«A nossa "esquerda" intelectual sistémica, que se indigna com a censura a um romance de Saramago ou a um quadro de Herman José sobre a Rainha Santa, cala-se perante a censura [na RTP2] a filmes de realizadores consagrados como Mozos e Fernando Lopes, este com 45 anos de carreira e que contribuiu, como responsável da RTP2, para o carácter do canal à sombra do qual esta direcção agora vive. É de uma ironia trágica que a RTP2 tenha censurado o documentário em que a fadista Aldina Duarte, instada a dizer a palavra da sua eleição, escolheu de imediato esta: liberdade.»
Eduardo Cintra Torres, Público
Eduardo Cintra Torres, Público
6 comentários:
escrevi para os amigos 25.iv, 1ºa 3 Maio
Portugal no Século XX...na perspectiva do consagrado resistente antifascista Zé Bernardino
Em 1910 começou a era do brilho. A república nasceu, o país andou para a frente. Os padres foram postos na linha, expulsos, executados para deixarem de dizer as suas mentiras e tiveram o crânio bem medido, provando ao povo o quão degenerados eram. A economia floresceu e Afonso Costa mais amigos fizeram deste país um modelo para o mundo e mesmo a Europa em geral. Infelizmente, a reacção não pode ver ninguém feliz e o fascista Sidónio Pais, verdadeiro inventor das ditaduras nazi-fascistas tentou pôr fim a isto. Mas o bom povo republicano, antecipando o idílio futuro com o MFA, acabou-lhe com a raça e a república voltou aos eixos. Os portugueses conheceram novamente a felicidade e o fascismo embrionário levou a traulitada que se exigia. Infelizmente, o nazi-fascista Pessoa continuou a alardear poemas reaccionários e, um dia, os fachos chegaram mesmo ao poder. Começou o segundo momento da história do século XX.
A 28 de Maio de 1926 as trevas desceram sobre o país e começaram 48 anos de fascismo, a longa noite, apenas alumiada por alguma resistência popular-democrata e bolchevique, que sempre soube dizer não e resistir. Os grandes republicanos foram todos fuzilados (quer dizer, não foram bem fuzilados, mas emigraram para Paris o que foi muito desagradável, pois é diferente ter de conspirar no estrangeiro ou em Lisboa) e o país começou o calvário. Com o fascista Salazar no poder, Portugal atrasou-se em relação á Europa e houve o risco de sair de lá, porque Salazar tinha um plano para cortar as fronteiras com serras especiais desenvolvidas por cientistas nazis e separar-se do continente para ir aportar a Angola. Felizmente, tal projecto não foi conseguido.
No entanto, o fascista Salazar conseguiu algo bem pior: transformar o país no mais atrasado da Europa. Enquanto outros avançavam extraordinariamente, no campo económico e social, Portugal regredia. A URSS era um paraíso e, depois da guerra, a Roménia, a Bulgária, a Albânia e outros davam cartas ao mundo, enquanto aqui se vivia na mais abjecta miséria, com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Hoje, os jovens pouco conhecem desses tempos, mas a vida era tremendamente difícil. Não havia plasmas, playstation, psp (a única que havia era para reprimir o povo), televisão a cores, mp3 e 4 e todas essas coisas que fazem a existência valer a pena. Os fascistas não deixavam ninguém ter esses aparelhos. O único divertimento que havia era ouvir na rádio os discursos do Salazar, e quem não os ouvisse era logo preso, porque havia câmaras que controlavam tudo. As pessoas também eram obrigadas a ouvir o fado (única música autorizada) e tinham de ver pelo menos um jogo de futebol por semana, mesmo que não tivessem dinheiro para os bilhetes. Também eram obrigadas a ir a Fátima todos os anos, mesmo que não quisessem.
Continuação do texto do consagrado resistente antifascista Zé Bernardino.
Mas ainda havia mais: ninguém podia falar. Só se fosse para dizer bem dos fascistas. Se fossem duas pessoas na rua e falassem sem ser dos fascistas eram logo presas, porque havia microfones em todo o lado. Também toda a gente tinha de andar com o retrato do Salazar na carteira e quem não o tivesse ou se esquecesse dela em casa era logo preso. Nunca se viu tal coisa. Os namorados não podiam namorar, as mulheres não podiam casar sem autorização, ninguém podia viajar sem autorização, não se podiam dar beijos na rua, o aborto não era legal e, pasme-se, não havia casamentos gueis. Era mesmo o regime mais atrasado do mundo. Também não havia sumos de frutas e refrigerantes nem hamburgueres e os portugueses só podiam beber vinho e comer pão, castanhas e feijoada, que era para não se sofrer a influência do estrangeiro. Aliás, quase ninguém em Portugal sabia que existia estrangeiro. Foram tempos muito difíceis para quem não era fascista. As próprias crianças eram muito maltratadas. Tinham de decorar coisas horríveis na escola, serras, rios, o hino e outras matérias que não interessam a ninguém. E levantavam-se quando o professor entrava na sala, como na Alemanha de Hitler. Aliás, Salazar era um Hitler autêntico. Sobral de Monte Agraço nem sequer tinha parque infantil e as crianças não podiam brincar sem ser aos fascistas e nunca depois das três da tarde, senão eram presas.
