A semana passada, o Expresso - um jornal tão importante para o regime que há quem "antecipe" as suas notícias como uma profecia ou um evangelho -, a propósito dos múltiplos "negócios" em que o regime está envolvido, falava em "jackpot". Daqui a uns tempos, quando a lucidez permitir avaliar estes "negócios" sem o lastro servil da propaganda, veremos o que o jornal canónico escreverá. Esta semana, e à falta de melhor, o mesmo Expresso recorda em "manchete" que passam amanhã quarenta anos sobre a famosa "queda" de Salazar no Forte do Estoril. Para "comemorar" a data, o hebdomadário foi ouvir Mário Soares, Ramalho Eanes, Jorge Sampaio, Guterres, Balsemão, Barroso e Santana Lopes. Sócrates e Cavaco aparentemente não quiseram dizer "onde estavam", não naquele dia 3 , mas mais tarde, em Setembro, quando foi revelada a intervenção cirúrgica na Cruz Vermelha. A Salazar sucedeu um intelectual politicamente pusilânime e, com o "25 de Abril", emergiu um cortejo que não vale a pena qualificar e que termina, para já, no improvável Sócrates. As "memórias" daquelas sete almas são elucidativas acerca do que sobrou da "queda". Fora Eanes que salientou a perda da noção do tempo e das ponderações adequadas ao país e ao Ultramar, Soares conta que ficou muito satisfeito por saber que um homem de 80 anos certamente não sobreviveria a um hematoma. Saiu eloquentemente de uma barbearia, em São Tomé, aos gritos e aos saltos como um macaco. Sampaio estava em Paris a antecipar as "conspirações de sótão" que o tornariam famoso no regime seguinte a ponto de ter chegado a PR. Guterres, o patrocinador desses encontros de sótão, mais modesto e sem um espelho pela frente, lamenta-se da "mediocridade". Barroso fala no funeral do presidente do conselho e numa fotografia do mesmo que, sendo ele já o magnífico presidente da comissão europeia, lhe ofereceram. A Lopes preocupava-o, ainda de bibe, a falta das liberdades e Balsemão, tão frívolo então como hoje, despiu o smoking que trajava na "festa Patiño" para ir para o Diário Popular trabalhar. Salazar fez sentido enquanto não houve Europa e o país possuia uma fronteira ilimitada que ia para além do Atlântico como, de alguma forma, Eanes explica sem preconceitos "ideológicos". Salazar deixava de fazer sentido com a Europa e com um país periférico confinado à sua exígua fronteira terrestre, à burocracia demo-liberal de Bruxelas e aos negócios obscuros com as nomenclaturas que mandam nas ex-colónias. Sem querer, o Expresso, em apenas uma página, retratou melhor este regime do que aquele que terminou, na prática, naquele sábado funesto de Agosto de 1968. Não sei quem é que fica pior na fotografia.
8 comentários:
a minha falecida mulher ia à igreja dos capuchinhos na rua barjona de freitas.à saída da missa ajudava uma senhora de idade a atravessar a rua atá à casa em frente. há 5ª vez identificou-se era a ex-governante. contou que após a morte só o prof bissaia e um outro amigo a contactavam. contou que um famoso jornalista brasileiro da globo lhe oferecera avultada quantia pelas memórias.
a mulher dum amigo meu nasceu na casa próximo do marquês onde o "ditador" morava com o seu amigo pais de sousa. não tinha telefone. pedia ao vizinho de cima que era comuna para telefona.era o pai desta senhora.
o meu querido amigo prof Antunes (SJ) conhecia a história dos "encontros" nas avenidas novas onde "fradalhão" sofreu o atentado.
minha mãe frequentava uma pensão em S pedro do sul e só ao fim de 10 anos soube casualmente que a sra. com quem mais falava era uma das manas.
trabalhei na rua bernardo lima na moradia onde viveu até ir para s bento.mais tarde foi sede da udp.
depois abriu-se o cano de esgoto como dizia o meu falecido amigo estalinista
radical livre
O Soares podia ter feito o esforço de mentir e ter tido que se tinha contido.
Pelos vistos, a figura de Salazar continua a ser relevante e a merecer títulos de primeira página, mesmo pelas piores razões como foi a queda da cadeira que parece que não foi bem assim. Sem dúvida, bem mais interessante é a entrevista na "Única" com o jornalista francês Roland Faure sobre os seus contactos com o ditador.
Soares, estúpido, embora, deveria ter mais tento na língua e respeito pelos mais velhos, que òbviamente nunca teve. Anda há 50 anos, ou mais, a dizer mal de Salazar e a fazer troça dos botins (mais do que botas) que ele usava. Porventura o seu próprio pai tê-los-á usado, ou, senão, o seu avô, uma vez que até por volta dos anos 50 os homens, sobretudo os mais velhos e se originários da província ainda mais, usavam-nos. Era hábito nesses tempos, tal como o chapéu fazia parte do traje completo para os citadinos ou boina para os rapazes em geral e pessoas mais humildes, adultos ou jovens, da cidade ou da província, em particular. Basta ver as fotografias da época. Até os rapazes dos anos 50 as usavam porque tinham o hábito de jogar à bola em tudo quanto era sítio e os botins eram o calçado apropriado. Não havia ténis. Havia sim umas sapatilhas muito leves, de lona e sola de borracha, só para a ginástica e desporto em geral e que não eram apropriadas para jogar à bola nos pátios das escolas, nos jardins, ou nos quintais das casas.
