Estive a ler, no Crítico, "O criativo de factos políticos". O Henrique Silveira, na sua visão aristocrático-estética da existência, pune vigorosamente a "democracia" pelo tipo de elites que engendra. Eu lembro-lhe, e nunca me canso de o fazer, que no "pacote democrático" cabem forçosamente muitas coisas. Quem o "compra" sabe que tem de "gramar", por igual, personagens viciosas e duvidosas juntamente com beneméritos honestos e honrados cidadãos que pagam estupidamente os seus impostos. A partir de certa altura, o "pacote" já quase só inclui "interesses". Estes podem variar entre os da porteira do prédio até aos do último grande grupo económico. Quem mais tem, mais disfruta do "pacote". E tudo é, por essência, comercializável. A "Quinta das Celebridades", da TVI, tem pelo menos a virtude de juntar o "pacote" à bosta, usando como "by-pass" um autarca eleito e um boneco andrógino. Segundo os "shares", milhões de portugueses não perdem este sublime cócó. Apesar de tudo, a paisagem ficou mais pobre. Durante quatro anos, na mesma TVI, Marcelo fez de oráculo dos costumes democráticos, futebol incluído. Sempre divertido e insinuante, ora mentiroso, ora verdadeiro, Marcelo é demasiado cínico e demasiado livre para que os donos do "pacote" o aguentassem por muito mais tempo. Para mais, era "popular", coisa que os populistas não suportam. Sempre correu sozinho da mesma forma que é assim que gosta de mergulhar nas frescas ondas do Guincho ou no mar mais tranquilo de Cascais. A seu tempo, no tempo dele, obviamente falará. Embora não pareça, só tenho estado para aqui a falar de sintomas da "qualidade de vida" da nossa democracia, a propósito do proselitismo do Henrique Silveira. E se falo dela é porque não a sinto.
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