30.11.07

VIAJAR


A "globalizaçao" liquidou o prazer de viajar. Encontramos mais dos mesmos por todo o lado. Gente indiferenciada, vestida a preceito - as calças a caírem dos rabos, os capuzes, o negro, o Ipod -, contingentes de reformados, de gordas e de gordos, de mulheres e de homens com ar lésbico, de fotógrafos amadores que tiram retratos a tudo o que mexe, de ingleses das claques de futebol que mal sabem falar a língua deles. A Rambla de Barcelona podia ser no Rossio ou no Intendente. Pássaros, "estátuas" que mexem ao som da moeda, "pintores", "cantores", é toda uma fauna insuportável a que o "turista" acha graça. O "multiculturalismo" invadiu as principais cidades europeias. O mau gosto que lhe está associado, também. Praticamente só se suportam as actividades ditas "elitistas", no meu caso, ir à ópera. As pessoas que a frequentam poupam-se da rua durante o dia e, depois, desaparecem para casa rapidamente. A horda "democrática" é ridícula e, graças ao "low cost", tornou-se perigosamente ubíqua. Chegados a este ponto, dá-me ideia que se viaja melhor num livro, numa ópera ou num concerto de Juan Diego Florez do que andando por aí. Já há quanto basta de figuras tristes.

KIM SOARES

Ausente do país, embora aqui mesmo ao lado, na Catalunha, privei-me de assistir ao regresso de Mário Soares à tv pública. Vi, no entanto, o "trailer". Soares, pela enésima vez, dissertava sobre a sua "casual" entrada na política. Podia, se quisesse, ter sido outra coisa. Felizmente para ele - e até certo ponto, para nós - dedicou-se à dita e, aos oitenta e muitos, tornou-se no Kim Il Sung da nossa gloriosa democracia. Nenhum dos seus aduladores lhe explicou que aquela converseta já cansa. Soares está visto e revisto. Em vez de perder tempo em programas idiotas, escreva. É o que de melhor pode deixar para os ainda mais idiotas vindouros. O resto é peditório para o qual já todos contribuímos.

29.11.07

O TEMPO QUE SOBRA


«Dantes andava-se e esquecia-se. Agora, a vida pára. Repete-se. Um mês é igual ao anterior e ao próximo e ao seguinte. Não acontece nenhuma coisa diferente, só acontecem coisas indiferentes. Por qualquer razão obscura, não se consegue descobrir o sítio onde as coisas acontecem; e elas já não acontecem onde aconteciam. (...) Um pequeno pânico instala-se. Ao princípio pensou-se que era um estado passageiro, uma época de azar ou de mau jeito. Mas depois o estado não passa, a sorte não vem e o mau jeito continua. Conta-se com angústia o tempo para trás e, a certa altura, conta-se com terror o tempo que sobra. Deixa-se de ter quarenta e três ou quarenta e sete anos e têm-se treze anos até aos sessenta ou dezoito até aos sessenta e cinco. E não será optimismo os sessenta e cinco? E vale a pena?»

Vasco Pulido Valente, "Retratos e Auto-Retratos" (Assírio & Alvim)

28.11.07

HONRA PERDIDA

No episódio Luísa Mesquita/PC, ninguém sai bem. Tem a virtude de demonstrar até que ponto a democracia representativa vive do anonimato. Num distrito qualquer vota-se numa lista por esta ordem: por causa do candidato a chefe do governo, por causa do partido e, remotamente, por causa do "cabeça de lista". Abaixo disto, zero. Para substituir Mesquita, o PC já ia na quinta da lista. O dr. Vera Jardim, do PS, estará de "baixa" e dá lugar à simpática Marta Rebelo que é chefe de um gabinete ministerial. O PS e o PSD "retalharam" o país eleitoral numa reedição de um "bloco central" de circunstância que não abona a oposição que é suposto o segundo fazer ao primeiro. A pior "pactologia", tão criticada a Marques Mendes por Menezes, regressa "por cima" com a desconfiança dos aparelhos e dos caciques locais. Estes recentes exemplos da nossa gloriosa democracia representativa não a honram. Todavia, e pensando bem, há quanto tempo é que essa honra não estará perdida?

FEIOS, PORCOS E MAUS


Em 2013 acaba, felizmente, a mama. Ficamos entregues a nós próprios. Se calhar, devia ter sido antes. Este desperdiçar de 300 milhões, com os habituais artifícios para a falta de justificações (facturas que não existem, coisas que não se fazem mas que aparecem como feitas, gente subsidiada sem razão, etc. etc.), anos e anos depois da adesão, revela o "estado de alma" de uma raça oportunista e preguiçosa. Os fundos europeus, sobretudo o FSE e o FEDER que entraram aos milhões, serviram para encher o bandulho ignorante do "chico esperto" português, através da exploração de "programas" de ocasião, sem que isso, como de costume e salvo poucas excepções, representasse "progresso" e "desenvolvimento". Entre outro motivos óbvios, designadamente os geográficos, somos periféricos porque somos assim: feios, porcos e maus. Não merecemos melhor sorte.

"TEM TODO O DIREITO"

«Tem todo o direito a vir», diz agora Amado a propósito da reiterada intenção do sr. Mugabe em aterrar em Lisboa dia 8. O «era preferível" da há dias "evoluiu" para o "direito", tal como também era preferível que o sr. Brown viesse, o calor continuasse e, na minha humilde opinião, nunca houvesse natal. Contudo, tudo isto existe: o governo, o sr. Mugabe e a sua África abandonada a ladrões, a alteração de clima e o meu não amar a época hipócrita. É a vida.

26.11.07

ADIVINHE QUEM VEM À CIMEIRA

A acompanhar, no Corta-Fitas, a série "este ditador vem a Lisboa", do Pedro Correia, acerca dos "democratas" africanos a quem Sócrates, em nome da Europa, vai apertar a mão em Lisboa na famosa "cimeira".

O BASTONÁRIO


Não exerço advocacia, nem gosto. Dito isto, entre um professor universitário vindo de Marte, um amigo do dr. Jorge Sampaio que o "inspirou" - literalmente - nas suas brilhantes intervenções sobre justiça durante 10 anos, um candidato "sempre-em-pé" e o António Marinho Pinto, julgo que os advogados devem escolher este último. Pelo menos não tem aftas na língua nem temores reverenciais.

ESTA NÃO É A MINHA POLÍCIA, III PARTE

Depois disto, isto. «Na generalidade» as forças policiais são um conjunto de “gente que serve bem e com muito altruísmo e dedicação”. Sobre as reacções suscitadas pela entrevista que concedeu ao “Expresso”, Clemente Lima admite que possa ter havido “algum equívoco”. “As pessoas não leram claramente a minha entrevista ou então não me fiz entender como queria”, referiu.“São reacções de quem não conhece a minha atitude de solidariedade com todos os agentes das forças policiais”, acrescentou, mostrando-se disponível para receber todas as associações sindicais da polícia. O responsável rejeitou ainda a ideia de ter sido desautorizado pelo ministro da Administração Interna, Rui Pereira. “Se o senhor ministro mantém ou não a confiança em mim é uma pergunta a fazer ao senhor ministro. Na minha perspectiva, não me senti desautorizado nem a quebra de confiança do senhor ministro me foi feita sentir, pelo contrário”, disse.» Cada cavadela, sua minhoca. Estão muito bem um para o outro.

O SOARISMO SOCRÁTICO - 2

Em compensação, e embora postas à margem porque não seguem o disciplinado e acéfalo rebanho, existem uma ou duas vozes socialistas livres. É de facto constrangedor ouvir Soares dizer que há por aí tanta liberdade que "até muitos falam de mais". Serão efeitos das conversas bolivarianas em Caracas? Pobre dr. Soares.

