Segui, quase de imediato, a sugestão do PR. Da parte da tarde, atirei-me ao mar que, pelos vistos, é o que nos resta como consolação. Andar ali a levar porrada das ondas é bem mais agradável do que aturar um domingo que foi também feriado de gente. Demos, pois, graças a Deus por haver sol e vida e a desnecessidade de falar à beira-mar. Também se pode ler. Poemas como este, de Nemésio.
Chamarei os velhos que foram
No bosque humano
Eu velho agora
novo para eles
No tronco antigo
de Neanderthal.
Faremos todos uma fogueira
Dos dentes deles às rosas novas
No meu quintal
Da Faculdade
Do Mundo ter idade
(Sem limite a idade, claro:
O Mundo não,
Que esse é finito na expansão).
-«É bom não pôr limites à Misericórdia divina»
Disse um Papa velhinho
A quem exígua prece
Votava uns anos mais
Como é próprio da Caixa de Descontos
Dos pequenos mortais
Tudo deperece,
desaparece...
Nasci ainda ao sorriso de Leão XIII:
Cá me vou, como os mais.
No bosque humano chamarei os velhos que foram
As rosas que são
vermelhas
alvas
azuis
amarelas
Dobradas rosas singelas
Minhas cordas de viola
alto rosal de som.
Chamarei os velhos que foram
Em lá sostenido
em si natural
A quem não quer chorar seu mal.
Chamarei os velhos que foram:
Envelhecer é tão afinal
Entre roseiras e fogueiras
(Talvez feriado nacional)
E então prefiro o mi bemol,
Eu novo eterno tomando sol
Com os velhinhos comigo a par.
Em dó sostenido, para não chorar.
in Limite de Idade (1972)
5 comentários:
aproveite os banhos de mar antes de pagar imposto.
faz hoje 36 anos estive todo o dia em pijama porque a minha falecida mulher teve medo que saísse à rua.
devia ir nesse dia ao tribunal como testemunha (acariação).
jorge sampaio, advogado da multinacional farmaceutica; Dr. Adão e Silva advogado da indústria nacional onde trabalhava.
o telefone desligou-se quando soube da revolução.
36 anos jogados no lixo
Vou comprar um barco e dedicar-me à pesca, para obedecer ao Sr. Presidente.
Saudações Tasqueiras e desculpa a intromissão.
"Se bem me lembro..."
Só que as pessoas se esqueceram...
O que mais me co-moveu neste seu post, J.G., foi o poema de Nemésio velhinho:
Trouxe-me à memória o «é a hora» do alcoolizado Pessoa dos viciosos ciclos portugas-lisbonenses, Manuel, o mais velho(?) dos filhos de Vitorino Nemésio, meu episódico colega na Clássica da Filosofia em Lx que lia ainda, anos 80, os livros do seu pai preciosamente anotados e passados a olhos de ver. «A uma cabrinha que eu tive» parafraseando o conversador exímio, do «se bem me lembro...»
dó sustenido?
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