29.7.04

O BARDO
 
This purpose you undertake is dangerous; the friends you have named uncertain; the time itself unsorted; and your whole plot too light for the counterpoise of so great an opposition.
 
William Shakespeare, Henry IV, II, 3

 
Manuel Alegre desceu do limbo romântico em que normalmente se encontra para se "bater" pela liderança partidária. Sentiu-se "invadido pelos acontecimentos" e, desta vez, pela "história". Camaradas mais ladinos e outros mais sibilinos, empurraram-no para esta sofrível aventura. Como é seu costume, Alegre não faz a mínima ideia no que é que se vai meter. Perante uma coligação agora chefiada pelos seus verdadeiros mentores e pelo "pacto de geração" que une Santana a Portas, o PS não pode dar ao país uma imagem híbrida, algures entre um Harry Potter meia-idade e um respeitável Senhor dos Anéis. Qualquer coisa que releva mais do seu pequeno "imaginário" doméstico, do que daquilo que o "povo" efectivamente quer. A maior vítima do lapso santanista de Sampaio, foi inequivocamente o seu próprio partido. Quando, a esta hora, já devia estar a falar ao país, sobre o país e contra a virtualidade, o PS tem pela frente quase três meses, ainda, para tratar da sua intendência. A emergência abstrusa de Manuel Alegre é, com o devido e histórico respeito, meramente folclórica e destinada ao tal seu encontro espúrio com a "história", a dele. Já João Soares, quase diria que pela primeira vez, apresentou-se com um "manifesto" politicamente interessante, apesar do "ar de clã" que perpassa pela sua teimosa e generosa candidatura. Mais tarde ou mais cedo, algures, o bardo e o "jovem poeta" encontrar-se-ão contra o "outro". Deste "outro", falaremos a seguir.
 
P.S: Sobre o "outro", escreve José Manuel Fernandes no Público (Editorial), no que já é, que me recorde, um segundo editorial bem inspirado nestes últimos dias.


Sem comentários: