«A nossa vida é uma vida de relações com muitas pessoas que pode acontecer termos encontrado no nosso percurso, por exemplo na vida escolar, e que findo esse encontro não mais voltámos a encontrar. Estas relações formam um todo de relacionamentos que nos estruturam a vida. Falo de pessoas conhecidas. Mas há as milhentas pessoas que nunca encontrámos mas sabemos que existem - actores, políticos, artistas, pensadores, cientistas. Mas a morte sucessiva dessas ligações dá-nos o choque do efémero e irrepetível dessa estrutura. O acaso, a contingência destes múltiplos encontros agravam a contingência da nossa própria vida. Cada elemento era um ponto de referência que tornava forte, consistente o nosso estar no mundo. E dia a dia vamos sabendo que essas referências vão desaparecendo - os professores que tivemos, os colegas que realizaram connosco um percurso da vida, os amigos com quem convivemos. E então explode num estampido a revelação de que estamos mais sós, de que o nosso estar no mundo é provisório, de que o mundo que construímos com os outros não tem consistência nenhuma e não tem por isso significação.»
Vergílio Ferreira, Conta-Corrente 3, 29 de Novembro de 1981
Vergílio Ferreira, Conta-Corrente 3, 29 de Novembro de 1981
3 comentários:
Muito obrigado, pelo 'post' e por tudo. Os meus votos de que tenha um óptimo dia, um excelente novo ano ( apesar de tantos condicionalismos que passamos ) e que venham muitos carregados de saúde, bem-estar, muitas surpresas bonitas, e realização.
Parabéns!...
Uma lúcida reflexão de Vergílio Ferreira, que se nos aplica à medida que os anos passam.
Significação, significado e significante. Daqui por 50 anos ja ninguem se lembra disto...ou de nós.
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