25.11.07

O SOARISMO SOCRÁTICO

Até Mário Soares já marcha disciplinadamente atrás de Sócrates. A humilhação de 2006 deixou-o refém eterno do chefe. As suas trivialidades sobre a "esquerda" não maçam o secretário-geral e, pelo contrário, ornamentam um partido desertificado e um governo incolor. O "dízimo" da GALP para a sua Fundação é um pormenor, é certo, mas é igualmente todo um programa que finalmente muito explica sobre o desvelo pelo sargentão venezuelano. Soares era até há uns anos uma voz crítica, autorizada e livre, que apetecia escutar. Por isso os elogios a Sócrates - e a acrimónia com Guterres, cinquenta vezes política e humanamente mais denso que o 1º ministro - soam a pífios vindos de quem vêm. Como ele apreciava dizer, todos os portugueses já foram "soaristas" pelo menos uma vez na vida. Foram. Soaristas socráticos é que não.

ORGULHOS


Não conhecia esta campanha e concordo no essencial com o que escreve o Francisco. A brigada das plumas e lantejoulas - tão repugnante como uma eventualmente marialva de moços de forcados ou de homens portadores de unha crescida no dedo mindinho - aproveita todos os pretextos para exibir a sua "diferença". Sempre me irritou a ideia do "orgulho" por isto ou por aquilo. Quem é verdadeiramente livre, não tem de se "orgulhar" ou de pedir desculpas por tudo e por nada. E, no limiar do ridículo, de facto a melhor resposta a um "orgulho homo" é um "orgulho hetero". Como a um "orgulho PS, um "orgulho PSD", a um "orgulho Odete Santos", um "orgulho Teresa Caeiro" ou a um "orgulho Miguel Sousa Tavares", um "orgulho Margarida Rebelo Pinto". Se dermos largas à imaginação, um bem escasso entre nós, talvez o "orgulho" que mais nos calha seja o "orgulho corno". Não existe um só português ou portuguesa que, de certeza, não tenha sido "corno" pelo menos uma vez na vida. Ou, dramaticamente, uma vida inteira. No trabalho, na intimidade, na amizade, no cumprimento de uma promessa, na família, onde quer que seja, a tendência para sermos "encornados" é devastadora. Não é um mal em si mesmo. É uma consequência de uma sociedade global de invertebrados hedonistas onde eu incluo o meu próprio "orgulho corno". As pessoas mais generosas que conheço foram ou são todas "cornos". Carreiras públicas de sucesso ocorreram a gente a quem não chegam os armários para guardar os "cornos" arrecadados ao longo do tempo. Já agora, e aproveitando o apelo do senhor Presidente da República, aplique-se algum desse "orgulho hetero" da campanha publicitária a fazer filhos antes que isto desapareça do mapa. Não se perdia grande coisa, a não ser boas cervejas e pouco mais. Nesta matéria, o meu "orgulho" é a Super Bock. Vá-se lá saber porquê.

24.11.07

ESQUIZOFRENIA


Paulo Macedo, ex-director geral dos impostos, era genericamente considerado um génio. Praticamente ninguém, do governo à oposição, nos jornais e nas televisões, se poupou nos elogios, lamentando a substituição. Agora, a mesma gente - desde Manuela Ferreira Leite que o nomeou até ao derradeiro escriba que o incensou - descobriu que o bestial gerador de receita foi, afinal, um atentado ambulante ao pudor público. Está em curso um verdadeiro "levantamento nacional" em que participam muitos daqueles que consideravam Macedo uma coisa nunca vista e um "exemplo" a seguir na gestão pública. Os moralistas são sempre os mesmos. Só muda a esquizofrenia.

SOVA


Inclemente, a que Vasco Pulido Valente perpetra contra o recente calhamaço de Miguel Sousa Tavares, Rio das Flores, no Público de sábado. Detalhes que, decerto, escapam e não interessam nada ao «iliterado (a maioria dos leitores)» (sic) que fará do calhamaço de seiscentas e tal páginas o seu único livro de 2007. «Nada pior do que ler um livro mau, excepto escrever sobre um livro mau.»

Adenda: Na íntegra num comentário a este post.

ESTA NÃO É A MINHA POLÍCIA, II PARTE


O actual inspector-geral da administração interna, Clemente Lima, em entrevista ao Expresso, acusa, em suma, as forças de segurança de comportamentos, ora medievais, ora miméticos de "cowboyadas" americanas. O improvável ministro Rui Pereira, que o tutela, deve ter sido alertado para o teor da entrevista e já "assegurou", na televisão, que o inspector-geral derramou sobre a "excepção" e não sobre a "regra". Terá sido, aliás, o próprio Clemente Lima que o comunicou a Rui Pereira, acrescentando ambos o enorme apreço e confiança que nutrem pelas forças de segurança. A IGAI acabou no dia em que Rodrigues Maximiano saiu e a entrevista do juiz-desembargador Lima só vem atestar o óbito. Para além de uma desagradável referência ao seu antecessor por causa das gravatas, Lima limita-se a proferir banalidades populistas acerca da PSP e da GNR, como se os seus dois anos à frente da IGAI e o notável trabalho de "civilização" da autoridade policial realizado por Maximiano não tivessem existido. Se as forças de segurança "regrediram" nos procedimentos ou no respeito pelos direitos fundamentais - os dos agentes incluídos -, o que é Clemente Lima tem lá estado a fazer?

HORTA AGRADECIDO

O sr. Ramos Horta, presidente de Timor-Leste e uma criação política inteiramente portuguesa, gostaria que o Nobel da Paz fosse entregue ao dr. Barroso. Será por que o dr. Barroso foi "enganado" quando lhe mostraram uns papéis sobre as famosas armas de destruição maciça que o Iraque afinal não possuia, o que revela a sua extraordinária sensibilidade "internacional" em assuntos de guerra e de paz? Ou será por que o dr. Barroso, como praticamente todos os ocupantes de São Bento e de Belém, alimentou, a custo dos contribuintes nacionais, essa ficção a que preside hoje o sr. Horta?

23.11.07

UM PAÍS IPODÉTICO


Nas minhas deambulações pelas ruas e pelos transportes públicos, tenho reparado que a maior parte das pessoas, independentemente da idade, anda de ouvidos tapados ou agarrada ao telemóvel. O "novo homem português" - o tal que o prof. Cavaco pretendia insistentemente criar nos anos oitenta e que Sócrates anda há dois anos a "reciclar" - é agora um ser embrutecido, ensimesmado e triste que se refugia na sua pobre pessoa e que evita, até com o olhar, o Outro. Existe um preocupante trânsito de abúlicos reais por aí, directamente saídos da melhor ficção científica. O médico de Francisco Franco, o "generalíssimo" aqui do lado, revelou esta semana que, já moribundo e perante a nossa original "revolução dos cravos", o seu doente ter-lhe-á dito nada recear "daqui", afirmando que "os portugueses são uns cobardes". Este solipsismo social que anda aí pelas ruas é a forma "moderna" dessa cobardia, incompreensível para um homem que venceu uma guerra civil com milhares de mortos e que dirigiu, sem tergiversações e com sentido do "tempo" (diferentemente de Salazar), uma Espanha próspera e alegre. O "ipod" é a "nova oportunidade" dessa cobardia, o pequeno objecto que finge a alegria solitária de uma raça que, de há muito, deixou de ir a lado algum. Bom proveito.

22.11.07

O ZÉ DO ANTÓNIO

O Zé, o tal do "Zé é que sabe", da CML, afinal, não sabe nada. Ou melhor. Quem sabe é o António, o presidente da dita CML, que o colocou, como se previa, tranquilamente no bolso. Só quem não conhecesse o António é que podia imaginar que ele ia deixar o Zé respirar. O "Bloco" tem agora em mãos não o "Zé que sabe" mas este Zé inútil. O Zé do António.

