Mário Soares também já o pediu. E com razão, porque há muito que o PS não vivia um deserto de ideias tão sideral, a exigir muito mais do que aqueles debates com teleponto que pretendiam descobrir "novas fronteiras"... De momento, só uma ampla e exigente remodelação do Governo, com alteração da sua própria estrutura e um credível relançamento programático, lhe poderá dar um novo élan. Até porque, entretanto, o Presidente da República pode descobrir que o verdadeiro calcanhar de Aquiles da situação portuguesa está, mais do que na pressão dos mercados, na débil fórmula governamental minoritária que se instalou num momento de generalizada impudência. O tempo o dirá.»


SOPHIA


A partir de agora, o espólio de Sophia de Mello Breyner está na Biblioteca Nacional. E entre hoje e amanhã decorre na Gulbenkian o "COLÓQUIO INTERNACIONAL SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN", promovido por Maria Andresen de Sousa Tavares e realizado com a colaboração do Centro Nacional de Cultura. Tardava este reconhecimento a uma grande poeta portuguesa contemporânea.

26.1.11

PESSOAS ERRADAS


A nossa "diplomacia" tem demonstrado ultimamente uma extraordinária propensão pelas pessoas erradas. Foi assim no "affair secretário-geral da UNESCO" - onde o governo português obrigou ao voto num egípcio apreciador da queima de livros -, é assim, quase como doentia obsessão, com "democratas" como Chávez ou Kadafi. Calhou agora a vez a este estranho israelita que acumula o cargo de vice-1º ministro com o de MNE do governo de Benjamin Netanyahu. Gama, Sócrates e Amado recebem o sr. Lieberman o qual, aparentemente, defende «a redefinição das fronteiras da Cisjordânia, por troca de terrenos, e a expulsão de todos os cidadãos israelitas árabes que não assinem um compromisso de lealdade em relação a Israel.» Outro "democrata", sem dúvida.

VENTRÍLOQUISMO


O clone falou pelo clonado. Dá ideia que ambos - e mais uns quantos pseudo-espertos - entendem (e entendem mesmo) que a legitimidade política tem exclusivos e donos (eles). Sampaio foi reeleito com menos 600 mil votos em 2001 mas, como é da "casa", isso não interessa nada e até "deu" para dissolver um parlamento com uma maioria. E se alguém, a seguir às eleições legislativas de 2009, tivesse começado a diminuir a legitimidade do clonado para formar governo porque deixou de ter maioria absoluta? O que dói a esta gente é óbvio. O PR tem uma legitimidade política democrática unipessoal que lhe permite falar por cima deles e directamente com o "povo" - com mais ou menos votos porque o PR não é "relativo" nem "minoritário". E saberem que vai mesmo falar.

MODO DE VIDA


«A base bloquista de Alegre, seja a velha, seja a educada bovinamente pela velha, nunca se reviu na democracia burguesa. De burgueses só têm o modo de vida.»


O REGRESSO DO PROCESSO DA CASA DOS ESPELHOS


O sr. Carlos Silvino (sempre tratado pelos media como uma coisa chamada "bibi" enquanto os outros eram "senhores" e "doutores"), condenado em 1ª instância no "processo Casa Pia", veio agora refutar tudo o que tinha dito anteriormente e inocentar, pedindo-lhes desculpa, outros condenados. O processo está na Relação de Lisboa para apreciação dos recursos entretanto interpostos. Um senhor juiz desembargador dessa mesma Relação, conhecido opinador nacional, o dr. Reis, já "opinou" quando deveria, por tudo, estar calado. As defesas (algumas) pronunciaram-se e a fatal dra. Catalina também. Em Setembro - aquando daquela infelicidade para a justiça portuguesa que foi a penosa leitura e a consequente disponibilização do acórdão da Expo - escrevi que duvidava que alguma vez se escrevesse a verdadeira história do processo Casa Pia (sem aspas). Tal como duvidava (e duvido) que a pedofilia desaparecesse por obra e graça de autos tão cheios de sombra como de papel. O sr. Silvino, entre muitos outros respeitáveis protagonistas e proto-protagonistas, acabou de dar luz à sua sombra. O que é que se segue?

COSMOPOLITISMO E PAROQUIALISMO


Convém estar atento à "Europa", à "Europa" do euro e da sra. Merkel. Continuar a olhar para o umbigo e para os diabos internos das pequenas coisas é pura perda de tempo e acto de esmerada estupidez. Depois de quase uma hora de inútil galhofa e de apreciações a roçar o ridículo - apenas se safou, uma vez mais, a moderadora Constança Cunha e Sá -, Medeiros Ferreira, no serão político da tvi24, lá conseguiu introduzir vagamente o tema crucial perante a indiferença dos outros (Rosas e Santana Lopes) que não descolavam dos portugalórios de cada um. Mas, insisto, é de fora para dentro que as coisas se vão decidir. Os nossos figurantes, dos melhores aos piores, podem pouco perante uma realidade do deve e haver que nos ultrapassa. E a "Europa" e essa realidade começam já aqui ao lado, em Espanha. Mais cosmopolitismo político e menos paroquialismo dava agora muito jeito.

O PEDIDO DE UMA CABEÇA


Alguns inocentes pediram a cabeça do dr. Rui Pereira, o MAI, enquanto ele pedia desculpas. O dr. Pereira já mandou no SIS e é maçon. Nem sequer importa se é do PS. Há cabeças que, por natureza, não devem ser reclamadas.

25.1.11

POBRES ESQUIZOFRÉNICOS


Quem aterrasse em Portugal nas últimas 48 horas e visse as televisões, ouvisse as rádios e lesse os jornais poderia pensar que Cavaco Silva não foi reeleito Presidente da República. Pobres esquizofrénicos, estes opinion makers sorteados na farinha Amparo.

NOTÍCIAS DO KIM-IL-SUNGUISTÃO


O PS vai "eleger" o seu secretário-geral no final de Março. Depois, em Abril, haverá um congresso onde o referido secretário-geral será entronizado a profusamente aplaudido de pé. O candidato ao cargo, para grande surpresa do país e arredores, é Sócrates. Aprende-se muito com os queridos líderes.

