24.7.04

A ESTRUMEIRA
 
Com algumas-poucas-honrosas excepções, os episódios políticos a que assistimos desde há sensivelmente um mês, têm servido para tornar mais clara a essência da opinião que se publica. Portugal demorou a extinguir a inquisição e reproduziu-a, sob outras formas, subsequentemente. Durante grande parte do século XX, a censura e o "visto prévio" encarregaram-se de "moralizar" os escritos, o que gerava, quer a auto-censura, quer o "amaneiramento" dos textos por forma a simultaneamente não desagradar e a "deixar" passar qualquer coisa. De há trinta anos para cá, até os tecnicamente analfabetos passaram a opinar. Sobre os ombros de escribas, jornalistas, comentadores, editorialistas, etc, pesava - e pesa - o chumbo da  dependência, da cobardia e do medo. Isto não se cura de um dia para o outro. A pulsão democrática conduziu a que o mal se distribuísse pelas aldeias. Pessoas que, em princípio, nem para escrever uma receita de cozinha serviam, acabaram em grandes figuras com opinião firmada na praça. Começaram por um preço módico e agora pedem fortunas para babujar a última vulgaridade. A sua independência vende-se às postas a quem der mais. Os entusiasmos acerca dos escolhidos no governo para as áreas da economia, por exemplo, ou o destaque permanente que é dado aos vómitos dos nossos toscos empresários, diz tudo acerca da natureza da coisa. Basta igualmente olhar à forma como esta gente "aprecia" o exercício Santana Lopes em curso. Espremem-se, sem qualquer dificuldade intelectual ou moral,  e lá "descobrem" sempre,  no  fundo desta loucura normal, uma "boa solução". Estes basbaques iluminados não deviam ter o direito de nos maçar com a sua prosápia medíocre. Quem quisesse chafurdar na sua estrumeira, que a procurasse. O que dispensamos é sermos permanentemente invadidos por ela .


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