José Medeiros Ferreira intitula a sua crónica de hoje no Correio da Manhã com um satisfeito «a Igreja não se abstém». A Igreja é a portuguesa e os "heróis" circunstanciais de Medeiros são D. José Policarpo - por causa dos feriados, matéria acerca da qual o prelado terá "ensinado" algo ao Governo - e a Conferência Episcopal Portuguesa por causa da sua mais recente, e passo a citar, «substantiva crítica ao neoliberalismo». Ao contrário de Medeiros, sou católico "não progressista" e desconfio de qualquer político de qualquer obediência com "excesso de zelo". Dos laicos nem se fala. É uma boa desculpa para praticamente tudo. Tal como não deixa de ser curioso Medeiros louvar a pretensa não abstenção da Igreja o que, traduzido para português dos dias que correm, quer dizer que a Igreja não se abstém de atacar, mesmo em nome da beatitude, o Governo. Como não sou adepto de pensamentos únicos, julgo que a Igreja portuguesa tem o direito aos seus momentos de proselitismo mesmo que Ratzinger o não recomende. Todavia, gostava de a ter visto assim, não abstencionista, nos idos do apogeu do socratismo absolutista. Mas aí todo o cuidado era pouco por muito grande que fosse a fé. A Igreja portuguesa tem dias.
5 comentários:
A Igreja Portuguesa és tu e sou eu. O Clero personificado em D. Policarpo, esse é qualquer coisa de inefável precisamente pelas festinhas e os silenciosinhos a que se remeteu em plena farsa socratista.
Medeiros Ferreira, já aqui foi notado, não é ele-próprio neutro politicamente: nunca o foi, nem deveria (poderia) ser; é portanto "esperável" que use, conforme ache melhor, todos os episódios políticos e 'sociais' que se vão desenvolvendo, aqui na terrinha e lá fora, para levar - como diria Soares - a água ao seu moinho. Já a Igreja Católica Portuguesa não deveria - pela sua própria natureza - "envolver-se politicamente": treta, pois toda a gente sabe, soube, viu, vê e verá que a Igreja se envolveu sempre (umas vezes mais outras vezes menos) na política. Deixemos os longínquos tempos do Imperial Papa Dâmaso e de Gregório VII (senão o Magno, um dos "mais magnos") e regressemos ao mais recente caso de Cerejeira e Salazar: aí, a Igreja Portuguesa esforçava-se quase só para não ser anexada pelo Estado Novo e usada como Igreja Nacional. Com Policarpo e sócrates a 'coisa' era já bem mais baixa e terra-a-terra: perante todas as vilanias, faltas de respeito e "revoluções sexuais" que o progressivo pinto-de-sousa impôs a toda uma desprevenida sociedade, a Igreja Portuguesa (leia-se 'Policarpo e os seus conselheiros políticos') resolveram espertamente não fazer ondas; e agacharam-se à espera que passasse... Agora resolveram tonificar os músculos - arvorando-se a CEP artificialmente e tardiamente em defensora dos pobres. Com isso agiram politicamente para restaurar algum prestígio perdido junto das populações. É este zig-zag político, e não qualquer límpida Teologia ou saudável Doutrina Social, a estratégia da Igreja Portuguesa: sobreviver.
Policarpo não é, definitivamente, um líder espiritual forte, o Pai Comum de uma Comunidade; não é corajoso, convicto ou lutador; é sim um prelado, um príncipe da Igreja com algo a perder, sentado numa cátedra ouvindo - e que depois decide politicamente, aconselhado.
Ass.: Besta Imunda
Também tenho a mesma opinião acerca da pessoa em causa.
É uma grande tentação apropriarmo-nos da Igreja, quer criticando-a quando está calada e nos convinha que falasse, quer acusando-a de falar quando nos convinha que se calasse. Seria preferível ouvir o que a Igreja tem para dizer, quando entende que o deve fazer. Para se concordar ou não, sem fazer juízos de intenções que só fazem ruído.
O "Besta" sintetizou magnificamente o trajecto ziguezagueante da igreja portuguesa, face aos últimos episódios da saga política em que estamos envolvidos nestes últimos anos.
É perceptível o desnorte e os hiatos de memória de certas figuras da Igreja, que num dado momento se esqueceram dos "pobres" cristãos, embarcando nos ecos mais perniciosos dos que apenas pretendem obter mais valias políticas, mas que não servem decididamente os profundos anseios do povo, que bem esperam rapidamente as soluções adequadas
para os seus problemas.
Medeiros Ferreira, tal como a Conferência Episcopal Portuguesa, não podem nem devem delimitar as barreiras da sua responsabilidade, porque as têm, embora em posições diferentes e situações quase similares,mas sobretudo pelo cargo que MF já exerceu.
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