A SONSA


Muito bem apanhada, a sonsa. De qualquer forma, manifestações com caixões é coisa de um mau gosto inexcedível e inqualificável. Se aquilo são católicos, valha-me Deus.

EANES, SOLENIDADE E RISCO


O Presidente Ramalho Eanes completa hoje mais um aniversário. Daqui lhe envio um fraterno, leal e amigo abraço de parabéns. Eanes é para algumas pessoas da minha geração o exemplo do patriota não patrioteiro, do homem e do militar decente, austero e firme, sem nunca deixar de ser afectivo, corajoso, moral e fisicamente, de alguém que sempre deu mais ao país sem nunca esperar que o país lhe devolvesse o que quer que fosse a título de gratidão ou de prebenda. Não se exibe. Está quando as suas qualidades cívicas e a sua consciência requerem que esteja. Foi contra ele que os maiores partidos do regime "cozinharam" os parcos poderes presidenciais que estão presentemente na Constituição dos quais já só falta retirar o poder do povo soberano eleger, de forma directa e universal, o Chefe do Estado. Eanes não criou em torno de si uma hagiografia patética nem se armou em "pai da pátria" quando teve todas as condições para o fazer entre 1976 e 1983 - detinha poder político e militar. Errou ao fomentar um partido político que seria sempre menor (e servido por gente menor) do que ele. Em 1976, aquando da campanha que o elegeu livremente como o primeiro PR após o "25 de Abril", Sophia de Mello Breyner acompanhou-o numa acção nos Açores. Quando chegaram a São Miguel, tinham à espera uma meia dúzia de provocadores separatistas. Sophia contou num jornal que a impressionou a coragem com que Eanes avançou sozinho em direcção aos ditos cujos e lhes lançou, calando-os: "quem vos pagou?" E escreveu que Portugal precisava de alguém como Eanes para viver a liberdade com coragem e austeridade. Alguém que, como diz nuns versos seus, ponha em cada gesto "solenidade e risco".

SOARES, O MAGNÂNIMO


O fim do silêncio de Mário Soares acerca das presidenciais ou de como mais valia ter continuado silencioso. Também ele - logo ele cuja "magnanimidade" para com os adversários e inimigos é bem conhecida quando é preciso "ir à luta" - fala de um Cavaco rancoroso no momento da vitória. Mas, com o devido respeito, aquilo não era nem o local nem o momento para retóricas institucionais ou para bravatas salvíficas da pátria. O PR tem já daqui a um mês e meio, no discurso da tomada de posse na "casa da democracia" de que o dr. Soares tanto gosta, ocasião para explicar ao que vem no contexto actual do país. É só prestar atenção.

24.1.11

CONTRIBUTO PARA O PRACE

Ainda não foi extinta?

OPPENHEIM

Como escreve a Lourdes Féria, «tinha uma cabeça, no sentido literal, magnífica».

O "FENÓMENO DO ENTRONCAMENTO"


Nestas eleições houve um "fenómeno" que provocou delírios em pessoas aparentemente circunspectas e que costumam exibir uma coisa parecida com uma cabeça em cima dos ombros. Alguns comentadores e jornalistas forneceram o indispensável gás ao "fenómeno" da mesma forma que o fariam a um mini-tornado ou a uma abóbora gigante. Ainda hoje não conseguiram serenar. O "fenómeno" chama-se Coelho e é da Madeira. Alcançou quase 190 mil votos. É um sintoma de que há qualquer coisa de profundamente idiótico, mesmo na vertente apalhaçada, na sociedade portuguesa. O homem acabará fatalmente capturado pelo "sistema" como um vulgar concorrente do Big Brother. E, à semelhança deles, desaparecerá.

CAVACO E OS FARISEUS

Vi e ouvi alguns comentadores a criticarem Cavaco por não ter sido "magnânimo" no discurso de vitória. O exilado e ex-campeão nacional virtual da luta contra a corrupção (em Londres, no BERD), João Cravinho, chegou mesmo a falar em ressabiamento. Estes fariseus, na sua maioria agnósticos e ateus, esquecem-se que Deus nos manda ser bons mas jamais parvos. Também fizeram ampla menção de que o PR "perdeu" 500 mil votos em relação a 2006. Sucede que esses 500 mil votos não alteraram o resultado final: Cavaco ganhou absolutamente como ganharia se tivesse apenas um voto a mais. Já os mesmos 500 mil a menos fizeram muito diferença nas legislativas de 2009. Foi a diferença entre uma maioria absoluta no parlamento e isto que agora temos.

Adenda: Depois há "casos" como este, de pura canalhice, de quem não esqueceu nem aprendeu coisa alguma. No fundo, de quem nunca foi democrata alimentando-se da democracia.
Adenda: Filipe Nunes Vicente veio, num comentário, chamar a atenção para o que terá dito o "meu" bispo Torgal, o das forças armadas. Esclareço que para mim, católico, apostólico, romano, parte da igreja portuguesa (a que inclui esse bispo e D. José Policarpo, por exemplo) não representa a Igreja (comunidade de leigos e de eclesiásticos) portuguesa. São meros opinadores que, por coincidência, foram ordenados e mandam de acordo com uma determinada hierarquia. Podiam perfeitamente ser canalizadores ou bibliotecários. Aliás, basta atentar em quem se louva na opinião dele.

A "ESTABILIDADE"


O secretário-geral do PS e 1º ministro declarou que, ao escolherem Cavaco, os portugueses optaram pela estabilidade. Referia-se à reeleição previsível de incumbentes mas estava, naturalmente, a pensar nele próprio. De caminho, remeteu Alegre para o seu livrinho preferido de mesinha de cabeceira, o do riso e do esquecimento, como se aquele nunca tivesse existido como "seu" candidato. Por outro lado, Passos Coelho mostrou (e bem) não ter pressa. Sócrates passa a vida a dizer que só ele está à altura da gravidade do mal. Muito bem. É deixá-lo continuar a gerir o mal até ser finalmente engolido por ele.

