TRAIÇÕES, RATOS E HOMENS
1. Sua Excelência o Presidente da República encerrou esta noite, com uma oratária particularmente medíocre, o ciclo de traições iniciado há duas semanas por Durão Barroso. Tal como Barroso traíu o seu eleitorado de 2002, tal como Santana Lopes vai traír os seus eleitores em Lisboa, Jorge Sampaio, o novo vice primeiro-ministro de Santana, acabou da pior maneira o seu mandato presidencial, antecipando dois anos ao calendário efectivo de sucessão, e fazendo tábua-rasa da sua própria memória política e do seu eleitorado "natural". Sampaio -disse-o- mostrou-se solidário com estes dois anos de extraordinária governação e aconselhou Santana a prosseguir no "bom caminho". Ele, atenção, vai estar vigilante e acompanhará de perto o seu novo governo, um governo de iniciativa presidencial. Uma ilusão pueril que Santana se encarregará rapidamente de desfazer, uma vez que é ele quem efectivamente "vigia". Sampaio obviamente não conta. Para "eles", limitou-se a cumprir a sua pobre obrigação.
2. Sampaio, depois disto, tem naturalmente novos amigos e passa a estar muito bem acompanhado. João Jardim já falou em acto "patriótico". Santana, Menezes, Portas, Marco António, Telmo, Pires de Lima e outros têm motivos para se orgulharem e se reverem neste seu inesperado legitimador. Santana já tem a sua maioria, o seu governo e o seu presidente. Melhor é impossível.
3. Ironicamente passa hoje um mês sobre o desaparecimento de Sousa Franco. Na sua última entrevista, disse que as eleições europeias seriam o princípio do fim do governo. O eleitorado deu-lhe razão póstuma a 13 de Junho. A decisão de Sampaio é, pois, como que uma segunda morte de Sousa Franco. Como ele gostava de lembrar, quem teme as tempestades, acaba a rastejar.
4. Neste blogue houve momentos em que não fui particularmente amável para com Ferro Rodrigues. Por isso estou tranquilo em reconhecer que, como homem e como político, Ferro aguentou, para além de limites do suportável, as maiores ignomínias. Delicadamente, o seu amigo Sampaio "tirou-lhe o tapete" e deu-lhe a "estocada final". Ferro, com o seu gesto humano, demasiado humano, mostrou a diferença entre ratos e homens.
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