26.10.04

COSMOPOLITAS?

Temos estado esquecidos do "nosso" José Barroso, que anda num virote para ver "passar" a sua Comissão perante o PE. As prestações e o passado de três ou quatro dos seus candidatos a comissários europeus, não agradaram a alguns grupos parlamentares. Apesar de tudo o que aqui se escreveu sobre aquele ex-primeiro-ministro português, eu acho que Barroso vai safar-se razoavelmente na Europa. A sua frieza e a sua origem "modesta" podem ajudar neste momento de transe num espaço alargado a "25". Quanto maior for o seu sucesso europeu, mais distante Barroso fica do que aqui deixou. Neste momento o seu "problema" chama-se Rocco Buttiglone, o putativo comissário italiano. Este senhor ousou violar o "politicamente correcto" nas audições perante os parlamentares europeus. Quem me conhece, sabe quão distante eu estou das concepções perfilhadas por Buttiglone. Acontece que a Europa cosmopolita que eu defendo, só se une na diversidade. A circunstância deste italiano, amigo de João Paulo II, intelectual e por sinal nada parvo, ter uma visão do mundo completamente diferente da minha, não o diminui, aos meus olhos, para o exercício de um mandato europeu. Buttiglone tem o direito a ser conservador tal como António Vitorino é socialista. Ninguém viu Vitorino impôr à Comissão Europeia os seus "valores", da mesma forma que Buttiglone já explicou, com inteligência, que não pretende trabalhar em Bruxelas agarrado ao missal. Aliás, quem "soprou" Buttiglone a Barroso foi precisamente Vitorino, alguém que me parece francamente insuspeito. A histeria anti-Buttiglone que corre na "opinião-que-se-publica" bebe directamente no fundamentalismo sobranceiro que caracteriza os eternos polícias de costumes encapotados de "progressistas". Ao contrário do que a "retórica da diferença" imagina, este "folclore militante" só serve para fazer o frete aos seus "colegas" do "outro lado". Afinal, quem é que é "cosmopolita" ?

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