30.10.04

UM VOTO




Ao fim de um ano e tal de silêncio, o Sr. Bin Laden apareceu nas eleições americanas. E apareceu para dizer aos americanos em quem é que eles devem votar. Entre ele e George W. existe uma estranha tensão "dialéctica" de amor/ódio que beneficia naturalmente este último. Sobrevivem à custa um do outro, como o divertido filme de Michael Moore demonstra se for visto com as devidas cautelas. Apesar do relativo fracasso da luta anti-terrorista promovida pelo actual inquilino da Casa Branca, agravado com o desastre iraquiano em curso, os americanos revêem-se mais facilmente nas diatribes guerreiras e securitárias de Bush do que na pusilanimidade de John Kerry. E é apenas isto que praticamente lhes interessa. Não foi só Bin Laden quem decidiu "votar" nas eleições norte-americanas. Um pouco por todo o mundo, Portugal incluído, não houve plumitivo que não dissesse em quem é que os americanos têm de apostar ou, mais propriamente, em quem é que não devem votar. Este frívolo exercício de "whishful thinking", acompanhado à guitarra e à viola pela "intelectualidade" norte-americana, não chega para eliminar os "velhos demónios" que preenchem o vazio da maioria das vidas dos cidadãos do "novo mundo". Eles são infinitamente "mais Bush" do que alguma vez serão "John Kerry", tal como no passado foram "Nixon" ou "Reagan". Depois Kerry é secundado por essa irritante Sra. "maionese" Heinz, originária das nossas bandas, cujo abrir de boca é quase sempre catastrófico. Não tenho a certeza que os americanos a queiram ver sentadinha nos salões da Casa Branca ou que a imaginem "primeira-dama". Dito isto, convém esclarecer que, apesar de eu não desejar a reeleição de George W., por mera atenção pelo sossego do mundo, não estou certo que a maioria dos americanos que vota, pense da mesma maneira. Vocês não estão seguros, nem com Bush, nem com Kerry, explicou-lhes Bin Laden. Na dúvida, porém, ele já escolheu.

Sem comentários: