29.2.08

A ORIGEM DO MAL

O que é que leva Nuno Morais Sarmento a ressuscitar dos mortos para "explicar" a Mário Crespo, com um detalhe até agora nunca alcançado por nenhum dos "protagonistas", o assunto "casino de Lisboa"? O presidente da Comissão Europeia, a origem do actual estado moribundo da "direita"?

SONDADOS

Segundo as sondagens, Menezes é um anão comparado com Sócrates. Também de acordo com as mesmas sondagens, o PS ganha sempre, sem maioria absoluta, o PSD desce sempre e o governo está aquém das expectativas. Todavia, os que responderam às sondagens entendem que, em geral, o governo é mau, as perspectivas são más, os protagonistas são fracos. Sem as subtilezas dos comentadores e dos bloggers, os sondados olham para o país sem um módico de confiança e com relativo asco. Tudo somado, e à falta de melhor, Sócrates fica e Menezes claramente não presta, perdido no seu labirinto idiota sobre a publicidade na RTP. Os sondados estão resignados como gado a caminho do matadouro. Suportam Sócrates com o mesmo enfado inevitável com que Sócrates os suporta a eles. Razão tinha Herculano. Isto dá mesmo vontade de morrer.

«MAL-ESTAR DIFUSO»

«Alexandre Herculano, o maior "intelectual" do liberalismo, que passara pelo exílio e combatera no cerco do Porto, deixou, já em agonia, um último juízo sobre a Pátria: "Isto dá vontade de morrer." D. Carlos, que foi de facto o último rei e o último reformador da Monarquia, achava Portugal uma "piolheira" e os portugueses, fatalmente, uma "choldra". Os republicanos não estimavam nem o país, nem a República e acabaram, quase sem excepção, "desiludidos". Basta ler uma dúzia de páginas dos Discursos para constatar o infinito desprezo que Salazar tinha por nós. Do PREC ficou o absurdo cadáver do PC. E esta democracia anda agora a chorar abjectamente o seu fracasso. Verdade que a famosa frase de Herculano é apócrifa (inventada por Bulhão Pato) e que D. Carlos só em privado se alargava sobre o seu reino. De qualquer maneira, não há dúvida de que Portugal sempre gostou muito pouco de si próprio.Com uma certa razão, convém admitir. Desde o princípio do século XVIII que Portugal quis ser "como a Europa" e até hoje infelizmente não conseguiu. A cada revolução, a cada guerra civil, a cada regime, o indígena prestável, alfabeto e "modernizante" supunha que chegara "o dia". E "o dia" invariavelmente não chegava. A sociedade ia, como é óbvio, mudando: devagar, com dificuldade, aos sacões. Só que a distância que nos separava da Europa não diminuía. Os modelos não faltavam: ou modelo universal da França (até à República); ou os mais modestos modelos de países pequenos como a Bélgica no século XIX e a Suécia a seguir. O português copiava com devoção o que via "lá fora". Mas não saía da sua inferioridade e do seu atraso. No meio desta persistente desgraça, Portugal julgou três vezes que se aproximava da Europa: durante os primeiros tempos da "Regeneração", durante o "fontismo" e durante o "cavaquismo". Ao todo, trinta e tal anos de uma ordem política "civilizada" e de um crescimento económico razoável. Mesmo assim, os fundamentos destes raríssimos milagres não eram sólidos. Nos três casos (embora com um ligeiro atraso), uma crise financeira pôs fim à festa e voltou a velha angústia nacional, a que por aí se convencionou chamar "mal-estar difuso". O "mal-estar difuso" é simplesmente o regresso à realidade. Portugal não tem meios para o Estado-providência e a espécie de vida que os portugueses reclamam. E, como não tem, toda a gente se agita e ninguém faz nada com sentido. Esta fase também é conhecida.»

Vasco Pulido Valente, in Público

ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS

Este post do Tomás Vasques é enternecedor. É evidente que, seja lá quem for o autor, toda a gente é livre de abrir um blogue. Desconheço se existem "assessores do governo" que sustentam blogues nem isso me interessa nada. Limito-me a avaliar os conteúdos da mesma forma que avaliam os meus. A diferença é que eu não telefono a ninguém - a não ser que conheça, como é o teu caso ou o do Eduardo - para "comentar" sem que, do outro lado, saibam perfeitamente quem eu sou e como é que ali cheguei. Não sou "anónimo" nem recorro a pseudónimo. Esse género de "liberdades" são adequadas a imaturos. Há, no entanto, para aí quem as tome sem mais. Isto sou eu a falar e sou velho. E este país não é para velhos.


Adenda: Quando eu quiser falar de mim, escrevo umas memórias. O blogue não é o meu "gabinete do utente" privativo. Não serve para exibir a minha gloriosa pessoa ou "obra" - não sou tal coisa nem possuo uma -, nem serve para falar daquilo que faço profissionalmente. I'm not my own subject.

SIMONE



Vi a entrevista de Simone de Oliveira na RTP. Gosto dela. É uma mulher com força, corajosa e livre. Por isso mesmo, podia ter-se poupado ao "momento anti-fascista" com que começou a entrevista. Simone começou e floresceu na "ditadura", uma "ditadura" que lhe permitiu ir a Espanha cantar Ary dos Santos e que a celebrou. Quando regressou, foi recebida em apoteose, em Santa Apolónia, provavelmente pelos mesmos que, cinco anos depois, esperaram Mário Soares vindo de Paris e que, dias antes da revolução, aplaudiram vibrantemente o então presidente do Conselho, Marcello Caetano, no Estádio Nacional. O nosso "povo" sempre foi assim: muito "patriota" com quem está. Simone, como explicou, vota PS, um PS que, agora no governo, se "esqueceu" dela nos cinquenta anos da sua carreira. Lembro-me de Simone, em 1980, na sede da recandidatura do General Eanes a cantar a canção do vídeo, um poema de Eugénio de Andrade. As coisas são o que são e foram o que foram. E a Simone é uma referência da música dita ligeira portuguesa, acima de qualquer regime. Não tem por que se arrepender de nada.

28.2.08

DA RESPEITOSA IRREVERÊNCIA

«Qualquer trabalhador por conta de outrem, docente universitário ou jornalista, empregado de livraria ou contabilista, funcionário público ou quadro de empresa, não pode ignorar o feedback das suas irreverências face à imagem do empregador.» Muito bem. Então o Eduardo defende que, na dúvida, é melhor que "qualquer trabalhador por conta de outrem, docente universitário ou jornalista, empregado de livraria ou contabilista, funcionário público ou quadro de empresa", não escreva em blogues ou, em alternativa condescendente, possa escrever mas apenas sobre a Oprah, touradas, futebol, Catarina Furtado (estas quatro categorias estão evidentemente interditas a jornalistas), frangos no churrasco ou autores "consensuais" como Paulo Coelho ou Margarida Rebelo Pinto (estes dois estão vedados aos empregados de livraria)? Ou que se reforme para poder escrever livremente e sem problemas de "imagem"? Ou que mude para Marte? Esclareça lá.

SEM SAÍDA

«O verdadeiro retrato de Portugal não foi dado pelo documento da Sedes ou pelas suas radiosas antecipações. Foi dado, sim, pelas velhas "Novas Fronteiras" do eng. Sócrates e pela triste realidade que por lá se passeou. O optimismo balofo de um primeiro-ministro em campanha, o relato interminável das suas extraordinárias "medidas", os desafios inconsequentes a uma oposição que não existe e a habitual unanimidade que rodeia o poder mostram, com inesperada crueza, a mediocridade reinante e o resultado deprimente de três anos de propaganda. Infelizmente, o aparente autismo do primeiro-ministro não choca, como se tem dito, com as misérias do "país real": pelo contrário, a sua arrogância e a impunidade de que continua a gozar são o melhor reflexo da situação nacional. Por muito que isso lhe custe, o seu Governo não é um "marco" histórico que estabelece a diferença entre um lamentável "antes" e um radioso "depois": limita-se a ser um fruto do que aconteceu "antes" que continua irremediavelmente ligado às circunstâncias que o fizeram nascer. Agora, como no passado, a sua imagem depende essencialmente dos episódios e das trapalhadas em que se vai afundando o PSD. O eng. Sócrates, esse reformador determinado que a propaganda inventou, não é mais do que um sofrível gestor de um sistema desacreditado que ele, à custa de algumas medidas avulsas e de anúncios intermitentes, acha que modernizou. A modernização, ou, melhor dizendo, a modernidade de que este Governo se reclama reduz-se a um inventário sem rasgo que o primeiro-ministro vai debitando num esforço desesperado de apresentar obra feita. A 18 meses das legislativas, a determinação do reformador cedeu o lugar às necessidades de uma campanha e aos habituais recuos que antecedem as eleições. Não há futuro, como se tem dito, porque o futuro não costuma aparecer no meio de cálculos de mercearia e de pequenos balanços parciais que não apontam para nenhuma política. O futuro, como se depreende de todo este falso optimismo, é uma desagradável incógnita que não se compadece com estas pobres sessões que marcam o arranque de uma longa campanha. E depois há os factos simples, objectivos e verificáveis, que não são simples nem objectivos e que, infelizmente, nunca se verificaram. Ou seja, os factos que justificam este tipo de proclamações: "O rendimento disponível aumentou, baixou o insucesso escolar, baixou o abandono escolar e o salário mínimo teve o maior aumento da década." Infelizmente, este país das maravilhas só pode aparecer nos discursos do primeiro-ministro, porque o país se encontra, de facto, numa situação sem saída.»