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

A vitória de Cavaco nos Açores foi particularmente saborosa (aliás, venceu em todos os distritos do país). Aquela caricata figura cesarista devia ter vindo a público pelo menos para se solidarizar com Alegre. Repelente carácter, de facto. Pena que Medeiros Ferreira, nesta matéria, também pertença ao clã anestesista e não aponte a César o que é de César.

23.1.11

OS QUE NÃO CRESCEM

Apesar do barulho à volta, no CCB, consegui perceber qualquer coisa do que estavam a dizer Manuel Maria Carrilho e Pedro Santana Lopes na tvi. Enquanto o primeiro sublinhava a pesada derrota de Manuel Alegre, Santana Lopes parecia mais interessado em apoucar a vitória de Cavaco à semelhança destes incansáveis serventuários (e como a D. São Almeida, do Público, estava agora a fazer na tvi24, manifestamente anacrónica e tola pois dá ideia que não passou dos idos de 70 em que a moda era somar o não somável das esquerdas: a miséria da votação em Alegre não lhe ensinou nada?). A política dá muitas voltas mas, por este andar, Lopes dificilmente chegará às "primárias" da "direita" daqui a cinco anos ou, então, quer lá chegar como o Manuel Alegre delas. Como me dizia Pedro Roseta, às vezes parece que não cresceu.

CAVACO, UM OUTRO MANDATO


Há cinco anos escrevia aqui que numa eleição presidencial perde-se ou ganha-se absolutamente. Cavaco ganhou absolutamente graças aos portugueses que foram (e puderam) votar. Todos os outros cinco perderam absolutamente. Bem como as patrulhas anestesistas do comentarismo nacional com uma ou duas raríssimas excepções.

A "OBRA"

Se esta noite houver um vencedor, este tem a estrita obrigação de exigir consequências políticas relativamente ao que sucedeu com o acto eleitoral "graças" à "obra" informática do governo. E a CNE deve ser toda sumariamente varrida.

NOITE DOS POLTRÕES

Os anestesistas já estão em funções na sicn através de Adelino Maltez e do famoso historiador mundial Costa Pinto. É um teaser para os que virão a seguir neste e noutros canais. Será que alguns vão "reparar" ou, sequer, mencionar o episódio do cartãozinho?

O C.U. DE ANTÓNIO COSTA

O "cartão único", uma invenção desse soba comentadeiro que dá pelo nome de António Costa, está a provocar coisas como as que conta o leitor Manoel Barbosa:

«Porque o seu blog é bastante lido, talvez esteja interessado (obviamente depois de se informar convenientemente), em alertar as pessoas para o facto de muitos eleitores não poderem votar, dadas as alterações de números, e, se "recambiadas" para informação sms, telefone ou internet, não lhes estar a ser facultada qualquer informação !... Hoje, à minha frente, e porque "recambiadas" pela mesa identificadora dos eleitores, três pessoas desistiram. Dada a profusão de canalhices, nada nem ninguém me impede de presumir que pode tratar-se de um entrave para aumentar a abstenção...»

Pacheco Pereira - que logo lá deve estar a doutrinar a pátria ao lado daquele cacique autor político do "cartão único" quando era ministro de Sócrates com cem pastas -, bem que o podia confrontar com as suas próprias dúvidas em vez de andar tão preocupado com petições que ele apelida de "populistas".

Adenda: Miserável é o mínimo com que se pode classificar a prestação de Nuno Godinho de Matos, da CNE. Tudo digno de um país latino-americano ou de uma ditadura africana mais primitiva e rasca. Um país onde o 1º ministro, porém, vai votar de carro eléctrico.

ISTO AQUI

Os boicotes eleitorais que as televisões têm noticiado não são tão graves (na sua maioria, meramente risíveis) como o "boicote" do sr. porta-voz da CNE que acha a abstenção um comportamento eleitoral "normal". É evidente que as pessoas têm o direito a deixar a decisão democrática para os outros e ir tratar das suas vidinhas. Mas um tipo que foi deputado reformador em 1979 - o dito da CNE, Nuno Godinho de Matos, agora ilustre causídico em processos mediáticos - tinha a estrita obrigação de ser um bocadinho melhor do que um frequentador de café na Buraca, legitimamente e em abstracto "revoltado" com o mundo visto justamente a partir da Buraca. Por volta do meio-dia, para alegria dos poltrões que logo vão aparecer nas televisões a dar razão a si próprios, a abstenção rondava os 86%. Até os tunisinos conseguem ser mais "ocidentalizados" do que isto aqui.

22.1.11

OS FANTASMAS


Lá como cá, a cultura está na mão de pusilânimes. E de meia dúzia de tipos que não conseguem libertar-se de fantasmas.

VOTAR CONTRA OS NOVOS ANESTESISTAS

Ao arrepio dos desejos do "clube dos amigos da abstenção", solenemente representado por muitos jornalistas e comentadores (hoje também é dia de "reflectir" sobre esta gente), parece que os "tempos de antena" (não assisti a um) foram vistos. Escreve Cintra Torres no Público que «os tempos de antena das 19h00 entre 9 e 19 de Janeiro nos três canais reuniram em conjunto entre 1,6 milhões e dois milhões de espectadores (de 17,2% a 21,3% de rating) e, «assim considerados, os tempos de antena foram sempre o programa mais visto do dia.» Mais. «Considerando ainda as audiências dos noticiários, sempre no top diário dos generalistas, todos com um segmento diário importante dedicado à campanha, pode dizer-se que milhões de espectadores contactaram com a campanha eleitoral pela televisão. O contacto com a política estende-se aos outros media, como a rádio, a imprensa e a internet. Deste modo, são exagerados os comentários de diversos comentadores sobre o desinteresse dos eleitores. Podem abster-se, mas acompanham.» Votar é simultaneamente um direito e um dever. Mas nunca ocorreu a esses comentadores recordar publicamente a evidência porque a "agenda" deles não passa pelo "povo" sempre mais adulto do que eles. O "espírito" da defunta "5ª Divisão" do defunto MFA, conforme lembrou a Helena Matos, passou para esta casta dita democrática que bota sentença diária. No fundo, estes são os novos anestesistas com vocação para clínicos gerais em regime de dedicação exclusiva. Votar amanhã é, também, derrotar o "espírito" anti-democrático destes "donos" da opinião nacional.

