15.9.10

UMA HOMENAGEM


Conheci o Francisco Ribeiro há muitos anos, ainda ele pertencia aos originais Madredeus. Era o violoncelista do grupo, porventura com os Heróis do Mar e os Sétima Legião, do melhor que uma determinada música portuguesa contemporânea conseguiu produzir. Trocou o direito precisamente pela música. Saiu daqui. Regressou. Tinha editado uma coisa dele, nova, no final do ano passado. A morte estupidamente prematura, ontem, não lhe permitiu prosseguir esse projecto que apelidou de Desiderata, a junção do bem. O disco tinha por epígrafe os primeiros versos de um poema de Max Ehrmann: «Go placidly amid the noise and the haste,/ and remember what peace there may be in silence.» Fernando Gil, no livro do post anterior, dizia que os antigos associavam a filosofia a uma arte de morrer. Uma bela, cruel e silenciosa arte. Adieu.


3 comentários:

Anónimo disse...

"Sim, magnífico seria entrar na chama do túmulo
De braço dado e não como um solitário
Formando um par festivo no final do dia;
E de bom grado levaria comigo, como um nobre rio
Todas as suas fontes, em libação à noite sagrada,
O que aqui amei".

Karocha disse...

JG

Nunca percebi, porque vão os que não devem e, a escumalha continua por cá.
Era um ser superior.
Que descanse em paz.

Hugo Correia disse...

«Quem, com os mais raros talentos e os mais excelentes méritos, não poderá ficar convencido da sua inutilidade, quando pondera que, ao morrer, abandona um mundo que não se ressente da sua perda e onde tanta gente existe para substituí-lo?»

La Bruyère, Os caracteres


«De ordinário, só achamos incompreensível a ausência de um homem muito tempo após a sua morte: a dos homens grandiosos, muitas vezes, somente algumas dezenas de anos. Um homem franco dir-se-á, por ocasião de um falecimento, que, em definitivo, não há grande coisa a deplorar e que aquele que pronuncia a oração fúnebre é um hipócrita. É apenas muito mais tarde que medimos a razão de ser de um indivíduo e o seu verdadeiro epitáfio é um tardio suspiro de saudade.»

Nietzsche, Humano, demasiado humano