18.11.11

A QUALIDADE DA DEMOCRACIA


Numa semana em que tanto se falou de "serviço público" de televisão, tivemos ontem (e, presumo, que continue hoje) fartos exemplos do que ele, na vertente "informação", não deve ser. Por razões insondáveis da acção e da investigação criminais portuguesas, as televisões acompanharam, praticamente ao ritmo da "secret house", o trabalho da PJ, de um juiz de instrução criminal, de um procurador da República e de um delegado da Ordem dos Advogados que andaram a recolher indícios nas casas de um arguido, uma em Lisboa e a outra no Algarve. Não falharam nas horas, nos sítios, nos circuitos. Isto quer dizer que sabiam. E se sabiam, foi porque alguém os informou com pormenor. Fez-me lembrar os noticiários a que assisti diariamente, durante um mês, em dois países contíguos da América Latina, a Guatemala e o Salvador, há para aí uns dez anos. Mas esses países tinham saído de guerras civis, estavam desprovidos de uma sociedade civil minimamente estruturada e tinham instituições frágeis e corruptas. No meio disto tudo, não sei quem esteve pior no referido "momento secret house". Se a "vociferante matilha do espectáculo", se a "justiça". Esta promiscuidade doentia e tropical revela a qualidade de uma democracia. Ou a falta dela.

2 comentários:

CC disse...

A detenção de Duarte Lima ocorreu com estrondo mediático. Ao lado da Policia Judiciária avançaram os jornalistas, as televisões. Agastado o procurador-geral fez mais uma vez a figura do costume. É sempre o último a saber. Ou faz de conta que é, mas isso pouco importa para o caso agora. O importante é pensarmos porque foi preciso tanto estrondo para deter um indivíduo que nem sequer pode fugir do país uma vez que pende sobre ele um mandado de captura internacional.

Vale a pena pensar porque se deram as televisões ao cuidado de ir investigar e entrevistar até uns presumíveis lesados que o fisco tem à perna por causa de umas vendas de terrenos ali para os lados de Oeiras. Ficaram agora com pena dos herdeiros de Mota Franco a quem a empresa fantasma de Duarte Lima e companhia enrolou atirando para cima deles mais-valias que nunca mais acabam quando aquela gente nem cheirou o dinheiro?

Não. Não é certamente por causa dos lesados. A razão só pode ser uma. Mostrar que a Justiça Portuguesa também persegue os homens de colarinho branco do BPN (Banco Português de Negócios). Nada mais falso. Os grandes responsáveis como Dias Loureiro por exemplo e seus amigos do PSD continuam incólumes e vão continuar. Mas afinal que interessa isso? Os portugueses já estão a pagar os prejuízos. É essa a parte importante.

Bem pode o Estado esforçar-se agora por mostrar que tem mão dura. Não tem. Montou apenas uma operação mediática para impressionar o pagode que está a pagar a factura das trafulhices de meia dúzia.

Quando os portugueses se recusarem fazer sacrifícios para pagar as trafulhices dessa meia dúzia então ai se calhar o Estado irá tomar outras medidas. Nessa altura não vai bastar deter um salafrário à luz dos holofotes.

Zé Nabo disse...

As pessoas têm apontado o dedo ao Ministério Público e à Polícia Judiciária, como sendo os únicos locais de onde poderia sair a informação.
Mas, também lá esteve um elemento da Ordem dos Advogados (OA)....
E já agora, quem saberá dizer por que é que os advogados gozam deste "privilégio"?