O QUERIDO LÍDER

O João Pedro Henriques foi apenas um dos jornalistas que, neste últimos dias, derramou sobre Sócrates. Mais exactamente - e a propósito dos seus vulgares e simultaneamente perigosos dois anos de governação - sobre "o culto de Sócrates", título da crónica de hoje de Vasco Pulido Valente no Público. As últimas notícias, aliás, são demasiado norte-coreanas para serem tomadas ao de leve. O "cartão único", a centralização da investigação criminal, o comando unificado das forças policiais, os inenarráveis 50 anos da RTP oficiosa, o cruzamento de dados a torto e a direito, etc., etc. mancham o estilo Armani do arrumadinho chefe do governo. A economia também, mas isso a propaganda encarrega-se de disfarçar. A semana passada Lisboa entupiu-se com uma das maiores manifestações de sempre contra um governo e à noite, na RTP, aparecia o conveniente dr. Portas, entrevistado pela sra. D. Judite de Sousa a botar banalidades pela boca fora. Ontem, ao que parece, o semanário Sol, o do senhor arquitecto, dedicou-se à hagiografia do "querido líder". Sócrates, como a maioria dos dirigentes partidários contemporâneos, não tem qualquer substância. O estilo precede tudo o mais, quando não se limita a ser apenas o que existe. É um tarimbeiro politico-partidário que veste bem. Por isso é preciso "criar-lhe" a biografia (profissional, política, cultural) que ele manifestamente não possui. A sorte e o ar teso não fazem uma política e muito menos uma "história". Os seus conselheiros - e ele, muito provavelmente - sabem que este é o "ano de todos os perigos". Cavaco deixou isso claro em Coimbra, no sábado. A "pax socrática" - um misto de dissimulação, de presunção, de autoritarismo e de "trinta e um de boca"- começa lentamente a desvendar-se .