Constança Cunha e Sá, in Público

REGRESSA...

... dia 6 de Março.

O TRIUNFO DOS PORCOS


Entrou hoje em vigor a nova lei dos vínculos, carreiras e remunerações da função pública. Reduz a três as carreiras às quais, no entanto, se devem somar as seis "especiais" cujo vínculo de nomeação permanente se mantém já que, a seu tempo - sim, isto tudo é para ser "regulamentado" em seis meses -, o Estado prevê sujeitar os seus servidores a um "contrato de trabalho em funções públicas". Até aqui, podemos estar de acordo, apesar do texto ser confuso, baço e "burocrata", de todo "simplex". Acontece que, se nem toda a lei começa já a aplicar-se, há uma parte a resolver até 15 de Março. O governo criou um novo sistema de avaliação que, julgo, deve estar a correr. E, na sequência dessa avaliação que ainda está a correr, os que devem e podem terão de indicar a "fatia" dos respectivos serventuários com direito a prémio e a progredir na sua carreira. Estes "excelentes" não podem exceder cinco por cento. Esta é uma das partes más de uma lei que nem o presidente da República percebeu muito bem. Em quinze dias, os dirigentes vão escolher o seu "quadro de honra". Com a pressa, é de esperar o pior. Está criado um ambiente dentro da administração pública, e contra ela, que propicia o triunfo da mais abjecta sabujice, da bufaria e do amiguismo. O terreno é fértil para os intelectualmente desonestos e para os dissimulados se distinguirem, quer escolham, quer sejam escolhidos. Espero que esta legislação prolixa, cuja "razão" não ponho em causa, não venha, no fim, a significar o triunfo dos porcos.

27.2.08

NÃO ACERTA

O ministro da agricultura, uma figura esquecível do universo "socrático", acusou Paulo Portas de "caloteiro". O ministro - recordo -, das poucas vezes que abriu a boca, manifestou algumas dificuldades em lidar com o português: nunca diz "possamos", diz "póssamos". Agora falou como se tivesse deixado crescer a unha do dedo mindinho. Não acerta.


Adenda: Comentadores "esclarecem" que foi Portas quem primeiro chamou caloteiro ao ministro por causa da pasta que ele tutela. Sucede que Portas não é membro do governo do país. É chefe de um partido da oposição e não recorreu a adjectivação muito diversa a que não tivesse recorrido no passado, em bancadas parlamentares ou nos jornais. O que já me parece trinta vezes pior do que os jogos florais entre estes dois, é este post "avarinado" de Ana Gomes, com um argumentário de sarjeta indigno de alguém que representa Portugal no Parlamento europeu. Não é conversa de senhora. É coisa de "gaja".

DA NECESSIDADE DE OUTRA COISA - 3

Alguns comentadores do post anterior indignaram-se pela minha desconfiança em relação ao dr. Menezes. Confesso que não vi a sua entrevista à SIC Notícias. Só ouvi o disparate sobre o referendo do tratado de Lisboa (foi graças a ele que houve ratificação parlamentar, ele é que "obrigou" o PS, etc....) e desliguei a televisão. O que o dr. Menezes diz ou faz nunca me interessou nem jamais me interessará. Bastou-me ouvir, logo de manhã, antes de sair de Lisboa, o sr. Ribau na rádio. O sr. Ribau é o secretário-geral do PSD escolhido pelo dr. Menezes. Pretende arrastar o partido para uma manifestação geral de professores. A isto eu chamo oportunismo sem um pingo de ganho político. Não os mudem, não.

26.2.08

PACTO DE SILÊNCIO


O dr. Menezes convocou umas quantas eminências do PSD e "independentes" para lhes comunicar que ia romper o "pacto" sobre justiça, assinado por Marques Mendes com o PS. Não gosto de "pactos". Normalmente servem apenas para a propaganda de quem está "por cima". Todavia, uma vez subscritos, devem ser cumpridos. Mesmo que seja na justiça onde, como se sabe, praticamente já não há remédio. Mais do que a insustentável leveza de Menezes que está a conduzir alegremente o PSD para o abismo, é notável que nenhuma daquelas eminências se tenha manifestado contra a leviandade do líder. Menezes é mau, muito mau. E, nem por isso, deixa de estar bem acompanhado.

Foto: Kaos

A QUERELA


Na querela Maria de Lurdes Rodrigues/professores é difícil entrar. O "eduquês", uma especialidade destes trinta anos de democracia, distinguiu-se precisamente por criar um mundo muito seu, fechado e corporativo, que a vasta rede de sindicatos de professores anima. Não é seguro que esse mundo tenha acompanhado o mundo cá fora. Basta ver o espanto e a legítima revolta dos professores quando, em vez de turmas de meninos e meninas, dão de caras com gangs de badalhocos ignorantes e promíscuos dispostos a vandalizar as escolas porque sim. O professor - muito por sua culpa e por culpa das "técnicas pedagógicas progressistas" - viu minada a sua autoridade perante os alunos e, em casos extremos, perante pais de alunos que são piores que os filhos. A demagogia associada às "novas oportunidades" é apenas mais um prolongamento da velha retórica optimista de que não há maus rapazes. Há. E o "sistema" não está preparado para os enfrentar. As "reformas" de Maria de Lurdes Rodrigues revelam essa impreparação e esse irrealismo ao atirar com mais burocracia para cima de uma burocracia cheia de vícios acumulados em décadas de complacência e de desleixo. A ministra tem alguma razão e os professores também, mas o círculo é mesmo vicioso. Sem disciplina e autoridade impostas nas escolas, mesmo ao arrepio da mítica "autonomia" dos professores e das ditas escolas, a educação não muda e não prepara os meninos e as meninas (os que desejam preparar-se) para o "futuro". A querela em curso - que já anda pelos tribunais como se os tribunais "governassem" - não muda um átomo da natureza das coisas. E, sobretudo, não muda a natureza dos homens. Isto é mais básico do que o ensino com o mesmo nome.

25.2.08

POR QUE É QUE EU GOSTO DE SARKOZY


MAIS UM

A melhor maneira de "passar por cima" da questão "casino de Lisboa" enquanto sintoma potencial de tráfico de influências e da fraca qualidade de vida da democracia, é abrir um inquérito. Foi o que fez a PGR. É apenas mais um.

O ENTERTAINER


O cirurgião Eduardo Barroso - membro de uma ilustre família burguesa e anti-fascista e que trata por tu, aos beijinhos, amigos de infância como Marcelo - demitiu-se de presidente da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST). Há dias, a revista Visão revelava quanto é que o famoso cirurgião recebia de prebenda pelos transplantes realizados. Numa entrevista à televisão, deu depois a entender que era preciso "compor" os salários de miséria - dos médicos, naturalmente - pagos no SNS. Os "prémios" pagos destinavam-se, segundo ele, a "compensar" esta indigência que ele atribuía a si próprio e, simpaticamente, aos colegas. Barroso é mais um entertainer do regime ao lado de tantos outros. Tem este talento com as mãos, cozinha, fuma charutos e, condição fundamental para entertainer, gosta de futebol, coisa que comenta, com aquela voz irritante que Deus lhe deu, onde calha. O homem até pode ser uma sumidade daquelas de que os cemitérios estão cheios. Todavia, não sei porquê, não confio nele. É tagarela em demasia para o meu gosto e, sobretudo, para a sua "arte". Fez bem em sair.

ESTE LIVRO NÃO É PARA ANALFABETOS

Ao que ficou reduzido o livro de Cormac, em duas linhas do Público online: "Este País não é para Velhos", a adaptação de um romance de Cormac McCarthy que conta a história de um negócio de droga que dá para o torto, no sul do Texas." Que estupidez.

JEJUM DE IMAGENS E PALAVRAS

«O Papa pediu há dias, no encontro quaresmal com o clero de Roma a 7 de Fevereiro, um "jejum de imagens e palavras". A sociedade mediática criou uma embriaguez de estímulos que embrulha e asfixia, manipula e embrutece. É preciso lidar com ela como com a poluição. Na era da informação é crucial lembrar que o silêncio é de ouro.»


João César das Neves, Diário de Notícias

24.2.08

A DÉCIMA SEXTA MARCA

IMPORTA-SE DE REPETIR?

Um ironista, este Santana Lopes.

DA CREDIBILIDADE

Sócrates não me interessa. Nem humana nem politicamente. Na pregação que fez aos fiéis sentados na FIL, ficou claro que já não tem nada de novo para oferecer daqui até 2009. Sobressaiu, todavia, o termo credibilidade. Sócrates e os seus fazedores de fichas estão convencidos de que, desde que o país esteja devidamente anestesiado e com a tragédia Menezes a continuar por aí, basta-lhe falar em credibilidade para que ela exista. Não existe. Só que Sócrates "vive" deste tropismo. Acredita, com alguma razão, que é o melhor do que não presta.

DEMOCRACIA DE TELEPONTO

23.2.08

DA NECESSIDADE DE OUTRA COISA - 2

«... o que dos Portugueses digo e repito: que me incomodam, que deles tenho ânsias de me afastar, que me fartei da bovina palha com que vão entretendo uma existência sem risco, de espinha dobrada em salamaleques perante gente que lhes cospe em cima, os manipula miseravelmente, os enche de futebol, tinto e tremoços.»

