«Um governo minoritário esgota-se no calculismo semanal, quando não diário, que visa sobretudo a sua sempre difícil sobrevivência. É a regra: em vez de se ocupar do país, um tal governo vive concentrado em si mesmo. E o pior é que se corre o risco, primeiro, de ele se habituar a viver na instabilidade. E, depois, de ele descobrir um modo de viver da própria instabilidade, fazendo dela o principal argumento da sua permanência no poder. Como escreveu Pessoa, numa inspirada fórmula publicitária, há coisas que primeiro se estranham, mas depois se entranham... Neste estado de coisas, a recente moção de censura do Bloco de Esquerda é natural. Como naturais serão todas as outras, que os demais partidos já anunciam, enquanto se demarcam desta. E assim continuará a ser, até ao fim desta imprudente experiência minoritária, que se espera que sirva de lição e abra caminho à inscrição constitucional da sua impossibilidade ou, no mínimo, à adopção da "moção de censura construtiva" que - como acontece em Espanha ou na Alemanha, por exemplo - obrigue quem a proponha a apresentar também uma solução de governo. A "colossal irresponsabilidade" que Sócrates apontou, e bem, nesta iniciativa do Bloco, começou, contudo, em Outubro de 2009, com a simulação de negociações em carrossel com todos os partidos. Todos ignoraram então que, como um dia sublinhou Ítalo Calvino, "a obstinação em que assenta o poder nunca é tão frágil como no momento do seu triunfo". Mas ao optarem por um tacticismo de ocasião que a todos parecia convir, estavam na realidade a criar de novo as condições do pântano, de que agora ninguém sabe como, nem quando, se consegue sair.»
3 comentários:
... numa tv perto de si.
Depois da casa assaltada
por tão puro desleixamento,
qualquer vontade encantada
terá um abjecto saimento…
Depois de tantas fantasias
nestes anos desbaratados
restam-nos tais hipocrisias
de políticos enquistados.
Os portugueses, numa manifestação de insanidade, puseram-nos no comando. Agora, num momento de lucidez, apeiem-nos.
Enquanto as eleições não chegam usem a acção directa para lhes fazer a vida negra. Não sejam comodistas. Ponham de lado, por absolutamente nocivo, o não-te-rales, o deixa correr.
Se não viram, vejam o bilhete de hoje no DN, última página, Ferreira Fernandes.
O óbvio.
Medeiros Ferreira, os sábios, e (por dedução) o exemplar espírito democrata que preside nas seitas/direcções partidárias, no caso no PS.
JoseB
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