Comemora-se hoje a "implantação da República". Como de costume, as venerandas figuras do Estado posaram para a posteridade à varanda dos Paços do Concelho de Lisboa, onde, ritualmente, foi hasteada a bandeira e entoado o hino. Mais logo Sampaio distribui mais umas veneras por umas quantas criaturas e profere umas "breves palavras". Suspeito que já sobra ao regime pouca gente para condecorar. A banalização destas distinções não suscita a mínima atenção nem impôe qualquer respeito particular. Para já, Sampaio aproveitou a manhã para enviar "recados" ao governo. Talvez por má consciência ou excessiva puerilidade, Sampaio deu agora em passar das pancadinhas nas costas à maioria, para a retórica da "exigência". Pena é que não se tivesse lembrado de ser exigente quando abriu o caminho à actual "situação" e que esteja a dar argumentos a Santana Lopes para ele vir fazer o que mais gosta, de "vítima". Simultaneamente é inaugurado o Museu da Presidência, uma meritória iniciativa do assessor cultural de Belém, o praticamente eterno José Manuel dos Santos. À excepção de Mário Soares, que mantém quase tudo no "quentinho" da sua Fundação, todos os outros, os mortos e os vivos, cederam espólio para o Museu. Vale a pena comemorar a República? Não vale. Contrariamente ao que a doutrina oficial propala, o que se sucedeu ao 5 de Outubro de 1910 foi a história de uma tirania "popular", centrada e liderada pelo velho Partido Republicano Português que, em pouco tempo, conseguiu a proeza de "virar" o "país profundo" e algumas das suas hostes "moderadas" contra si. Pomposos e medíocres, arrivistas e oportunistas, melancólicos e dramáticos furiosos, as notabilidades do PRP e, depois, do Partido Democrático, arrasaram às suas próprias mãos a tão prometida República e o "povo" que ela majestaticamente iria servir. É claro que a idiotia "monárquica" também não se recomendava, nem se recomenda a ninguém. Contudo, este folclore melodrámático que cessou às mãos da tropa, em 1926, não se deve confundir com o respeito pelos princípios republicanos no exercício das funções públicas. A probidade, a isenção e o alheamento dos "interesses" continuam a ser os pilares do verdadeiro poder político democrático. É isso que nós temos, a quase um século do 5 de Outubro? Não creio. Jorge Sampaio e Santana Lopes constituem, em 2004, a "imagem" da República. Sinceramente, vale a pena comemorá-los?
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