8.9.10

FASCÍCULO DA SÉRIE "O QUE É A VERDADE?"


«Let the jury consider their verdict,' the King said, for about the twentieth time that day.`No, no!' said the Queen. `Sentence first - verdict afterwards.'`Stuff and nonsense!' said Alice loudly. `The idea of having the sentence first!'`Hold your tongue!' said the Queen, turning purple.`I won't!' said Alice.`Off with her head!' the Queen shouted at the top of her voice. Nobody moved.» O excerto precedente pertence ao capítulo XII do livro de Lewis Carroll, Alice in Wonderland. Só menciono isto não fosse alguém pensar tratar-se de algum diálogo travado no "campus" da justiça portuguesa, à Expo. Porque, cinco dias depois de proferidas determinadas condenações em 1ª instância, a realidade imitou a arte como sugeria Oscar Wilde. Duplamente: «sentence first - verdict afterwards» e «off with [their] head[s]. E não me venham, de novo, com perfunctórias certezas. Wittgenstein chamava à certeza "coisa animal", como que íntima. Mas, tipicamente, nestas matérias não há lugar a intimações ou a estados de alma. Ou talvez haja, digo-o com freudiana mania da dúvida. Cito Pedro Lomba, no Público de ontem: «o mundo é apenas, como no título de um livro, a casa do amor e da morte.»

Adenda: Dito isto - e porque percebi isso num lcd, à hora de almoço, que passava a RTP -, parece-me excessiva a presença de Carlos Cruz na televisão, desta vez, e amanhã, na "grande entrevista" da D. Judite. Teria interesse o "debate" que ele mencionou com um dos assistentes do "processo Casa Pia" que "deu a cara". O mais, presumo, é do mesmo, arrisca a banalização e dá razão à facilidade do "somos todos iguais mas há uns mais iguais do que outros". Já chega de perfume de descrédito.

9 comentários:

Anónimo disse...

Falando em processos, e tendo em conta a minha literária ignorância, gostaria de dizer que não me parecem equiparáveis os processos Oscar Wilde e Casa Pia de Lisboa. "Mais declaro" que pelo que pude ver dos excertos do programa-fátinha, mais valia que ele nunca tivesse tido lugar; depois da mediatização do processo no tribunal, passou-se em escassos 3 dias, ao chavasco mediático autêntico, pondo lado-a-lado na plateia vítimas e putativos-criminosos (é assim?), bem como se deixou pensar o povinho que este é um saudável desenvolvimento natural da "justiça" dos tribunais. Se a justiça está de rastos e faz já o triste papel de simples-instrumento-de-cozinha (uma "coisa") também a estes folclores isso se deve. Ter Marinho Pinto dado um triste espectáculo, ou Daniel Oliveira e Rangel dado um ar de bom-senso, já não é significativo. A justiça já passou da grelha da sarjeta para a queda no sifão, cheio de lixo.

Ass.: Besta Imunda

Antonio Coutinho Coelho disse...

Primeiro: Em Portugal o crime de pedofilia não é considerado um crime grave. Aliás, até há pouco, nem sequer era crime!
Segundo: Para os nossos fazedores de opinião, pedofilia só é de alguma gravidade se for cometido por padre ou bispo (já que o papa está fora de prazo).
Terceiro: o lobby gay acha-se no direito de defender os pedófilos, já que se trata de gays e eles entendem dever ser solidários.
Quarto: a esquerda entende que deve sempre defender alguém de esquerda, em qualquer circunstância, e haja o que houver e como neste caso os pedófilos eram de esquerda...

Garganta Funda... disse...

Como escreveu hoje o articulista Manuel António Pina no «Jornal de Notícias» sob a epígrafe «Jornalismo de "serviço"», «Sua Inocência tem estado ininterruptamente a dar às Tvs teve o mais respeitoso e obrigado dos episódios na RTP1, canal que é suposto fazer «serviço público».

Continua o distinto articulista:

«Tudo embrulhado no jornalismo de regime, inculto e superficial, de Fátima C.Ferreira, agora em versão tu-cá-tu-lá («Queres fazer-lhe - a uma das vítimas- alguma pergunta, Carlos?»). O Prós&Contras só não ficará na História Universal da Infâmia do jornalismo português porque é improvável que alguém, a não ser os responsáveis da RTP, possa chamar jornalismo àquilo.»

Nem mais.

antónio chulado disse...

Afinal o que é importante no processo Casa Pia?

Pedófilos que abusaram de jovens ou uma questão formal de 'ler a fundamentação', entregar o 'acórdão' ontem, hoje ou amanhã?

Ninguém tem dúvidas de que há muito a Justiça anda a ser maltratada: ele é o Ferro Rodrigues a 'estar-se cagando para o segredo de Justiça'; ele é o Marinho Pinto, a toda a hora, a bolçar impropérios asquerosos e ameaças aos Juízes; ele é o Procurador-Geral a desautorizar e desacreditar os Procuradores; ele é o Procurador a 'passar' informações sigilosas para arguida; ele é o Sá Fernandes - o mano do Zé-boa-peça - a insultar Juízes; ele é o Isaltino que 'anda' por aí; ele é o Ferreira Torres que anda lá por cima (norte); ele é o etc., etc., etc..