Miguel Castelo-Branco, in Combustões


«Onde há cada vez menos debate político há cada vez mais Lili Caneças da República, o interesse do país e dos portugueses está a dar lugar a esta procissão de personagens que descobriram que podiam ser vaidosas. A Justiça é uma desgraça mas os procuradores nunca foram tão famosos e capazes de resolver todos os males da sociedade, o inspector-geral da ASAE cuida do que comemos para sua fama e proveito, o director-geral da Saúde garante que respiramos melhor. Do outro lado estão os milhões de portugueses que ganham mal e assistem impavidamente à retenção na fonte do fisco de uma parte cada vez maior dos seus rendimentos, para os quais passou a haver duas séries de telenovelas, as telenovelas da SIC e da TVI e as produzidas pelas Lili Caneças da República.»

in O Jumento

DA NECESSIDADE DE OUTRA COISA


O João Miranda coloca, com graça, a questão da "revolta nacional". Acontece que já não há daquilo com que se costuma fazer "revoltas", embora, como se escreve na "carta da semana" do Expresso dirigida ao paisano Miguel Sousa Tavares, ter-se-ão já interrogado por que é que acontecem pronunciamentos militares, desde 1817, «quando estão criadas as condições, independentemente da Uniões Europeias ou afins?»

DEIXAR ENTRAR A REALIDADE

O PS e o senhor engenheiro estão a promover "15 marcas para um Portugal moderno". Trata-se de "comemorar" três anos disto no governo. Estas estimáveis criaturas do PS e demais "independentes" que acreditam no pai natal, persistem em propagandear uma construção que só existe nas suas imaginativas cabeças. Não estará na hora de, em vez dessa construção em power point, deixar entrar a realidade?

IL NE RESTE QUE LE PIRE




Il faut savoir encore sourire
Quand le meilleur s'est retiré
Et qu'il ne reste que le pire
Dans une vie bête à pleurer

Il faut savoir, coûte que coûte
Garder toute sa dignité
Et malgré ce qu'il nous en coûte
S'en aller sans se retourner

Face au destin qui nous désarme
Et devant le bonheur perdu
Il faut savoir cacher ses larmes
Mais moi, mon cœur, je n'ai pas su

Il faut savoir quitter la table
Lorsque l'amour est desservi
Sans s'accrocher l'air pitoyable
Mais partir sans faire de bruit

Il faut savoir cacher sa peine
Sous le masque de tous les jours
Et retenir les cris de haine
Qui sont les derniers mots d'amour

Il faut savoir rester de glace
Et taire un cœur qui meurt déjà
Il faut savoir garder la face
Mais moi, mon cœur, je t'aime trop

Mais moi, je ne peux pas
Il faut savoir mais moi
Je ne sais pas...

ÇA NE VEUT PLUS RIEN DIRE DU TOUT




Há dias, a propósito de uma entrevista de Aznavour na RTP, lembrei-me que hoje se vai sentir a falta do Eduardo Prado Coelho. Quem , melhor do que ele, poderia descrever uma entrada «nesse lugar mítico de Saint-Germain que é o café Les Deux Magots e, depois de passar a demorada porta giratória», voltar-se para a esquerda e dirigir-se «até à mesa do fundo, não a da janela, espera, mas a outra ao lado, debaixo do enorme espelho empalidecido pelos muitos rostos que nele desapareceram um dia?» Quem, melhor do que ele, observaria «debaixo do espelho, uma fotografia onde se vê o espelho em que neste momento me vejo, e à frente dele, com um livro aberto sobre a mesa, absorta na leitura, está ela, está o retrato de Simone du Beauvoir?» E, quem, assim ao sentar-se «nesta mesa, exactamente a mesma», estará «exactamente naquele lugar onde estava, e continuará a estar a Beauvoir, numa tarde de inverno há sessenta anos», quando «os gestos encaixam uns nos outros.?» Não, eu que tanto amo Paris não sei falar dela porque das tantas vezes que lá fui ela ainda não me conseguiu "falar" como eu desejo que ela me fale. Como numa canção escrita por Aznavour, há tanto tempo como no tempo estático da minha vida, «il faudra bien que je retrouve ma raison/mon insouciance, et mes élans de joie/que je parte à jamais pour échapper à toi.» Ou noutra, à espera que a porta do café, do Le Palace, rode de novo: «viens, découvrons, toi et moi, les plaisirs démodés/mon coeur contre ton coeur, malgré les rythmes fous/je veux sentir mon corps par ton corps/épousé/dansons, joue contre joue/dansons, joue contre joue/viens, noyés dans la cohue, mais dissociés du bruit/comme si sur la terre il n'y avait que nous/plissant les yeux mi-clos jusqu'au bout de la nuit.» Aznavour, no silêncio obsceno e gigantesco do Pavilhão Atlântico, vem falar-me de um tempo «que les moins de vingt ans/ne peuvent pas connaître», de um tempo em que «nous étions quelques-uns/qui attendions la gloire» porque «on était jeunes, on était fous.» O Eduardo escreveria: «o que quer dizer que estas palavras estão certas como um tempo que foi e é para sempre a beleza de ter sido.» O que, dito por Aznavour, na rouquidão desse tempo que foi e que passa pela sua voz, pela minha vida, «ça ne veut plus rien dire du tout.»

22.2.08

PINTO DA COSTA

Só num país pindérico como o nosso é que é possível constituir uma trama judicial em torno do despeito.

TRISTE FIGURA

Estas baboseiras da eurodeputada Assunção Esteves seriam cómicas se não fossem reveladoras da tremenda inconsciência "bruxelense", correcta e politicamente irresponsável. Em que mundo vive esta gente?

MAU TEMPO

Não são apenas os generais ou um blogger famoso de passagem pelo supermercado que pressentem que o país das maravilhas do senhor engenheiro só existe na cabeça dele. A SEDES - uma agremiação insuspeita cujos principais dirigentes pertencem ao "centrão" e da qual sou sócio - à semelhança do que tinha feito na "era Santana Lopes", produziu este documento de reflexão (alguém está interessado em "reflectir"?) sobre o tempo que passa. Mau tempo, sem dúvida.


Adenda: O Filipe Nunes Vicente - que, juntamente com outros bloggers, se nomeou uma espécie de alto comissário do governo para a blogosfera - vem criticar a SEDES por ter produzido um chorrilho de lugares-comuns recolhidos na sarjeta. Acontece que há mais sarjeta neste país infeliz do que "novas oportunidades", "simplex" e "planos tecnológicos" nos quais, pelos vistos, o Filipe acredita piamente. E, de facto, isso (a sarjeta) é mesmo um trágico lugar-comum, uma banalidade inelutável, um pathos para a maioria que não tem a sorte de, sequer, poder aspirar a conhecer os clássicos ou aceder aos mistérios da "esquerda moderna". Não seja, pois, tão pileca que lhe assenta mal.

21.2.08

UM BLOGUE


Pelo Atlântico descubro um blogue destinado a lembrar Francisco Lucas Pires nos dez anos do seu desaparecimento. FLP foi meu professor e alguém com quem conversei e aprendi muito fora dessa circunstância académica. Era um intelectual inteiro, um homem justo e bom que faz falta a esta democracia descerebrada. Esta homenagem talvez ajude as gerações mais novas a entenderem que a política pós-25 nem sempre foi um local mal frequentado. Já agora, que se reeditem os seus livros e se publiquem inéditos.

RIBEIRO, O OUTRO E O MESMO

Augusto M. Seabra sobre Pinto Ribeiro, a grande "esperança" da esquerda na cultura. «José António Pinto Ribeiro tem a seu desfavor dois óbices de monta. O primeiro, é a sua proximidade a Berardo, sendo que era inclusive o elemento do Conselho de Administração da Fundação por acordo de ambas as partes – e foi péssima entrada na matéria o próprio Berardo ter feito saber que tinha sido Pinto Ribeiro a telefonar-lhe a comunicar a sua nomeação e que ele era como “um médico que dá consultas à borla”. A segunda é a sua proximidade como advogado ou mesmo sócio a algumas figuras artísticas ou empresas culturais das que tem maior capacidade de discurso e pressão pública.» Até agora, a invisibilidade do ministro que "podia ser o que ele quisesse" aumenta a suspeita de que não foi este Ribeiro que Alexandre Melo "soprou" aos ouvidos do chefe do governo. Será que, afinal, havia mesmo o outro?

COSTA NO SEU LABIRINTO


Deve ser duro para um politicão como António Costa estar à frente de uma autarquia na qual não só não pode fazer nada, como tem de espremer-se como contabilista. Tudo, aliás, começou mal. A lei das finanças locais (dele) da qual, ironicamente, é a primeira vítima, poucos votos, uma assembleia municipal em sentido contrário, Roseta, o "Zé", o invisível dr. Negrão e a sombra das derradeiras presidências pairam sobre Costa como abutres. Custa muito criar espaço próprio no deserto "socrático". O que Costa seguramente nunca pensou foi que custasse tanto. Habitua-te, pá.

A ZONA J DO PSD

No dia em que Sócrates se comemorou, armado em Obama de trazer por casa, o pobre dr. Menezes arrastou-se pela "zona J", a Chelas. E lá terá dito, a propósito dos dinheiros da Somague, que aquilo não eram coisas do "seu" PSD. O país agradeceu a informação até porque ninguém ainda tinha conseguido perceber qual era o PSD do dr. Menezes. É que se o "seu" PSD é aquilo que tem sido, mais a recuperação dos desastres de tráfego de Barroso e Lopes, então mais vale fechar a porta. A debandada de Barroso constituiu - convém recordar - o acto fundador da mediocridade subsequente. Menezes e o "seu" PSD são a "zona J". Pior é impossível.