ENQUANTO O SISTEMA PETRIFICA

«O Correio da Manhã lançou uma petição online intitulada “Enriquecimento ilícito é crime”, que assinei na primeira oportunidade. Em poucos dias, a petição reuniu mais de 16 mil subscritores. Alguns políticos e comentadores (por vezes confundem-se), ouvindo falar na petição, disseram de imediato tratar-se de uma iniciativa “populista” e “demagógica”. Não é nada. O texto é cristalino, escorreito, claro, factual: propõe a punição com pena de prisão até cinco anos de qualquer político que, no exercício das suas funções ou nos três anos seguintes, adquira, “por si ou por interposta pessoa, quaisquer bens cujo valor esteja em manifesta desproporção com o seu rendimento declarado” e que não faça prova da sua proveniência lícita. É interessante que a iniciativa parta de um diário. Há um século, os jornais dedicavam-se a causas; entretanto, esse empenho passou para partidos e associações políticas; a imprensa tornou-se um pouco blasée nessa matéria. Proporcionou-se ao CM lançar esta causa porque, até agora, o sistema político resistiu a legislar eficientemente contra a corrupção, a deixar-se escrutinar e a criar mecanismos razoáveis para impedir a corrupção no seu seio. O jornal substituiu-se aos partidos políticos incapazes ou adversários da sua própria auto-regulação e tomou lugar na sociedade civil a que pertence. É um sinal dos tempos. Cresce a participação da sociedade civil na área política. Se os partidos não politicam como a sociedade quer, jornais e sites (como a Wikileaks) entram em acção, organizando esporadicamente os cidadãos. A sociedade em rede metamorfoseia-se a todo o instante, enquanto o sistema petrifica.»

Eduardo Cintra Torres, Público

OS ESTADOS DE ALMA E A REALIDADE

Para não ferir a lei, digamos que regressei do final da campanha do candidato Y a tempo de olhar para a televisão antes da fatal meia-noite. Estava ligada na tvi24 e falava a Constança Cunha e Sá. Do que pude ver nestas últimas semanas, poucos foram os jornalistas e comentadores que não apareceram a, directa ou indirectamente, apelar à abstenção. Munidos do respectivo frasquinho de veneno (consoante fosse maior ou menor o ódio ao candidato Y e a natureza dele: política, pessoal ou de classe, a mais vulgar à "esquerda"), esses jornalistas e comentadores limitaram-se, nas palavras de um leitor, a transformar os seus estados de alma em "realidade" uma vez que as campanhas são feitas para os eleitores ou para certos grupos de eleitores, mas certamente não são feitas para as masturbações elocutórias do comentarismo publicável. Na mesma tvi24, o resumo a que assisti da prestação de dois comentadores residentes que estimo (Santana Lopes e M. M. Carrilho), acabava justamente por se tornar em mais um acto sofisticado de defesa da abstenção do que uma "reflexão" acerca da campanha, sempre com o candidato Y na mira "técnica". É neste contexto de infelicidades que o trabalho diário executado por Constança Cunha e Sá merece louvor. Bem como o artigo que passo a citar, substituindo o nome dos candidatos pelas letras X e Y para ninguém se queixar à CNE.

«Enquanto as sondagens variam entre os mais improváveis resultados, multiplicam-se as almas que apelam à abstenção nas eleições presidenciais. Porque os candidatos não prestam; porque a campanha foi pobre, caricata e falha de ideias; porque o papel do Presidente é irrelevante; porque o regime tem os dias contados – embora se possa dizer que há anos que nos anunciam que o regime tem os dias contados; porque, enfim, qualquer pretexto serve para se exibir uma hipotética superioridade intelectual. Dando de barato que o dia-a-dia desta campanha não foi propriamente dos mais recomendáveis e que ouvir candidatos a sugerir que podem levar um tiro na cabeça ou que a democracia – essa frágil violeta adquirida à custa de muitos sacrifícios e lágrimas – está em perigo, a um passo de ser "mutilada" pela tenebrosa direita, não convida a grandes entusiasmos, convém perceber que, tendo em conta os anos que nos esperam, o próximo Presidente da República não será propriamente "o verbo de encher" em que o querem transformar. Não só as circunstâncias exigem um mandato mais activo, como as dificuldades com que se depara o país fazem com que Belém se transforme num centro decisivo de influência e poder. Sem ir ao ponto de antever um "novo ciclo" – uma antecipação recorrente que dá invariavelmente em nada – limito-me a registar um pequeno pormenor que, para uns tantos, parece ser irrelevante: em plena crise económica, financeira, social e política não é indiferente ter X ou Y na Presidência da República. Aparentemente, esta singular evidência não tem sido fácil de engolir. Principalmente, pela direita, como não podia deixar de ser. Mais do que ser detestado pela esquerda, Y é tolerado pela direita. Uma direita que sempre o viu como um intruso, que não lhe perdoa as origens, que se envergonha do seu "provincianismo" e da sua proverbial "falta de cultura". A direita ou, para ser mais precisa, uma certa direita, que na sua insignificância tem como grande ambição ser reconhecida pela esquerda, faz questão de manter as distâncias em relação a um candidato que, mesmo sem o seu voto, foi o único que lhe deu duas maiorias absolutas e a Presidência da República. Três vitórias que esta gente, coitada, nunca conseguiu compreender.»

