30.9.10

DEDICÁCIA AO REGIME



A Canalha

Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem.


Jorge de Sena, 7.12.71

5 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente a canalha revela-se resistente aos antibióticos.

Maria Helena disse...

A Canalha,foi escrita, dirigida ao governo de Marcelo Caetano,estou certa?

Isabel disse...

Um GRANDE ausente dos manuais escolares portugueses. Percebe-se bem por que motivos.Entretanto, ano sim ano sim, surge nos exames nacionais de 12º Ano, o verdadeiro clássico "Felizmente há Luar", considerado pelo próprio autor uma obra menor, indevidamente premiada. Os motivos estão à vista também.

João Gonçalves disse...

Está errada, MH.

joshua disse...

Tempos de tudo isto, meu caro João.

Declamei este Poema, diante do meu ecrã, como se declamasse pela primeira vez o meu querido Sena!

Não pouparei os meus alunos a estas leituras além das outras. Ávidos de rocha sapiente onde assentem fundamentos, confusos com a ralé que manda e desmanda, eles agradecem todos os dias a intensidade e a paixão contagiante que ponho nisto, meu suor quotidiano.