20.8.08

O GESTO


O Chefe de Estado vetou as alterações à lei do divórcio recentemente aprovadas no parlamento pelos amestrados maioritários de Alberto Martins, pelo PC, pelo BE e por meia dúzia de tresmalhados da direita. Fez bem - é um veto político - embora esta mesma gente deva confirmar oportunamente o voto anterior. Cavaco, como qualquer outro PR, representa "qualquer coisa", é suposto ter "valores" e sabe que uma sociedade não subsiste se se transformar num supermercado de direitos sem deveres, atreito a proteger os que mais "sabem" e a prejudicar os que menos "podem". O presidente não se pode comportar como o notário-mor do regime, disposto a assinar a primeira porcaria que lhe coloquem na secretária. Disse aqui, noutra ocasião, que «as pessoas não constituem direitos reais e têm, sobretudo, a liberdade de não casar. Entende-se por pessoas aqueles que, ao contrário dos outros animais, supostamente possuem valores e uma ética. Tal inclui a noção de culpa, a destrinça entre bem e mal. Banalizar estes conceitos, ou anulá-los pela força da lei, é, todavia, o caminho dos "tempos". Como escrevia há dias Vasco Pulido Valente, "o mundo moderno e a opinião que o sustenta autorizam o que autorizam e proíbem, muito democraticamente, o resto. As democracias, como se sabe, produzem com facilidade aberrações destas. Quem não gosta que se arranje ou se afaste.» Eu ainda acredito na força simbólica de alguns gestos. Gestos com este, de hoje, do presidente Cavaco Silva.

2 comentários:

Dinis disse...

Aqui, concordo com o que diz. Absolutamente. Ponto.

Anónimo disse...

Só é de lamentar é que os seus gestos decentes não apareçam na justa medida das bacoradas governamentais.