Faz hoje um ano que desapareceu o Eduardo Prado Coelho (EPC). O jornal onde ele escrevia limita-se a dedicar-lhe uma singular "carta de uma leitora". O ano que passou comprova o que escrevi na altura. "EPC foi o último analista absoluto de uma coisa a que, com felicidade, chamou um dia de "reino flutuante" ou "a mecânica dos fluídos", mesmo quando os termos nos irritavam. E é patente que os escritos mais recentes sobre novos "poetas" e "escritores" portugueses relevam quase só do plano da mera empatia pessoal ou de qualquer outra coisa que nada tinha a ver com crítica e literatura. Não deixa, mesmo assim, órfãos ou viúvos." A indigência que caracteriza a generalidade das "croniquetas" e das "críticas" que enchem os jornais, a cobardia anti-polémica com que, par délicatesse, as adornam, o cuidado com a "correcção", a irrelevância, etc., etc., trazem à superfície a saudade que o EPC deixou. Também ele não resistiu - tantas vezes - à "pressão" da mesmice complacente que é a vida dita cultural portuguesa, sempre embrulhada no oportunismo político dos dias e horas do regime. Só que, ao contrário dos pequenos mandarins de agora, sempre tão cheios de coisa nenhuma, EPC prodigalizava um "saber" individual adquirido em anos e anos de observação e de leitura de lápis na mão que é impossível ser reproduzido pelas "modernas" máquinas tagarelas (de televisão ou de jornal) que nos incomodam permanentemente com a sua inútil presença. Aprendi e descobri muita coisa com o EPC, alguém que, sempre que se encontrava connosco, era simplesmente um homem amável.
Nota: A ASA/LeYa reedita por estes dias o seu "diário", Tudo o que não escrevi, dois volumes sobre os "anos felizes" de Paris.
Nota: A ASA/LeYa reedita por estes dias o seu "diário", Tudo o que não escrevi, dois volumes sobre os "anos felizes" de Paris.
6 comentários:
que descanse em paz
"nós por cá todos" mal, muito mal
"descansa lá no céu eternamente"
viva eu cá na terra com os trastes
radical livro
Não duvido. Mas é curioso que o João que emparelha tão facilmente com o Pulido Valente se esqueça que o Prado Coelho foi um dos ódios de estimação do Pulido Valente. Por várias razões.
De resto, desculpe que lhe diga, mas você aqui costuma usar dos mesmos mecanismos de promoção ou despromoção pessoal que critica nos jornais. Basta olhar para a sua lista de links.
Honório: já experimentou ler a epígrafe do Baudelaire no blogue do Augusto M. Seabra - "a crítica deve ser política, parcial e apaixonada"? E eu estou a milhas de ser um "crítico". E sim, sou selectivo. A diferença é que eu o afirmno enquanto outros segregam pela calada. Cumprimentos.
Depois de o ter visto referir Paulo Portas como um bom ministro da Defesa,
tomei a iniciativa de lhe enviar (para o Público), uma carta sobre o então MDN: "O melhor ministro da Defesa, um ministro zero"
BM
A minha preocupação de saber quem são os homens e as mulheres que escrevem, tem-me poupado alguns amargos de boca. Para mim não basta que um homem ou uma mulher escreva bem. Preciso saber quem foram ou quem são na vida real.
Sem duvida um grande senhor, não só pela escrita, mas tbem por muito que escreveu e opinou.
Enviar um comentário