REFLEXÕES

«O chamado "dia de reflexão" antes da realização de qualquer acto eleitoral não pode ser entendido como um convite a uma espécie de luto espiritual, qual sexta-feira santa em termos cívicos. É impossível evacuar por decreto toda a carga da agenda política em vigor. Vamos então aproveitar este sábado para reflectir sobre algumas características das campanhas presidenciais. Em primeiro lugar, são campanhas essencialmente personalizadas, sem programa, assentes no carácter e demais qualidades do pretendente a titular de um órgão de soberania uni-pessoal, eleito por voto livre, universal e directo dos cidadãos desde há 35 anos. A estabilidade deste órgão de soberania atesta a bondade do processo: todos os presidentes assim eleitos cumpriram os seus mandatos, contrariamente aos presidentes da República eleitos pelo Congresso. Basta recordar que só António José de Almeida o completou para se perceber o mérito da eleição directa do PR. Não é só uma questão de competências, é também uma questão de independência do jogo parlamentar. Em segundo lugar, as eleições presidenciais são tratadas com filtros diversos pelos partidos. Já serviram por vezes para uma espécie de "Adeus português" aos candidatos. Se por um lado estas eleições servem aos candidatos para se emanciparem dos seus partidos de origem, por outro também permitem aos partidos desembaraçarem-se de certos líderes e reorganizarem-se à volta de outras hierarquias e de outros grupos de interesse. Em terceiro lugar, com a excepção da eleição de 1976, as campanhas presidenciais desenrolam-se em pleno Inverno, o que não deixa de ter as suas consequências, nomeadamente na mobilização que provocam, e no possível estímulo climático à abstenção. Acresce que a própria quadra natalícia interrompe o ritmo político da campanha, introduz as institucionais mensagens de Natal e de Ano Novo, que podem confundir os planos e os discursos. Mais, vistas as imagens do estrangeiro, hão-de pensar que Portugal é um país de sobretudos e cachecóis… Ora este mau calendário das presidenciais deveria ser corrigido pelo próximo PR, já que é este que marca o dia das eleições para o cargo. Porque não experimentar um período mais primaveril? Por exemplo, o feriado do 25 de Abril. Seria uma maneira de assegurar maior aquecimento nas campanhas, além de mudar a forma de comemoração da data de cinco em cinco anos.»

José Medeiros Ferreira, CM

O DIA




Uma das coisas boas do dia idiota da "reflexão" é não ter de ouvir ou ler comentadeiros. Só voltam amanhã, em pelotões diversos, para "cenários" a partir das 20 horas.

21.1.11

A "VITÓRIA DA CIDADANIA"

O mais supreendente (ou talvez não) nas sondagens todas é o somatório dos pseudo-candidatos a Belém, do mais profissionalizado (Lopes) ao ridículo Coelho que tantos suspiros provoca em pessoas que tomava por inteligentes ou quase (Raúl Vaz, comentador da antena 1, por exemplo, até falava nas suas "propostas", sic). Dizem que é uma "vitória da cidadania", sobretudo aquele absurdo Nobre que imagina ter uma cabeça onde alguém poderia dar um tiro. Ao ponto a que chegámos, até eu, que sou presidencialista, começo a inclinar-me para a vantagem de mandatos presidenciais únicos mais alargados (7 anos) a manter-se a actual constituição. Aliás, é curioso (e triste) ler comentadores como Vasco Pulido Valente que, depois de terem contribuído para a elaboração de tantos discursos presidenciais quando o PR tinha competências directas sobre o governo - antes da revisão ad hominem de 1982/83 - vêm agora falar em "poderes ditatoriais". Então VPV já está esquecido dos tempos em que (tantas vezes bem) Eanes não poupava os governos nos discursos do 25 de Abril que ele ajudou a escrever entre 1976 e 1978? Por que é que o governo não pode ter dupla dependência política, da AR e do PR, sendo ambos órgãos de eleição directa e universal? Enfim, felizmente isto está a acabar. Julgo que, apesar de tudo, os eleitores percebem que apenas um candidato se candidata seriamente ao cargo que já ocupa. A "vitória da cidadania" é só e exclusivamente votar nele.

20.1.11

MITOMANIA

Criou-se o mito, nesta campanha (em parte real mas isso decorre da bovinidade geral em vigor), da pior das campanhas destes 36 anos. Mas alguém se lembra da campanha presidencial de 2001 onde Sampaio foi reeleito? Foi assim tão gloriosa e "temática"? Puxem lá pelo bestunto.

DA CRETINICE

Um cretino simples.

O PASSADO


Quando cheguei a casa, na televisão, estava o bardo Alegre a "descer o Chiado". O pior da coisa nem sequer era ele mas o incrível friso na frente da "descida". De braço dado, não fossem cair, e da esquerda para a direita na tv, via-se Garcia Pereira (o matusalém do MRPP), Helena Roseta (com um sorriso idiota e um barrete soixante-huitard na cabeça), António Costa (pareceu-me detectar uma rosa ou um cravinho vermelho na lapela e um carão realista de quem se pergunta "o que é que estou aqui a fazer nesta ante-câmara da desgraça"), o vetusto Almeida Santos, o bardo propriamente dito, o pequenino César açoriano e o evangelista Louçã. Até as extintas "irmãs Meireles" teriam feito melhor figura.

E É SUFICIENTE

«Não, não lê Gide nem Mann, mas nunca se se fotografou com lombadas de livros. Os meus gostos pessoais não contam. Mais: nenhum gosto conta nestas andanças.Voto CS porque é previsível na sua acção política e sei que sabe o que nos espera. E é suficiente.»

O DISPENSÁVEL ABSTENCIONISTA


Como é que o país sobrevive sem este voto?

