18.4.10

DESFAZER EQUÍVOCOS E CONTRARIAR A COMPLACÊNCIA DA ESTUPIDEZ "MEDIÁTICA"


«Em 1936, um historiador alemão que vivia na Catalunha ouviu por acaso um grupo de camponeses que falava sobre a Igreja. Para espanto dele, os camponeses, que tinham assassinado e torturado milhares de católicos, repetiam as críticas dos folhetos contra Roma, distribuídos na Alemanha do século XVI. Se a Igreja não muda, o anticlericalismo também não. De Lutero ao "Iluminismo" e da grande revolução francesa aos pequenos jacobinos de Portugal e Espanha, que há pouco menos de cem anos queriam ainda, como Voltaire, "esmagar a Infame", a Igreja é invariavelmente acusada pela sua presuntiva riqueza e pelo comportamento sexual do clero. Agora chegou a vez da pedofilia, porque na sociedade contemporânea a pedofilia se tornou no último crime sexual. Claro que Bento XVI já disse que a pedofilia era um crime, além de ser um pecado, e acrescentou que os padres pedófilos tinham feito mais mal à Igreja do que mil anos de perseguição. Claro que Bento XVI mandou investigar o caso, removeu bispos, suspendeu padres, castigou culpados. Claro que nem ele, nem a Igreja são responsáveis pelas declarações, de facto ofensivas, de algumas figuras menores do Vaticano ou da Conferência Episcopal Portuguesa. Mas, como de costume, a lógica não abala o anticlericalismo. O anticlericalismo decretou que a Igreja intencionalmente encobre (ou encobriu) a pedofilia e não vai mudar. Quem sabe, mesmo à superfície, alguma história sabe que desde o princípio isto foi assim. Ratzinger, que não nasceu ontem, com certeza que não se perturba. Até porque provavelmente percebe que, por detrás do escândalo do encobrimento, está o ódio ao Papa "reaccionário"; ao Papa que se recusou a transigir com a cultura dominante em matérias como o divórcio, o aborto, a homossexualidade, o celibato do clero e a ordenação de mulheres. Não ocorre ao anticlericalismo que a integridade da Igreja pode exigir essa rigidez, como já mostrou a rápida ruína do anglicanismo. Ratzinger compreende que, sem o apoio do Estado ou influência sobre ele, a Igreja depende essencialmente da convicção e da força com que conseguir conservar a sua doutrina. Qualquer fraqueza a transformará numa instituição vulgar, à mercê da opinião pública e das mudanças do mundo. Isso Bento XVI não quer. Como não quer encobrir a pedofilia.»

Vasco Pulido Valente. Público

«O Papa Bento XVI vem a caminho e já há polémica. Tudo porque o governo decidiu conceder tolerância de ponto nos dias da visita apostólica. O fatal Miguel Vale de Almeida, deputado do PS, considerou a decisão ‘um erro político’. A Associação República e Laicidade também condenou o gesto, acusando o eng. Sócrates de discriminar positivamente uma igreja. E até os sindicatos – os sindicatos! – vieram protestar: a UGT e a CGTP não querem folgas para os trabalhadores; querem que eles fiquem encerrados nos respectivos cubículos, a contribuir para a produtividade da pátria. Se isto não é um milagre, eu gostaria de saber o que é. Não vou gastar o meu latim com divagações teóricas sobre a diferença entre ‘laicismo’ e ‘laicidade’, que os zelotes desconhecem. No meio da histeria, o que impressiona é a intolerância da tribo perante a tolerância do Estado. Um Estado que, apesar de laico, entende a sensibilidade religiosa da população maioritária que governa. O contrário disto é que seria um ‘erro político’. E uma ‘discriminação’ positiva a favor de uma igreja: a igreja do fanatismo laicista.»

