31.8.08

A INSUPORTÁVEL VIDA

O livro da foto é porventura dos mais belos ensaios escritos por Sartre (tradução de Pedro Oom para as Publicações Europa-América, em 1966, com prefácio de Michel Leiris e dedicado a Jean Genet) e prova que a filosofia pode ser a "procura íntima da serenidade", nas palavras do Eduardo Prado Coelho. E que que um filósofo (coisa diferente de um tagarela da filosofia) é, antes de tudo, um escritor. Um bom escritor. Li-o em Tânger no acaso de uma viagem como - vejo-o agora - escrevi numa das primeiras páginas. «Baudelaire voltou-se para o passado, para limitar a liberdade pelo carácter. Mas esta escolha tem outras significações. Baudelaire tem horror à sensação do tempo a correr. Parece-lhe que é o seu sangue que corre: esse tempo que passa é tempo perdido, é o tempo da preguiça e da moleza, o tempo das mil e uma juras feitas a si mesmo e não cumpridas, o tempo das mudanças, das diligências, dessa perpétua busca de dinheiro. Mas é também o tempo do tédio, o jorro sempre recomeçado do presente. E o presente forma um todo com aquele apego insípido e tenaz que o poeta tem a si mesmo, aos limbos translúcidos da vida interior:
Garanto-vos que os segundos são forte e solenemente sublinhados e cada um deles, ao irromper do relógio, diz: «Eu sou a vida, a insuportável, a implacável vida.»

2 comentários:

Fernando Vasconcelos disse...

Baudelaire, juntamente com Rimbaud e Verlaine alguns dos meus poetas preferidos. Lembro-me distintamente da primeira vez que numa aula de francês estudei um dos seus poemas. Não saí dessa aula a mesma pessoa ...

Anónimo disse...

«-posso dizer o que eu acho
-sim! mas fala baxo!»
não suporto esse biltre: nem como escritor, muito menos como homem

radical livre