15.10.04

CAMINHOS DIFERENTES

Na linha "home theatre" introduzida outro dia pelo primeiro-ministro, Bagão Félix esteve longamente nas televisões às 8 horas. Numa delas, a SIC, esteve mesmo em directo. Ouvi-o dizer que a única obsessão que tinha era o Benfica, uma coisa que cai sempre bem dizer em pleno Salão Nobre do Ministério das Finanças. Contrariamente a Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix sabe "fazer política". Os vastos minutos que gastou a falar do orçamento de Estado, para além do registo didáctico que se assinala, destinaram-se apenas a reiterar propósitos de natureza estritamente política e não técnica. O cuidado na escolha da adjectivação, a delicada referência aos aspectos "sociais" do orçamento e a insistência nas alterações de taxas quase irrelevantes do IRS deram o "tom" da mensagem que se quis passar. Naturalmente nada disto lá vai sem o recurso a receitas extraordinárias, um expediente que o ministro prevê que se prolongue por mais anos orçamentais. Pelo meio, ficou a ideia da criação de um "corpo de elite" para "combater" a alta fraude fiscal, um projecto seguramente ornamental e que soa sempre bem. Já o governo do Dr. Barroso tinha instituído um "grupo de missão" ou coisa que o valha, entre a administração fiscal, as Alfândegas e a PJ, destinado precisamente a "congregar" de forma mais "eficaz" e "eficiente" a informação para o referido "combate". Como nunca se deu por elas, ter-se-ão esquecido destas estimáveis criaturas nalgum recanto? Finalmente o orçamento é revelador das prioridades políticas deste governo. Os barquinhos do dr. Portas levam a um aumento da "fatia" da Defesa Nacional em mais de 450%. Nos antípodas deste generoso e produtivo "investimento", a Educação perde em "funcionamento" e em "investimento" (-2,2% em relação ao ano transacto), e a Cultura apenas vê crescer a sua dotação em PIDDAC. Com "rigor" e com método, uma vez mais a qualificação continua a ficar para trás. Depois disto, julgo que não há grande margem para "negociar". O OE é uma peça política essencial no caminho de um governo. Este governo escolheu o seu. O país segue um caminho diferente.

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