Numa das suas primeiras falas como ministra da Cultura, Maria João Bustorff ingenuamente reclamou para o seu sector um por cento do OE. A herança era de facto pesada. O embuste em que consistiu o infeliz consulado Roseta-Amaral Lopes, aconselhava este governo a mudar de agulha, sobretudo quando o primeiro-ministro, para bem ou para mal, já tinha sido responsável pela área numa das suas múltiplas encarnações. Ancorado no miserável jargão da "gestão flexível" e permanentemente debilitado por um orçamento que não soube nunca negociar, Roseta passou o seu nefasto mandato a tentar apagar fogos, mesmo aqueles que ele próprio ateou. Amaral Lopes sozinho conseguiu, apesar de tudo, que o desastre não fosse completo. Acontece que agora foi escolhida a via populista para o orçamento de Estado. Isso implica, à cabeça, uma desvalorização substantiva do sector tutelado por Bustorff e o regresso a patamares impensáveis de subdesenvolvimento cultural. Ao dotar o ministério da Cultura, em 2005, com uns desgraçados zero vírgula dois (0,2) por cento do OE, o governo de Santana Lopes não só torna mais claro ao que vem, como revela sobretudo ao que não vem. Com estes números, o financiamento do ministério da Cultura recua mais de uma década. Imagino que Maria João Bustorff sabe o que é que isto significa. Só que duvido que, quer ela, quer os seus directores-gerais, tirem quaisquer ilações desta pequena humilhação. Na realidade, os tempos e estas pessoas parecem dar-se bem com a anomia reinante. Depois não se queixem.
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