Ontem, o suplemento A(c)tual do Expresso trazia uma carta da escritora Lídia Jorge. Parece que a "romancista" concedeu uma entrevista à revista Ler. E que, nessa entrevista, insinuou que tinha sido boicotada pelo dito suplemento do Expresso uma vez que a grande crítica literária Mellid-Franco (?), com dois ll e um hífen, lhe aviou 5 estrelas - o máximo - e no jornal saíram apenas 3. Tratou-se aparentemente de um erro de paginação, o suficiente para Lídia fazer queixinhas na sua editora e, ao que me dizem, insinuando quem teria sido o perpetrador contra tamanho génio escrevente luso. Recordo-me de, entretanto, o A(c)tual ter, em errata posterior, reposto as duas estrelinhas que faltavam no firmamento lídio. É neste contexto que aparece, então, a cartinha a que aludi e que resume o "génio" da autora. Diz ela, "a dado passo" daquela entrevista, que «em vez de porem cinco puseram três» e que «houve alguém que alterou aquilo.» Depois esclarece que «esta afirmação foi produzida num contexto de ironia e na tentativa de exemplificar o carácter por vezes aleatório da avaliação quantitativa dos livros, referindo-me em concreto aos erros comuns originados pela formatação informática, como terá sido o caso, sem que as minhas palavras procurassem ter outro qualquer significado ou envolvessem associações pejorativas.» Fala seguidamente em "incómodo" e em "especulações", talvez ciente das queixinhas que tinha andado a fazer, e acaba a «pedir desculpa aos profissionais envolvidos bem como ao editor» do suplemento. O êxito de livraria e de difusão nunca foram sinal de nada em literatura. Pelo contrário, aquilo a que temos assistido é a uma profusão de péssimos escritores e de romancistas medíocres que não conseguem livrar-se de uma concepção provinciana dela ao mesmo tempo que beneficiam de uma mediatização equivalente a marcas de cerveja. A circunstância de Lídia Jorge fascinar a mediania tribal e comádrica em vigor no pequenino mundo das letras portuguesas não passa, por isso mesmo, de um gesto de propaganda como qualquer outro em outras áreas. A sua carta (o "assunto") é como a ostra do poema de Ponge no sentido em que revela, na perfeição, o modo de ser daquilo que passa por literatura portuguesa contemporânea em versão "romance": tout un monde opiniâtrement clos. Um mundo no qual importam mais as entrevistas certas e as "estrelas"- em casos de patologia literata avançada e compulsiva, como Eduardo Pitta, a gastronomia e a vitivinicultura fazem parte da "pensão completa" - do que a qualidade intrínseca da obra. É o que há.
10 comentários:
A pensão completa. Exactamente!
A única Lidia que conheci, de grande talento, foi a Lydia Barloff. Não consta que tivesse disputas por 3 ou 5 estrelas...ela que foi uma verdadeira e dubaiana seis estrelas!...
Não se incomode, não vale a pena "aquilo" agora é uma coisa em forma de.
MST na sua página lamenta-se que os pensionistas sejam cada vez mais e morram cada vez mais tarde.
É preciso acrescentar mais alguma coisa?
É, foi o que eu fiz no meu blog.
E quantas estrelas mereceu a carta dela)?
Sempre radical. Não tomemos a nuvem por Juno,nem a d.Lidia pela literatura portuguesa(romance) actual. Já leu Gonçalo M. Tavares? É outra (e melhor) loiça. Quanto ao Ed. Pitta,já sabemos que não gosta dele,em particular das referências gastronómicas. Mas olhe que por aí,tem que apostrofar o Eça,o Proust,o Balzac e não sei quantos mais. Com esse critério (que suponho não ser o único,claro) lá se ia a "Cidade e as Serras" com a cena inesquecivel do jantar do Jacinto em Paris,dos seus sentimentos patrióticos com o regresso à culinária nacional,etc. O muito estimado Círculo Eça de Queiroz dedicava-se até há pouco tempo a fazer "jantares queirozianos". O Savonarola,felizmente,já se foi. Enquanto for possivel,gozemos e narremos a vida e os seus prazeres...
Fez a eminente "escritora" de Boliqueime muito bem: não há o direito de, nesta altura do campeonato, lhe darem os três... asteriscos ou estrelinhas, não sei bem.
João, como sabe, anda a falhar-me o teclado. Levo, portanto, daqui a prosa já feita. Porque eu diria eu melhor e, sobretudo, porque não há medíocres inocentes.
... e seja o que Deus quiser.
Esta impagável Lídia Jorge faz lembrar o não menos impagável Miguel S. Tavares. Ambos "grandes escritores" e, parece, muito populares. Este último, dizem, vende centenas de milhar de exemplares de cada livro que deita à estampa e dizem também que "esgota" edições atrás de edições dos mesmos... Pois..., é capaz.
Maria
Ela é uma estrela...mas decadente.
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