A CADEIRA INESPERADA
Pedro Roseta, ex-ministro da Cultura aquando de uma entrevista ao Expresso
O que é que se pode dizer destes dois anos de Pedro Roseta à frente da Cultura? Eu julgo que nem o próprio consegue fazer qualquer "balanço". Sem menosprezo por o homem, sensível, amável e culto, a verdade é que o seu consulado se salda genericamente por um imenso buraco negro. Preocupados, ele e o seu secretário de Estado, com o dinheiro que não ousaram conquistar nos Orçamentos de Estado, quase tudo se resumiu à mercearia e ao direito. Pergunta-se pelo pensamento político para o sector e não se encontra rigorosamente nada. Amaral Lopes, o adjunto, viveu o seu mandato em permanente frenesim legislativo. Mesmo naquilo que estava bem - os diplomas orgânicos do teatros nacionais, por exemplo, que nem tempo tiveram para funcionar plenamente-, Lopes insistiu em mexer. Está em estágio, no D. Maria, o regime SA para os teatros, coisa muito bonita à vista desarmada, mas que não deixa de depender do eterno "sócio maioritário", o OE. Do melhor do passado, foram recuperados Ricardo Pais e António Lagarto que, com mais imaginação do que qualquer outra coisa, têm conseguido sobreviver no deserto. No São Carlos, por onde passei, foi renovado o contrato do director, Paolo Pinamonti, o qual, graças à sua notável flexibilidade, já vai no quarto ministro. Os museus estão praticamente exangues e moribundos. O "cinema nacional" resmunga e desconfia da nova lei de Amaral Lopes, sendo certo que sempre assim seria. O "fusionismo" dos institutos ficou incompleto, à excepção, também ainda em estágio, do Instituto das Artes, que foi entregue ao diletante Dr. Cunha e Silva, e que se destina a prover à habitual indigência dos nossos obnóxios "criadores" e "agentes culturais". Outras audácias jurídicas ficaram a meio, alguns propósitos anunciados não saíram do papel e a intriga barata fervilhou nos gabinetes. À semelhança dos seus três últimos antecessores, também não se conhece a Maria João Burstorff uma única ideia sobre o sector que vai tutelar. Com o exemplo que lhe vem de cima, à partida isto não parece ser um grave obstáculo e é, pelo menos, uma garantia de sobrevivência. Roseta passou "ao de leve" pelo Palácio da Ajuda, onde ocupou, claramente a contra-gosto, uma cadeira inesperada. Algo, porém, em que, desde meados de 2000, se transformou o ministério da Cultura.
Pedro Roseta, ex-ministro da Cultura aquando de uma entrevista ao Expresso
O que é que se pode dizer destes dois anos de Pedro Roseta à frente da Cultura? Eu julgo que nem o próprio consegue fazer qualquer "balanço". Sem menosprezo por o homem, sensível, amável e culto, a verdade é que o seu consulado se salda genericamente por um imenso buraco negro. Preocupados, ele e o seu secretário de Estado, com o dinheiro que não ousaram conquistar nos Orçamentos de Estado, quase tudo se resumiu à mercearia e ao direito. Pergunta-se pelo pensamento político para o sector e não se encontra rigorosamente nada. Amaral Lopes, o adjunto, viveu o seu mandato em permanente frenesim legislativo. Mesmo naquilo que estava bem - os diplomas orgânicos do teatros nacionais, por exemplo, que nem tempo tiveram para funcionar plenamente-, Lopes insistiu em mexer. Está em estágio, no D. Maria, o regime SA para os teatros, coisa muito bonita à vista desarmada, mas que não deixa de depender do eterno "sócio maioritário", o OE. Do melhor do passado, foram recuperados Ricardo Pais e António Lagarto que, com mais imaginação do que qualquer outra coisa, têm conseguido sobreviver no deserto. No São Carlos, por onde passei, foi renovado o contrato do director, Paolo Pinamonti, o qual, graças à sua notável flexibilidade, já vai no quarto ministro. Os museus estão praticamente exangues e moribundos. O "cinema nacional" resmunga e desconfia da nova lei de Amaral Lopes, sendo certo que sempre assim seria. O "fusionismo" dos institutos ficou incompleto, à excepção, também ainda em estágio, do Instituto das Artes, que foi entregue ao diletante Dr. Cunha e Silva, e que se destina a prover à habitual indigência dos nossos obnóxios "criadores" e "agentes culturais". Outras audácias jurídicas ficaram a meio, alguns propósitos anunciados não saíram do papel e a intriga barata fervilhou nos gabinetes. À semelhança dos seus três últimos antecessores, também não se conhece a Maria João Burstorff uma única ideia sobre o sector que vai tutelar. Com o exemplo que lhe vem de cima, à partida isto não parece ser um grave obstáculo e é, pelo menos, uma garantia de sobrevivência. Roseta passou "ao de leve" pelo Palácio da Ajuda, onde ocupou, claramente a contra-gosto, uma cadeira inesperada. Algo, porém, em que, desde meados de 2000, se transformou o ministério da Cultura.
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