O PAÍS DE ALMERINDO

Almerindo Marques é um bom gestor. É isento e sério, uma espécie em vias de extinção. O PS, a que ele pertencia, crucificou-o quando Morais Sarmento o foi buscar para a RTP. Este PS manteve-o e, à beira de um caos chamado "Estradas de Portugal", transferiu o homem para a administração deste problema. Almerindo, porém, despediu-se com uma entrevista deplorável a Judite de Sousa. O talento que possui para gerir, falta-lhe para se exprimir. Confessou que foi estalinista - assim mesmo, sem dramas - e que a sociedade deve escolher "os mais aptos", uma versão "hard" da meritocracia defendida por qualquer "liberal" minimalista e uma manifesta banalidade. Utilizou o termo "abandalhamento interno" para se referir à RTP a propósito do processo contra Rodrigues dos Santos que claramente quer deixar como exemplo de "combate" ao referido "abandalhamento". Nada tenho contra a meritocracia. Todavia, tenho tudo contra o respeitinho que Almerindo gostaria de ver implantado, porventura pelos tais "mais aptos", pelo país inteiro. Por isso, e para ele, Sócrates é do melhor com que providência divina nos dotou nos últimos anos. É de fugir.

SESSENTA DIAS SEM OPOSIÇÃO

Daqui a dias, passaram dois meses. Onde é que anda o PSD de Menezes? Na "pactologia" do regime, de dia, e contra a "pactologia" à noite? Transformado em empresa imobiliária e em "manpower" laranja? Onde é que está o PSD do tribuno Santana? Onde é que está a oposição?

INJUSTA JUSTIÇA

O senhor conselheiro Pinto Monteiro voltou a falar. Depois do episódio do telemóvel com uns ruídos esquisitos e da "corte" do MP que ele aparentemente não domina, o procurador-geral vem agora defender publicamente a "corte" contra o poder político e "ameaçar" com a sua saída se as magistraturas forem "funcionalizadas". Pinto Monteiro sabe que apenas a judicial é órgão de soberania. A sua, é hierarquizada e, pela segunda vez em pouco tempo, o senhor conselheiro demonstra não a dominar. Ou seja, não é tanto o poder político que pretende "controlar" o Ministério Público. É Pinto Monteiro quem não "controla" a sua estrutura. Sempre fui adepto da colocação do MP sob a alçada do ministério da Justiça, por isso estou à vontade para escrever isto. A justiça, depois das alterações ao penal e ao processo penal, ficou mais perigosa do que já estava. Algumas decisões judiciais recentes de tribunais superiores são de levar as mãos à cabeça. Os advogados estão demasiado centrados nas suas excelsas pessoas e na sua gloriosa corporação e, por último, Alberto Costa não existe. Existe apenas a vontade horizontal do PS socrático de tudo controlar. É mais seguro ter uma criança numa ambulância dos bombeiros a caminho de Badajoz do que recorrer à justiça. A "cultura" da justiça portuguesa é, no essencial, anti-democrática. Com a sua entrevista - ninguém na posição do senhor conselheiro "ameaça" demitir-se: demite-se mesmo ou mais nada - Pinto Monteiro veio lançar combustível à queimada lenta de um "sistema" arruinado, profundamente injusto e socialmente inadequado. É bom que pense duas vezes antes de voltar a falar.

21.11.07

A DENTADURA NACIONAL


Nada como um jogo no Porto para revermos o melhor de nós próprios. Até para dentes o regime fornece "novas oportunidades".

«É PREFERÍVEL» ?

Ainda ontem, por causa de Chávez, chamava a atenção para as desventuras de uma diplomacia tagarela, no sentido que Heidegger atribui ao termo tagarela. Luís Amado tem sido um razoável MNE se bem que pudesse ser um razoável ministro de outra coisa qualquer. Acontece que um representante de um país, mesmo do nosso, não pode afirmar levianamente, e numa fase em que a matéria já foi longe demais, que "é preferível" que Mugabe não viesse à gloriosa "cimeira Europa-África", a cereja que falta no bolo da presidência portuguesa. Das duas, uma. Ou Portugal, presidente temporário da Europa do respeito pelos mais elementares direitos humanos, não admite a presença do ditador africano - e de outros como ele que falam correctamente português, por exemplo -, ou admite, em nome do "sucesso" e da fotografia contra os princípios. O "é preferível" quer dizer "eu até disse que era bom ele não vir, mas já que veio, paciência." Com o devido respeito, é seguramente voz que não chega às orelhas moucas e tortuosas do sr. Mugabe. Já agora, por que é que o governo português não pede a opinião de uma das suas musas inspiradoras, o alto comissário Guterres? Talvez ele pudesse esclarecer os milhares de vidas humanas de diferença entre o "é preferível" e o "não o queremos cá". A diplomacia tagarela também vive dos seus silêncios e da sua ambiguidade. É a vida, onde ela escasseia.

MI CASA ES SU CASA


Sócrates disse a Chávez, perante o olhar embevecido de Soares e de mais meia dúzia de basbaques do regime, que "mi casa es su casa". Na Venezuela, uma deputada do partido de Chávez, com um ar de quem nem sequer na "feira do relógio" a deixavam montar tenda, partiu literalmente a cara a um jornalista nos termos que podem ser vistos aqui, clicando em "bofetada em directo". Será que Sócrates gostaria de receber esta distinta representante do bom gosto e da democracia "chavista" em "su casa"?

PROVÉRBIO RUSSO

«Um pessimista é um optimista bem informado.»

20.11.07

A NÓDOA NEGRA

Confesso que não partilho da concepção "fáustica" da diplomacia que nos governa. Entre nós, da esquerda à direita, há muita gente disposta - e outra já em uso - a vender a alma ao diabo desde que o diabo sugira prebenda ou cheire a gasolina. Aprendi com Jorge Borges de Macedo a interpretar de outra maneira o interesse nacional no mundo. Sempre que nos mostrámos invertebrados perante terceiros, perdemos. Por isso, custa-me ver um antigo chefe de Estado a fazer de porteiro, no aeroporto de Figo Maduro, para receber um ditador latino-americano "democrático". Sim, "democrático", porque os nossos comentadores e demais "especialistas" não se cansam de nos recordar que "ao menos Chávez foi eleito". E, claro, lá vêm sempre os 400 mil portugueses na Venezuela a servir de álibi para a curvatura da espinha como se Chávez se preocupasse, um segundo, com eles. Esta venalidade oportunista, própria de um país que não se respeita, tem a cor escura do petróleo esparramada sobre os princípios. O resto é conversa de chacha e uma nódoa negra no currículo político terminal de Mário Soares.

COMBUSTÕES SÉRIAS

Para não se esquecerem de o ler, mesmo à distância, mais dois excelentes posts do Miguel:

- sobre o "processo Rodrigues dos Santos" («Em Portugal, as pessoas têm de se parecer umas com as outras; isto é, têm de ser todas, sem tirar nem pôr, como os repolhos. No pórtico das nossas instituições, estando lá sem se ver, inscreve-se a máxima: "Cultivem a mediocridade, sejam mansos como os bovinos e colhereis o reconhecimento".»);

- sobre o "sargentão venezuelano" a papar com Sócrates: («A inteligência tudo sobreleva: se eles têm o petróleo, nós temos a inteligência, como diria o velho De Gaulle. Viva o urânio, vivam o vento e as marés, vivam os painés solares, viva o lixo - que o temos muito e bom - e vivam as circunvoluções do bicho homem, que com uma mão destrói e com a outra cria.»)