OS DADOS ESTÃO LANÇADOS


«Cavaco Silva partiu favorito, como é tradição com os candidatos em função. O seu mandato, frágil nas suas controversas opções fundamentais, podia e devia ter sido muito debatido, mas não o foi. Preferiu-se uma campanha muito ad hominem, com momentos penosos que, como frequentemente acontece, em boa medida se viraram contra os seus autores. E que acabou por dar a Cavaco Silva uma vitalidade de que ele não tinha dado sinais até então. Quanto à confiança, Cavaco Silva optou pela tecla do conhecimento que os portugueses têm dele há trinta anos - e o tempo é sempre, nestas coisas, um benevolente indutor de empatia. Quanto ao projecto, embora nada tenha sido dito que pudesse ser visto como uma resposta à grave situação do País, algo foi todavia emergindo implicitamente da multiplicação de estudadas pequenas frases, ora prometendo um mandato mais activo, ora propondo inovações administrativas (o ministério do mar), ora fazendo calculadas alusões a grupos profissionais atingidos pelas medidas do Governo (funcionários públicos, professores, agricultores, etc.), ora antecipando futuras crises, etc. (...) Diz-se, e bem, que a eleição presidencial é o encontro de um homem e de um povo. Mas esse encontro precisa de uma visão magnetizadora, que tem de ser singular, que colar ao candidato, mostrando uma autêntica autonomia em relação às ideias e aos interesses dos partidos que o apoiem. O acolhimento no (...) discurso [de Manuel Alegre] de tópicos com uma forte marca partidária, nuns casos do PS noutros do BE - ainda por cima frequentemente contraditórios entre si -, acabou por dar a ideia de uma candidatura oscilante, ora mais instrumental ora mais pessoal. Os dados estão lançados.»



«Cinco anos depois, embora com troca de papéis e até com novas alianças, as presidenciais voltam a demonstrar como as forças de esquerda desistiram de fazer delas um momento axial da sua estratégia de defesa dos cidadãos, do regime democrático, e de fomento de uma possível federação para o progresso de Portugal no Mundo… De certa maneira a esquerda refugia-se na Assembleia da República e desiste de disputar o cargo de Presidente da República. A lógica situacionista dos aparelhos partidários impôs-se uma vez mais sem curar de nenhuma perspectiva de vitória. Os candidatos ditos da cidadania vieram atestar que estas eleições terão de novo um vencedor antecipado


19.1.11

SERVIR FRIO


Espero sinceramente que alguém se lembre de convidar o dr. Mário Soares para os intermináveis grupos de paineleiros com que as televisões irão preencher o serão de domingo. Aliás, o dr. Soares, por tudo, merecia estar sozinho e ser ouvido com toda a atenção. Estilo prato frio sem hors d'oeuvre.

Adenda: Sobretudo depois de ouvir o lamentável sobrinho A. Barroso, verdadeiro talento perdido como compére de revista.

"TEMPO DE ANTENA"

RETRATO DE UM "ESTADISTA" PORTUGUÊS


Em inglês não técnico. «Merkel asked Strauss-Kahn about Sócrates' dilemma. The German-speaking IMF chief was dismissive. The Portuguese plea was pointless, he said, because Sócrates would not follow any advice he was given.» Quando é que nos livramos deste vexame ambulante?

18.1.11

FORA DO PALANQUE

O ministro da justiça, em vez de andar a perorar pelos comícios de Alegre/Bloco de Esquerda, não faria melhor figura em criar condições para evitar coisas destas?

E ALEGRE SE FEZ TRISTE

Aqui.

A "COELHIZAÇÃO" DA CAMPANHA


«Eles é que não sabem que, nesse momento, há mais gente a decidir ficar em casa, domingo, 23.» O "eles" de Manuela Moura Guedes são os colegas jornalistas (e os objectos deles) que andam na campanha. Ora por que é que a Manuela, futura starlet do dr. Balsemão, não fala por si? Qual é o gozo particular que esta gente que dá nas vistas tem em apelar à abstenção? Reduzir ainda mais o "povo" à sua provecta insignificância e ao aplauso acéfalo, caseiro, às júlias pinheiro porque o resto é tudo uma grande porcaria e "são todos iguais"? Parece que há um Coelho da Madeira prontinho a despertar onde menos se espera.

Adenda: Quando se abre o link do CM, acima, surge um verdadeiro batalhão de opinadores que debita no jornal. Se formos ao DN, ao JN e, até, ao Público, é a mesma coisa. Nos jornais ditos de economia, idem. Como a falsa modéstia não é o meu forte, e correndo o risco dos piores comentários, não resisto a uma pergunta retórica. Este blogue (eu) é seguramente um dos blogues individuais (sublinho o "individual") sobre, entre outras coisas, "actualidade política" mais lidos. Talvez mesmo o mais lido. O seu autor (eu) não consta que escreva mal, se furte a polémicas ou a "opiniões fortes". Por que será que nunca foi convidado para integrar nenhum dos referidos batalhões onde vagueia tanta redacção única em transumância, alguns, entre mais do que uma publicação, rádios e televisões? Onde ou em que é que um tipo se "inscreve" para obter o certificado de acesso à opinião que se publica tão nutrida pelos "donos" dela?

A ABSTENÇÃO OU A GERAÇÃO DE OLHAR VAZIO


Uma das mais notórias "marcas" da presente campanha presidencial é a ausência da juventude. Não ando atrás de ninguém, na rua, mas pelo que vejo nas televisões, apenas gente de meia idade e rematados velhos se apresentam junto dos candidatos, seja expontaneamente, seja "enquadrados" pelas campanhas. As famosas "ondas" desapareceram porque a maioria que as formava - os "jovens" - ou está desempregada ou anda a esfolar os dois ou três neurónios que possui nos cursos de Bolonha e derivados precisamente para acabar no desemprego como os primeiros. Pela primeira vez a "juventude" está-se nas tintas para ser "cívica". À excepção dos moços das juventudes partidárias (de topo), o resto contempla-se no espelho da sua voluntária ou involuntária inutilidade narcísica. O grosso da abstenção virá destes neófitos de olhar vazio que desdenham a ideia de votar tal como desdenham, aliás, qualquer "ideia". O pacote da democracia - e os seus miseráveis enredos dos últimos anos - produziu esta "estirpe" alienada em torno do umbigo e de meia dúzia de amigos equivalentes. Não adianta explicar-lhes que nunca teriam chegado ao que são se não fosse esse gesto aparentemente frívolo, praticável de vez em quando, o do voto, sinal de maturidade e de responsabilidade. Quando vemos, porém, pseudo opinion makers tarimbados a apelar nos jornais e nas televisões à abstenção, com que autoridade podemos sugerir a estes zombies que se incomodem? Votar é tão direito como não votar. Mas a lamúria idiota contra o abstracto "eles" só vale se o direito - que é igualmente um dever - for exercido. O resto vem das palavras do esquerdista Sartre que escrevia muito bem apesar de zarolho. Deslizem mortais, não façam peso.