20.2.08

DUVIDO, LOGO PROMULGO

«O referido diploma [regimes de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas] suscita dúvidas em dois planos, as quais, na altura devida, foram expressas pelo Presidente da República, designadamente no pedido de fiscalização preventiva da constitucionalidade enviado ao Tribunal Constitucional. Assim, por um lado, o diploma em apreço continua a consagrar soluções que, por pouco claras e transparentes, podem criar dificuldades de percepção por parte dos respectivos destinatários, potenciando situações de conflitualidade no seio da Administração Pública. Por outro lado, subsistem dúvidas quanto à remissão para simples portaria da regulação de matérias de carácter inovatório e ainda quanto à preferência concedida a pessoas colectivas na celebração de contratos de prestação de serviços, o que pode implicar uma excessiva e injustificada dependência da Administração Pública relativamente a grandes empresas privadas Com certeza. Então para que é que promulgou?

TRÊS ANOS

O "yes, we can" do senhor Obama dá, em português técnico, "sim, vamos conseguir". O tabuzinho acabou.

O RETRATO


O Miguel - e, pela primeira vez, não concordamos - desanca a chamada "geração de 70" num estilo delicioso que só a evoca. Fá-lo a dobrar. Porquê esta inesperada acrimónia contra aqueles que ficaram conhecidos como os "vencidos da vida"? Porque não gostavam do "povo"? Porque não apreciavam a inépcia do regime? Porque desconfiavam dos nossos pobres monárquicos, como lhes chamou, depois, Salazar? Porque perceberam que, após 1580, pouco mais temos andado a fazer do que a pastar a vaca? Porque intuiram que, apesar do desejo larvar de um "salvador", isto jamais se salvaria? Porque, no realismo do excesso das suas heroínas e dos seus heróis romanescos, retrataram uma sociedade oca e hipócrita que se perpetuou? Porque, no seu desespero poético-político, levado ao extremo, um deles, Antero, desistiu sentado num banco de jardim em Ponta Delgada? Porque o mais brilhante deles todos, Eça, execrava a "pátria" ao mesmo tempo que a representava lá fora? Porque, num dos poucos acessos aproveitáveis, Junqueiro berrou, feito louco, o "finis patriae"? Porque Oliveira Martins tentou e falhou melhor no governo, como que antecipando o "tenta e fracassa, tenta outra vez e fracassa melhor" do Beckett, esse genial leitor da malaise contemporânea sempre à espera do que não sabe por que espera? D. Carlos, amigo de Ramalho, seria seguramente um homem da "geração" não fosse a sua posição institucional. Diplomata, cosmopolita e livre, desconfiado dos monárquicos que ornamentavam o regime, o rei foi um verdadeiro monumento político aos "vencidos da vida". Não acabou ele abatido, pelas costas, pela "piolheira", pelos libertadores do "povo"? Não, Miguel, os homens da "geração de 70" já encontraram um país delapidado e, por isso, diminuído e ridículo que persiste. Sem eles, a evidência do primitivismo do Estado e da sociedade jamais teria sido tão clara como na luz e sombra das palavras, mais de sofrimento do que de gozo, dessa "geração" perdida. Não é por causa dos "vencidos da vida" - essa casta lucidamente amargurada tão afinal consciente da nossa inconsciência - que nós estamos como estamos. Os verdadeiros "vencidos da vida" somos nós. Eles limitaram-se a tirar o retrato.

19.2.08

LAPSO

Até Mário Crespo se engasgou ao explicar a presença do politólogo André Freire no seu "Jornal" para comentar, saiu-lhe, "a comunicação, o discurso... a entrevista" de Sócrates. Este lapso freudiano de Crespo acaba por dar o nome real da coisa: comunicação, discurso e não entrevista. Os seus dois tristes colegas apenas fizeram de paus de cabeleira. Comprometidos como os originais.

ALAIN ROBBE-GRILLET (1922-2008)


7 VALORES

Miguel Sousa Tavares - grande escritor português contemporâneo e que deu "17" ao "monólogo do vaqueiro" de Sócrates - na TVI: "interviu" em vez de interveio. 7 valores.

FARSA - 3

Esta decisão do Tribunal Constitucional confirma que a plutocracia substitui, com facilidade, a democracia. Pena é que seja um homem como Vieira de Castro - que, por razões de saúde nem sequer se pode defender - a pagar simbolicamente a factura e que Arnaut, uma triste e inimitável figura, saia ileso. E atenção. Isto passou-se com o PSD como podia ter-se passado com qualquer outro partido do regime. Todos têm o seu Arnaut de estimação e idêntico amor ao betão. O betão é o sal da nossa democracia de opereta.

FARSA - 2

A ignorância é de tal ordem - e atrevida - que um anónimo comentador do post anterior julgou que eu estava a "recolocar" metaforicamente a foto do Doutor Salazar por o querer de volta. Posso admirar intelectualmente a figura, mas condeno o "salazarismo", aquilo que sobrou dos "tempos áureos", na expressão de Franco Nogueira. É esse "salazarismo" evanescente que persiste, por exemplo, na pessoa do actual chefe do governo, no "espírito de corte" e na "política de espírito" em vigor, sublimado canhestramente em tantos artigos de jornal, em alguns blogues, em tantos "comentadores". Nomeiam-se "democratas" mas são meros "salazarinhos" desprovidos de Salazar. E, lá onde eles são "democratas", eu, naturalmente, só posso ser anti-democrata. Aliás, deve-se fugir a sete pés daqueles que passam a vida com o credo democrático na boca e o pretendem impingir aos outros. Deve ser o caso do anónimo que desconhece que a foto é de Eduardo Gageiro e foi tirada nas instalações da PIDE, no "25".

FARSA

O "Diabo" entrevista generais contra a "situação". Sucede que, para além de estarem "na reserva", eles foram generais no tempo em que havia tropa e não voluntários para os múltiplos "exércitos de salvação" da ONU. Por isso, aquelas entrevistas são inconsequentes. A outra tropa, a fandanga do regime, ou se farta (Guterres), ou foge (Barroso) ou fica armada em salvadora da pátria por não haver "alternativa" (Sócrates e o seu cortejo bajulador). O mais provável, em 2009, é acontecer a Sócrates o que aconteceu a Costa, o meio-irmão do freteiro, em Lisboa: ganhar e reinar sob um manto de indiferença bovina disfarçada de democracia, defendida por meia dúzia de "intelectuais orgânicos" que se babam diariamente para os jornais e para as televisões. Uma raça destas - cobarde, acomodatícia, oportunista e sonsa - merece que alguém se mexa para alguma coisa? Enquanto isto for gerido, no poder e nos me(r)dia, (o tabuzinho da treta) por estes democratas estilo "bombas de esgoto", eu sou anti-democrata.

«SESSÃO DE PROPAGANDA»

«Talvez porque houve um acordo prévio entre a SIC, o Expresso e o primeiro-ministro, ninguém se atreveu a mencionar assuntos tão prosaicos como desigualdade, inflação, salários reais, pensões de reforma, justiça, administração central e local, corrupção, autoritarismo e por aí fora. Nem a pronunciar o irritante nome de Manuel Alegre. A SIC e Sócrates trataram o país como um comício do PS. Isto é, com segurança e com desprezo.»

Vasco Pulido Valente, in Público


Adenda: O Expresso pediu a estes jarrões que "comentassem". O "safou-se" da "conclusão" é bastante eloquente. Estão bem uns para os outros, banais e previsíveis como o visionado. E é isto a "opinião que se publica" do regime. Antes a Cilinha Supico Pinto. Ao menos nunca enganou ninguém.

18.2.08

UM PAÍS ARRUMADINHO

Dizem-me que o senhor 1º ministro, no seu momento "SIC", não falou das inundações nem do "outro" país que as suporta, tão diferente do país arrumadinho que ele tem na cabeça. Estava, aliás, bem blindado pelos perguntistas do regime. Ainda apanhei os "comentaristas" do costume, o sr. Bettencourt, o sr. Delgado e o historiador Costa Pinto, sempre agarrado ao tempo que passa. Não sei o que é que Saarsfield Cabral estava a fazer no meio destas eminências de opinião previsível. Em suma, não devo ter perdido nada.

TV NET

Às 21.15, com o Paulo Gorjão, em "concorrência" com o senhor 1º ministro, em stereo num canal generalista e de cabo.

FICÇÃO ?


Registo a circunstância de o Eduardo se ter "esquecido" deste post. Actualizo-o, então. No dia imediato a tê-lo escrito, o autor do telefonema - "Miguel Abrantes" - voltou a telefonar, desta vez para o meu telemóvel, através de "número privado". Tornei a convidá-lo a dar a cara com um café. Ficou para quando "vier a Lisboa". Quanto ao "sumo" da questão, nada e muita gargalhada. Um bom tema para um futuro romance do Viegas, com o inspector Ramos e e algum novo "colega" do SIS. Ficção pura, claro.