ADIVINHE QUEM VEM JANTAR

Hoje é dia de Sócrates "dar as sopas" ao "comandante" Chávez. Chávez, parece, gosta de nós e nós, graças ao ecuménico Mário Soares, gostamos do petróleo dele. Daqui a duas semanas, o regime terá de montar uma tenda algures para acolher o presidente da Líbia que despreza hotéis. Falta só escolher o menu do sr. Mugabe que também virá arrastar-se até Lisboa, desta vez traiçoeira para com a sua proverbial "aliança inglesa". Andamos muito bem acompanhados, não haja dúvida.

19.11.07

E À CIÊNCIA DISSE NADA


Existem belíssimos textos sobre a SIDA. Quando escrevo belíssimos, quero significar o duplo do bem escrito e do cruel, sem lamechice ou ignorância. Susan Sontag tem um, "A SIDA e as suas metáforas". («Não estamos a ser invadidos. O corpo não é nenhum campo de batalha. Os doentes não são baixas inevitáveis nem o inimigo. Nós - a medicina, a sociedade - não temos o direito de ripostar por todos os meios possíveis.») E recordo-me do corajoso - para a altura - "Mon Sida", de Jean-Paul Aron, no Nouvel Observateur. A SIDA, doença civilizacional, começou por ser um estigma homossexual masculino com origem nas colinas de São Francisco onde, no princípio dos anos oitenta, havia quem se gabasse de "aviar" mais de trinta por dia. O pseudo-exclusivo foi-se perdendo com o tempo e com os costumes, os bons e os maus. A mal chamada "comunidade gay", não inteiramente parva, cuidou-se e a doença "passou" a manifestar-se mais na "comunidade" maioritária que subestimou o poder das "culturas virais" que a "fenda erótica" pode fermentar. De acordo com os últimos dados, "o mausoléu dos amantes" - para recorrer a um título de Hervé Guibert ("A l'ami que ne m'a pas sauvé la vie", outro dos tais textos) - é agora mais frequentado pela "maioria" que imaginava que só acontecia aos "transviados" que se enganavam no caminho do prazer. Não acontecia, nem acontece, e, com as belas práticas iniciáticas das escolas secundárias, tudo será, naturalmente, pior. Todavia, a SIDA é hoje definida como uma doença crónica, não necessariamente mortal, vistas as coisas pelo lado da fisiologia, mas que ainda "mata" muito noutros planos. Esta situação é apenas um exemplo e, como jurista, deploro o teor do acórdão porque, como bem escreve o Eduardo, "à ciência o tribunal disse nada". De facto, "é isto, o século XXI?"

AS HEMORRÓIDAS NACIONAIS


Passaram duzentos anos sobre as famosas invasões francesas. O Público dedicou ao assunto um excelente dossiê e antecipou o Ir pró Maneta, de Vasco Pulido Valente (Aletheia Editores, 2007) que retoma um ensaio anterior sobre a reacção popular à perpetração napoleónica em território pátrio. Está em Tentar Perceber, da IN-CM. O Maneta da história era o general Louis Henri Loison que, consta, era impiedoso no tratamento dispensado aos nossos avoengos. "Ir pró maneta", em linguarejar entendível por alunos do secundário e proto-licenciados, quer dizer "estar f......". A corte saiu de Belém para o Brasil e o espectáculo pusilânime à beira Tejo, por esses dias, não se recomendava. Raul Brandão escreveu El-Rei Junot onde, entre outras ironias, não lhe escapou o ataque de hemorroidal que sofreu o Príncipe Regente na véspera de embarcar. Não havia ainda terapias ocupacionais que distraíssem a real figura da figura que se aprestava a fazer. No vasto clube dos historiadores nacionais, há quem entenda que a deslocação do poder para a colónia foi um gesto de grande dimensão geopolítica da criatura e, como de costume, quem ache o contrário. As invasões francesas e as subsequentes inglesas para expulsar as primeiras, acabaram simbolicamente com o "antigo regime", dando início ao glorioso período "liberal" ainda em vigor sob a forma "socrática". Nessa altura não havia "tratados reformadores" para tratamento dos hemorróidas "nacionais". A coisa decidia-se mesmo a tiro. O século XIX que então dava os primeiros passos, prometia. Houve de tudo, desde uma guerra civil até à primeira designação das estultas reformas que todos os poderes políticos posteriores reclamaram como suas, a "regeneração". De 1851 em diante que não paramos de nos "regenerar" com os magníficos resultados que se conhecem. Fontes teve vários epígonos no século seguinte. Sócrates é o último aspirante da lista. No fundo, só mudaram os rabos e o hemorroidal.

FICAMOS ASSIM LOGO AOS QUARENTA E TAL, NÃO É PRECISO ESPERAR MAIS VINTE


«A sociedade está a tomar formas tão horríveis que não me apetece viver muito mais neste mundo.»

Vasco Pulido Valente ao Expresso (na íntegra no Blogue Atlântico)

18.11.07

MAUS HÁBITOS

Fica mal ao intelectual e professor universitário Vital Moreira andar por aí a "denunciar" quem defende a realização de um referendo ratificador do "tratado de Lisboa". Fica-lhe mal o espírito zelota inquisidor misturado com o de ministro-sombra da propaganda. Há hábitos que nunca se perdem. Sobretudo os maus.

DESALMADA ASAE

A ASAE é um corpo policial irritante e estalinista que teima transformar-nos em criaturas antisépticas, sem prazer ou gosto de qualquer espécie, tão hipocondríaca como a corte do velho czar vermelho. Agora calhou a "Ginjinha do Rossio". Tomás Vasques resume o essencial. «A ASAE encerrou a Ginjinha do Rossio e apreendeu 18 garrafas de ginjas com elas. Pergunto: há notícia de algum internamento ou morte de algum consumidor da Ginjinha do Rossio nos últimos cem anos? Pior que a falta de higiene na confecção da ginjinha é a falta de higiene mental. A Alma ninguém nos consegue tirar.»

AS ENCARNAÇÕES DO DR. BARROSO

O bom do dr. Barroso, nesta entrevista, quer mostrar à pátria que nunca a esqueceu. Mesmo naquele momento de mesquinhez e de oportunismo em que desertou de 1º ministro para Bruxelas, era na pátria que pensava. Barroso já percebeu - basta falar com ele cinco minutos - que Sócrates precisa ser empurrado para as questões europeias e do mundo. Barroso, o cínico, leva-o pois de carrinho e, de caminho, a ele mesmo. Também não quer o "tratado de Lisboa" referendado - diz em letra de forma o que Sócrates ainda não pode dizer - e, ao contrário deste, já não é aprendiz de feiticeiro junto dos "grandes" do mundo a quem trata por "tu". Depois, afirma, tem saudades de Portugal e do sol. Quer regressar, não sabe, como de costume, quando e para quê. Nós sabemos. Só peço a Deus que não coloque as coisas de tal maneira que me force a ter de o engolir numa outra sua encarnação política. Decididamente não merecemos o dr. Barroso e o dr. Barroso não nos merece.

17.11.07

25/85

Faz oitenta e cinco anos e, consta, vendeu um milhão do Memorial do Convento que, por sua vez, faz vinte e cinco. Outras eminências mais novas decidiram comemorar o "evento" com perorações académicas no Convento. A "literatura portuguesa" é mesmo assim, só corre atrás da própria cauda e o Memorial emerge como o "fenómeno do Entroncamento" que antecipa a babugem literária dos tempos. Não admira que o Sousa Tavares vá em primeiro e o Rodrigues dos Santos por perto. Daqui a vinte e cinco anos, se ainda houver escolas e alunos, serão eles os donos do texto "literariamente correcto", rodeados da sua corte de atentos, venerandos e obrigados.

