28.10.04

PANOS E CENAS

A Dra. Maria João Bustorff, depois das "queixinhas" de Fraústo da Silva, presidente do Centro Cultural de Belém, exonerou os dois outros administradores, Miguel Vaz, que não chegou bem a perceber o que lá esteve a fazer durante oito meses, e Adelaide Rocha, do pelouro financeiro. Fraústo da Silva é uma daquelas personagens "redondas" que se instalaram na democracia portuguesa como lapas. Estão quase sempre bem com Deus e com o Diabo, consideram-se intocáveis e são profusamente veneradas. Gozam dos favores e da baba de Belém e de São Bento, independentemente dos inquilinos. Por isso nunca há a coragem de as afastar. Na polémica que terá envolvido a direcção do CCB, Fraústo foi muito claro: ou saem eles, ou saio eu. Esta dissimulação resulta sempre. A ministra da Cultura não podia, pois, hesitar. Pena é que não tenha aproveitado para remover toda a "estrutura". Há um lado determinado em Bustorff que me agrada. Era bom que a sua aparente autoridade política fosse igualmente utilizada para resolver situações parecidas. Lembro-me, porque a conheço bem, da "situação" do São Carlos. Paolo Pinamonti, em apenas três anos e graças ao irritante provincianismo doméstico, adquiriu um "estatuto" praticamente idêntico ao de Fraústo da Silva. Até agora não houve ninguém que não se "derretesse" diante de tão preclara e insinuante criatura. Ele, por sua vez, já "derreteu" vários vogais da direcção sem um balido dos poderes públicos. Porque é que Maria João Bustorff, que é uma mulher perspicaz, antes de entregar mais dinheiro dos contribuintes ao São Carlos, se é que o vai poder fazer, não tenta avaliar com precisão o que ali se passa? A "cultura" não é só "abrir os panos". Há momentos em que é mais avisado fazê-los cair para poder tranquilamente "limpar a cena".

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