PRIMEIRO ESTRANHA-SE, DEPOIS ENTRANHA-SE
Sob o Alto Patrocínio do Senhor Presidente da República, que acumula generosamente as funções de ajudante-de-campo do Dr. Santana Lopes, começa agora a ser formado o novo governo. Contrariamente ao que muitos podem pensar, eu creio que por lá irão aparecer nomes insuspeitos e, até, "credíveis", uma palavra muito apreciada em Belém. O lado afrodisíaco do poder, num país de dependentes e de bananas, é uma atracção fatal. Vamos, aliás, assistir a grandes números de circo, com piruetas e contorcionismos já anunciados. Em pouco tempo, Lopes será consagrado como o novo génio pátrio, e não se fala mais nisso. De políticos a comentadores, de directores-gerais a empresários, da "cultura" ao merceeiro da esquina, todos vão ruminar que afinal "o rapaz não é tão mau como o pintam". É próprio desta nossa raça intelectualmente estéril e um tema abundantemente abordado, entre outros, pela Bíblia, pelos grandes clássicos e por dramaturgos vários. De fora, como de costume, ficará uma meia dúzia de doidos anti-patriotas a berrar no Restelo. Entre nós, é mesmo assim: primeiro estranha-se, depois entranha-se.
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