O MINISTRO

O ministro do ambiente, um sujeito cujo nome me escapa, determinou que a culpa das cheias desta noite é das autarquias. O ministro tem-se distinguido precisamente por nós não nos lembrarmos dele. Não valia, pois, a pena vir, logo hoje, lembrar-nos que existe. É que, segundo ele, o ordenamento do território estaria em perfeitas condições para suportar o dilúvio não fossem as malditas autarquias. Sucede que o país que produz ministros destes é o mesmo que, ao menor abalo, cai. E cai por culpa de ministros, de autarcas, das gentes. Debaixo do "plano tecnológico" não há nada.

FESTIM NU


Os nossos media, com aquele optimismo antropológico e "rousseauniano" que os caracteriza, de uma forma geral viram na independência do Kosovo uma festa. Para além disso, também viram - a dra. Teresa de Sousa, então, sempre mais à frente do que os outros - um momento de "afirmação" da UE. Por acaso bastava apenas olhar para as imagens e para as bandeiras esvoaçantes para ver em quem é que o novo povo "independente" confia. Timor, que é uma ficção, é um caos manso ao pé daquilo que o Kosovo pode desencadear. Oxalá me engane, mas pode vir aí um festim nu. No pior sentido.

17.2.08

ANTES DELE

Ouço Santana Lopes e constato que ele se recusa a perceber quem é que lhe deixou o caminho armadilhado. Não por acaso, Jorge Sampaio considerou-o, por causa de uma famosa transumância que ele acarinhou, uma honra nacional. E não se chega a honra nacional sem a prestação de relevantes serviços. Sobretudo a si próprio.

QUEM MANDA


«O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo pede à ONU e à Nato que ajam “sem demora” para anular a proclamação da independência do Kosovo e que o Conselho de Segurança de reúna de emergência. A declaração unilateral de independência da província sérvia constitui, para Moscovo, “uma violação da soberania da Sérvia”, bem como de a “Carta da ONU e da resolução 1244 do Conselho de Segurança”. “Esperamos da missão da ONU no Kosovo e das forças da Nato para o Kosovo medidas imediatas”, escreve o gabinete do chefe da diplomacia russa, exigindo a actuação internacional para a “anulação das decisões tomadas pelos órgãos de auto-administração de Pristina e adopção de medidas administrativas severas que as confrontem.» Vem aí festa. A situação é excelente.

LIXO E CASINO

Um cobardolas anónimo escreveu, a propósito do post anterior, que não falo no "meu amigo Telmo" e do casino porque não fazem parte da minha galeria de "ódios de estimação". Em primeiro lugar, e se esse cobardolas vem cá ler alguma coisa, sabe perfeitamente o que penso do "meu amigo Telmo". Depois, a "história" do casino passa por todos. Desde o governo de Lopes até ao amável dr. Sampaio que promulgou o diploma legal que permitiu a coisa. O dr. Assis Ferreira conhece a venalidade do regime independentemente de quem está no poder. Não é por acaso que administra casinos. É amigo de todos e todos são amigos dele. Por isso, da próxima vez que quiser dar recados, identifique-se. Não converso com lixo humano reciclado pelo PS ou por qualquer partido do regime.

O SECRETÁRIO-GERAL


O PS é a nova "união nacional"? Parece. O seu secretário-geral ficou muito incomodado por causa de uma manifestação à porta da sede do Rato. Segundo a criatura, os manifestantes "queriam condicionar o PS" e pertenciam a "outros partidos". O secretário-geral odeia o conflito porque não percebe nada de democracia a não ser a que lhe ensinaram nas conspirações rascas das secções do partido. Acontece que o secretário-geral pastoreia uma piolheira chungosa e submissa que, apesar de tudo, ainda não é a Coreia do Norte. Azar o dele.

Adenda: Fica-te mal esse "lado" Dutra Faria do PS, Tomás. Deixa isso para os blogues dos serventuários.

SUSPENSÃO



«Se pudesse, suspendia o relógio, queimava todas as pontes e deixava-me ao abandono dos trópicos, afogado pela natureza. Aqui não falo. Não há com quem possa falar. Aqui não leio. Um livro soa a falso, tamanha é a magreza do estro dos mais inspirados poetas perante a imponência do meio. Aqui, se medito, perco-me. Prefiro fechar os olhos, sentir a brisa e o cantar das ondas suaves que à praia vêm morrer. Aqui, Liberdade, trato-te pelo nome.» É isso, Miguel, também não vejo a hora de pegar no malote, ou em nada, e desaparecer. A partir de certa altura, só fazemos falta a nós mesmos. Perde-se muito tempo com merda. Sobretudo com a que tem olhos e, alegadamente, uma cabeça.

16.2.08

UM PEDAÇO DA EUROPA


O desmembramento da Jugoslávia - um artifício decorrente do fim do império austro-húngaro que os vencedores de 45 aceitaram apesar da desconfiança da URSS em relação a Tito - permitiu a emergência de uns quantos "estadinhos" independentes. O minúsculo Kosovo proclama agora a sua sob a suspeita e o ódio "nacionalista" da Sérvia. Talvez Bruxelas e a UE, em geral, vejam nisto mais um "progresso" da "democracia". Não é. Aquele pedaço da Europa foi sempre um problema para a Europa. As piores convulsões do século passado, até bem dentro dos anos 90, ou começaram por lá, ou passaram por lá. Esta "independência", acarinhada pela correcção ocidental, pode custar-lhe cara. Talvez esteja, pois, na hora de reler o livrinho da foto. Devia aprender-se qualquer coisa com a história, quer para evitar tragédias, quer para evitar comédias. Todavia, com dirigentes europeus do calibre dos actuais, e apesar do inegável talento de muitos para a encenação, é de esperar o pior. Aquele pedaço da Europa nunca brincou em serviço.

A ANEDOTA REVISTEIRA


Em entrevista ao Expresso (Única), Cecília Supico Pinto, aos oitenta e seis anos, define muito bem o ser humano. Quando lhe perguntaram pelas pessoas que lhe viraram a cara depois do "25", Cilinha respondeu: "toda a espécie de pessoas, conhecidos e até algumas que me tinham pedido coisas." E rematou: "quem reage assim é um desgraçado." Quanto aos políticos de hoje, Soares é "um simpático aldrabão, engraçadíssimo", "Cavaco está a fazer um bom lugar como Presidente da República, e o Ramalho Eanes também foi muito sério." Todavia, para ela, "democracia em Portugal, e nos países latinos, é quase uma anedota revisteira..." Que certeira. Que Senhora.

A FATALIDADE NACIONAL

Numa entrevista a Mário Crespo - não se pode ser perfeito -, o dr. Mário Soares reclamou não haver alternativa a Sócrates. Nem no partido, nem fora. Ou seja, Soares transformou o senhor engenheiro numa fatalidade nacional. Mais uma. Nada que não soubéssemos já.

Adenda: Manuel Maria Carrilho continua a não ser dado a fatalidades. Pelo menos, entre 2000 e 2001, não se enganou acerca dessa outra grande fatalidade nacional chamada Guterres. Que dirão de Carrilho estes vigorosos e "elementares" críticos da "cultura política salazarista de pernas para o ar" ? Que também é pago pelo grupo SONAE, na inspirada versão regimental do dr. António Costa?

O TÚNEL

Gosto de imaginar Sócrates e Lino a trautear esta velha canção do tempo em que um ainda era só engenheiro técnico, projectista de casinhas onde músicas destas fazem muito sucesso, e o outro ainda estava no PC, ao lado do "povo".

O OBSTÁCULO E O TERAPEUTA


Cada vez que Jorge Sampaio abre a boca, fica-se com mais dúvidas acerca da realidade a que ele presidiu durante dez anos e, mais prosaicamente, sobre o que é que ele esteve lá a fazer. Sampaio foi a Serralves dizer, entre outras, esta coisa extraordinária: "vai ser necessário sério empenho em superar os obstáculos jurídicos e políticos que têm impedido, entre outras medidas, a consagração no nosso ordenamento legislativo de meio tão indispensável à corrupção como é a punição do enriquecimento ilícito dos agentes públicos." Sampaio pode ser moralista à vontade. É só mais um dos que "enriquecem" o regime com a sua douta opinião. Sucede que, no caso dele, há uma diferença não menosprezável. O homem foi chefe da banda duas vezes. Viu passarem-lhe pela frente governos do partido dele e de outros. Até derrubou misericordiosamente um. E nunca nos poupou à sua retórica vazia e redonda. Afinal, Sampaio foi o quê? Dez anos de "obstáculo político", para usar a sua própria expressão? Não nos bastavam os "protagonistas" actuais. Ainda vêm estas vozes do passado recente falar-nos da sua impotência e servir, frias, recomendações. Dedique-se à tuberculose, dr. Sampaio. Pode ser que tenha mais sorte do que teve quando não via passar-lhe à frente dos olhos a corrupção ou o "enriquecimento ilícito dos agentes públicos" que não começaram ontem.

