Hans Kung é um discutível teólogo contemporâneo. Mas Kung há muito que olha para a Igreja como uma associação de prosélitos e de beneméritos na qual deviam coexistir "tendências", preferentemente não reaccionárias (as vezes que Kung usa o termo nesta carta são reveladoras), que a ajudassem a ser mais "sociedade civil" - tal como ela nos é vendida e vivida diariamente com os sucessos pessoais e públicos que se conhecem - e não a Igreja milenar cuja existência e sobrevivência depende justamente da firmeza e da intransigência em relação ao "tempo que passa". A Igreja de Ratzinger parte do pressuposto que, de facto, o tempo e o homem passam e que não compete a ela seguir a moda ou, in extremis, juntar-se-lhe para não perder o delicado pezinho na história. Kung porventura não se importaria que um novo concílio - que recomenda - terminasse com um concerto de lady Gaga ou de Amy Winehouse algures numa mesquita. Ratzinger aconselhou os fiéis e os ministros da Igreja, muito cedo, ao hábito de viver em minoria. Kung, pelo contrário, parece desejar que a Igreja - e o catolicismo - seja tão popular como o Inter de Milão, o iPod ou a Oprah para sobreviver. Ao apresentar-se "mais papista que que o Papa" por se imaginar "mais deste mundo", Kung não está a ajudar a Igreja com os seus conciliábulos privados. Limita-se a acender o facho que vai à frente da multidão dos inimigos da Igreja e daquilo que eles representam. No fundo, Kung não quer outra Igreja. Quer outra coisa.
1 comentário:
Olha o malandro !?!
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