Nessa altura Portugal tinha colónias. As colónias eram países de África que eram explorados cruelmente pelos fascistas colonialistas que roubavam tudo o que podiam aos africanos, além de os maltratarem. Um dia, os povos dessas terras quiseram a liberdade e começou a guerra para serem livres. Mas os fascistas não queriam e resistiram. Mas a luta pela liberdade influenciou muita gente, mesmo em Portugal, e começou a haver quem já não tivesse medo dos fascistas. Foi assim que apareceu a liberdade.
Em 1974, a 25 de Abril, os fascistas foram derrubados. O fascismo acabou e Portugal voltou a ser livre. Cantou-se e dançou-se, coisa que antes era impossível, porque quem cantava e dançava ia logo preso, a não ser que cantasse canções fascistas. Mas, a 25 de Abril, tudo mudou. A democracia chegou. É a chamada terceira era, ou momento da história do século XX. Portugal voltou a entrar para a Europa, as pessoas começaram a saber as maldades dos fascistas, os povos africanos foram libertados. A luz, o gás, a água canalizada chegaram a todo o lado, as crianças puderam brincar e foram criadas escolas, creches e parques infantis, que antes não existiam. A felicidade e a alegria eram tantas (e são, desde aí) que nunca mais houve crime (ou houve pouco, vá, porque infelizmente ainda há fascistas) e as pessoas passaram a ser todas amigas. Acabaram-se até os desastres naturais, porque a própria natureza andava tão revoltada com o fascismo que, volta e meia, caía granizo, trovoada e havia terramotos em Portugal. Mas tudo isso acabou. O país passou a ser respeitado no mundo e a sua voz fez-se ouvir.
E hoje? hoje, trinta e seis anos depois daquela manhã gloriosa (porque antes de Abril eram muito raras as manhãs, era quase sempre de noite), Portugal vive feliz. Há liberdade e democracia. As pessoas podem dizer o que quiserem sem medo de irem presas. Claro que tem de ser com respeito, mas a própria democracia cria nas pessoas esse respeito. É como se fosse em França, tudo automático. os direitos humanos são respeitados, não há ódios, mas estimas. É realmente uma maravilha, este país onde vivemos, e tudo graças a Abril, que pôs fim à malvada opressão fascista. Por tudo isto, devemos celebrar a data, até mais do que a própria fundação do país, porque sem Abril não havia nada. Luz, água, gás natural, telenovelas, livros (antes eram todos proibidos, a não ser os do Hitler e do Salazar), música, festas, tudo. O país é moderno e progressista e as pessoas também. E o fascismo nunca mais voltará.
Bravo camarada Zé Bernardino !!!
B.I.
Fartei-me de rir com o comentário do Zé Bernardino. Era mesmo assim. Tudo era negro e péssimo no tempo do fascismo. Só havia tristeza e amargura nas pessoas. Não podíamos ir ao cinema nem ao teatro nem à praia, senão éramos detidos pela Pide. Não se podia sair à rua senão a correr comprar batatas e voltar a correr para casa senão éramos presos pela Pide. Mas finalmente chegou a liberdade e com ela a alegria dos portugueses foi total. Agora pode-se roubar, assassinar, violentar, corromper, ser o principal país/correio de droga da Europa, etc. Pode-se fazer tudo à vontade do freguês. E no entanto à pobreza como nunca se viu. Há emigração tanta ou mais do que antigamente. Os reformados mal têm dinheiro para os medicamentos quanto mais para comer. Há milhares de jovens drogados com a vida destroçada, mas caramba!, alegremo-nos, temos a benfazeja liberdade para nos transformarmos no país mais atrazado e endividado da Europa mas agora somos todos felizes porque recuperámos a liberdade e demos cabo do maldito fascismo onde estranhamente nenhum destes perfeitos horrores aconteciam.
Maria
Grande MARIA, é assim que se fala e se dizem verdades como punhos.
Esta gentalha esquerducha só lá vai quando não tiver nada para comer, o que diga-se em abono da verdade já faltou mais, desgraçadamente.
Cumprimentos
S. Guimarães
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