15.2.08

DA ABSTINÊNCIA


Pela hora de almoço, na igreja onde costumo assistir à missa, sentou-se por perto o senhor engenheiro Jardim Gonçalves. Antes de entrar, tinha reparado que o referido engenheiro dava capa a dois ou três jornais e não exactamente pelas melhores razões. Em tempo de Quaresma, somos - nós, cristãos, mesmo os imperfeitos como eu - interpelados por Jesus, pelo mistério da Sua morte e ressurreição. A abstinência requerida pelo tempo de Quaresma significa, mais do que uma omissão, um movimento no sentido de estar do lado certo das coisas, do lado certo do homem, partindo do princípio que existe um. Ajoelhado diante do Senhor, como Térèse de Lisieux com os braços caídos e as mãos viradas para Ele, despojada de tudo, Jardim Gonçalves certamente terá reflectido sobre a abstinência. Para quem acredita, nunca chega tarde o arrependimento. Ao contrário de Teresa, Jardim jamais chegará a santo. Pode entretanto acontecer que as palavras do Senhor ecoem no seu coração perturbado por tantas solicitações terrenas: "nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus." Ainda irá a tempo de O escutar?

O ERRO

A Gradiva enviou-me um convite para um "debate" em torno do tema - que é também título de um livro de uma especialista em saúde mental - "porque nos apaixonamos pelas pessoas erradas". Podia ter como subtítulo "as relações unilaterais". Há pessoas que passam a vida em relações unilaterais e nunca aprendem. Só se apercebem de uma quando passam à seguinte, depois de repararem na parede que esteve sempre ali à frente delas. Não há, pois, "pessoas erradas". Uma relação unilateral é estar apaixonado por uma parede. E esse é que é o erro.

14.2.08

LIVROS E MEMÓRIAS

Pouca gente possui o talento de, ao discorrer sobre livros, nos levar a lê-los. Basta percorrer as páginas de "crítica" literária dos jornais, ou de jornalismo "literário", para entender o que quero dizer. Salvo raras excepções, é de fugir. Medeiros Ferreira falou dos seus livros da única maneira que se deve falar deles: tornando tão universal quanto possível uma escolha íntima através da subtileza e da inteligência com que se transmite essa intimidade. Por isso, fiquei com vontade de ler as memórias de José Cabanis e de Pierre Drieu La Rochelle, para ser "equilibrado" nas escolhas. E gostava, para ser sincero, que o M. Ferreira escrevesse as dele.

A HONRA PERDIDA

O PS acha que o que mais o honra é ter aprovado a lei do aborto nesta legislatura. Num partido com maioria absoluta, a mãos com um país deprimido, periférico e mentido, a maior honra é isto? Pobre honra.

AGITPROP


O dr. Santos Silva, dos assuntos parlamentares, marcou uma sessão de propaganda, no Parlamento, para "discutir" a economia. Com uns miseráveis dados sobre a dita e umas comparações toscas, Santos Silva foi defender a notável obra deste governo em matéria de crescimento. Continuamos na cauda, mas quaisquer décimas mal explicadas servem, com a ajuda mediática de "peritos" isentos como Peres Metello. Manuel Pinho nem apareceu. Também não era preciso. A economia à economia, a propaganda ao dr. Silva. Nem ele lá está para outra coisa.

OS MANSOS


«É preciso ter caos dentro de si para dar luz a uma estrela», escreveu Nietzsche. À nossa raça, JPP, falta desgraçadamente esse caos interior. Só se houver uma "explosão" por inacção. Como V. dizia ontem na "Quadratura", estamos todos sentados e entregues a esse homem precário que é 1º ministro . Literalmente, como em Raul Brandão, sem tecto entre ruínas.

13.2.08

O MELHOR DELA


Carla Bruni-Sarkozy concedeu a primeira entrevista enquanto mulher do presidente da França. Pelo meio, a cantora fala no "ágape dos homens públicos, por exemplo Nelson Mandela, a sua capacidade de se empenharem pelos outros" provavelmente para não ser só "bang-bang". Pierre Assouline não a poupa. «"Agapê" n’est pas le nom de baptême de la nouvelle Lancia mais l’un des termes par lesquels les Grecs nommaient l’amour, entre Eros et Philia. Moins charnel que le premier, et pas aussi exclusivement humain et absolu que le second, il désigne de manière plus universelle l’amour de l’autre, sa capacité à accueillir dans l’amitié tendre et affectueuse. Encore faut-il avoir un dictionnaire de grec sous la main, comme il sied désormais à l’Elysée. La rupture, enfin!» No fim da entrevista, Carla garante ir dar "o seu melhor". Alguém duvida disso?

COITADINHO?

Fossem outros os protagonistas e as circunstâncias e Sócrates não poderia reagir como reagiu no Parlamento ao ser confrontado com a sua actividade pretérita como engenheiro técnico ao serviço de uma autarquia. Comparar esta questão com a de mau gosto que emergiu na campanha de 2005, pela mão do PSD, é uma atitude intelectualmente enviesada e que revela má fé política. Percebe-se por que o faz, mas fica-lhe mal fazê-lo. De qualquer forma, a "biografia" não começa apenas quando nos dá jeito. E Sócrates está bem longe de ser um coitadinho.

CONVERSA ACABADA

Às 18.30, na Casa Fernando Pessoa, Medeiros Ferreira fala dos "livros que não esqueceu". Ainda é uma iniciativa do Francisco José Viegas e um bom pretexto para me despedir do 16 da Coelho da Rocha, a partir de sexta-feira nas mãos desta senhora.

FAZER-SE DE VÍTIMA

«Para um partido de governo, só há uma perspectiva pior do que uma derrota: é um sucesso mais ou menos garantido por falta de concorrência. A disciplina afrouxa, os correligionários tornam-se mais exigentes - e alguns chegam mesmo à insolência. Foi essa uma das razões do martírio de Tony Blair em Inglaterra. O maior risco para os actuais líderes do PS é, neste momento, que o seu próprio partido venha a gerar, através de figuras como Manuel Alegre, a oposição que, fora dele, nunca existirá verdadeiramente enquanto o PSD estiver submetido à comissão liquidatária encabeçada por Menezes e Santana. E daí a necessidade que Sócrates e a sua corte têm de inventar fantasmas que os autorizem a tocar os batuques da união e lealdade. Só assim podemos compreender o estranho fenómeno de ver o Governo, num país em que o Estado pode e manda tudo, a declarar-se cercado e a fazer-se de vítima, como pretexto para agredir e desconsiderar. Se Sócrates e Costa andassem preocupados e entretidos com uma liderança do PSD capaz de lhes herdar o poder, teriam certamente menos tempo para dedicar aos jornalistas e comentadores. A oposição serve para escrutinar a governação e possibilitar a alternância. Mas também para servir de alvo aos ímpetos e necessidades de confronto dos governantes, poupando assim o resto dos cidadãos, e especialmente os que fazem notícias e escrevem comentários. Em suma: precisa-se urgentemente de uma oposição que nos tire este Governo de cima.»


Rui Ramos, in Público

BLACK IS BEAUTIFUL


"A força surpreendente das palavras inspiradoras de Barack Obama", "vitória moral", a "máquina", etc. ,etc, é com este género de palavreado oco e complacente que as "agências noticiosas" explicam a presente vantagem de Obama sobre Clinton como se a América tivesse regredido a 1968. Por cá é a mesma saloiada "chique". Onde a "correcção" mete a pata, já não a tira.

12.2.08

PONTE MÁRIO LINO

A nova travessia do Tejo tem dado azo às mais desvairadas e desencontradas posições "oficiais". É tanta a mediocridade política na gestão desta matéria que até dói. O que é que Lino tem ou sabe que o mantém?

CILINHA


O livro do João Amaral - que se lê de um fôlego - explica, como Marcelo notou, que não foi nenhum republicano excitado quem varreu definitivamente a hipótese monárquica. Foi Salazar. Salazar achava que a monarquia era uma instituição e não propriamente um regime. Por isso preferiu "roubar" a instituição, dissolvendo-a no regime. Um pouco como D. Carlos (que dizia mandar numa monarquia sem monárquicos), Salazar desprezava os monárquicos de serviço a quem apelidava de "os nossos pobres meios monárquicos" e a quem acusava, tipicamente, de "insensatez". Nesta matéria, de facto, não mudaram muito como pude constatar recentemente. Nunca mereceram D. Carlos. Defensor de que não valia a pena a nação dividir-se por causa do que não interessava - república ou monarquia -, Salazar meteu a "instituição" no bolso. Fez bem. Não se fala, pois, mais nisso. Mas de Salazar fala seguramente o livro da foto, sobre a mítica "Cilinha" Supico Pinto, uma mulher literalmente "de armas" e, já nessa altura, aberta à modernidade, como diria o dr. Soares. Fernando Dacosta apresenta, às 18.30, na Sociedade de Geografia, ao lado do Coliseu.

Adenda: O "Estado Novo" nunca teve propriamente uma "primeira-dama". Maria do Carmo Carmona, Berta Lopes e Gertrudes Tomáz eram personagens secundárias ao lado dos também secundários maridos. O presidente do Conselho era celibatário e Marcello, quando lhe sucedeu, vivia a tragédia da doença da mulher, aparecendo publicamente com a filha. Cecília Supico Pinto foi, a partir de 1961, a verdadeira e única "primeira-dama" do regime. Era bonita, elegante, de boas famílias, católica, salazarista, patriota e acreditava genuinamente na política colonial em vigor. Até hoje, para Cecília, a África que foi portuguesa designa-se por "províncias ultramarinas". Nunca foi, por isso, incoerente nem nunca enganou ninguém. Dirigiu, até à extinção, em Junho de 1974, o Movimento Nacional Feminino e acreditou ingenuamente que as "suas" forças armadas iam continuar a acarinhá-la. Como aconteceu a muita coisa no PREC, os ficheiros do Movimento desapareceram. Apesar de ter dirigido um movimento de mulheres, Cecília odiava, como lhe competia, feministas que apelidava de "mulheres feias e mal vestidas". Dizia piadas a Salazar e permitia-se fumar diante dele. Conhecê-la, através deste livro, é conhecer uma parte da nossa história contemporânea, a que coincide com a derradeira guerra colonial de um país que foi, durante quinhentos anos, um "império". Não é nostalgia. É memória.