LACRIMOSA

Mais gente, da grande: Price, Cossotto, Pavarotti, Ghiaurov e Karajan, Verdi, Requiem.

MOMENTOS CHÀVEZ AO VIVO

Chávez podia ter antecipado a sua "escala técnica" em Lisboa para se avistar com Sócrates para o momento em que este, com solenidade latino-americana, lançou a concessão de quatro quilómetros de uma auto-estrada nas cercanias de Lisboa. É o género de palhaçada a que Chávez deve estar habituado. Até podia cantar.

PERGUNTA

O que é que terá acontecido a Mário Crespo, o iconoclasta apresentador do Jornal das Nove da SIC-Notícias, que agora é substituído pelo rebotalho incaracterístico do "novo jornalismo português"?

LIBERA ME- 2

Anna Tomowa-Sintow, dirigida por Herbert von Karajan, canta o "Libera me" da Messa da Requiem de Verdi. É melhor do que qualquer coisa que se passa, neste momento, neste país. É gente grande. Ámen.

16.11.07

A FALHA

Em qualquer parte do mundo, o aborto é uma falha grave. Despenalizado pelo sistema penal e pela sociedade política, mantém-se como uma falha grave. É assim que consta - e deve constar - do "código deontológico" dos médicos. Nada disso impede que ele se perpetre por qualquer motivo justificável, mas o princípio deve lá estar. Correia de Campos vai queixar-se dos médicos ao MP por alegadamente não estarem a cumprir lei do aborto. Correia de Campos é uma falha política da maior gravidade. A quem é que a gente se vai queixar deste soviete democrático?

LIBERA ME


A senhora da foto chama-se Michèle Crider. Trouxe, como solista na Messa da Requiem, de Verdi, Deus para dentro do Grande Auditório da Gulbenkian. Onde há Deus há céu e, seguramente, a voz desta senhora ajuda a entender isto melhor. O Requiem também. Repete sexta, às 19. Ámen.

15.11.07

MAIS UM LIVRO...

... sobre o "Senhor Doutor", como o trata a "Micas", que o conheceu intimamente - tanto quanto foi possível conhecer intimamente Salazar -, devidamente "amanhado" pela pena do jornalista Joaquim Vieira. Um empréstimo amigo da Luísa Boléo. É só um livro, Medeiros Ferreira, não se assuste.

Adenda: Sabia que o "Senhor Doutor" não usava pijama mas antes camisa de dormir e que a "Menina Maria" vendia ovos e galinhas da "criação" dos Jardins de S. Bento para o Hotel Aviz onde o sr. Gulbenkian muito os apreciava? Este é um livro destinado mais à curiosidade do que à sensibilidade ou à inteligência. Preocupa-me mais Sócrates em 2007 do que a camisa de dormir do "Senhor Doutor" em 1940.

14.11.07

CHÁVISMO PORTUGUÊS - 2

A propósito do recente episódio da "cumbre", Juan Carlos/Chávez, João Soares pronunciou-se criticamente em relação ao soberano espanhol, "defendendo" Chávez, vá-se lá saber porquê. Soares foi um meritório presidente de câmara. De resto, é uma nulidade política certificada pelo seu próprio partido que não chegou a conceder-lhe cinco por cento na eleição para secretário-geral, em 2004. Mais valia estar calado.

DA VIDA SEM SER EM ROSA


O Eduardo está aposentado. O Eduardo reformou-se seguramente em tempos de previsibilidade. Sabia com o que contava. Fez contas e elas devem ter batido certo. O Eduardo não estava, por exemplo, à beira de poder reformar-se quando lhe alteraram subitamente as regras do jogo. Ou ainda estava tão longe disso que agora deprime-se só de pensar em quantas mais súbitas alterações irão surgir até poder ir para casa ler, escrever e regar as flores. Quem está "activo" no presente anda, pela natureza das coisas, desconfiado. E não precisa de sindicato nenhum para o fazer. Os duzentos mil na rua no dia da gloriosa cimeira de Lisboa não vieram seguramente todos do PC nem a toque de caixa do sr. dr. Carvalho da Silva. A vida fora do quentinho das nossas casas é dura. E em Portugal é muito mais dura do que em França. Por muito que o desdém pela França - tão em moda, tão correcto e tão chique - se esprema, a França pode dar-se ao luxo de comportar Sarkozy e o seu contrário porque tem assegurado o seu lugar no mundo e, em especial, na Europa. Nós somos uma bela praia dessa mesma Europa, com aspirações à vitesse prometida pelos comboios da eng.ª Vitorino e a um modesto lugar no ranking dos "27", apesar da retórica "reformista" em vigor, de Belém a S. Bento. Neste momento, aliás, somos os que menos crescemos dos "27", mas, em compensação, ainda andamos de manga curta a meio de Novembro. Não se pode ter tudo. E a França, malgré nous, tem Sarkozy. E, meu caro Eduardo, deste a Sócrates vai a distância que separa o recheio de uma carteira para frequentar o Eleven e de outra para ir ao Rei dos Frangos, aos Restauradores. C'est la vie, et pas en rose.

CHÁVISMO PORTUGUÊS

A RTP quer despedir José Rodrigues dos Santos. O regime, de que a RTP é apenas um instrumento, se pudesse despedia meio país. Talvez esteja a aproximar-se a hora de o país pensar em despedir o regime.

A PALAVRA

Cavaco não acredita - porque tem a palavra do primeiro-ministro com quem tem umas "conversas" uma vez por semana - que a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa esteja tomada. Falta o LNEC pronunciar-se, o organismo sobre quem o governo depositou a responsabilidade de "analisar" todos os estudos. Sucede que o LNEC tem uma tutela que me dispenso de nomear. E essa tutela tem o João Morgado Fernandes para regular o trânsito. Ou seja, o LNEC terá seguramente independência técnica mas não tem a que conta para a tomada de decisão política. E quanto à palavra do 1º ministro, convinha a Cavaco lembrar-se do que sucedeu no Parlamento a semana passada acerca da concessão das "Estradas de Portugal" - também não estava fixado nenhum termo para ela daqui até à eternidade - e ler um artigo de um diploma publicado ontem em DR sobre o assunto, promulgado por ele há bastas semanas. Em política, na política de hoje, nem tudo o que parece é.

13.11.07

TRÊS

Três. São três os "inquéritos" oficiais que correm para apurar as circunstâncias em que um helicóptero caiu no meio de um incêndio, matando o piloto. Existe algo de esquizofrénico nesta obsessão inquisitória sobretudo quando a testemunha fundamental já desapareceu. Todavia não passamos sem isto. Não passamos disto.

MC

Isabel Pires de Lima, o equívoco ambulante da Cultura, está muito contente porque o "seu" orçamento cresceu. Acontece que nada no desempenho da ministra aconselhava que crescesse. Pires de Lima e o seu acólito secretário de Estado têm-se distinguido por duas ou três coisas pouco recomendáveis e pouco subsidiáveis. Os assuntos "Casa da Música" e "colecção Berardo", o "activo" destes dois missionários, não dependeram deles. Foi preciso entrar Sócrates para encerrar os dossiês. O que dependeu deles - substituição e manutenção de pessoal dirigente - é confrangedor. Numa casa em que o hábito é cada um tratar o melhor possível da sua vida privada à custa da notoriedade e do erário públicos, Isabel Pires de Lima não conta apesar de se achar subtil e mandona. E até faz questão de "empurrar" para organismos que dependem dela coisas como não haver dinheiro para pagar a vigilantes de museus. Não merecia nem mais um tostão.