Adenda: Por falar em opinion makers, e até porque não tenho sido brando com ela ultimamente, é justo realçar as intervenções diárias de Constança Cunha e Sá na tvi24 acerca das eleições presidenciais. Ao contrário dos demais, Cunha e Sá tem tido pelo menos o mérito de "espevitar" os espectadores no sentido de lhes demonstrar que, por mais medíocre que ela seja, está em curso uma campanha e que no domingo devem ir votar. Para além de não se cansar de notar que, verdadeiramente, só uma pessoa está a concorrer a Belém e que o resto "concorre" apenas contra essa pessoa. Chama-se a isto campanha negativa e não consta que dê bons resultados.
Adenda2: A Helena Matos conta como a tsf "apela" à abstenção já que não pode transmitir directamente do Rato. Na antena1 a coisa é mais soft, apesar do "profissionalismo" regimental de Flor Pedroso e respectivos acólitos e acólitas.

ATÉ ESTE

17.1.11

AQUELE CUJO NOME NÃO PODE SER PRONUNCIADO


Sócrates terá promovido uma reunião secreta e praticamente clandestina com os líderes distritais do PS. Para quê? Para que os homens dessem um empurrãozinho à campanha de Alegre sem que a coisa desse muito nas vistas. Renato Sampaio, o mandarim do Porto, obedeceu prontamente e, como nunca gostou de Alegre, conseguiu produzir um comunicado interno a apontar para o tal empurrãozinho, puramente retórico, sem mencionar uma única vez o nome do pobre bardo. O PS de Sócrates tem aparentemente vergonha de Alegre que está cada vez mais parecido com o cubo mágico - qualquer um pode torcê-lo à sua vontade. De facto, Alegre, em Novembro de 2005, dizia que "não deixaria de dormir descansado" por causa de uma vitória de Cavaco Silva nas eleições presidenciais: "não acho que a democracia vá ao ar se Cavaco Silva ganhar as eleições." Mais. "Acho que ele [Cavaco] se vai portar bem" - e insurgiu-se contra o que chamou de "diabolização" do adversário social-democrata, que considerou "uma pessoa séria e íntegra". Como é que eles não hão-de querer escondê-lo?

SANTOS SILVA, O PEQUENO MINISTRO


Aquela sinistra figura que dá pelo nome de Santos Silva reapareceu na campanha presidencial. Depois de ter estado reunido com o Chefe de Estado na sua qualidade de ministro da defesa, foi a um comício "malhar" nele. Segundo o sociólogo, o PR não "é chamado" a pronunciar-se sobre o governo da nação nem sobre nada. Citou, aliás, todos os órgãos electivos possíveis para concluir que o PR, quando muito, deve ser um "moderador" de coisa nenhuma posto que esses orgãos electivos bastam para o normal pastoreio da pátria e regiões. Ao dizer isto, Silva passou um atestado de menoridade político-institucional ao seu candidato, o pobre Alegre, aconselhando-o à inércia vegetativa no caso de ser eleito, condenando o PR à absoluta irrelevância. Tudo ficou mais claro, aliás, numa entrevista a um jornal de hoje. "O governo não vai a votos no dia 23", disse o ideólogo. É verdade. Mas os disparates de Silva (e de outros como ele) vão. Como foram há cinco anos quando sugeriu que a eleição de Cavaco representava um golpe constitucional. Este Silva é dos que não aprendem nem esquecem nada. Parece-me demasiado pequeno, apesar daquilo que fizeram às forças armadas, para mandar nelas.

16.1.11

OUSAR LUTAR, OUSAR PERDER

O MRPP - ou melhor, o que resta do MRPP - apoia Manuel Alegre. O dr. Garcia Pereira, arauto de serviço da seita, desta vez não concorreu e preferiu, porventura, começar a preparar a "fusão" com o Bloco onde já pastoreia o prof. Rosas. Alegre, apesar de tantos "apoios", nunca se sentirá tão sozinho como de hoje a oito dias quando toda esta gente debandar para as respectivas "causas" e casinhas. As saudades que ele vai ter da sua candidatura "um milhão".

SEMANA DOIS PARA UM


No próximo domingo os portugueses vão votar. Pelo menos espera-se que vão votar. Por isso, e uma vez que as famosas "ideias" estão definitivamente arredadas da campanha, a semana que falta destina-se exclusivamente a evitar a abstenção. Os "casos" e as palhaçadas deverão aparecer mas são totalmente secundários face a este "desígnio" maior que é levar os incrédulos a votar. E votar, aqui, tem apenas um único sentido e um nome por muito que isso doa aos prosélitos do costume ou nem sequer seja sempre pacífico: Cavaco. Ganhando no domingo, Cavaco ganha absolutamente e todos os outros perdem absolutamente por mais "contas" parvas que se façam ao serão. E mesmo que houvesse uma segunda volta, Cavaco ganhá-la-ia ainda mais inequivocamente. Mas não haverá. O país vive num fio de navalha que não consente o prolongamento do circo.

15.1.11

NÃO MUDOU

Almeida Santos, o venerável "pilar" socialista, foi a Coimbra promover Alegre a "maior poeta português", tratando-o por "tu". Qualquer bom leitor de poesia sabe que Alegre é um versejador talentoso (e, mesmo assim, tem dias) e nada mais do que isso. Louvou-se na Praça da Canção, de muito antes de "abril". Jorge de Sena, nessa altura, pressentiu imediatamente a "qualidade" poética do candidato bloquista-socialista: «o Manuel Alegre mais os seus dele arrotos na Praça é uma imagem do dominante Portugalório.» Não mudou.

