Veja-se como este texto de Luiz Pacheco, de 1959, inserido no livro Figuras, Figurantes e Figurões, editado pelo O Independente, podia ter sido escrito hoje:
(...) Também a nossa verdade, isto é, as nossas convicções (éticas, estéticas, políticas, etc.) apenas se podem demonstrar, afirmar, exemplarmente, em actos, tenham eles as consequências que tiverem, sejam eles incómodos, blasfemos, agressivos à verdade dos outros, percutindo-se na crítica e na polémica e individualizando-se nelas. E não esquecendo-nos de nós próprios, quer dizer, submetendo-nos a verdades impostas de fora - ou de cima. (...) se tudo nos prova, agora e aqui, que o autêntico convívio resulta de nos pronunciarmos como somos, rigorosamente pessoais, cruelmente duros para os hesitantes e para os oportunistas (que são a maioria), sem respeitos humanos nem silêncios falaciosos; se a convivência só é honrada por uma fecunda polémica, pela lealdade dos termos em que esta for posta, na mútua consideração que, mau grado adversários, se dedicam aqueles que sabem lutar e viver por uma (sua) verdade - como poderemos acreditar nessa outra convivência possível em que nada mais descobrimos senão um pretexto, uma escusa espertalhona para a nossa inutilidade e para a nossa submissão conformista ? A POLÉMICA É A RAZÃO DA NOSSA PERMANÊNCIA.
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