8.7.04

O TERCEIRO PILAR



No momento em que escrevo, é imprevísivel a decisão de Jorge Sampaio. No Parlamento, ouvi o meu caro Medeiros Ferreira, um homem sagaz, dizer duas coisas que devem ser ponderadas. A primeira, é a constatação de que à maioria aritmética dos Drs. Telmo Correia e Guilherme Silva, não corresponderá actualmente uma maioria política no país. A outra, que decorre da anterior, esclarece que, até Outubro de 2005, haverá inevitavelmente sufrágio antecipado. Tal como Medeiros Ferreira, eu não estou certo de que Sampaio convoque eleições antecipadas já. Desde o primeiro post que aqui plantei sobre este problema, criado pelo abandono de Barroso, mantive sempre as maiores reservas que o Chefe de Estado optasse por esta hipótese. Para além disso, a fórmula seguida pelo Presidente para perceber qual seria a melhor fórmula para saír deste inesperado nó górdio, acabou por denunciar o ambíguo propósito. Numa espécie de "eanismo" serôdio, Sampaio, escudando-se sempre no seu excessivo juridicismo, viu, ouviu e leu de tudo e o seu contrário. Desde o primeiro instante que era clarissimo que só uma decisão política solidamente fundamentada, devolvendo a palavra ao eleitor, poderia ser a resposta "óbvia" à crise. A legitimidade política do órgão unipessoal que é o Presidente da República, eleito por sufrágio universal, serve exactamente para isso, para tomar uma "decisão política". Se Sampaio entender, porém, que a sua legitimidade deve ser usada, antes, para colmatar a legitimidade que falta a outros, então preparemo-nos para mais do mesmo, e em pior. Neste caso, Sampaio será, no novo governo Santana/Portas, o terceiro pilar.

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