«Sem o império (sob o nome de "federação" ou qualquer outro) não existe Rússia; existirá provavelmente uma infindável e mortal desordem. E, se o Ocidente começa a roer as margens do império, não há maneira de a longo prazo o centro perdurar. Putin e Medvedev sabem isto por experiência e por tradição. Não é razoável pensar que assistam tranquilamente ao desastre ou que se iludam, como Gorbatchov, sobre a bondade intrínseca do mundo.O abjecto fim do comunismo inspirou o Ocidente a exportar, ou a impor à fraqueza da Rússia as regras de uma civilização que não é a dela e que, de resto, a sua natureza não lhe permite aplicar. O Ocidente principalmente não percebeu que, para a Rússia, uma verdadeira democracia e uma verdadeira economia de mercado eram um puro suicídio. Agora, as circunstâncias mudaram. Putin restabeleceu a autocracia e o petróleo e o gás reforçaram a "federação". As tropas que entraram na Abkhásia e na Ossétia do Sul são um sinal. O sinal de que o império não continuará a consentir no que toma (e, com perspectiva da Geórgia na NATO, acreditem que toma) por uma ameaça às suas fronteiras. A América e a "Europa" não o devem ignorar. O mérito moral do episódio não interessa aqui. O que interessa aqui é a interpretação que Putin e Medvedev dão à estratégia do Ocidente.»
Vasco Pulido Valente, Público
Vasco Pulido Valente, Público
9 comentários:
Um adjectivo, Gostei!!
A Europa e a América têm de perceber, de uma vez por todas, que não podem querer impor à Rússia, e quem diz à Rússia diz a qualquer outro país, aquilo que não querem para elas. Depois não se queixem.
"O Ocidente ... não percebeu que, para a Rússia, uma verdadeira democracia e uma verdadeira economia de mercado eram um puro suicídio"
Este é mais um dos artigos que Valente Vasco escreve para garantir o recibo. Amanhã, à falta de melhor tema, com os mesmos pressupostos escreverá o contrário.
Porque não há nas suas linhas uma alusão, vaga sequer, da seu compromisso intelectual com um caminho.
A democracia e a economia de mercado não servem à Rússia. Pois muito bem. E o que pensa VV do que possa ocorrer nas relações entre a Rússia, que não pode embarcar nos valores das democracias burguesas, e a Europa e os EUA, que teimam em defender esses valores? Aceitar que se reerga um outro muro de Berlim?
Valente Vasco, a finalizar, remata para confundir, colocando a questão ao contrário : "O mérito moral do episódio não interessa aqui. O que interessa aqui é a interpretação que Putin e Medvedev dão à estratégia do Ocidente.»
Tem a estratégia do Ocidente que subordinar-se à interpretação que os russos dão dela, e portanto recuar, voltando à guerra fria, ou retomar o caminho interrompido da promoção das liberdades individuais em todo o mundo?
Aos costumes, Valente Vasco, disse nada.
Uma análise realista. As coisas são o que são e é isso que conta.
A história de colocar mísseis na República Checa e na Polónia para "nos" proteger dos ataques do Irão só poderia ter ocorrido a Bush e seus sequazes.
Como acreditaram que os Russos alguma vez se convencessem dessa argumentação? Não lembra ao diabo.
A Rússia continuará a manter uma órbita defensiva e é bom que o Ocidente não se intrometa nessa esfera, porque daí adviriam certamente maiores males.
Recomenda-se prudência e inteligência. VPV, cujas opiniões são de facto bastante oscilantes, neste caso está certo.
Aguardemos os desenvolvimentos da situação.
De que raça serão os russos para que
"a sua natureza" não lhe permita aplicar as regras da civilização?
É que já li esta "moral da história" aplicada ao livro de aventuras "A Ilha do Dr. Moreau" (ou semelhante) em que um "cientista louco" dava inteligência e civilização humanas aos animais da sua ilha...
Concordo que o Vasco tenha escrito isto "para garantir o recibo" e nem sequer leu o que escreveu.
Ó dr. Pulido, o senhor sabe qual é o problema da Rússia. É o mesmo que os crioulos têm em África, nem brancos nem pretos. E como a lampreia. Será carne, é peixe? A forma diz que sim, que é peixe, ao que sabe e o sangue, dizem que não. Que é carne. Pequim, Berlim... O que a Rússia quer, a de Putin, pelo menos, é conseguir aquilo que nunca teve. Uma identidade definida. E se para a conseguir for necessário adquirir "melanina" ou "sangue" no quintal dos vizinhos, vai fazê-lo. E nós somos o quintal. Nos extremos, puros, está a China e os EUA. Estamos fodidos.
Andaram a espicaçar e a provocar o urso durante vários anos com escudos antimisseis, Kosovos,iraque,Nato- que já devia ter sido desactivada - depois perguntam porquê. Se Obama não ganhar as eleições, as trevas vão-se adensar com este mundo nas mãos do louco do Bush e da sua companhia de circo.
Uma análise inteligente onde reitera teses que me parecem correctas.
dutilleul
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