18.2.11

OS EXPLICADORES


«Os jornais publicaram esta semana uma notícia estranha. Parece que alguns políticos espanhóis e portugueses foram convidados para irem à Tunísia ensinar aos tunisinos como é bom que se faça a “transição para a democracia”. Isto presume, como é óbvio, que as condições da Tunísia são em 2011 muito parecidas com as do Portugal de 1974-1975 ou com as de Espanha depois da morte de Franco (Novembro de 1975). E – deixando agora de parte o caso espanhol – presume também que a dita “transição” foi por cá muito bem feita. O que não deixa de espantar, porque mesmo à superfície, com duas tentativas de golpe de Estado (o 28 de Setembro e o 11 de Março) e um pronunciamento armado (o 25 de Novembro), o nosso exemplo não se deve de boa-fé recomendar a ninguém. Mas não é só isso. Os nossos três políticos (Mário Soares, António Vitorino e João Gomes Cravinho) têm de explicar aos tunisinos como o movimento militar do “25 de Abril” adoptou muitas das teses do Partido Comunista, sobretudo a celebrada “estratégia antimonopolista”, e permitiu que um militante comunista (o coronel Vasco Gonçalves) tomasse conta do poder. Conviria também que os tunisinos percebessem que o tal Gonçalves “nacionalizou” uma enorme fatia da indústria, a banca e os seguros, paralisou o investimento doméstico e estrangeiro e, desta maneira simples, contribuiu para a estagnação da economia portuguesa durante quase 15 anos. Se os nossos missionários quiserem, também não lhes ficaria mal falar do clima de intimidação que se criou em 1974 e 1975, que aberrantemente deslocou para esquerda (onde continua) o nosso sistema partidário. A excursão à Tunísia acicatou com certeza outros teóricos da nossa praça, que se especializaram numa segunda espécie de “transição”: a do poder militar para o poder civil. Imagino que esperam vir a ensinar o Egipto, que manifestamente anda precisadíssimo de professores. Segundo o antigo ministro da Defesa Nuno Severiano Teixeira, os militares portugueses foram impecáveis: não “modularam” o regime, fixaram uma data para se retirarem e criaram condições para eleições livres das quais saiu uma assembleia constituinte. Não se podia pedir mais. Severiano Teixeira só se esqueceu do Conselho da Revolução e do Presidente da República, de cuja confiança política o Governo dependia* e que era comandante-chefe das Forças Armadas. Não há ninguém para se se esquecer como os portugueses.»

Vasco Pulido Valente, Público

* Entre 1976 e 1983, com Eanes, não era exactamente como no PREC. O Vasco, aliás, deve estar perfeitamente recordado disso até porque "ajudou" o PR, democraticamente eleito e não "nomeado" pelo MFA, a explicar em que consistia a "confiança política" dele nos governos. Um são princípio que a revisão de 83 matou e que tão extraordinários resultados práticos tem dado sobretudo quando não há maioria no parlamento.

8 comentários:

Nuno Castelo-Branco disse...

Em memória a outras excursões de outros tempos, mas no mesmo local, os antecipados veraneantes bem podiam recordar aos atentos ouvintes, a sua filiação na Internacional Socialista. Essa mesmo, a do Partido do deposto Ben Ali. Já agora, visitem a tumba do sr. Craxi, esse herói de impoluta memória ao estilo siciliano...

MINA disse...

VPV refere no seu texto que «o clima de intimidação que se criou em 1974 e 1975...deslocou para a esquerda (onde continua) o nosso sistema partidário.» Não se vislumbra que o clima partidário, agora e desde 1976, seja de esquerda. Creio até que nos últimos 20 anos, a governação tem sido bem de direita, já que o PS, desde Guterres, se transformou num partido abertamente de direita, para usar expressões convencionais.


A que chamará então "direita" VPV??? Uma incógnita a que só VPV poderá responder, até porque só ele pode responder a muitas das coisas que ininteligivelmente escreve.

Anónimo disse...

Registo do dia, um dos:
«Descida anual do desemprego, poderá ser o início de uma inversão de tendência»
Valter Lemos, filósofo e sociólogo.
Já temos um Mr Bean como MAI.
Faltava-nos agora este VL,
uma espécie de Secretário de Estado.
JoséB

JSP disse...

Esses três saloiois, melhor dito, essas três cavalgaduras "deslumbradas", não terão alguém que lhes explique a estupidez e o inenarrável ridículo em que se vão meter?

antónio chuchado disse...

"Ensinar aos tunisinos como é bom que se faça a «transição para a democracia»"? portugueses a ensinar democracia?

Tunisinos: cancelem 'esse convite' o mais rápido possível; não queiram no vosso país um bordel de corruptos e casas de alterne de gatunos.

Tenham juízo, nem que seja o 'final'!

antónio chuchado

Anónimo disse...

"Não se vislumbra que o clima partidário, agora e desde 1976, seja de esquerda. Creio até que nos últimos 20 anos, a governação tem sido bem de direita, já que o PS, desde Guterres, se transformou num partido abertamente de direita, para usar expressões convencionais."

Suponho que o seu centro seja o PCP...
Vejamos Educação dominada pelo Estado. Saúde idem. Impostos a subir, Estado a crescer e endividar todos. Que será isto.


lucklucky

Cáustico disse...

Certamente que a loucura chegou à Tunísia.

tomestre disse...

Não esquecer que quem já por lá andou a dar explicações (Argélia ?) foi outro socialista e ex-MDN Medeiros Ferreira... Todo ele é sabedoria ganha no estrangeiro quando desertor da guerra colonial