12.11.07

UM HOMEM EM PERIGO

Mário Lino é duplamente um homem em perigo. Coloca-nos a nós e a ele em perigo. Que mais é preciso para o removerem?

A VEIA TROPICAL

Mesmo de longe - talvez por isso - o Miguel define bem a circunstância. "Cala-te, ou como quem diz "reduz-te à tua insignificância, lateiro golpista", marcou a cimeira dessas republiquetas ibero-americanas cujo único contributo para a cena internacional parece reduzir-se a um interminável cortejo de ditadores grotescos, ora oligarcas cleptocratas, ora generalecos de exércitos de ocupação dos seus próprios países, ou ainda, mais recentemente, excentricidades para todo o mau gosto. Da manicure-pedicure Kirchener ao vendedor ambulante da Bolivia, do semi-letrado do Brasil à carranca que se prepara para levar a Venezuela para o abismo, a "América Latina" está a bater os seus próprios recordes em matéria de irrisão." Independentemente do sítio para onde nos viramos, o "quadro" das lideranças políticas é confrangedor. Em apenas vinte anos, o mundo, salvo uma ou outra excepção, mudou para pior. No "espaço" ibero-americano acentuou-se o "lado" tropical da coisa, com dirigentes improváveis e irrelevantes, inchados na sua estúpida vaidade rapace. Nós apenas fazemos figura de corpo presente entre o antigo império colonial espanhol e os seus herdeiros vulgares. Nem sequer o Brasil, que nos saiu das entranhas, tem já muito a ver com este "cadáver esquisito" que é o Portugal das "novas oportunidades", contentinho e pequeno-burguês de espírito. Estamos bem uns para os outros.

11.11.07

SEM EMENDA

Depois de empregada de Santana Lopes na Casa Fernando Pessoa, Clara Ferreira Alves descobriu agora que o homem "não estuda, não se prepara, não sabe decidir". Depois de ter estado à beira de dirigir o DN pela mão dos "santanistas" de 2004 - nestas coisas convém sempre lembrar a data -, Clarinha revela que, afinal, o homem não serve para nada. Talvez por causa desta "plasticidade", o PS, através da RTP, decidiu recuperar esta velha camarada da Rua da Emenda para fazer de Júlia Pinheiro do dr. Mário Soares no programa que este irá protagonizar na televisão pública. Este retrato mantém-se. Não tem emenda.

DE QUE FALA A IGREJA


Bento XVI recebeu os bispos portugueses no Vaticano e, sumariamente, exortou-os a serem menos cortesãos. A palavra "igreja" significa comunhão e, tantas vezes perdida em "colóquios" e em "diálogos" com o regime, a nossa igreja supõe que fala com a sociedade. Não fala e, pelo contrário, é "engolida" pelo "sistema". Viu-se no debate sobre o aborto em que pesou mais a salvaguarda da instituição dentro do "sistema" do que os princípios, com uma lamentável retirada de cena durante toda a campanha. Não tivemos uma igreja empenhada, tivemos uma igreja conformada. Depois há casos mais patológicos como os do "democrata" Januário Torgal Ferreira que imagina a igreja sediada no Vaticano como um grande armazém de moda que muda a montra consoante as estações. No dia em que a igreja fosse a primeira a ceder à "inevitabilidade" do relativismo, deixava de ser igreja, mas isto exige um congresso extraordinário na cabeça de D. Januário. Ensimesmada e tributária de um regime que cada vez mais finge que a tolera e que caminha para um retrocesso jacobino primitivo, a igreja portuguesa, para manter alguma "forma", cede no "conteúdo". Não deve. Não pode. O essencial da mensagem de Ratzinger à igreja portuguesa - perdida no labirinto da ditadura da correcção política porque tem medo de perder-se - recorda que «... tais questões não nos podem distrair da verdadeira missão da Igreja: esta não deve falar primariamente de si mesma, mas de Deus.»

10.11.07

O COMPLEXO

No final da "cumbre" latino-americana, Sócrates exibiu-se: irritado, maldisposto e sobranceiro. Disse que não possuia qualquer complexo de inferioridade - ele a falar por nós - em relação à Espanha que, segundo a pergunta que lhe foi formulada, dominou a cimeira. E dominou, de facto. Enquanto Cavaco se torcia a explicar Chávez com a bizarra teoria de que há diversas "interpretações" da liberdade e da democracia, o Rei de Espanha não hesitou em mandar calar publicamente o grotesco ditador quando este se lembrou de insultar um ausente, Aznar. De nada adianta a Sócrates, a Cavaco e a nós estes ridículos seis meses de presidência europeia. O complexo cola-se-nos como uma lapa.

NORMAN MAILER (1923-2007)


"If you go to the root with all you've got, there is no way you won't injure family, friends, and innocent bystanders."

9.11.07

O MAL AMADO


O Eduardo Pitta não gosta - talvez pelas mesmas sofisticadas razões com que aprecia o falso beirão Sócrates - do General Ramalho Eanes. Eu gosto, sou amigo dele e, como tal, abstenho-me de comentar a questão levantada pelo Provedor de Justiça relativa à eventual percepção da sua reforma de oficial do Exército com a de antigo PR. Se bem o conheço, Eanes dificilmente deixará esta mesquinha "polémica" arrastar-se apesar de ser dos poucos portugueses que emergiram na vida pública, depois do "25 de Abril", que merecia tudo o que se lhe pagasse. Nada seria esdrúxulo perante o que nos garantiu e do que nos defendeu. Todavia não posso deixar de comentar, com duas perguntas e sem sair da política, os exemplos escolhidos pelo Eduardo para, na sua opinião, não atribuir mais a Eanes do que a sua pensão de ex-PR. Não é o mesmo Estado que atribui a ex-deputados pensões por oito anos de exercício parlamentar e ordenados ou pensões decorrentes da sua actividade profissional em organismos públicos? Ou Eanes - que serviu honradamente o Estado português, aqui e no ultramar, sem nunca ter tido necessidade de se servir dele - tem alguma capitis diminutio perante os nababos que andamos a alimentar há trinta anos, muitos dos quais nunca teriam sido ninguém na vida pública se ele não tem colocado um ponto final nos desvarios de 74 e 75?

8.11.07

O EQUILIBRADO

Peres Metelo, que comenta a economia na TVI, é um freteiro do PS. Todavia até ele reconhece que o orçamento de Estado assenta num "equilíbrio" externo e interno imprevisível. "Equilibrado" só mesmo o dr. Silva Pereira, o ministro da presidência, que até na postura física imita o chefe. Que pobreza evangélica em todos os sentidos.

A MINHA SUJEIRA E A MINHA DERROTA


Se bem percebi, Pedro, trata-se de saber que livros temos à mão. A minha mão chama-se "mesinha de cabeceira" onde se acumulam tomos que se largam e se retomam, se levam para os transportes públicos - sim, redescobri o prazer de andar nos autocarros e no metro - ou que nunca se chegam a ler ou que já foram lidos e que, por preguiça, não saem da resma. Um livro de direito, de Figueiredo Dias, O problema da consciência da ilicitude em direito penal, a biografia de Dostoievsky, de Troyat, A Cartuxa de Parma, um livro de ensaios de Claudio Magris, Utopia e Desencanto, outro de Eduardo Prado Coelho, Situações de Infinito, Istanbul, de Pahmuk, Os Lusíadas e a História, de Jorge Borges de Macedo, Profanations, de Agamben, Debaixo do Vulcão, de Malcom Lowry, Jesus de Nazareth, de Bento XVI, O Paradoxo do Ornitorrinco, de Pacheco Pereira, Estaline, de Simon Sebag Montefiore, e O Fiel Jardineiro, de Le Carré. Uma frase? A da direita, de Istanbul:

I belong to the living dead, I am a corpse that still breathes, a wretch condemned to walk streets and pavements that can only remind me of my filth and my defeat.

