O Miguel Castelo-Branco recorda a sua chegada ao Continente, vindo de Moçambique há trinta e quatro anos, com «um nada e nos bolsos nem cotão havia. No aeroporto de Lisboa não havia um Guterres palrador, nem uma enfermeira, nem um padre nem ninguém. Éramos o lixo do Império que a todo o custo queriam atirar para debaixo da carpete vermelha do novo Portugal.» O Miguel provavelmente gostaria de ter assistido à repetição de um notável documentário de Joaquim Vieira, na RTP1, dedicado a Maria Estefânia Anachoreta, a representante do Movimento Nacional Feminino em Santarém, A Voz da Saudade. D. Maria Estefânia foi a Angola, em 1966, com um gravador em punho no qual levava registadas as mensagens dos familiares dos militares portugueses da zona de Santarém. Andou de companhia em companhia a reproduzir essas mensagens. Morreu em Janeiro deste ano, com 89 anos, seguramente com a energia e a lucidez manifestadas no documentário terminado seis meses antes. Uma energia que a levou - sozinha porque não teve a "benção" de "Cilinha" Supico Pinto, a presidente do MNF - aos 47 anos, até Angola, e que manteve indemne, pelos vistos, até ao fim. Quando vemos uma Ana Gomes "completamente rendida" a Obama depois do circo de Denver em que participou, como é que não podemos deixar de manifestar respeito por Senhoras anónimas como D. Maria Estefânia? É como diz o Miguel. «O país gosta dos fulanos e fulanas rabudos, dos doutorecos e doutorecas, da meia tijela, com ou sem peles, dos bajuladores, dos pequenos e grandes poltrões. Está bem, assim, na fila de trás da Europa.» Bom proveito.
11 comentários:
Tinha sabido da morte de Dona Estefânia Anachoreta que conhecia da Real Associação de Santarém e tive o maior gosto em ver o documentário. Nada sabia daquela lança em África, que foi uma completa surpresa. Uma pessoa notável, inteligente, sensata, e com sentido de humor que usava para conduzir a bom termo as assembleias gerais da Real.
1º- Miguel, pelos vistos, esqueceu-se de mencionar que, para além disso tudo, as BENSÃOS são ainda mais importantes, conforme refere;
2º - Infelizmente, Portugal continua na cauda da Europa, porque, para lá duma revolução, é preciso ter bons ABENSOADORES de portugueses esclarecidos, coisa que falta, pelo menos, desde os finais da Monarquia.
politicos socialistas quando jovens perguntados sobre o que querem se em adultos dão a mesma resposta do garoto de Ladrões de biclicetas;
-quero ser delinquente
e são
PQP
radical livre
explique-me por favor:
o que tem a ver
Ana Gomes e Obama
com Estefania Anacoreta???
Tais personagens no seu imaginário não podem coexistir
e ter o seu valor próprio, diferenciado no tempo?
abraço
Há mulheres extraordinárias e que não esperam quaisquer benesses e comendas, embora as mereçam. A Maria Estefânia era realmente especial e o seu sentido de humor era contagiente, aliado a uma gererosidade sem fronteiras. Provavelmente aos 89 anos vivia de uma mini-pensão porque só mesmo os espertalhões que se passam por «pobrezinhos» como os de etnia cigana é que recebem casas e subsídios.
Visitei-a 3 meses antes de morrer e estava alegremente a fazer prendas de Natal para toda a família porque a pensão não dava para luxos, dizia divertida.
É com enorme tristeza que constato que os nossos políticos esqueçam com facilidade quem trabalhou em prol de Portugal. Desvalorizam quem tanto fez pelos nossos militares a troco de nada. Se fosse "antifascista" teria certamente direito a várias pensões e referências elogiosas. Triste sina a de um país que apenas valoriza os seus traidores.
Tem todo o meu apoio o anónimo das 2:41.
Este desgraçado país, desgraçado por culpa de muitos que nele nasceram, só incensa os seus traidores, os seus vendilhões, os seus patifes de toda a espécie, os seus vigaristas.
Se tens dinheiro, és o máximo, se não tens, dão-te pior tratamento que a um cachorro.
Se fosse "de esquerda", já era nome de rua, como tanto bardamerda que se lê por aí em placas de Lisboa (e sobretudo dos arredores "antifascistas").
Merda de país...
Nascido e criado em Santarém,ouvi de meu Pai e de um Tio,pessoas quase da mesma idade de D.Maria Estefânia Anacoreta,as mais elogiosas referências a seu respeito e ao seu espírito independente e de convicções fortes,que teve na palavra "entrega" um referencial.Conheci-a pessoalmente e posso testemunhar o exemplo de bondade e despojamento que foi a sua,felizmente,longa vida.A revista Grande Reportagem,aqui hà um par de anos,já lhe dedicara um artigo.Sei que não morreu esquecida,recordam-na,certamente,os soldados do distrito de Santarém que visitou em Angola e cujo sacrifício ajudou a atenuar.Quanto a "outros",se calhar foi melhor não se lembrarem,assim aviltavam-lhe a obra.Tenho a certeza que D.Maria Estefânia Anacoreta,como outro ilustre que repousa no velho cemitério do "Pereiro",preferiria dizer para si..."a Pátria nada me deve".
QEPD.
"-quero ser delinquente
e são"
É bem verdade, caro Radical Livre.
Contaram-me que o filho de um conhecido governante terá comunicado essa decisão ao pai. Ao que este retorquiu:
- Sim? No Público ou no Privado?
Fiquei muito triste quando soube da desgraça. Era uma pessoa muito amiga e sempre disponível para qualquer coisa. Quando foi a África, à pouco tempo, envios me uma carta muito sentimental que falava das saudades,e disse " ter saudades não é bom, porque dá logo vontade de te ver". Tinha muito bom coração, e deve ficar para sempre conhecida como uma grande mulher!
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