João Pereira Coutinho, CM

Nota: Desde que Ratzinger foi escolhido para Papa, faz amanhã cinco anos, que este blogue tem dito o que entende que deve ser dito sobre o seu papel no actual momento da Igreja e do mundo. Não o faz por proselitismo nem com qualquer propósito de catequista de ocasião ou de escuteirinho idiota. Fá-lo porque percebe a importância da mensagem deste homem solitário e a distinção do seu pensamento no meio de tanta lixeira intelectual "agradável" ou, no limite, da pura bronquice mais palonça. Por isso aqui verão sempre a espada que Jesus anunciou aos macios e aos crédulos e nunca a transigência malsã e ingénua dos que imaginam que isto não é um combate. É. E uns estão de um lado e outros estão do outro. Muitos dos que deviam estar deste lado infelizmente apreciam "consensualizar" e "conviver" (quase ao nível dos "classificados" dos jornais) com os fariseus da "modernidade" para não perder o lugar na fila para a bem-aventurança terrena imediata. i. e., para a vida videirinha onde a alegada "espiritualidade" normalmente está bem guardada na carteira. Mas desenganem-se. Jamais de vós será o reino dos céus apesar da oportunisticamente manifesta pobreza de espírito.

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro JPC:
Zé João,o teu artigo é brilhante e de uma oportunidade, que me delicia.Apenas comentaste o que a maioria pensa... A maneira como encaramos a vida faz toda a diferença.
O mundo é como um espelho que devolve a cada um de nós, o reflexo dos seus próprios pensamentos e, talvez dos seus fantasmas ou recalcamentos.
Até amanhã! Até sempre!
Júlia Príncipe

iupi disse...

o laicismo - não interferência do estado na igreja; é uma separação criada por religiosos repudiando a interferência do estado no culto religioso.

neste caso português há aproveitamento do religioso para mostrar a magnanimidade do secular: qualquer católico deveria estar contra a 'tolerância'.

(qualquer trabalhador pode, dentro da lei, faltar por muitos motivos)

radical livre disse...

tinha atravessado a PRAÇA há uns cinco minutos quando ouvi gritar 'Habemus Papam'. fui ao quarto deixar os documentos recolhidos no Arquivo e na Biblioteca Apostólica.

à saída encontrei um velho Amigo (Lisboa 1961) o Cardeal Nascimento.
cheguei a tempo de ver chegar Bento XVI à varanda.
em 1958 assistira à eleição de João XXIII.

recordações dum maçon tolerante
que lamenta a ferocidade do Anticristo protestante para quem a Igreja é a "Grande Prostituta"

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves. Deixe-me tratá-lo pelo seu nome próprio como sinal de Humanidade e agradecimento pelo seu contributo nesta reflexão, muito actual. Confesso que sou um pouco anti-clerical, sobretudo porque às vezes acho que o poder terreno de alguns padres e bispos é demasiado perante as pessoas sem "propriedade", aquele princípio defendido pelo Papa João Paulo II. Contudo sei que o Poder da Igreja não é deste Mundo e nesse sentido sou muito Cristão e Católico. Bento XVI é um grande Teólogo e, por isso, não se deixa atraír pelos sinais terrenos da homosexulaidade, divórcio etc. como sinais de humanidade quando o que originará será apenas mais alienação para o Homem nesta passagem terreno.Se já não são precisos dois, em Amor, para fazer Um, se ao Homem tudo é permitido, para que precisa ele de DEUS e da Igreja que não é só deste mundo.? João, alguns egoístas e deslumbrados querem conduzir-nos para a sua desgraça. Saberemos dizer não, pela Fé e pela prática dos principios todos os dias sem fanatismos, sem ódios, com perseverânça e humildade. Obrigado.

Ricardo disse...

Um combate... Sem dúvida, João Gonçalves, sem dúvida. Com esta jacobinada não há outra forma. Abraço
Ricardo

Anónimo disse...

Muito bom o texto do VPV.
Eu por acaso parece-me que o ataque à Igreja é um canto do cisne, de uma Esquerda Ocidental que só resta como cobradora de impostos.
O ataque à Igreja ainda faz com que se sintam vivos.
Quanto à tolerância de ponto não concordo.


lucklucky