UMA VEZ PORCALHOTA, TODA A VIDA PORCALHOTA

Miguel: não há por aí uma vaga para lavar escadas?

A ENGORDA

Apesar do tímido crescimento da tributação, esta engorda parasitária dos lucros bancários é pornográfica num país onde a produtividade e os salários reais são o que são. As remunerações das administrações do BPI e do BCP, juntas, são outro tanto. Este é um outro mundo, longe das "novas oportunidades" do senhor engenheiro e longe do país que se afunda mansamente na demagogia que nos empobrece moral e materialmente. Trazem a vida de milhares de portugueses presa pela trela prestamista.Vidas novas - gente de trinta anos, quarenta e cinquenta anos - que se esboroam aos bocados enquanto a engorda cresce com o aplauso reverencial do poder político "democrático". É desses bocados que são feitos estes lucros. Dá vontade de andar para aí aos tiros, não dá?

7.11.07

PS POPULISTA

Num "parlamentarês" impróprio de professor catedrático, o dr. Santos Silva, dos Assuntos Parlamentares e do governo, disse que Santana Lopes "berrou e desandou". Depois veio o sr. Junqueiro - uma nódoa que se senta na primeira fila da bancada do PS - recuperar Guterres, em 1999, e mandar "desaparecer" o referido Santana. Já ontem Sócrates, respondendo ao PP, falara em "tripas" e, hoje, em Parque Mayer. Lopes - e muito bem - não ficou na sala porque não é interlocutor destes acólitos menores. O PS oscila entre Prada e brega. O populismo dá, afinal, muitas voltas.

UM PROGRAMA

«Programa de empobrecimento colectivo, lento mas seguro» é, realmente, o que está em curso. Mas isso não interessa nada. Hoje há bola de novo. País de merda. Portugueses de merda.

OURIÇOS E RAPOSAS

Na segunda fila, mesmo por trás de Santana Lopes, sentava-se Pedro Pinto. Bom rapaz, gordo e anafado como um habitante da lezíria marialva, senhor de uma grossa melena pornográfica, Pinto balanceava-se ao ritmo da fala do líder parlamentar e, no fim, brindava-o com sonoros apoiados e mais movimentos de corpo. Não reconheci nenhum dos outros que ladeavam o ex-primeiro-ministro. O maior partido da oposição não pode exibir aquelas duas desgraçadas primeiras filas. Esquecem-se que as televisões "apanham" tudo e que uma "imagem" vale mais que muitas palavras. Recomendo a Pedro Santana Lopes que reveja a "imagem" e a corte. E duvido que Menezes tenha apreciado o exercício. Sócrates saiu mais fanfarrão do que entrou embora nem sonhe com o que o espera em 2008 muito por causa deste "virtuoso" (palavra horrível que o dr. Alberto Martins e outros parlamentares barrocos tanto trouxeram à colação) orçamento que defendeu com tanto e inútil ardor. De encenação em encenação até ao cair do pano, o embuste fortalece-se com contrapontos como os mencionados naquelas duas malditas filas. Dou-lhe uma sugestão, Pedro. Convide-me para falar consigo uma vez por semana. Isto é como a velha fábula do ouriço e da raposa. A raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa mais importante. É só passar-lhe a mão pelo pêlo.

6.11.07

ACTION MAN


Vale a bola a todas as horas, todos os dias. Cá e lá fora. O Parlamento é uma espécie de condomínio fechado com os mesmos porteiros e seguranças há trinta e tal anos. Muda apenas o administrador. Agora é Sócrates. Há dois anos e meio que repete, com sucesso, a mesma lição. Os novos e velhos condóminos têm dificuldade em acompanhar este atleta da Praça Vermelha e do calcetão do Rio. Há quem aprecie o estilo. Eu detesto com o mesmo empenho com que, aos nove anos, cobiçava o boneco "action man". Apesar deste falar e mexer bem os braços e as perninhas.

PERGUNTE SANTANA


No "debate" desigual sobre o orçamento - meia hora para o "premier" e cinco minutos para os outros - aguarda-se por Santana Lopes. O orçamento é "desmontável" e é preciso "atingir" as pessoas com aquilo que lhes vai doer mais em 2008 por causa dele. Pergunte Santana pelo assalto praticamente à mão armada aos pensionistas - não aos dos sete mil euros, mas aos dos seiscentos -, pelo IVA não competitivo logo aqui ao lado ou pelo saque aos deficientes e talvez os portugueses comecem a perceber quem é que está a "pagar" as "novas oportunidades" que não existem. Pergunte Santana, em suma, pela ficção montada e prestará um bom serviço à opinião pública e à política. Quaisquer cinco minutos com a palavra certa valem mais que meia hora com trivia publicitária enganadora. E prepare-se para levar com o passado em cima. É um clássico do jogging parlamentar e de um maratonista irascível e "feroz" que não toma "lexotans".

5.11.07

WHAT´S LEFT?

Fora a referência a Soares (qual Soares? o anterior à recandidatura ou o do frete?), este retrato do "socratismo" é magnífico por vir de uma das duas ou três vozes libertas do temor reverencial que grassa no PS. Bem pergunta o outro: what´s left?

MULHERZINHAS

Ao ouvir "Zezinha" Nogueira Pinto perfeitamente alinhada pelo "socratismo" correcto, ocorre-me que, na política portuguesa, nas "opinion makers" portuguesas, as senhoras se dividem por duas raças distintas: as mulheres e as mulherzinhas.

RUA A RUA, PORTA A PORTA


«A interpretação da Bíblia pode efectivamente tornar-se um instrumento do anticristo, escreve Ratzinger. O papa refere-se à exegese moderna, científica, na qual o próprio Deus não diz nada. Clemente de Alexandria, há 1800 anos, na Exortação aos Gregos, também avisava os fiéis para fugirem dos demónios como se fugissem de bestas selvagens; embora na altura a tarefa de Clemente fosse a desconstrução dos deuses gregos, existem algumas semelhanças entre as duas missões. Ratzinger pretende evangelizar de novo e não o esconde, Clemente iniciou uma evangelização. Ratzinger tem como adversários, diz ele, o hiper-racionalismo, a fé na ciência e o distanciamento de Deus; Clemente lutava contra os "deuses adúlteros", os estóicos ("que cobrem a filosofia de vergonha") e os epicuristas ("afirmam que Deus não se importa com o mundo"). O último livro do Papa - escrito de forma acessível - é de leitura obrigatória para quem quiser antecipar a política do Vaticano para os próximos anos. Vai ser uma luta rua a rua, porta a porta.»