O OVO E O PINTO

Esse fantástico ministro da Cultura que "pode ser o que ele quiser", na prosa irreprimida de uma sua admiradora incondicional, ainda não disse o que quer. Não disse, nem provavelmente vai dizer. A Cultura - ministério - é uma questão de mercearia e não uma questão de cultura propriamente dita. Alguém, de certeza, já mostrou as "contas" a Pinto Ribeiro. E ele deve-se ter lembrado da sua frase de há um ano, na louca cruzada abortista, repleta de bom-gosto: "um ovo não é igual a um pinto, um ovo não tem os mesmos direitos do que um frango." Aprenda consigo mesmo, dr. Ribeiro. A "sua" Cultura é um ovo que nunca chega a pinto, quanto mais a frango. Nem tem os mesmos "direitos" dos outros. Pergunte ao seu chefe porquê.

DEMOCRACIA ANÃ

A Justiça - o modo como ela é concedida ou negada, na forma e na substância - "mede" um regime. A "sra. dra." Campos Ferreira e os "srs. drs." que derramam sobre "justiça", na RTP, revelam-nos apenas uma democracia anã.

A D. INÊS


Sou suspeito. Gosto e sou amigo do Francisco. Não gosto nem sou amigo da D. Inês Pedrosa. Não a aprecio, nem como escritora, nem como cronista. É um mito da "literatura portuguesa contemporânea" e, como mandam os costumes, uma "mulher de esquerda". Todavia, a D. Inês apoiou o dr. Costa em Lisboa. Não só apoiou como - lembram-se? - queria punir exemplarmente os abstencionistas que permitiram que ele fosse eleito apenas com menos de sessenta mil votos. A D. Inês, sessenta vezes mais democrata do que eu, escreveu na altura, no Expresso, que os vilões que não votam deviam ser, por exemplo, excluídos dos empregos públicos e impedidos de se candidatarem a "bolsas". Fugiu-lhe logo o pé para aquilo que ela, e muitos como ela, melhor conhece: a prebenda, o premiozinho da treta sempre esmolado ao Estado, a distinção pública e política por meia dúzia de parágrafos mal esgalhados. Pois aí está. A senhora é a nova directora da Casa Fernando Pessoa, justamente escolhida pela vereação do dr. Costa. Parabéns à prima.

11.2.08

NA TV NET

Às 21.15. Com o Paulo Gorjão.

UM LIVRO


Daqui a pouco, no Grémio Literário, é lançado este livro de um velho amigo sem o qual nunca teria conhecido os "fascinantes" meandros da redacção de um jornal. Mas isso foi no tempo em que estava vivo. O João, pelo contrário, nunca deixou de estar. Marcelo Rebelo de Sousa apresenta.

MEIA ILHA,MEIO NADA

Portugal está "empenhado e disponível para estabilizar a democracia timorense". Muito bonito. Da última vez que estivemos "empenhados e disponíveis", na sangria de 1975, viu-se o resultado. Depois, em 99, alimentou-se aquele folclore de rua contra a Indonésia cujo resultado também foi brilhante. Finalmente, chamar democracia a um regime esquizofrénico é continuar a não perceber nada do que ali se passa. Se nem eles percebem, como é que nós podemos perceber?

PALHAÇADA

Desde há 10 anos, com a Expo, que Portugal vive de "eventos". Quando acabava um, começava a preparar-se a próxima tenda de circo. O último, o Euro de 2004, obrigou à construção de não sei quantos estádios de futebol, um bem de primeira necessidade. O sr. Madaíl, presidente eterno da federação da bola, queria agora outro, para 2018, e os seus comparsas, como o insuportável Scolari, lamberam logo as beiças. Felizmente o Presidente da República veio cortar cerce este novo "desígnio" artificial. Já chega de palhaçada.

SI NON È VERO, È BENE TROVATO


Não sei se isto é verdade, mas a única vez que alguém dos blogues telefonou para o "fixo" que tenho na secretária onde trabalho (no meu local de trabalho) - um número que nem eu fixei - foi alguém que escreve no blogue que o Francisco cita. Fê-lo de forma agradável, apesar do ar "como-vês-sei-muito-bem-o-que-fazes-e-onde-trabalhas", depois de eu ter escrito qualquer coisa "desafiando-o" para o Chiado como no saudoso século XIX. Convidei-o para um café que amavelmente recusou por "não viver em Lisboa" e "vir cá poucas vezes". Como houve uma voz que se identificou, se ela voltar a ligar, eu informo-te, Francisco. Si non è vero, è bene trovato.

10.2.08

UM LIVRO


«Suetónio, ao apontar um espelho a esses prolixos e lendários Césares, reflecte-os não apenas a eles mas também a nós: criaturas divididas cuja maior obrigação moral é manter o equilíbrio entre o anjo e o monstro que carregamos connosco dado sermos ambos. Ignorar esta dualidade conduz inevitavelmente ao desastre.» (Gore Vidal)

Os Doze Césares, tradução e notas de João Gaspar Simões. Biblioteca Editores Independentes

A IGUANA E OS PAPAGAIOS

Os bloggers amigos do senhor engenheiro - uma espécie de "spas" para lhe massajar o ego "intelectual" que não abunda por ali - imaginam que Alegre ser tolerado é um exemplo de valente "democraticidade", interna e externa. Andam sempre à cata de um "momento" destes para demonstrar ao mundo que Sócrates, afinal, é um generoso democrata e o sr. Canas um bom canal de informação, também democrático porque é o genuíno. Sucede que Alegre, a quem o generoso democrata que é Sócrates tem concedido o favor de uns telefonemas, nunca estará satisfeito com nenhuma prebenda que Sócrates lhe dê. Isto é: nem com Alegre, nem sem Alegre. E o PS vai precisar da sua iguana para se distinguir dos papagaios de serviço.

TALVEZ ERRADAMENTE


Esta versão é demasiado perfeita para não ser ouvida com atenção. Ocorre-me uma frase do monumental As Benevolentes: «...era mais vasto do que isso, era o curso inteiro dos acontecimentos, a miséria do corpo e do desejo, as decisões que se tomam e que se não podem fazer voltar atrás, o próprio sentido que escolhemos dar a essa coisa a que chamamos, talvez erradamente, a nossa vida.»

O OUTRO PAÍS

«Há um grupo, uma elite dominante que controla a componente político-partidária e económica que vive noutro País e com rendimentos, benefícios e mordomias que não têm nada a ver com a grande maioria da população (...) É toda a estrutura social que se vai abaixo por falta de credibilidade e por as pessoas não acreditarem em quem nos chefia.»

Entrevista de Garcia Leandro a António Ribeiro Ferreira, in Correio da Manhã

9.2.08

OS "INQUILINOS"

No episódio do Grémio Lisbonense há uns "inquilinos" de punho no ar, cachecol "à Arafat", a gritar "o Grémio é nosso". Esta laia de "inquilinos" já tinha sido avistada no Algarve quando foi destruído um campo de milho transgénico sob o olhar passivo da GNR. Desta vez, a PSP esteve à altura do evento e dos "inquilinos". Nada de "paninhos quentes".

FUNDAMENTAÇÃO SUSTENTADA

Leio aqui que o dr. Menezes afirmou que «o PSD, enquanto eu for presidente, não fará, sem fundamentação sustentada, uma política de ataques de personalidade e carácter com carácter retroactivo de 25 anos». Teria sido em "reacção" a Guilherme Silva que, no Parlamento, cumpriu o seu papel de deputado da oposição ao reclamar que não caíssem no conveniente saco roto do esquecimento as questões levantadas pelo Público acerca do passado profissional e político (praticamente não se distinguem em pessoas destas) do senhor 1º ministro. O dr. Menezes não percebeu - ele, aliás, percebe pouca coisa - que a questão em causa, ao contrário do que ele imagina, é política e nada tem a ver com "ataques de personalidade e carácter". Quando é que o PSD vai finalmente entender que há mais do que "fundamentação sustentada" para varrer o nefasto dr. Menezes de um cargo que ele não sabe desempenhar?