O PREÇO DOS "DESÍGNIOS"

O "tema" dos cortes salariais na função pública é um mau tema. É preciso não esquecer que a coisa foi tratada praticamente como um desígnio nacional - quem não defendesse os cortes nos vencimentos desses malandros não era bom português. O parlamento aprovou-os com o orçamento que devia ter sido chumbado por diversos motivos. Mas o OE era "o" desígnio nacional" no qual os referidos cortes eram apenas um aspecto essencial. O governo, o PS, o PSD e o PR assim o entenderam. Não adianta, pois, chorar agora o leite derramado. Na realidade, a semana que entra vai ser dolorosa para milhares de eleitores e respectivas famílias quando olharem para o recibo e forem marcar os quatro dígitos ao "multibanco". E que isso levará muitos deles a ficar em casa no dia das eleições a fazer contas a uma vida que não passa pelas presidenciais. Os "desígnios" saem sempre mais caros do que parece.

LOUCURA E MORTE

~

Donizetti, Lucia de Lammermoor. Ópera de Lyon, 2002. Logo, às 19h30, no canal Mezzo. Natalie Dessay, Roberto Alagna, Ludovic Tezier. Dirige Evelino Pidò. Em francês.

A "PRESSÃO"


A "direita" persiste estúpida. Segundo o Expresso abrasileirado, existe uma "pressão" daquele alegado sector da vida política para que a legislatura seja interrompida já em 2011. Para quê? Para o dr. Portas voltar a envergar os fatos às riscas? Para a dra. Caeiro fazer um lifting para ministra de qualquer coisa? Para o sr. Marco de Gaia aterrar no Terreiro do Paço? Em suma, para gerir, com sofreguidão caciqueira e indistinta da actual, a miséria? A "direita" (e em particular o PSD) não deve querer voltar ao poder porque sim. Quando isso aconteceu há nove anos, foi a desgraça que se viu. Sócrates, que até tenciona continuar secretário-geral do PS e que aprecia "dar a cara", tem de ser o rosto "disto" até ao fim. A relegitimação de Cavaco daqui a uma semana não legitima a "direita" a coisa alguma. Se não perceberem isso, metam explicador.

14.1.11

O MIÚDO QUE BRINCAVA DEBAIXO DA MESA

BOA NOTA

Está a terminar a primeira semana de campanha oficial para Belém. Verdadeiramente, apenas dois candidatos levaram a coisa a sério - Lopes e Cavaco. Lopes porque o PC "profissionaliza" o seu trabalho de campo e quer contar votos sem a asfixia do Bloco, desta vez envergonhado ao lado de Sócrates que engoliu o candidato deles. Cavaco porque não se sentou à sombra das intenções de voto manifestadas nas sondagens e percebeu que é preciso fazer campanha para ganhar e combater a abstenção. Esta campanha de Cavaco tem sido, aliás, muito parecida com a de 1991 para outro cargo: enérgica, presencial, positiva, em "tempo real" com o país. O resto é pouco mais do que lamentável e ridículo, alimentado pelos media e pelos "comentadeiros" oficiosos que espumam ódio contra o PR. A vantagem disto, porém, consiste em Cavaco ficar a conhecer melhor certa gente. Espero que tome boa nota.

MILAGRE E SOLIDÃO


Lamento a decisão de Bento XVI em aprovar a beatificação do seu antecessor. Aliás, já lamentava a proliferação de beatos levada a cabo por João Paulo II e a que Ratzinger, aparentemente, pretende continuar a dar curso. Se há coisa que caracterizou o notável pontificado do Papa polaco foi a sua condição profundamente "terrestre". Sem nunca perder de vista - como podia? - a espiritualidade e a fé, João Paulo II foi responsável pela maior fusão daquelas com a "realidade" e da "realidade" (da razão) com a fé. Ajudou, como ninguém, a derrubar uma ideologia malsã e "globalizou" a fé católica através das centenas de viagens apostólicas que realizou. O seu exemplo humano (que também foi político) é suficiente. Parafraseando Santo Agostinho, um homem submisso pela fé, pela esperança e pela caridade possui um forte domínio sobre si, desnecessitando, até, das Escrituras ou da interpretação delas para o exaltar, beatificando-o, pois é na solidão que aquelas três coisas são realmente vividas. João Paulo II é grande enquanto homem. É o maior e o mais raro dos milagres. E é quanto basta.

A FAMA MATA


«O brutal assassínio do cronista social Carlos Castro teve cobertura grande na TV, plenamente merecida. Que caso! Há o contexto, a violência, os detalhes escabrosos, a relação passional, a convocação da mitologia e da psicanálise para enquadrar a relação e a castração. Há duas pessoas do pindérico meio dos nossos “conhecidos”, o nosso “dejecte-set”: o mais “famoso” cronista social, envolvido em “causas”, mas também autor de crónicas execráveis, por vezes vingativas ou ameaçadoras (“cala-te boca”, “eu um dia conto tudo”, etc.), e muito mal escritas; e o rapaz finalista num concurso televisivo de manequins que queria ser “famoso”. Há Times Square, Nova Iorque, local que os espectador conhecem, espécie de umbigo da sociedade do espectáculo global. Os relatos sugerem o patetismo: Castro sonhando um amor correspondido e prometendo a Renato Seabra torná-lo “conhecido” no “mundo” da moda, mas afogando-o no anonimato da grande cidade; e Seabra entrando na relação homossexual para alcançar a fama. Sem obter o que queria, achando que trocara a heterossexualidade por zero de fama, num ambiente desconhecido, descontrola-se e (alegadamente!) assassina com barbaridade. Se não é um crime sexual, a orientação sexual é elemento essencial do contexto. É também um crime por causa da fama, da celebridade. A fama mata.»


Eduardo Cintra Torres, Público