Salazar não fechou o Colégio ao seu pai - republicano e opositor ao regime, portanto da sua não simpatia - e podia tê-lo feito perfeitamente, bastava querer. Ele próprio deve toda a sua instrução (de que tanto se gaba e orgulha...) ao regime anterior. Os meus pais conheceram pessoas que sabiam a vida regalada que Soares fazia em S. Tomé, por serem pessoas que viviam nessa província portuguesa e que quando vinham a Portugal confraternizavam com os meus pais e falavam-lhes dele. Soares, que afirmou ter sido muito bem tratado enquanto permaneceu em S. Tomé, disse em livros e entrevistas, que teve várias ofertas e muitas hipóteses de fugir da Ilha, de barco, por exemplo, porque tinha "um mar imenso à sua frente completamente desguarnecido", ajudado por colegas de partido, mas não quis. Pois pudera! A vida de calaceirice que lá levava, sem a mais pequena preocupação, ao sol e na praia todo o dia, com alimentação do melhor que havia à sua disposição, muito bem tratado pelos autoctónes, sem lhe faltar absolutamente nada, complementado com o importantíssimo 'atestado' de "prisioneiro político" e ainda por cima desterrado", imprescindível, a figurar no seu currículo, sem o qual não poderia ter chegado polìticamente onde chegou e mais tarde ter assumido o papel de traidor que desempenhou, faziam parte do plano de permanecer o tempo que fosse necessário. E se de papo para o ar numa Ilha paradisíaca, melhor que melhor.
Ele deveria ter vergonha na cara e esconder-se ou desaparecer do mapa, por duas razões substantivas: pelo que diz de Salazar, que nunca disse mal de seu pai e dele, que se saiba, também não - excepto talvez acusá-lo de traidor a Portugal, afinal a pura verdade - daí a diferença abissal entre a categoria superior de um e o víl perfil do outro; e pelo papel principal que desempenhou na destruição de Portugal e na morte de milhões de portugueses inocentes. Salazar, se fosse tão mau como este traidor e outros o pintam, tê-lo-ia mandado assassinar e razões não lhe faltariam, dada a campanha criminosa contra o nosso País, levada a cabo no estrangeiro, durante anos e anos, por esta criatura inominável.
Se desaparecesse para sempre da circulação, talvez o seu registo, que há-de figurar a letras negras e infamantes, na História de Portugal, ainda lhe reservasse uma pequeníssima nota de rodapé vagamente positiva. Mas isso não se verificará, porque o seu egocentrismo, soberba, vaidade, interesse pelo poder e dinheiro são ilimitados e o seu completo desdém pelo Povo Portugês é absoluto e total, ele odeia a terra onde nasceu. Soares escreveu a página mais negra de que há memória na brilhante História do nosso País. Um País de Honra, Nobreza, Dignidade, Valentia e Bravura e quase milenar. Um País Glorioso e Sagrado, que se chama PORTUGAL.
Maria
Nunca percebi e continuo a não perceber porque se gasta tinta com semelhante estupor.
É que a merda, para além de nos incomodar com o seu odor irritante, só serve para estrume. E é o que ele já é.
Lá ficou na censura gonçálvica o meu comentário modesto em que apenas suplicava ao dr. Gonçalves,em nome dos seus fieis leitores,que nos esclarecesse alguma coisinha,pelo menos,do que pensa que deveria ser o novo regime a instituir depois deste,tão odiado e sinistro,ser fialmente derrubado e substituido. Mas substituido por quê? Já sabemos como estima o Dr. Salazar,assim como a sua comentadora "maria",autora dum notável comentário,esse sim merecendo honras de publicação (e aprovação?).Mas reflicta um pouco. Quando o Salazar foi chamado ao governo,já se sabia ao que vinha pelos artigos que publicava no "Novidades",pela conferências no C.A.D.C,etc. Sabia-se "o que queria e para onde ia". O "Duce" escrevia no seu jornal,discursava,tinha um programa.O José Antonio idem. Como vê, procuro exemplos que presumo lhe estarão próximos. Mas, embora talvez não queira chefiar uma revolução,não nos dá uma ideias do seu programa politico? Suponho que não será apenas "dizer mal",carpir sobre o "regime",a Europa,etc. Ou é só isso? Não tem nada para propor? É um presidencialismo reforçado? É uma ditadura que expulse ou elimine os tais "traidores" da sua "maria"? Não há alguma cobardia(horribile dictu) no simples ataque sem propostas,para conhecermos minimamente as suas ideias? Por acaso até simpatizo com a sua escrita,sei que gosta de música como eu,que até teve responsabilidades nessa área,que leu umas coisas,embora não tenha pròpriamente uma formação humanistica,o que tambem se nota. Mas enfim,o radicalismo não é proibido,que eu saiba,por este tão abominavel regime,então"porque no hablas?"
"... pelos mais velhos já falecidos...", peço desculpa pelo lapso.
Maria
Essa de o Soares andar aos gritos e aos saltos como um macaco, trouxe-me à ideia o que é a vida.
A abrilada trouxe a S. Tomé (a ilha, entenda-se)benefícios e custos.
Ao benefício da independência contrapôs-se o custo da perda de divisas com a saída do Soares-macaco, que, aos saltos de galho em galho pela ilha, constituiria uma atracção para aqueles turistas que apreciam imenso ver as brincadeiras tolas de toda a espécie de macacada.
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