Filipe Nunes Vicente

4.11.07

A MULHER DE TIRES


No Público de hoje, domingo, vem um excelente texto de Paulo Moura sobre uma família "cor-de-rosa" que, por causa disso, virou negra. Em Janeiro, a mulher, atascada em dívidas e num filho improvável, alegadamente mandou liquidar o marido, um daqueles empresários médios que o dr. Cavaco tanto aprecia e que incubou nos anos 80. Com o dinheiro "adiantado" por conta do homicídio, um dos assassinos foi imediatamente comprar um televisor e uma varinha mágica. Matança rasca, matadores rascas. Dos palacetes e dos condomínios fechados, esta mulher passou directamente para Tires onde aguarda julgamento. Muitos dos que privaram com ela nas revistas e nas festas deixaram naturalmente de a conhecer. O filho improvável foi aproveitado pela SIC para um daqueles programas "du coeur" - animados por gente "útil e fútil" - do qual foi sumariamente despedido depois de ter proferido uma bojarda qualquer. Mimético do sr. (ou sra.) Castelo Branco, o jovem deslumbrou-se com a vida da mãe e rejeitou e aldrabou o pai natural, um honesto professor de liceu. No meio disto tudo, desapareceram um promissor empresário que gostava de música e a ambição destes dois "úteis e fúteis", mãe e filho. Até a advogada da senhora vendeu uma entrevista - sacada à sucapa na prisão - a uma revista das anteriormente frequentadas pela reclusa de Tires e o híbrido Castelo Branco fez o mesmo com o Correio da Manhã. Vale, parece, tudo. Onde pretendo chegar? A perversão que se esconde por entre as mini-saias e os peitos sem pêlos que se exibem nessas revistas, imersa com coca (a "branca"), as vidas falsas e fanadas, a pequena ambição da mocinha ou do moço sem dotes que não se resumam às respectivas partes íntimas, a "cobertura" de eventos e de gente inventada resumem um subjornalismo de sarjeta que se desenvolve nas televisões, nas revistas e, até, em jornais respeitáveis, e que alimenta tragédias morais como as relatadas no texto de Paulo Moura. Lixo que dantes se folheava na casa de banho é agora o "código deontológico" desta "nova gente". Nos cursos para candidatos a jornalistas pedem-lhes que persigam sexo e sangue em vez de ideias e pessoas. Eu sei porque me contaram. A "socialite" desta triste história acabou em Tires. Outras acabam aos balcões dos bancos que não lhes querem mais acudir apesar do "glamour" ou em exercícios "úteis e fúteis" de pura pornografia fotográfica ou televisiva. Afinal, a mulher de Tires é vítima ou carrasco?

3.11.07

UM LIVRO


Não acabou de sair e o seu autor não precisa espremer-se por todos os cantos para ser, como é, um bom escritor. Aconteceu-me ler o livro agora. É um belo livro contra "nós", "nós que passamos pela vida de olhos baixos".

LUÍSA

Ainda não decidi se gosto ou não gosto da deputada Luísa Mesquita. Na verdade, irrita-me um bocadinho, mas o jovem Bernardino Soares ainda me irrita mais. Mesquita quer à viva força entrar para a vasta galeria das "vítimas" do estalinismo do PC, sobretudo daquelas que só descobriram que o "sistema" era mau depois de 1989. A coisa, no entanto, é muito simples. Ou existe um papel assinado pela senhora no qual ela aceita ser posta e tirada da AR sempre que partido entender, ou não existe. O resto é ruído e vaidade pessoal.

RUI RIO E AUGUSTO M. SEABRA

Simpatizo politicamente com Rui Rio. Aprecio o seu germanismo, a forma pragmática como lida com as coisas. Deu-me gozo as derrotas que infligiu ao PS do Porto, uma seita corporativa da pior espécie. E a maneira como obrigou à normalização das relações entre a política e o futebol. Dito isto, fiquei satisfeito com a absolvição do Augusto M. Seabra pelo Tribunal da Relação do Porto depois do autarca portuense o ter processado por ter sido apelidado de "energúmeno" num artigo sobre o trambolho da Casa da Música. Os advogados da Câmara - e Rio - reagiram mal e pretendem recorrer com um argumentário idiota baseado na figura quase sagrada e institucional do presidente da Câmara. Pretender que existem vacas sagradas só porque são eleitas é um mau sistema. Nem as vacas são sagradas - não existe tal - nem a circunstância da eleição representa bondade de per si. O regime - do topo às juntas de freguesia - está prenhe de gente irrelevante, medíocre e esquecível que não o deixa de ser tal por ter sido eleita. Não é o caso de Rui Rio o que lhe confere maiores responsabilidades em não espremer esta teta seca. A liberdade de expressão, a crítica e a acrimónia fazem parte do pacote democrático. Da mesma maneira que saudei as vitórias de Rio - e muitas mais, nacionais ou outras, lhe desejo - também me regozijo com o acórdão da Relação do Porto, uma boa peça para esfregar na cara daqueles que, fazendo parte da "elite" do regime, se imaginam mais iguais do que os outros.

2.11.07

A ESCOLA E O NEGÓCIO

«O maior desastre de 33 anos de regime encontra na Escola expressão carregada de funestas preocupações. Porém, a sociedade civil portuguesa, ao invés de apresentar uma alternativa, cavou ainda mais fundo o descalabro. Atentar nos escândalos da Moderna, da Independente e doutras Donas-Brancas produtoras de diplomas e mentecaptos, mais que um exercício estatístico e factual, deve ser, antes de tudo, uma reflexão sobre a tendência inata dos portugueses em enganar, falsificar, abusar e favorecer amigos, parentes e cúmplices. Falta-nos aquele sentido de pertença comunitária que impede a um britânico, a um alemão, a um canadiano ou a um australiano tirar vantagem pessoal de algo que está ao serviço da comunidade. Em Portugal, do porteiro ao Presidente, todos partilham de uma visão casualista, pelo que ninguém cumpre a lei conquanto esta não traga vantagem pessoal. O ensino privado mostrou quão impreparados estávamos para aceitar uma sociedade de direitos abstractos. Nisto, sou absolutamente anti-liberal. Afinal, para um vulgar gangster, que diferença haverá entre o negócio dos copos, da "movida nocturna", das pensões de má frequência e o ensino ? A meu ver, nenhuma.»

in Combustões

OPORTUNIDADES


A crónica de Vasco Pulido Valente no Público é sobre o país "socrático", o da democracia e das "oportunidades". Este longo fim de semana é mais uma oportunidade. Milhares de portugueses não a desperdiçaram e deixaram as contas certas para trás em troca de uns dias e horas de pseudo lazer, cá dentro e lá fora. Vivem-nos como se fosse a última oportunidade de escapar ao negrume da vida, tal como daqui a umas semanas o irão fazer no natal, no horrível natal, a próxima primeira última oportunidade. As contas certas e o futuro incerto que a demagogia regimental promete ficam para depois, como ficarão para depois do natal. Os portugueses, de uma forma geral, são tão improváveis como quem manda neles. Em certo sentido, existe método nesta loucura ou nenhum dos últimos pastores políticos teria sido possível. Empurra-se a vida com a barriga. Nada disto é saudável embora pareça. E o que parece ainda é. Até um dia.

1.11.07

DER UNTERGANG


Estive a rever A Queda. É um filme sobre a lealdade. Não deve ter tido grande sucesso entre nós.

E AINDA ANDAM COM ELES AO COLO

«... órgão que tinha Pepetela — sim, o escritor que em 1997 recebeu o Prémio Camões — como «inquiridor principal», muito temido pelo seu «registo particularmente agressivo». A Comissão das Lágrimas era a antecâmara da purga. Além de Pepetela, outros dois escritores angolanos foram seus inquiridores: Luandino Vieira, Prémio Camões em 2006, “distinção” que recusou; e Manuel Rui, que ainda não recebeu o Prémio Camões, mas foi, entre outras coisas, ministro da Informação (dispenso-me de explicar o conteúdo do cargo).»

in Da Literatura

MANHA DA COBRA

O professor Vital Moreira - contrário à realização de um referendo sobre o "tratado reformador"/constituição europeia dada a respectiva "complexidade" provavelmente inadequada a primitivos periféricos - defende que, a haver referendo, se devia perguntar à turba se quer sair da Europa e não se aprova ou deixa de aprovar o calhamaço. Era o equivalente a, sobre o aborto, perguntar ao povo se concorda ou não se interromper a gravidez após as primeiras dez semanas de gestação é um crime.

FLORES PARA LOS MUERTOS


Vai por esse país um corropio em direcção aos cemitérios. Quando os mortos eram vivos, muitos tratavam-nos pior do que agora mortos. Hipócritas.