Às vezes, enquanto aguardo pelos noticiários, dou por mim a contemplar uma telenovela portuguesa na TVI. Infindável, sem trama e profusa em não-acontecimentos, esta telenovela vive da deambulação dos personagens e dos diálogos infantis comuns a adultos, adolescentes e crianças. As mulheres e as raparigas tratam-se por "queridas" e a frase mais profunda arrancada àquelas pobres almas é "precisamos falar". Estão sempre nisto, precisam constantemente de falar uns com os outros e, invariavelmente, não é para sair dali nada de extraordinário que faça avançar a "história". Os respectivos "heróis" são frívolos, de uma banalidade confrangedora e, na maior parte dos casos, absolutamente inverosímeis. Retrata-se ali um pequeno mundo de "tias", "tios" e "betinhos", movidos por intrigas várias e por interesses difusos que só a eles dizem respeito. Como de costume, há os "bons", os "maus, os "assim-assim" e os não-existentes, a maioria. O aparente sucesso desta telenovela reside na circunstância única de se tratar de um produto light razoavelmente bem vendido. O governo de Santana Lopes lembra-me os "Morangos com Açúcar" e ainda não chegaram os secretários de Estado, o momento verdadeiramente apoteótico para os fiéis militantes. Ao contrário da telenovela, porém, o desfecho não se anuncia feliz para os espectadores. Tudo é demasiado mau e amargo para que possa acabar bem.
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