A complementar o 'ramalhete' estão as 'escutas' ilegais e que não servem de prova, como convém.

É que a MANADA dos intelectuais, a MANADA dos políticos, a MANADA dos ilustres e demais MANADAS vulgo 'seres diferentes/superiores', podem ofender, abusar, humilhar, vilipendiar a MANADA dos inferiores; é um direito sem censura.

A PODRIDÃO NÃO MORA SÓ EM CASA DE POBRE.

antónio chulado

Um aplauso para o GARGANTA FUNDA e o seu 'Nem mais'.

Anónimo disse...

Pelos vistos andam a querer que o "colectivo" da "justiça" passe á clandestinidade...

Ana Cristina Leonardo disse...

se o condenado CC fosse menos boçal na sua própria defesa já teria citado essa frase da alice - (estava a ver que o JG nunca mais a citava -:)

Anónimo disse...

Pois não,pedofilia não é crime em Portugal,e suponho que tambem não na maioria dos países porque é um conceito clínico e não jurídico. O que existe nos nossos códigos é o abuso sexual de menores,e é por esse crime que estes senhores,bem ou mal,têm estado a ser julgados. É que jornalisticamente mas não ingènuamente quis-se confundir,e com sucesso,a pedofilia com o abuso de menores. Ora a pedofilia significa exactamente,como o comentador pode ver em qualquer manual mesmo elementar de Psiquiatria,ou na própria Net,uma parafilia que consiste na atracção sexual por crianças impúberes. Ora sucede que nenhum dos arguidos neste processo,com excepção do que sofreu maior pena, é acusado de qualquer abuso de crianças neste sentido,mas sim de adolescentes(cerca de 13 anos). Mas os Media não têm problema em os associar em ilustrações várias a verdadeiras crianças,criando assim no público a repulsa compreensível por essa forma de desvio sexual. Hoje o "limiar" legal está nos 14 anos,com reservas que não vale a pena explicitar aqui pois estão fàcilmente acessiveis na consulta do código. Apenas se pretende esclarecer que há alguma diferença entre abusar de uma criança de 6 anos ou de um jovem de 13,ou seja entre pedofilia verdadeira e abuso de menor. Isto foi referido no julgamento mais do que uma vez por peritos tanto da Acusação como da Defesa,mas como não convinha à composição do escândalo,foi cuidadosamente ignorado. E se à realidade jurídico-psiquiátrica quiserem responder com os insultos habituais de quem não dispõe de argumentos ,não se estranhará.

Anónimo disse...

A má qualidade da informação que temos contribui altamente, como se vê num destes comentários, para a interiorização do erro na explicitação de conceitos (vulgo, em vez de educar, "deseduca"). O Código Penal português não inclui o crime de pedofilia, inclui sim, como crimes contra a autodeterminação sexual, o abuso sexual (de crianças e de menores dependentes)e pune também a prática de actos sexuais com adolescentes por quem for maior, abusando da inexperiência destes. Por outro lado, estes tipos de crime não têm em conta a orientação sexual do agente (ou da vítima)pois o bem jurídico que se destinam a acautelar não está realmente dependente disso. Mesmo quando (até 2007), desnecessariamente, estava previsto o crime de actos homossexuais com adolescentes, a respectiva moldura penal era igual à prevista para o crime de actos sexuais com adolescentes. É, por isso, no mínimo, curioso que frequentemente se conexione exclusivamente abuso sexual de crianças ou adolescentes com homossexualidade, como acontece num destes comentários (e no Vaticano ...), parecendo esquecer que muitos dos casos (senão a maioria) destes tipos de crime, em Portugal e noutros países, são realmente cometidos por agentes do sexo masculino contra vítimas do sexo feminino, sendo a relação inversa efectivamente muito menos frequente.

Alice in Wonderland, como se vê pelo post do João Gonçalves, é intemporal e devia ser um dos nossos livros de cabeceira (dos adultos, não das crianças)... ajuda-nos a perceber como as discussões sobre este e outros temas se tornaram um delirante e surreal chá com a lebre, o chapeleiro e o arganaz, e como andamos todos a ir, alegre e vertiginosamente, pelo poço abaixo, sem lhe ver o fundo, dando-nos apenas superficialmente conta do que encontramos pelo caminho mas não conseguimos agarrar.

Carlos F

M. Abrantes disse...

Infelizmente a Alice no País das maravilhas é apenas uma história. Mas a verdade é que a justiça escusava de complicar, com estes atrasos, o que já de si não é simples.

O debate que C. Cruz propôs não deveria realizar-se, João. Seria um enorme contra-senso.

As acareações devem ser feitas perante juízes que balizem o que elas devem ser, e não permitam manipulações ou distorções (fáceis de acontecer num meio - televisão - obviamente favoravel a uma das partes).

Carlos Cruz parece querer que se desprezem os tribunais e se faça o julgamento na rua. Caramba, não nos lembramos todos de versões macro desta coisa?