Os tempos que vivemos recomendam que se recorra à história. Eu não tenho feito outra coisa nos últimos dias. Quando entrei para a universidade, em 1978, Vasco Pulido Valente ensinou-me qualquer coisa acerca da nossa "identidade nacional" e acerca do nosso sui generis século XIX. Em 73/74, ele tinha apresentado em Oxford um trabalho para doutoramento em História, que Snu Abecassis editou na Dom Quixote, em 1976. Eu possuo essa primeira edição de O Poder e o Povo, A Revolução de 1910 que há mais de 20 anos li pela primeira vez, apesar de aparentemente não ter nada a ver com o que o seu autor me estava a ensinar na altura. Digo aparentemente porque um livro de história, um bom livro de história, como este ou os de A.J.P Taylor, onde também ando a mexer, não passa de uma obra de ficção, tão privada e tão universal como um romance (do prefácio de V. Pulido Valente ao seu livro Tentar Perceber, da Imprensa Nacional). Os tais "bons livros de história" devem ajudar a tentar perceber o mundo, da mesma forma que o historiador, ao escrevê-los, tem de ser uma pessoa que, como qualquer pessoa, se tenta perceber (idem). O Poder e o Povo, que ando a reler, foi reeditado pela Gradiva. A sua "tese", pouco ortodoxa, explica as trapalhadas e as convulsões do nosso "progressismo" republicano, iniciado no século XIX. Ajuda a entender a idiossincrasia das élites políticas portuguesas e o seu "sublime irrealismo", desde as ditas "progressistas" às ditas "conservadoras", tendo como "pano de fundo" um país que, no essencial, continua a reagir com indiferença aos "movimentos" dessas mesmas élites.
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