9.10.04

CORRESPONDÊNCIA

1. Acerca do "mal geral", do leitor Marco Faria:
(...)Politicamente, não me identifico com muitas das opiniões expressas [aqui]. E discordo delas, porque simplesmente o meu ângulo de visão permite-me conhecer numa outra perspectiva os factos e as pessoas. Há coisas que estão mal neste país, sem dúvida. Só que, por vezes, não conseguimos sequer vislumbrar os seus obreiros. Não sejamos redutores em pensar que o mal de todas coisas reside nos políticos. Apenas uma parte é da responsabilidade dos eleitos. A outra cabe aos grandes actores das sociedades contemporâneas (os media, por exemplo, só para citar um meio que conheço com algum pormenor). Estudei durante alguns anos comunicação social (e trabalhei também no meio) para perceber que há muita roupa suja nos media. Hoje, estudo Direito (mas não penso trabalhar na área) e após um ano de contacto com as primeiras noções, já deu para compreender que o que ensinam nas escolas de leis – e na Clássica, particularmente - são ficções e balelas (não há, nem sequer é admitido, pensamento crítico). Sabe o que está na sebenta e eu dir-te-ei quem és.(...)
2. Acerca do Teatro Nacional de São Carlos, do leitor Vitor José:
(...) Em relação a lei orgânica que referiu [a do TNSC] ela é um nado morto. Foi esquecida. Ninguém dentro da instituição orienta-se por ela, mesmo as tentativas para introduzi-la acabaram por promover no núcleo duro do Teatro uma energia geradora de mais expedientes por forma a contornar essas directrizes. Montra do fracasso foi a criação de um sector de aquisições que se revelou, nos moldes realizados, um disparate, foi paulatinamente sendo engolido, sendo hoje uma vaga lembrança. A dita lei orgânica enferma da sua inadequação à instituição em causa e na sua implantação não foi acompanhada politicamente, sendo o pecado maior deste diploma a soberba que ele encerra. É aceitável que com a nossa realidade académica se ignore de forma rude a área de gestão e de recursos humanos, entregando uma Instituição com centenas de funcionários e um orçamento de milhões de contos a alguém formado e com carreira em musicologia? Pretendia-se não subjugar a vertente cultural à vertente da gestão. O caminho apontado resultou de uma forma pragmática na natural ascensão dos sub-directores da área financeira para efectivos directores da Instituição, cria-se um embate funcional e pessoal, com ondas sísmicas de repercussão em toda a estrutura, estimula-se os feudos alimentados pela aparição de uma eminência parda. Observe a realidade, quase todos os directores entram em conflito ou são naturalmente engolidos quer no São Carlos quer nas outras instituições onde vigoram estas regras. Não se resume a um problema de incompatibilidade humana é isso sim uma inadequação efectiva entre a função e as características para essa função, de forma menos prosaica, neste modelo, o director é obviamente incompetente. Esta é uma questão angular na organização Teatral, o relacionamento funcional entre a orientação artística e a orientação pessoal e financeira.(...)

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