Em qualquer país minimamente desenvolvido, a demissão do director da polícia civil teria mais cobertura jornalística do que as filas para a Madonna. É uma área que tem que ver com os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, coisa que as pessoas só se lembram quando lhes convém. Dito isto, não me parece que haja nenhum mistério particular na saída aparentemente intempestiva do Sr. Juiz director-nacional da PSP. O mundo das polícias, da justiça e das informações é um mundo onde se movem indistintamente muitos magistrados, uns judiciais, outros do venerando Ministério Público. E movem-se, embora digam o contrário, "politicamente". Como facilmente se adivinha, não são propriamente corporações que nutram entre si a maior das estimas, apesar de ambas possuírem, em elevadíssimas doses, uma enorme e vaidosa "auto-estima". Acham-se obviamente subtis. Mário Morgado, o juiz demissionário, nunca se entendeu bem com a polícia, nem esta com ele. Também para ele, aquela não era a sua polícia, um jargão vulgarizado no meio desde há uns anos. Acresce que, pelos vistos, Daniel Sanches, procurador geral adjunto, também não é o "seu" ministro. Figueiredo Lopes era um terreno relativamente fértil para magistrados desbravarem. Sanches pertence a outra "escola" até porque provém dela. Dificilmente estes dois homens se entenderiam, e é esperável que Sanches queira alguém da sua confiança à frente da PSP. Para a nossa mentalidade tacanha, a permanência de um director-geral em funções ad infinitum, é sinónimo de "seriedade" e de "independência". No entanto, ninguém nunca se lembra de interrogar as profundas razões que levam a que determinadas pessoas se "eternizem" na função, vendo alegremente passar ministros com propósitos sucessivamente diferentes, ou mesmo, antagónicos. É que, por detrás desse apurado e grave "sentido de serviço", esconde-se quase sempre um interesse "transversal": ali uma igreja, aqui uma corporação, mais adiante outra coisa qualquer, com a "carreira" naturalmente à cabeça. Eu, por natureza, desconfio de pessoas dispostas a "servir" qualquer "amo", já que não acredito em "independentes". Trata-se de uma mera sofisticação intelectual para satisfação dos distraídos e para perpétuo consolo dos próprios. A minha experiência pessoal dos últimos anos, esclareceu-me definitivamente sobre o assunto. Por isso, o gesto de Mário Morgado, descontadas as "dificuldades" "relacionais" e "funcionais" apontadas, tem pelo menos a vantagem de ser diferente.
Sem comentários:
Enviar um comentário