O CAOS CORRECTO



Em menos de quinze dias, dois oficiais generais - Garcia Leandro e Governo Maia - alertaram para a "implosão social" que grassa por aí, a par com a desintegração e a insegurança que emergem um pouco por toda a parte no reino "simplex" do senhor engenheiro. Por outro lado, as forças armadas, nas pessoas dos seus antigos chefes, na Revista Militar, não se cansam de acentuar o fosso que as separa do poder político. Não vivemos tempos propícios a "pronunciamentos" militares, nem que seja porque estamos na UE e porque, tipicamente, essa circunstância "ajudou" a retirar "força" às forças armadas. Em boa verdade, o que resta da tropa pouco mais pode fazer do que de "exército de salvação" e proselitismo em prol dos "grandes desígnios" da humanidade. O poder político democrático foi-se encarregando de destruir os alicerces da força armada, perpetrando o golpe fatal com o fim do serviço militar obrigatório. O SMO tinha a vantagem de "ligar" a sociedade à tropa e esta à sociedade. Isso permitia incutir nesta determinados "valores" que nunca fizeram mal a ninguém e moderar a proliferação de tantos pusilânimes precoces. A desagregação, a implosão e a insegurança de que falam os dois generais são, também, fruto dessa anomia. Uma anomia que paisanos como Rui Pereira ou Severiano Teixeira, dois "teóricos" infelizes, não sabem calibrar. Isto aplica-se às polícias, "educadas" nos últimos anos para o "multiculturalismo", para a "pedagogia" e para a "proximidade", miragens que resultam muito bem na freguesia da Sé, do Porto, nos bairros periféricos de Lisboa, numa remota bomba de gasolina do interior ou numa mercearia em Alcobaça. A pequena gatunagem - que, muitas vezes, é assassina e aproveita-se da fragilidade das vítimas - não floresce por acaso. Ainda esta semana passou por mim um grupo de carteiristas profissionais de eléctrico que repartia entre si os despojos da última carteira fanada a turista. Esta impunidade devia cansar e indignar, não apenas os generais, mas sobretudo os "democratas" que, metodica e pacientemente, "esterilizaram" o exercício legítimo e oportuno da autoridade. O episódio do Grémio Lisbonense é revelador deste "estado de espírito". Os agentes da PSP vão certamente pagar caro a exibição televisiva dos bastões nos lombos dos lorpas que se opunham ao cumprimento de uma determinação judicial porque os bastões são sinónimo de "fascismo", jamais deviam estar nas mãos dos polícias e, naturalmente, não se fizeram para ser usados. O "correcto" idiota berra logo pela liberdade sem perceber que é precisamente este pequeno caos sem rosto que a coloca em causa. O problema é que já não há quem nos liberte do "correcto" e dos seus malditos profetas. A racaille agradece.

8.2.08

O REGRESSO DO PS


Manuel Alegre, em entrevista ao Público, afirma não se rever neste PS. Para já, não se sabe o que é que isso quer dizer, até porque Alegre não se distingue, nem pela subtileza, nem pela densidade política. Distingue-se, no entanto - e bem de um Soares acomodado, venerando e obrigado -, porque é deputado e, presume-se, porque terá alguns deputados do PS com ele. E isso, numa maioria absoluta, conta. Sócrates já "cedeu" a esta gente quando removeu Campos e quando falou. Alegre obriga Sócrates a fingir que é de esquerda e a ter de sair do seu deserto autoritário para se "explicar". A maçada, para 2009, não é Menezes, se esta desgraça ambulante ainda lá estiver na altura. A maçada é o PS, algo que Sócrates tinha liquidado, com método, depois das eleições. Se o PS regressar, como Alegre ameaça, Sócrates e os seus eucaliptos terão de dar ao pedal. Eles não sabem mandar sem ser em absolutismo. E a possibilidade dele acabar começa a ser real.

A BANALIZAÇÃO DO MAL

Leio "Eichmann em Jerusalém", de Hannah Arendt. Não foi um livro bem aceite na altura, quer pelos sionistas extremos, quer pela "nova" Alemanha. Eichmann era pouco mais que um bronco, um burocrata que, como afirmou no julgamento, não sabia viver num mundo sem regras, sem autoridade, sem "a boa ordem". Foi desprezado pela "aristocracia" nazi e servia perfeitamente para tratar da intendência da Endlösung: as deportações, primeiro, e a eliminação maciça, no fim. Mas não era de Eichmann que queria falar. Leio esta notícia e, salvo as devidas proporções, é da mesma forma bronca de cumprir as regras que se trata. A lei do aborto é, em si mesma, um imenso aborto. Falar de "previsões" acerca da interrupção de gravidez, ou seja, da possibilidade ou não possibilidade de uma vida, é a gramática "moderna" da banalização do mal. Discorre-se sobre a distância em relação às "previsões" quanto a abortos a realizar por comparação com os efectivamente perpetrados no SNS com a mesma ligeireza com que os funcionários do III Reich elaboravam sobre a concretização das "previsões" exterminadoras. Um sr. dr. Jorge Branco, director de uma maternidade (?), até se «congratula com estes valores, aquém do previsto, e acentua ainda o "grande predomínio" da interrupção da gravidez com recurso a medicamentos em vez da opção pela cirurgia», acrescentando ser «menos agressivo e menos traumático para a mulher», tal como o gás era menos "agressivo" do que um tiro na nuca. Em suma, seis meses depois da lei entrar em vigor, o aborto clandestino que os "progressistas" diziam vir combater com ela, prospera, bem como o negócio privado realizado à sua sombra. A "boa ordem" não funciona. A banalização do mal nunca resolveu um problema à humanidade.

7.2.08

ET POURTANT

Estive a ver a entrevista de Judite de Sousa a Charles Aznavour, na RTP. Tem uns bonitos 83 anos e vem cá cantar. Quando ele vier, daremos pela falta do Eduardo Prado Coelho. Ele saberia seguramente escrever o texto adequado para Aznavour, as palavras «certas como um tempo que foi e é para sempre a beleza de ter sido.» Eu não sei.

Adenda: O José Pacheco Pereira, à altura director do jornal do Liceu Alexandre Herculano do Porto, entrevistou Aznavour, em 66, para o dito.

MAL ACOMPANHADO

Tenho, nunca o escondi, estima por Pedro Santana Lopes. Por isso me aborrece aborrecer-me com ele. No Parlamento, Lopes, em nome do PSD, recusou o referendo ao tratado europeu porque «não é adequado aos interesses do povo, face ao tempo que já se perdeu, perder mais tempo para criar regras para que a União Europeia funcione a 27.» Que eu saiba, o que "é adequado aos interesses do povo" é justamente o "povo" pronunciar-se adequadamente sobre os seus interesses. Sem querer, Lopes passou um atestado de menoridade ao "povo" e reivindicou uma estranha sabedoria dos senhores deputados que lhes permite aprovar um tratado que muitos deles nunca, de certeza, leram ou perceberam. Mandaram-os votar e eles, no maior respeitinho analfabeto, votaram. As loas ao instrumento referendário não chegam para "tapar" este exercício de hipocrisia política a reboque do pior PS, tão eloquentemente representado pelo sr. Canas. Dr. Santana Lopes: o meu Amigo gosta de política e faz muito bem. Todavia, não se meta a defender burocracia político-partidária porque é péssimo nisso e fica muito mal acompanhado.

O INLAND DA WEST COAST OU O AVESSO DO PLANO TECNOLÓGICO

MANOBRAS DE INTIMIDAÇÃO

«A investigação do PÚBLICO sobre a actividade profissional do eng. Sócrates causou uma viva e estridente indignação entre muitas alminhas que pairam por aí, a grande altitude, indiferentes aos "pequenos pecados" que recheiam o curriculum do primeiro-ministro e a milhas dos jogos mesquinhos que animam esta "campanha pessoal e política". Antes de mais, porque qualquer trabalho jornalístico, digno desse nome, deve incidir sobre os inegáveis méritos que nos oferece o presente e não sobre o longínquo e insignificante passado de quem actualmente nos governa. Dá ideia de que tudo o que se escreva sobre os anos 80 é, como disse o eng. Sócrates, um esforço desesperado de "arqueologia jornalística" que só os obscuros interesses da Sonae conseguem justificar. Em Portugal, ao contrário de outros países mais picuinhas, o passado prescreve rapidamente: um político surge do nada, dependente das circunstâncias e das necessidades do dia. Pouco importa que, na altura, o actual primeiro-ministro já fosse dirigente do PS e deputado na Assembleia da República. E pouco importa também, como é óbvio, que o actual primeiro-ministro possa estar a mentir sobre a autoria dos projectos que assinou ou que aqueles "caixotes" irrepreensíveis tenham sido concebidos por si. O que importa, sim, é assinalar a "campanha" de um jornal que tem o atrevimento de tornar públicas as actividades públicas de uma figura pública. Como é que, depois da "novela do canudo", António Cerejo tem o descaramento de aparecer, agora, com esta "soap opera dos projectos"? Esta, sim, é a pergunta que se impõe. O facto de o Ministério Público ter arquivado o processo da licenciatura do eng. Sócrates sem se dar ao trabalho de explicar como é que apareceu um certificado falso, na Câmara da Covilhã, ou um documento rasurado na Assembleia da República é, para estas impolutas alminhas, um pormenor insignificante em que não vale a pena pensar. É assim que florescem as mais subtis manobras de intimidação.»

Constança Cunha e Sá, in Público

RATOS E HOMENS

O PSD não mudou de grupo parlamentar entre Mendes e Menezes. Com Mendes, o partido era favorável ao referendo ao "tratado de Lisboa". Presume-se que o grupo parlamentar também era, nem que fosse porque essa era a posição oficial do partido. Chegou Menezes, um freteiro involuntário do governo e do PS, e o mesmo grupo parlamentar, venerando e obrigado, mudou de posição. Antes de Sócrates mudar a sua e a do seu partido - fazer um referendo - já Menezes tinha anunciado com galhardia que o PSD "optava" pela ratificação parlamentar. No rebanho pastoreado por Santana Lopes há gente que defende o referendo. Apesar da disciplina imposta, era bom que essa gente não se confundisse com o rebanho. E não chega a habitual "declaração de voto" póstuma à Pilatos. Ou pedem para ser substituídos ou votam contra a ratificação parlamentar. Um homem não é um rato.