3.7.04

MITOLOGIAS

1. Alguns "empresários" fizeram constar, ou alguém por eles, que apoiavam Santana Lopes e que eram contra eleições. Os argumentos são conhecidos. A estabilidade, os sinais da retoma e o futuro da Pátria não aconselham soluções "políticas". Recomendam, acham eles, opções "tecnocráticas" geridas por políticos abertos aos "interesses" e que lhes garantam as maiores venturas privadas. A nebulosa "compromisso Portugal", das jovens promessas empresariais, também se pronunciou no mesmo sentido. Estas enfadantes criaturas não representam ninguém a não ser os seus próprios interesses. Sempre assim foi e sempre assim há-de ser. O sistema constitucional em vigor, do qual Sampaio é tão fiel e cioso guardião, determina a subordinação do poder económico ao poder político democrático, e não o contrário. As amáveis opiniões destes cavalheiros, que não lhes foram sequer solicitadas, não devem, por isso, impressionar.

2. Na mesma linha "informativa", foi posto a correr que Manuela Ferreira Leite tinha feito um mea culpa perante os noventa e tal servos dos Drs. Barroso e Santana Lopes. Simultaneamente foi sugerido que Cavaco Silva "apoiava", a bem da Nação, a hipótese Lopes. Quer uma, quer o outro, pessoas indiscutivelmente bem educadas e bem formadas, tiveram que vir a terreiro desmentir as "boas notícias". Não só Ferreira Leite votou contra Lopes, como mantém tudo o que pensa desta embrulhada e da traição final de Barroso. E Cavaco, que não costuma brincar em serviço, sem dizer muito, já disse praticamente tudo. As "centrais de intoxicação" começam lentamente a envenenar os seus próprios mentores (a este propósito ler o Abrupto).

3. Com a saída airosa de Barroso, acabou, para o PSD e para o País, um ciclo político. E acabou sem poder sequer vir a ser avaliado. Mesmo que a este governo sucedesse outro assente exclusivamente na mesma matemática parlamentar dos Srs. Telmo e Guilherme Silva, não deixava de ser "outra coisa". E daqui a dois anos, era essa "outra coisa" que ia a votos e não o-pelos vistos-"interregno barrosista". Isto significa que estamos perante um novo momento político que requer a única legitimação democrática possível, a do voto. No seu íntimo, Lopes, o instintivo emocional, também deve preferir isto à sua nada espectacular legitimidade administrativa.

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