Sou demasiado suspeito. Se há lugar no mundo onde poderia passar a vida a "flanar", esse lugar é Paris. Em relação à nossa "cidade branca", Paris tem a vantagem de ser plana e rigorosa. As suas amplas avenidas, permanentemente alvoraçadas e populosas, convidam a andar. Depois, mais para dentro da cidade ou nos seus limites, há sempre um mundo de coisas para descobrir. Este livro de Edmund White, publicado pelas Edições ASA, Paris, Os Passeios de um flâneur (trad. de José Vieira de Lima), leva-nos a descobrir uma "outra Paris", aliás, sempre a mesma. Eu não sou grande apreciador deste americano que residiu em Paris uns quantos anos. Contudo, este livrinho conta histórias deliciosas de personagens da cidade, bem conhecidas, a partir de recantos menos conhecidos. Termina com um excelente capítulo de referências bibliográficas ("outras leituras") em torno da arrumação que White deu ao texto: desde os guias aos autores "clássicos" (Balzac, Colette, Breton, Gide, Proust...), os autores "exilados" (Stein, Hemingway, o próprio White, etc), os afro-americanos que viveram em Paris, os judeus, os "malditos" (Baudelaire), os pintores, o jazz, "o sexo e a cidade", etc. Paris, pois, sempre e de novo, uma cidade que proporciona imagens mentais, estes instantâneos do efémero, estes corrimões sinuosos e estas portas envernizadas, estes cais frios e vazios do Sena onde, sob uma ponte, alguém toca saxofone - todas estas memórias, de um valor inestimável e, no entanto, rigorosamente gratuitas, que só estão à espera de um flâneur que as faça suas.
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